Sunday, 29 October 2023

Jardim Augusto Gil

Por volta de 1700 é que começou em definição urbana o Largo da Graça — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , dando foros ao sítio velho.
Aqui temos o Jardim, pequeno e inocente Jardim de namorados de quinze anos — , do qual desapareceram algumas boas espécies de acácias e lódãos que até há pouco nele existiam; foi construído sobre a encosta, para o que foi preciso levantar, em 1881-1882, a cortina gradeada que nele vemos.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, p. 49, 1938)

Jardim Augusto Gil |c. 1952|
Largo da Graça
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Localizado junto à Igreja e antigo Convento da Graça, é um jardim modesto, de pequenas dimensões, pontuado por algumas árvores e canteiros e uma estátua figurativa em bronze de autor desconhecido, de bronze, intitulada 'Mãe e Filho', que evoca a relação maternal. Possui ainda uma escadaria, alguns bancos que apelam ao descanso e instalações sanitárias e, na década de \960, uma Biblioteca Municipal ao ar livre. Próximo do Miradouro da Graça [actual Sofia de Mello Andresen] onde se pode apreciar uma das melhores vistas sobre a cidade de Lisboa.

Jardim Augusto Gil, Biblioteca Municipal |1961|
Largo da Graça
Armando Serôdioin Lisboa de Antigamente

Friday, 27 October 2023

Rua Engenheiro Vieira da Silva que foi Estr. das Picoas

Augusto Vieira da Silva (1869-1951). Historiador e engenheiro, concluiu o curso de Engenharia na Escola do Exército em 1893. Foi sócio efectivo da Associação dos Arqueólogos Portugueses, membro da Academia de História, sócio honorário e primeiro presidente do grupo Amigos de Lisboa. Foi nomeado para a Comissão de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa em 1943. 

Rua Engenheiro Vieira da Silva |1965|
Olisipógrafo 1869-1951
Antigo troço da Rua das Picoas (antes Estr. das Picoas), compreendido entre a Praça José Fontana e a Avenida Fontes Pereira de Melo; Cine-Teatro Monumental.
Armando Maia Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Alguns dos seus textos foram editados sob o título Dispersos. Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas Feira da Ladra (1929-1943), Revista de Arqueologia (1932-1938), Boletim dos Museus Nacionais de Arte Antiga (1939-1943) e na Revista Municipal (1939-1973) publicada pela Câmara Municipal de Lisboa.

Rua Engenheiro Vieira da Silva |1960|
Olisipógrafo 1869-1951
Antigo troço da Rua das Picoas (antes Estr. das Picoas), compreendido entre a Praça José Fontana. Perspectiva tomada da Avenida Fontes Pereira de Melo; Antigo Mercado 31 de Janeiro (dir.) e Matadouro Municipal.
Filipe Morgado Romeiras, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 22 October 2023

Praça D. Pedro IV: O Rossio de Lisboa

Eis aqui o pouco, e pouquíssimo, que pude apurar quanto à origem da palavra — diz mestre Castilho (NB. foi mantida a grafia original da época):

1.° — A palavra ressio, ou recio, (hoje rossio) era adjectivo, e significava baldio; terreno ressio;
2.° — Por abreviação, o povo supprimiu o substantivo, e entrou a dizer em vez de terreno ressio, apenas ressio; assim succedeu por exemplo ao vocábulo largo; campo largo, terreno largo, espaço largo, terreiro largo, simplificou-se em largo, subentendendo-se um substantivo qualquer.
3.° — Transformado em rocio, e applicado propriamente aos logradoiros junto de povoações, fixou-se esta palavra com o sentido restricto de terreiro apropriado a certos fins.
4.º — Em Lisboa (este é que é o nosso ponto) foi o ressio, ou rocio um terreno vasto, á margem do esteiro de aguas, e consagrado a logradoiro commum, a fornos de telha, a sementeiras de farragem, a corridas, etc.

