Sunday, 28 March 2021

Avenida General Roçadas

O General Roçadas foi governador de Angola e o último comandante do Corpo Expedicionário Português cujo nome foi atribuído a um troço do Caminho de Baixo da Penha, por Edital de 27/12/1930, criando-se assim a Avenida General Roçadas, hoje nas freguesias de São Vicente e da Penha de França.

Com a legenda «Herói das Campanhas de África 1865–1926» esta artéria homenageia José Augusto Alves Roçadas (1865–1926), militar que assentou praça em 1882, concluiu o curso da Escola do Exército em 1889 e, chegou a capitão de cavalaria aos 29 anos. De 1897 a 1900 foi enviado para Angola como chefe do estado-maior das forças portuguesas no território e, em 1902 desempenhou o mesmo cargo na Índia. Voltou a Angola em 1904 como governador de Huíla e, em 1907 vingou o massacre de Cunene o que lhe valeu ser galardoado pelo rei D. Carlos com a Torre e Espada, nomeado ajudante-de-campo do rei e, a promoção a major. Com a subida ao trono de D. Manuel II foi também promovido a tenente-coronel. Ainda em 1908 foi Governador de Macau e depois, Governador de Angola, funções de que se demitiu com a implantação da República e regressou a Portugal, comandando a partir daí várias unidades militares.

Avenida General Roçadas |195-|
Troço do Caminho de Baixo da Penha
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Em Outubro de 1914 Roçadas voltou ao sul de Angola para combater os alemães, com 1 600 homens. No combate de Naulila e, apesar da superioridade numérica das forças portuguesas venceram os alemães, o que obrigou os militares portugueses a recuar para norte do Cunene e do Caculevar, o que impulsionou os povos de Humbe a revoltarem-se expulsando a ténue presença portuguesa na área e, Alves Roçadas voltou para Portugal em 1915. Em Setembro de 1918, Roçadas passa a general e torna-se o comandante da 2ª divisão do Corpo Expedicionário Português em França, o último enviado durante a I Guerra Mundial e assim, foi encarregue do repatriamento e da extinção da presença portuguesa na França e na Bélgica.
Em 1919 foi nomeado governador dos territórios da Companhia de Moçambique e de lá voltou apenas em 1923. Integrou a partir daí o grupo de militares e civis em torno de Sinel de Cordes que preparou o golpe de 28 de Maio de 1926, sendo mesmo o General Roçadas o indicado para tomar o poder, o que não aconteceu por ter adoecido pouco tempo antes do golpe e falecido um mês depois. [cm-lisboa.pt]

Avenida General Roçadas |195-|
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Friday, 26 March 2021

Rua das Taipas

Na lomba, aos pés das Taipas de hoje, elevava-se casario, e estava desenhada a encosta da Glória, depois Calçada formalizada nos roteiros. Mas cá em cima, num plano irregular, circundada de chãos que eram de particulares, desagregados dos prazos pertencentes a Santa Maria (Sé) e a Santa Justa, o «cômoro», planície que olhava, como hoje, a Lisboa velha, não tinha foros de alameda.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, p. 71, 1938)

Rua das Taipas |c. 190-|
Antiga de São Sebastião vulgo de São Sebastião das Taipas
Panorâmica tirada de São Pedro de Alcântara; Colina de Santana
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

A travessa das Taipas já em 1778, na citada relação manuscrita do tenente coronel Monteiro de Carvalho, aparece com o actual nome de rua de São Sebastião das Taipas. Tinha, então, de risco pombalino, dezasseis propriedades do lado nascente e duas do lado do poente.
(MATOS SEQUEIRA, Gustavo de, Depois do Terremoto, 1933)

Rua das Taipas |c. 190-|
Antes de São Sebastião vulgo de São Sebastião das Taipas
Palacete Gama Pinto (1853-1945), médico-oftalmologista.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em 1885, Gama Pinto regressou a Lisboa e, três anos depois, fundou o Instituto de Oftalmologia sito na Rua do Passadiço, o primeiro centro de formação de oftalmologistas do país que, hoje, tem o seu nome. Gama Pinto foi certamente o primeiro especialista em oftalmologia em Portugal.

