Inaugurado em 1968 com o filme japonês "Shaka" (aka Budda, 1961), no original, e por cá com o título "O Reino de Buda", encerrou para férias no dia 1 de Junho de 1982 e não voltou a reabrir.
O Cinema Lumiar fazia descontos nos bilhetes a algumas colectividades da zona, nomeadamente ao Clube de Santo António dos Cavaleiros.
A história do Cinema Lumiar é mais difícil de traçar do que a dos outros cinemas que pontuam a expansão da cidade. O facto de ter sido concebido já na década de 60, a circunstância de ter podido beneficiar de uma significativa alteração na lei que regulamentava a construção deste tipo de edifícios e a exigência de ter de se adaptar às mudanças que se imprimiam na zona tornam-no, realmente, num caso particular. Esta situação pode ser vista como um efeito de um conjunto de factores que se conjugou ou como decorrente dos condicionalismos que existiam no lugar para onde foi projectado. De qualquer modo, trata-se de um cinema de bairro, quer dizer, de um cinema que serve a freguesia do Lumiar e todo um conjunto de zonas limítrofes, suja influência no projecto não pode ser iludida nem deixada de fora no momento de o analisar. O seu traçado tem, assim, m sentido que importa verificar e afirma-se numa espécie de particularidade formal que o distingue dos outros cinemas que os novos bairros da cidade se construíram.
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Cinema Lumiar |1977| Calçada de Carriche, 38; Rua Comandante Fontoura da Costa (entrada) Fachada do Cinema Lumiar traçado pelo arq.º José Croft de Moura em 1962. Vasques, in Lisboa de Antigamente |
Traçado por José Croft de Moura em 1962, o Cinema Lumiar não tem, por assim dizer, antecedentes que o expliquem. O arquitecto trabalha a partir das possibilidades que a lei lhe dá integra-o entre dois edifícios de habitação, dotando-o de uma sala com uma lotação de 800 lugares, que era servida por dois foyers e por um palco, cuja vantagem se justificava nas necessidades culturais que o novo aglomerado de prédios teria. Sabe-se que a encomenda partira da empresa Cruz & Cruz que promovera uma urbanização local num terreno denominado Quinta da Nazaré, e que o seu intuito era construir uma sala de espectáculos de modo a imprimir alguma animação zona. A implantação do edifício apoiou-se, por conseguinte, no próprio traçado da urbanização e integrou se com naturalidade no contexto que definia as edificações vizinhas. Deste modo, a unidade do conjunto foi assegurada e garantiu-se uma relação de continuidade com os prédios que lhe eram contíguos. Mas mais importante ainda foi o facto de o Cinema Lumiar ter sido capaz de se insinuar neste núcleo urbano de uma forma quase tão discreta como as mudanças que se observavam na legislação que regulamentava a construção das salas.
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Cinema Lumiar, em obra |1967-10| Calçada de Carriche, 38; Rua Comandante Fontoura da Costa (entrada) O Cinema Lumiar fazia descontos nos bilhetes a algumas colectividades da zona, nomeadamente ao Clube de Santo António dos Cavaleiros. Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente
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A questão da sua integração no local prende-se, naturalmente, com os condicionamentos do lugar e com as tentativas que se fizeram no sentido de os superar, Se é verdade que o cinema se implantava entre os prédios que se erigiam na Estrada do Desvio, no Lumiar, não é menos certo que a sua entrada se fazia pela Rua Comandante Fontoura da Costa, uma artéria secundária que corria paralelamente à Calçada de Carriche, cujo novo traçado implicara um arranjo do local, alterando as referências da zona.
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Calçada de Carriche, |1938| Entre muros e já com algumas construções. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
O sítio era há muito conhecido como uma das entradas de Lisboa que tinha uma especificidade própria. Em finais do século XIX, coincidia com a fronteira que separava Carriche da cidade, tendo-se mesmo construído um alto alto muro de cada um dos lados da antiga calçada que corria transversalmente os dois desfiladeiros que ali existiam e que servia de barreira fiscal. Quando, em 1922, é abolido o imposto sobre todas as mercadorias que entravam na capital, vindas dos campos de Loures, Bucelas, Odivelas, Caneças e Montemor, o sítio contava já com algumas construções que se estendiam pela do país indo localidade de Olival de Basto, onde se edificou uma Malaposta e algumas «vilas» que pouco se distinguiam entre si. Tal é a história do local onde se inseria a antiga e íngreme Calçada de Carriche, percorrida anos a fio por mulas e carroceiros que ostentavam as marcas de um viver que vigorava às portas de Lisboa .
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Cinema Lumiar, em obra |31-10-1968| Calçada de Carriche, 38; Rua Comandante Fontoura da Costa (entrada) Inaugurado em 1968 com o filme japonês "Shaka" (aka Budda, 1961), no original. Por cá estreou com o título "O Reino de Buda", encerrado para férias no dia 1 de Junho de 1982 não voltou a reabrir. Cartaz de espectáculos» in Diário de Lisboa, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa, 2012
Diário de Lisboa