Sunday, 31 January 2016

Tabacaria Estrela Polar e o Clube Tauromáquico Português

Chegámos ao segundo quarteirão da Rua Garrett, que nos permite acercar do lugar que foi da fidalga e centenária Tabacaria Estrela Polar, fornecedora da Casa Real, onde D. Carlos adquiria os seus famosos charutos. Pertenceu a João de Deus Malheiros e encerrou em 1963, sendo trespassada por mil e duzentos contos (?), para mais uma filial da Casa da Sorte. Inaugurou-se em 6 de Dezembro .

Clube Tauromáquico Português (Tabacaria Estrela Polar) ornamentado por ocasião da visita do Rei Eduardo VII [1903]
Esquina da Rua Garrett, 37-39 com a Rua Ivens, 74-76

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

No 2.º andar deste prédio, que tem entrada pelo n.º 72 da Rua Ivens, institui-se em 1892, quando a arte tauromáquica estava em declínio, o Clube Tauromáquico Português, do qual foram principais organizadores João Rodrigues Batalha (o conhecido conteiro da Rua Nova do Almada); Palha Blanco, a quem o rei D. Carlos cognominou «rei dos lavradores» e Luís Gama, outra figura de especial relevo, também lavrador, que teve lugar assente no Chiado, onde deixou vincada a sua grande verve, o seu espírito eternamente moço.
O Clube Tauromáquico, que em certa data revolucionária foi assaltado pela populaça, que destruiu quase todo o recheio, andou de braço dado com o aristocrático Turf-Club, dedicando-se especialmente aos toiros e aos cavalos. Os dois clubes quase dispuseram inteiramente da artéria maravilhosa, tornando-se seus ditadores nas tardes carnavalescas.

Tabacaria Estrela Polar [c. 1910]
Esquina da Rua Garrett, 37-39 com a Rua Ivens, 74-76
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

N. B. Roberto Ivens (1850-1898), a quem este arruamento homenageia foi um oficial da Marinha que em 1877, juntamente com Hermenegildo Capelo e Serpa Pinto, recebeu o encargo de explorar os territórios compreendidos entre Angola e Moçambique, estudando, nomeadamente, as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Com Hermenegildo Capelo levou a cabo duas expedições - 1877/80 e 1884/85 - conhecidas através dos relatos «De Benguela às Terras de Iaca» (1881) e «De Angola à Contracosta» (1886).

Tabacaria Estrela Polar, depois filial da Casa da Sorte [c. 1963]
Esquina da Rua Garrett, 37-39 com a Rua Ivens, 74-76
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, pp. 293-294, 1987.

Saturday, 30 January 2016

Avenida dos Estados Unidos da América

No período da República (Edital de 07/08/1911), a Câmara de Lisboa evocou na sua toponímia sobretudo, os estrangeiros que defenderam ideias liberais e republicanos . Por isso a homenagem ao país da Estátua da Liberdade, para além de ter denominado também o Bairro América onde, em 1924, perpetuou nas placas toponímicas os americanos Franklin — estadista preponderante na independência das 13 colónias norte-americanas em 1783 e também inventor do pára-raios e Washington — o 1º Presidente dos Estados Unidos da América.

Avenida dos Estados Unidos da América [1963]
Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular (1908 -1933)
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente
Avenida dos Estados Unidos da América [1964]
Perspectiva tomada da rotunda do Campo Grande
João Goulart, in Lisboa de Antigamente

Cinema Quarteto

O autor do projecto de construção foi o arq.º Nuno San-Payo, seguindo a ideia do seu criador Pedro Bandeira Freire. O edifício,  inaugurado em 21 de Novembro de 1975, era constituído por quatro pequenas salas, com lotação de 716 lugares, distribuídas pela cave e 1º andar, aos quais se acedia através de uma escadaria decorada com dezenas de cartazes, depois de se ter franqueado o átrio ao nível do rés-do-chão, onde se situavam as bilheteiras e o bar. 
 
Cinema Quarteto [1977]
Rua Flores do Lima, 16
Vasques, in Lisboa de Antigamente

Teve bastante sucesso até aos anos 90 com um público fiel, mas começou a entrar em declínio no novo milénio. A 16 de Novembro de 2007 o espaço foi encerrado na sequência de uma vistoria da Inspecção-Geral das Actividades Culturais, por não reunir todas as condições de segurança, nomeadamente, saídas de emergência em número suficiente, sistema de detecção de incêndios e revestimento de paredes e pavimento com materiais inflamáveis. As obras necessárias para a reabilitação do espaço eram incomportáveis para a gerência, que acabou por optar pelo encerramento definitivo.

