O Teatro [da] Avenida foi construído nuns terrenos que aqui possuía João Salgado Dias por iniciativa deste, ligado a Alexandre Mó, e a Ernesto Desforges. Inaugurou-se em 11 de Fevereiro de 1888 — recorda Norberto de Araújo — com as comédias «O Tio Torcato», em que entrou Taborda, e «De Herodes para Pilatos», com António Pedro.
Esta casa de espectáculos — que nunca caiu em cinema — também está ligada à história do teatro português; foi o grande teatro de
Sousa Bastos, e o palco de glória de
Palmira Bastos, na mocidade. Não possui este Teatro, que alguns restauros sumários tem recebido, um maior interesse artístico.
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Theatro da Avenida, em cartaz a revista Có-có-ró-có |1912| Avenida da Liberdade, 150-156 A fachada, de aparência simples, é composta por dois pisos: no rés-do-chão, quatro portas de madeira; no primeiro andar, uma varanda de ferro a toda a largura daquela; no cimo, um arco com a inscrição “Theatro da Avenida”. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Antes da inauguração, em 1888, informava o Diário ilustrado que «os peritos que ontem passaram vistoria a este Teatro encontraram-no nas melhores condições e com as mais prontas e rápidas saídas. A nova e elegante casa de espectáculos é inaugurada amanhã», acontecimento adiado «por não estarem ainda completos todos os trabalhos de ornamentação». Finalmente o Teatro abriu as suas portas ao público no dia 11 de Fevereiro e o mesmo jornal comentava: «Por um prodígio de actividade, raro em a nossa proverbial indolência, o Teatro da Avenida surgiu de um montão de escombros, no breve espaço de alguns meses, doirou-se, aformoseou-se, completou-se no rápido decurso de alguns dias, e abriu anteontem as suas portas ao público, que o contemplava, maravilhado, mal podendo crer no testemunho dos seus olhos.
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Teatro da Avenida |c. 1930| Avenida da Liberdade, 150-156 Esta sala de espectáculos abrira as portas na Avenida para tentar imprimir à nova artéria a centralidade perdida com a demolição do Passeio Público, onde Lisboa se mostrava e se via. Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente |
O
Teatro é alegre,
elegante, matizado de cores claras, brilhando à chama mordente do gaz, que o enche de luz. O
balcão, guarnecido de cadeiras de cordovão escarlate e pregaria amarela, de um gosto original e moderníssimo, é muito bonito e desafogado, e talvez mesmo o melhor lugar do novo teatro. Os
avant scènes são espaçosos e também muito elegantes, verdadeiros
avant scènes parisienses. O pano de boca, à parte uma tal ou qual ausência de perspectiva, é de um grande efeito decorativo, especialmente do lado direito, que apresenta um toldo oriental, realmente bem pintado. À sua entrada em cena, os dois gloriosos artistas
Taborda e
António Pedro foram acolhidos com ruidosas salvas de palmas e uma chuva de camélias que se alastrou no palco, transformando-o em um florente jardim».
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Teatro da Avenida |ant. 1932| Avenida da Liberdade, 150-156, junto à Rua do Salitre defronte do local do Monumento aos Mortos da Grande Guerra. O Avenida nunca desvirtuou o seu primeiro propósito – o teatro –, sendo dos poucos a resistir ao cinema e a outros apelos comerciais, manteve sempre o nome e a identidade. Pouco apelativo às elites, sempre foi o “popular Avenida”. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Em 1964, Vasco Morgado, empresário do Avenida, «empresta» o teatro à companhia Rey Colaço/Robles Monteiro, recém desalojada (devido ao incêndio) do Teatro Nacional D. Maria II, , acrescia à penúria já notada uma visível degradação do edifício.
A companhia decidiu assumir a remodelação considerada essencial para a dignificação do espaço, suportando financeiramente as alterações técnicas e estéticas a cargo de Lucien Donnat. Amélia Rey Colaço investiu cerca de mil contos, “a verba recebida pelo Seguro, inferior ao valor perdido [com o incêndio do D. Maria II], que foi praticamente absorvida na remodelação da sala do Teatro Avenida que se encontrava num estado de abandono impróprio de receber uma Companhia oficial, [e] no equipamento eléctrico do palco” (Santos 1989: 262). A empresária cedeu, ainda, “mobiliário que era pertença sua: lustres, candeeiro de pé, tapeçarias, cortinados de veludo e jogos de maples que Amélia, devotada totalmente ao seu trabalho, levara da sua residência, ajudando com a sua iniciativa, e com os seus objectos, o engenho do decorador Lucien Donnat”.
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Teatro da Avenida, interior |1913| Avenida da Liberdade, 150-156 Apresentação da revista Alerta! Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente |
No dia da reabertura do Teatro Avenida, a 6 de Fevereiro de 1965, a imprensa aplaudiu.
Mas o élan não dura três anos. Às 21 horas e 20
minutos do dia 13 de Dezembro de 1967, a 25 minutos
da apresentação de Feliz aniversário de Harold Pinter,
ainda sem um único espectador no teatro, irrompe o fogo. Até então, o Avenida tinha levado à cena mais de 300 peças teatrais.
Foi demolido em 1970.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 39, 1939.
MOURA, Nuno Costa, Teatro Avenida Hoje e sempre, fora dos eixos, APCT - Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, Sinais de cena 2. 2004,