Praça D. Pedro IV: O Rossio de Lisboa |c. 1960|
Café Nicola e  Hotel Metrópole
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente
Praça D. Pedro IV: O Rossio de Lisboa |c. 1960|
Francfort Hotel, antigo Hotel dos Dois Irmãos Unidos
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Tardou seculos, e muitos, a transformação d'esses mal aproveitados chãos em praça polida e ornamento urbano; mas é innegavel que, pelo volver dos annos, se tornou o Rocio de Lisboa uma praça magnifica, e desbancava pela grandeza e nobreza dos edificios a todas as demais praças da capital; a ponto, que affirmava no seu tempo Luiz Mendes de Vasconcellos, com aquella emphase commum a escriptores peninsulares, se não sabe em outra cidade outra tamanha, cercada de nobres casas e grandes templos'; e blazonava um cortesão antigo, morador no Rocio, que habitava no sitio melhor do mundo.==
(CASTILHO, Júlio de, isboa antiga,, Vol. 2, 1889)

Praça D. Pedro IV: O Rossio de Lisboa |c. 1940|
Francfort Hotel, Lagos do Rossio; Convento do Carmo
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Praça D. Pedro IV: O Rossio de Lisboa |c. 1940|
Arco do Bandeira; Monumento a D. Pedro IV
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Friday, 20 October 2023

Rua da Fábrica da Pólvora: mercado

Este troço da Rua da Fábrica da Pólvora foi integrado na Av. de Ceuta (1971); no alto observam-se alguns prédios na Rua da Cruz, a Alcântara. A Fábrica de Pólvora que no local funcionou depois de 1690 – e sobre a qual mandou D. João V construir outra maior – originou a fixação no local da Rua da Fábrica da Pólvora, que hoje une a Rua da Cruz a Alcântara à Av. de Ceuta.

Rua da Fábrica da Pólvora |c. 1960|
Mercado de Alcântara (provisório)
Vasco Figueiredo, in Lisboa de Antigamente

De acordo coma Norberto de Araújo «Deste pequeno largo à esquerda da Estação, isto é, para ocidente da linha férrea, saem as Ruas do Alvito, da Cruz de Alcântara e da Fábrica da Pólvora, que se perdem nos contrafortes da Serra de Monsanto, todas com carácter pobre-popular que aflorou do rústico velho.»

Rua da Fábrica da Pólvora |c. 1960|
Mercado de Alcântara (provisório)
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 15 October 2023

O Cinema Lumiar e a Calçada de Carriche

Inaugurado em 1968 com o filme japonês "Shaka" (aka Budda, 1961), no original, e por cá com o título "O Reino de Buda", encerrou para férias no dia 1 de Junho de 1982 e não voltou a reabrir. 
O Cinema Lumiar fazia descontos nos bilhetes a algumas colectividades da zona, nomeadamente ao Clube de Santo António dos Cavaleiros. 

A história do Cinema Lumiar é mais difícil de traçar do que a dos outros cinemas que pontuam a expansão da cidade. O facto de ter sido concebido já na década de 60, a circunstância de ter podido beneficiar de uma significativa alteração na lei que regulamentava a construção deste tipo de edifícios e a exigência de ter de se adaptar às mudanças que se imprimiam na zona tornam-no, realmente, num caso particular. Esta situação pode ser vista como um efeito de um conjunto de factores que se conjugou ou como decorrente dos condicionalismos que existiam no lugar para onde foi projectado. De qualquer modo, trata-se de um cinema de bairro, quer dizer, de um cinema que serve a freguesia do Lumiar e todo um conjunto de zonas limítrofes, suja influência no projecto não pode ser iludida nem deixada de fora no momento de o analisar. O seu traçado tem, assim, m sentido que importa verificar e afirma-se numa espécie de particularidade formal que o distingue dos outros cinemas que os novos bairros da cidade se construíram.
 
Cinema Lumiar |1977|
Calçada de Carriche, 38; Rua Comandante Fontoura da Costa (entrada)
Fachada do Cinema Lumiar traçado pelo arq.º José Croft de Moura em 1962.
Vasques, in Lisboa de Antigamente