Friday, 29 January 2016

Lago do Parque Eduardo VII

O Parque-no seu inicio e no primitivo sonho paisagista, assim podemos dizer-data da penúltima década do século passado (1885), e seu primeiro nome, caído em esquecimento, foi o de Parque da Liberdade. (ARAÚJO, 1939)


Denominado Parque da Liberdade, foi rebaptizado, por deliberação da C.M.L., em sessão realizada a 13 de Abril de 1903, por ocasião da visita a Lisboa do Rei de Inglaterra, Eduardo VII.
Em 1887, Ressano Garcia, engenheiro da Câmara Municipal de Lisboa , propõe um concurso internacional de ideias, visando o arranjo paisagístico do local.

Lago do Parque Eduardo VII [1933] 
Ao fundo, a Rua Artilharia 1
 Festas da Semana dos Inválidos do Comércio.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Dos vinte e nove projectos concorrentes, em reunião de Câmara, a 5 de Fevereiro de 1895, a unanimidade da votação recaiu sobre o projecto apresentado por Henri Lusseau, projecto esse com uma estrutura de cariz romântico, traçando alguns lagos, implantando o «belveder», de acordo com a morfologia do terreno e a construção de um Palácio de Exposições e Festas.

Lago do Parque Eduardo VII [1932]
Ao fundo, o monumento ao Marquês de Pombal em construção
Regatas no lago do parque Eduardo VII, durante as festas dos vendedores de jornais

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O Parque era, na altura, cenário de feiras, de exposições e de divertimentos e, em 1929, constrói-se um grande lago, na zona pensada por Lusseau, a sul do actual Clube VII e junto dos portões de entrada.
(jf-avenidasnovas.pt)

Lago do Parque Eduardo VII [1940]
Ao fundo, a Rua Castilho

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

«Au Bonheur des Dames», «Perfumaria da Moda», ou simplesmente «Tatão»

Voltamos à Rua do Carmo para irmos à Perfumaria da Moda, minusculamente rococó, diante de cuja porta estacionavam automóveis com choferes aguardando as obesas patroas que se consolavam comprando as últimas inutilidades, ou procurando alívio no calista Hilário. [Faria: 1990]

 
Construída por J. P. Mesquita e ricamente decorada em talha por Jorge Pereira, pertenceu à família Pinto de Lima dona da Pastelaria Ferrari.
Instalada nos números 5-7 da Rua do Carmo, foi inaugurada no ano de 1909, com o nome de «Au Bonheur des Dames», título do romance do escritor francês Émile Zola, publicado em 1883. Em 1917 o nome de «Au Bonheur des Dames» (a que alguns chamavam Malheur des Maris) deste estabelecimento é mudado para «Perfumaria da Moda».
Infelizmente no incêndio do Chiado de 25 de Agosto de 1988 este estabelecimento foi consumido pelas chamas.

Au Bonheur des Dames, Perfumaria da Moda [ant. 1940]
Rua do Carmo, 5-7
Estúdio Mário Novais, iin Lisboa de Antigamente

Depois de funcionar provisoriamente na «Pompadour» na Rua Garrett, até à reconstrução e, restaurada a fachada original, já não reabriu como perfumaria mas sim como loja de vestuário de seu nome «Empório Chiado».
Serviu também de cenário ao célebre filme de António Lopes Ribeiro, de 1941 — O Pai Tiranoonde atendia ao balcão a bela Tatão.

Au Bonheur des Dames, Perfumaria da Moda [ant. 1940]
Rua do Carmo, 5-7 com a Rua Garrett

Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Thursday, 28 January 2016

Palácio de Dona Rosa

Ora eis-nos no Largo de D. Rosa [hoje Rua dos Remédios], que deriva o nome desse prédio, também de solar antigo, sob o qual se abre o Arco e sobem as Escadinhas daquela designação. Quem foi essa D. Rosa — custa-me confessar-to — não o sei, e já o soube; [...]»¹


Norberto de Araújo poderá ter-se esquecido quem foi a Dona Rosa que deu nome ao sítio. Cabe-nos, pois, na medida do possível, tentar lançar alguma luz sobre este tema.  
Este prédio setecentista, solar antigo — conhecido por Palácio Dona Rosa — assente sobre uma estrutura pré-pombalina, terá pertencido a Dona Rosa Mello de Castro da Costa Mendonça e Sousa, Morgada do Alcube e de Colares, detentora do ofício hereditário de Porteiro-mor do Reino, senhora de enorme fortuna e «bem conhecida da alta sociedade lisbonense»,² que, além desta Casa em Alfama, era igualmente proprietária do Palácio do Cunhal das Bolas, ao Bairro Alto e o das Portas do Sol (Palácio Azurara) onde estão as Oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo.³