Sunday, 21 March 2021

Chafariz Alcolena ou da Boa Memória

Obra do arq. régio Possidónio da Silva, este chafariz foi inaugurado em 13 de Junho de 1850, em frente à Igreja da Memória. A necessidade da sua construção prendeu-se com o facto do habitual ponto de abastecimento de água localizado no Palácio das Secretarias, na Calçada da Ajuda, ter sido adaptado para residência do rei consorte D. Fernando de Sax-Coburgo. Sugerindo os chafarizes de obelisco, traduz, apesar da sua simplicidade, uma elegância de formas, que concilia superfícies ondulantes e rectilíneas

Chafariz Alcolena ou da Boa Memória |1932|
Calçada do Galvão
A falta de água em Lisboa e o assalto ao chafariz, sob o o olhar atento do policia, assim que aquela aparece.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Do seu tanque de recepção de águas rectangular eleva-se ao centro, sobre uma base quadrangular, uma pirâmide alongada, como se fosse um jarro bojudo, de secção quadrangular com o colo alto e arestas curvas. Este conjunto surge rematado por uma espécie de vaso ou urna, coroado por uma esfera. Numa das faces da sua base exibe as armas camarárias. [cm-lisboa.pt]

Chafariz da Memória |1939|
Calçada do Galvão [antiga Estrada do Penedo]
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

N.B. Este topónimo homenageia António José Galvão, oficial-mor do Corpo de Sua Majestade (Intendente das Polícias). No nº 25-28 deste arruamento encontra-se a «Casa do Galvão», casa nobre de gosto barroco, construída numa quinta doada, em 1758, pelo rei D. José I a António José Galvão.

Friday, 19 March 2021

Cinema Rex (Teatro Laura Alves)

O Cinema Rex, nos limites da Mouraria, localizado ao lado do extinto Real Coliseu e depois da Garagem Liz, foi inaugurado em 1936, no edifício onde desde 1929, tinha funcionado a Federação Espírita Portuguesa. Com lotação de 578 lugares, o Rex possuía balcões e camarotes, tal como um cinema de estreia. Em 1968/1969, Vasco Morgado “transforma” o Rex no «Teatro Laura Alves», homenagem merecidíssima à grande mulher e actriz.

Cinema Rex [1960]
Rua da Palma, 253
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Encerrado no final da década de 1980, reabre nos anos 90 como Teatro Laura Alves, com um interior renovado. Quase desaparecido no incêndio de 2012, perdura um resto de fachada de obscura utilização.

Cinema Rex [ant. 1959]
Rua da Palma, 253
Salvador Diniz, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 14 March 2021

Sociedade Nacional de Belas Artes

O Dr. Barata Salgueiro, em 1882, — diz Norberto de Araújo — doou ao Município uma parcela de terreno para fundação de uma grande escola destinada a 3.000 crianças.
A Escola nunca se fêz, e a Câmara, abusivamente quanto a nós, pôs os terrenos em praça em 1903, e os chãos doados foram retalhados para edificações, escapando um pedaço que foi mais tarde cedido à Sociedade Nacional de Belas Artes [1901]. É êste onde assentou o edifício da Sociedade, com frente à Rua Barata Salgueiro, e cujo arquitecto foi Álvaro Machado. Não se construiu o edifício sem que os herdeiros de Barata Salgueiro protestassem perante os tribunais, chegando a ganhar a sua causa no Tribunal da Relação (1912).
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 41, 1939)

Sociedade Nacional de Belas Artes |1913|
Rua Barata Salgueiro, 36
Fotografia anónima, in O occidente
Sociedade Nacional de Belas Artes |c. 1930|
Rua Barata Salgueiro, 36
Fotografia anónima,, in Lisboa de Antigamente

Friday, 12 March 2021

Avenida Duque de Loulé

Antiga Rua Duque de Loulé (1902) - Por delib. e edital da CML, respectivamente de 25 e 29/01/1917, foram desanexados da Rua de Andaluz e incorporados na Avenida Duque de Loulé, os prédios que, naquela rua tinham os nºs 131 a 139, 145 a 149 e 151 a 161.

Avenida Duque de Loulé, 8 [1964]
Estadista 1804-1875
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Em 1826Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto, Duque de Loulé, foi nomeado Par do Reino.
Depois de, em Inglaterra, ter aderido ao Partido Liberal, regressa a Portugal onde, a partir de 1833, chefia vários ministérios (Negócios Estrangeiros, Marinha e Ultramar, Obras Públicas, Comércio e Indústria), acumulando a Presidência do Conselho com alguns desses cargos ministeriais.
Em 1859, foi nomeado Conselheiro de Estado efectivo e, entre 1870 e 1872, eleito Presidente da Câmara dos Pares. Enquanto parlamentar, as suas matérias de interesse centraram-se no estado da agricultura e das finanças do Reino. Aos direitos humanos também dedicou particular atenção, nomeadamente aquando da discussão da Lei da Liberdade de Imprensa.
A par da sua actividade política, o Duque de Loulé seguiu a carreira das armas como oficial do exército de cavalaria e, durante dez anos, foi grão-mestre da Confederação Maçónica Portuguesa. [parlamento.pt]