Traçado por José Croft de Moura em 1962, o Cinema Lumiar não tem, por assim dizer, antecedentes que o expliquem. O arquitecto trabalha a partir das possibilidades que a lei lhe dá integra-o entre dois edifícios de habitação, dotando-o de uma sala com uma lotação de 800 lugares, que era servida por dois foyers e por um palco, cuja vantagem se justificava nas necessidades culturais que o novo aglomerado de prédios teria. Sabe-se que a encomenda partira da empresa Cruz & Cruz que promovera uma urbanização local num terreno denominado Quinta da Nazaré, e que o seu intuito era construir uma sala de espectáculos de modo a imprimir alguma animação zona. A implantação do edifício apoiou-se, por conseguinte, no próprio traçado da urbanização e integrou se com naturalidade no contexto que definia as edificações vizinhas. Deste modo, a unidade do conjunto foi assegurada e garantiu-se uma relação de continuidade com os prédios que lhe eram contíguos. Mas mais importante ainda foi o facto de o Cinema Lumiar ter sido capaz de se insinuar neste núcleo urbano de uma forma quase tão discreta como as mudanças que se observavam na legislação que regulamentava a construção das salas.

Cinema Lumiar, em obra |1967-10|
Calçada de Carriche, 38; Rua Comandante Fontoura da Costa (entrada)
O Cinema Lumiar fazia descontos nos bilhetes a algumas colectividades da zona, nomeadamente ao Clube de Santo António dos Cavaleiros.
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente


A questão da sua integração no local prende-se, naturalmente, com os condicionamentos do lugar e com as tentativas que se fizeram no sentido de os superar, Se é verdade que o cinema se implantava entre os prédios que se erigiam na Estrada do Desvio, no Lumiar, não é menos certo que a sua entrada se fazia pela Rua Comandante Fontoura da Costa, uma artéria secundária que corria paralelamente à Calçada de Carriche, cujo novo traçado implicara um arranjo do local, alterando as referências da zona. 

Calçada de Carriche, |1938|
Entre muros e já com algumas construções.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O sítio era há muito conhecido como uma das entradas de Lisboa que tinha uma especificidade própria. Em finais do século XIX, coincidia com a fronteira que separava Carriche da cidade, tendo-se mesmo construído um alto alto muro de cada um dos lados da antiga calçada que corria transversalmente os dois desfiladeiros que ali existiam e que servia de barreira fiscal. Quando, em 1922, é abolido o imposto sobre todas as mercadorias que entravam na capital, vindas dos campos de Loures, Bucelas, Odivelas, Caneças e Montemor, o sítio contava já com algumas construções que se estendiam pela do país indo localidade de Olival de Basto, onde se edificou uma Malaposta e algumas «vilas» que pouco se distinguiam entre si. Tal é a história do local onde se inseria a antiga e íngreme Calçada de Carriche, percorrida anos a fio por mulas e carroceiros que ostentavam as marcas de um viver que vigorava às portas de Lisboa .

Cinema Lumiar, em obra |31-10-1968|
Calçada de Carriche, 38; Rua Comandante Fontoura da Costa (entrada)
 Inaugurado em 1968 com o filme japonês "Shaka" (aka Budda, 1961), no original. Por cá estreou com o título "O Reino de Buda", encerrado para férias no dia 1 de Junho de 1982 não voltou a reabrir.
Cartaz de espectáculos» in Diário de Lisboa, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa, 2012
Diário de Lisboa

Friday, 13 October 2023

Palacete do Visconde Sanches de Baena

O magnífico palacete do Visconde Sanches de Baena situava-se na Estrada de Benfica, 609-613 e fazia gaveto com a Travessa do Rio onde existia uma outra entrada pelo nº 1. O histórico edifício foi demolido nos meados dos anos 70 do século XX.

Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha de Almeida Portugal Silva e Sousa (Vairão, Vila do Conde, (1822—1909), 1.º visconde de Sanches de Baena, médico, historiador, genealogista e especialista em heráldica, autor de várias obras de referência no campo da heráldica e da genealogia.

Palacete do Visconde Sanches de Baena |1960|
Estrada de Benfica, 609 a 613; Travessa do Rio
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 8 October 2023

Praça Paiva Couceiro

Paiva Couceiro nascido lisboeta na freguesia de São Mamede, que notabilizou-se como militar nas campanhas de ocupação colonial em Angola e Moçambique, como administrador colonial e como monárquico responsável pela Monarquia do Norte foi perpetuado na toponímia de Lisboa pelo Edital de 23/03/1954, naquela que era conhecida por Praça Projectada à Avenida Jacinto Nunes (esta Avenida nunca chegou a ser implementada).