Palácio da Dona Rosa, arco e capela [1899-05-28]
Rua dos Remédios, 139-139A; à esquerda a antiga capela depois taverna; Escadinhas do Arco da Dona Rosa.
De acordo com Norberto de Araújo, «Morta D. Rosa (…) seus herdeiros venderam em 1882 o prédio a Francisco Cândido Máximo de Abreu que dos baixos (incluindo a Capela) fez um armazém de linho».
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente


Um olhar mais atento à fachada exterior do nº 139 da Rua dos Remédios deixa antever que, no séc. XVIII, ostentava notória beleza arquitectónica. Um interessantíssimo exemplar de casa apalaçada urbana sobretudo pela articulação dos dois corpos da fachada (habitação e capela) através do Arco de  Dona Rosa e Escadinhas daquela designação. A cruz e os pináculos que coroavam a fachada foram retirados. Cerca 1880, o púlpito e o tecto de madeira com pinturas em tela foram transferidas para uma igreja em Alhandra, ficando apenas com os painéis de azulejos barrocos das antigas capela (depois taverna) e sacristia. 
E aqui está uma curiosidade da Rua dos Remédios, da Alfama. Esta taverna — recorda o ilustre Norberto de Araújo — está toda revestida de magníficos silhares altos de azulejos, melhor direi: painéis, que ocupam todas as paredes. São historiados, com assunto relativo à Virgem, representando-se num dos painéis — segundo me parece — a Anunciação. O da parede da esquerda é mais curioso numa das suas histórias: num leito está uma parturiente e ao lado algumas donas lavam o menino numa bacia, enquanto outra aquece ou enxuga as roupas numa lareira.
Digno de registo é a circunstância de os azulejos se conservarem em óptimo estado numa taverna! Num aposento interior da casa, antiga sacristia, há também paredes forradas de azulejos «de navio», e, numa reentrância semi-circular, outro painel de óptimo desenho.¹==

Palácio de Dona Rosa, arco  [1945]
Rua dos Remédios, 139-139A; Escadinhas (antiga Calçada) do Arco da Dona Rosa.

Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Do portal principal, flanqueado por dois grandes vãos de janelas gradeadas, acede-se ao pátio que foi nobre, e que, por sua vez, abre sobre um logradouro: o Largo de D. Rosa [hoje integrado na Rua dos Remédios]. Em 1924, o prédio (já desfigurado) foi vendido a outros proprietários, tendo sido transformado num conjunto de habitações. Actualmente decorre uma empreitada de recuperação, restauro e reabilitação do conjunto de edifícios destinados a habitação.

Rua dos Remédios, 139-139A [c. 1900]
Escadas de acesso ao pátio e terreiro do Palácio de Dona Rosa

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X p. 100, 1939.
² CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga, 1901.
³ CASSIANO NEVES, Pedro Mascarenhas, Casas e Palácios de Lisboa: Pedras d'Armas, 2014.

Wednesday, 27 January 2016

O Retiro Perna de Pau e a história da gorda Gertrudes

«Mais adiante e à dir., [da Pç. do Areeiro] a Perna de Pau, um dos sítios mais frequentados das hortas alfacinhas, com o seu registo de azulejos embebido na fachada da casa, a sua nora gemedora e o seu panorama característico de arrabalde lisboeta, onde predominam o olival e o verde claro das terras de regadio.
Este local de tradições de boémia e estúrdia de há 50 anos, nele se têm feito desgarradas à guitarra e esperas de touros, com todo o pitoresco destes folguedos.» ¹

Retiro Perna de Pau junto ao apeadeiro do Areeiro na antiga Estrada de Sacavém [c. 1900]
Esta afamada casa de pasto situava-se no actual Largo Cristóvão Aires, perpendicular à Rua Gilhermina Suggia.
Aberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
 
« Diz uma tradição que nós mesmos colhemos da boca de uma vizinha da Orta, que o Perna de Pau fôra um antigo dono ou rendeiro do casal. Uma sexagenária que ajudava à cozinha nos dias de grande concorrência, quando as nacionais «pescadinhas de rabo na bôca»  chiavam toda a tarde na sertã, foi quem nos esboçou a personagem do quinteiro, que ela aliás não conhecera, a quem um desastre esmagara a perna, figura humilde e apagada que a Fatalidade celebrizou, perpetuando a perna que não era dele.