Avenida Duque de Loulé, 20, junto à Rua de Andaluz [194-]
Estadista 1804-1875
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 7 March 2021

Da Praça de Luís de Camões ao Chiado, «capital de Lisboa»

Pode São Bento ter-se convertido no símbolo da Política; o Terreiro do Paço no símbolo da Burocracia; a Rua dos Capelistas no símbolo da Finança; o Chiado alcançou o privilégio de os superar a todos, porque se converteu no símbolo do Bom-Tom. Passando a pontificar na Literatura e na moda, consequentemente os homens de letras passaram a escrever para o Chiado, os janotas a apurar-se para o Chiado, as Senhoras a vestir-se para o Chiado. Mais do que uma rua, ainda que das mais afortunadas de Lisboa, o Chiado tornou-se uma verdadeira instituição nacional  quase que um autêntico Estado dentro do Estado, com o seu Governo, o seu Parlamento, a sua Academia, a sua Catedral. Eça de Queiroz não hesitou mesmo em afirmar: «o que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, mundanos decide no Chiado que Portugal seja — é o que Portugal é.»¹


Quem está neste Largo do Chiado — relembra Mário Costa — , pode dar um saltinho até à Praça de Luís de Camões, e é justo que se atreva a essa pressuposta acrobacia, para trazer à lembrança os traços pitorescos que o progresso apagou, a começar na eliminação dos típicos quiosques com venda de refrescos, onde se bebia o melhor capilé de Lisboa. [vd. 3ª imagem]

Da Praça de Luís de Camões ao Chiado, «capital de Lisboa» [séc. XIX]
Largo do Chiado, que já foi Largo das Cavalariças Reais, Largo do Loreto e Largo das Duas Igrejas.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Ajudavam a compor o singelo friso, os esfuziantes vendedores das popularíssimas castanhas assadas no forno — quentes e boas, dé réis vinte! — ; o pictural homem do realejo, acompanhado do urso amestrado, que dançava ao som do toque de pandeireta; a sugestiva tela que conglobava as incomparáveis cenas interpretadas pelos inimitáveis pantomineiros de praça pública  empoleirados em pequena tripeça, fazendo uso do mais cómico palavreado, uma arenga às massas ingénuas — às vezes também desfrutadoras – propagandeando milagrosos produtos, tudo maravilhoso, elixires da longa vida, para fazer crescer o cabelo e extrair calos sem dor, os únicos para tirar as nódoas do fato.

Da Praça de Luís de Camões ao Chiado, «capital de Lisboa» [séc. XIX]
Largo do Chiado, que já foi Largo das Cavalariças Reais, Largo do Loreto e Largo das Duas Igrejas.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

 Foi-se toda essa colorida pintura, muito século XIX, quadros que enterneciam, pela ingenuidade do desenho. Também certo dia se arrancaram os utilíssimos bancos de duas tábuas, que foram o consolo de velhos reformados; e, em nome da civilização, se demoliu outro estilo de quiosque, todo de ferro e em forma cilíndrica, disfarçado por grande biombo, com entrada só para homens. [vd. 3ª imagem]

Da Praça de Luís de Camões ao Chiado, «capital de Lisboa» [1912]
Ao fundo notam-se os antigos bancos de duas tábuas e o desaparecido urinol
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, pp. 90-102, 1987.

Friday, 5 March 2021

Praça de Luís de Camões

O olisipógrafo Júlio de Castilho no seu estudo «Pregões de Lisboa, Música do Coração do Povo», recorda:

A melopeia dos pregões é música, deliciosa música, nativa no coração do povo. Em cada nota diz-nos muito; na letra e na harmonia solta eflúvios de campo, lembra as hortas do Areeiro, os pomares de Benfica, as latadas de Loures, a fragrância das sebes nas sombrias azinhagas, as fainas das bandadas casaleiras. Pregões da Primavera no Bairro Alto, nas vielas de Alfama ou do Castelo, lembro-me bem das íntimas saudades, que na mente dorida me acordáveis, quando, longe dos meus, em plaga estranha, destes torrões natais curti a ausência. Escutava na memória da alma as sabidas vetustas melodias dos pregões desta mágica Lisboa…»
(in Lisboa – Revista Municipal, n.º 116-117, p. 73, 1968)

Praça de Luís de Camões [séc. XIX]
— Água fresquinha e pura! Olha o púcaro de água fresca! Áá-Áá!
— Áúúú! Á–ú! Áááuga!
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
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