Praça Paiva Couceiro |1967|
Perspectiva tirada da Av. Gen. Roçadas.
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente

Henrique Mitchell de Paiva Cabral Couceiro (1861-1944), assentou praça no Regimento de Cavalaria (1879) e distinguiu-se nas campanhas militares de Angola (1889–1891), do Marrocos espanhol (1893) e de Moçambique (1894-95), contra as forças de Gungunhana (Ngungunyane). Foi proclamado Benemérito da Pátria em 1896 e, em 1907, regressa como Governador Geral de Angola, até 1909, tendo sido também convidado em 1915 mas recusou servir o regime republicano. Foi administrador colonial e político português que se notabilizou nas campanhas de ocupação colonial em Angola e Moçambique e como inspirador das chamadas incursões monárquicas contra a Primeira República Portuguesa em 1911, 1912 e 1919. Presidiu ao governo da chamada Monarquia do Norte, de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919, na qual colaboraram activamente os mais notáveis integralistas lusitanos. A sua dedicação à causa monárquica e a sua proximidade aos princípios do Integralismo Lusitano, conduziram-no por diversas vezes ao exílio, antes e depois da instituição do regime do Estado Novo em Portugal; foi escritor.

Praça Paiva Couceiro |1967|
Esquina com a R. Jacinto Nunes; por Edital de 23 de Março de 1954 foi atribuído à Rua B
à Calçada do Poço dos Mouros a denominação Rua Jacinto Nunes, com início na Praça
Paiva Couceiro e terminus na Calçada do Poço dos Mouros.
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente

Paiva Couceiro foi alvo de diversas condecorações e homenagens, sendo cavaleiro (1890), grande oficial (1891) e comendador (1896) da Ordem da Torre e Espada, cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis (1895) e proclamado Benemérito da Pátria (1896), no mesmo ano em que casou e, o Rei D. Carlos foi o seu padrinho de casamento. 

Praça Paiva Couceiro |1967|
Esquina com as Avenidas Gen. Roçadas e Mouzinho de Albuquerque.
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente

Friday, 6 October 2023

Praça Duque de Saldanha, 31: Prémio Municipal de Arquitectura de 1945

Foi distinguido com o Prémio Municipal de Arquitectura, do ano de 1945, um edifício de habitação situado na Praça Duque de Saldanha, 31, um projecto do arquitecto João Simões (1908-?) para José Alexandre Matos, enquadrado dentro do estilo da época.

Edifício na Praça Duque de Saldanha, 31 |1959|
Prémio Municipal de Arquitectura de 1945
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 1 October 2023

Quiosque e Taça do Largo do Intendente Pina Manique

Resta-me dizer-te que este Largo do Intendente, há um século {c. 1840], estava longe da urbanização actual, apesar desta se ter quedado no que era, ao tempo em que por aqui passavam os americanos» das mulas e as caravanas, a caminho de Arroios e Campo Pequeno.
Deste Largo e da Rua dos Anjos (novamente assim chamada, depois de ter sido Rua do Registo Civil) — recorda o ilustre Norberto de Araújo —  saem, à direita, as Travessas da Cruz, do Maldonado, do Forno e da Bica - todas anteriores ao Terramoto — e que levam à antiga Bombarda e ao Caminho do Forno do Tijolo.⁼⁼

Quiosque do Largo do Intendente Pina Manique |Início do séc. XX|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

As causas reais que levaram à demolição de muitos dos Quiosques que existiram em Lisboa são praticamente desconhecidas. Ou porque o seu estado de degradação a isso obrigasse sem que, no entanto, "merecessem" restauração, ou porque a modificação do traçado das ruas e avenidas e os melhoramentos dos passeios o tornasse imprescindível, o certo é que eles lá foram desaparecendo. E foram 45.

Estrutura
Secção octogonal com janelas em toda a volta encimadas por motivos árabes. Cúpula metálica em forma de balão com oito gomos. Sem protecção.

Particularidades
Local de bastante concorrência.

Taça do Intendente  |1944|
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa», , vol. VIII, p. 15, 1938
CAEIRO, Baltazar Mexia de Matos, Os quiosques de Lisboa, 1987
Web Analytics