Retiro Perna de Pau junto ao apeadeiro do Areeiro na antiga Estrada de Sacavém [c. 1916]
Esta afamada casa de pasto situava-se no actual Largo Cristóvão Aires, perpendicular à Rua Gilhermina Suggia.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

A nossa informadora, estamos agora em crer, fez uma lamentável confusão de sexos. Não se trata de um quinteiro mas de uma quinteira, não de um sinistrado mas de uma sinistrada. Quem, segundo a outra versão, mais certa, deu nome à saudosa Orta da estrada de Sacavém, foi a sua mesma proprietária, a obesa Gertrudes, que em 1833, geria aquela locanda dos subúrbios. E a perna perdeu-a ela por via de um tiro de escopeta. Foi o caso que a Gertrudes era afeiçoada aos liberais, e quando as tropas miguelistas do Marechal Bourmont se preparavam para atacar as barreiras da cidade onde os de D. Pedro já estavam, um soldado realista, de passagem pela orta veio pedir uma sede de água à «malhada». A Gertrudes negou-lha. O miliciano era assomadiço. Pôs a arma à cara, e disparou. O tiro partiu e a bala cravou-se numa das pernas da quinteira. Tiveram de lha amputar, e mais tarde uma perna de pau veio substituí-la. Tal é a história.
Os anos rodaram; a identidade da gorda Gertrudes perdeu-se; a orta acabou com os seus «bródios» feriais, mas a perna permaneceu.» ²

Retiro Perna de Pau na antiga Estrada de Sacavém [1923-02-14]
A caminho do Perna de Pau na quarta-feira de cinzas.
C. Salgado, in Lisboa de Antigamente
Retiro Perna de Pau na antiga Estrada de Sacavém [1923-02-14]
Abancados no caramanchão clássico gozando a quarta-feira de cinzas  quarta-feira de cinzas.
C. Salgado, in Lisboa de Antigamente

Nas suas «Farpas», o erudito escritor Ramalho Ortigão diz, a propósito: «A «Perna de Pau», o restaurante célebre, bem conhecido de todos os estômagos com tendências bucólicas, impelidos pela nostalgia das hortas para fora de portas no tempo do tomate — organiza com os primores da estação, a nova lista dos seus acepipes. A talhe de foice, apresenta-se uma apetitosa ementa, da autoria de habilidosos artistas comensais:

Sopa de marisco será
O que primeiro comerá;
E logo em seguida virão
Bons pasteis de camarão;
Emborque-lhe: o branco vinho
Que o Monteiro dá, amiguinho.
Algum frango cm cabidela
E pr'a apanhar a piela
Regue'o co'a pinga danada
Que antes da vitela assada
O cidadão tem provado.
Vem sobremesa com ralé
Bebe-se logo o café,
E, se mal jantado ficar.
Vá àquela parte cear.
      Perna de Pau, 1 de Junho de 1912. 

Consta, igualmente, que as pescadinhas de rabo na boca, ornamentadas com raminhos de salsa, acompanhadas de salada de alface, eram do melhor que se comia em Lisboa. Diz-se, também, que entre os seus frequentadores, se encontravam elementos do grupo dos «Vencidos da Vida» e o pintor José Malhoa. Depois de ter passado por mais uns quantos proprietários, um mandado judicial determinou o seu encerramento c. 1930.

Passagem de nível na estrada de Sacavém, ao Areeiro, perto do retiro A Perna de Pau [194-]
A Estr. de Sacavém tinha seu começo no cunhal da Igreja de Arroios, onde se lia o respectivo letreiro municipal, posteriormente substituído por Rua Alves Torgo (1925), e estendia-se até Sacavém- Pelo edital de15/03/1956, este troço, entre a Avenida Almirante Gago Coutinho e a Linha do Caminho de Ferro de Cintura, passou a designar-se Rua Agostinho Lourenço.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ PROENÇA, Raúl, Guia de Portugal, Lisboa e arredores, p. 266, 1923.
² SEQUEIRA, Gustavo de Matos, MACEDO, Luiz Pastor de, A Nossa Lisboa-Novidades Antigas Dadas ao Público, p. 46, 1940.

Tuesday, 26 January 2016

Avenida Guerra Junqueiro

Por deliberação camarária de 07/11/1929 e edital de 12/11/1929 a Avenida 12 passou a denominar-se Dr. António José de Almeida e esta passou a designar-se Avenida Guerra Junqueiro, conforme pode ler-se no ponto 5º do Edital de 18 de Julho de 1933: «Que a actual Avenida Dr. António José de Almeida, seja dada a designação de Avenida Guerra Junqueiro».

Avenida Guerra Junqueiro [c. 1958]
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Abílio Manuel Guerra Junqueiro nasceu em 17 de Setembro de 1850 em Freixo de Espada à Cinta e faleceu em 7 de Julho de 1923, em Lisboa.
Licenciou-se em Direito em Coimbra, durante um período que coincidiu com o movimento de agitação ideológica em que eclodiu a Questão Coimbrã. Foi deputado, escritor e poeta. Manteve uma intensa escrita poética, aderiu ao partido Republicano e regressou à política com a implantação da República, tendo sido nomeado Ministro de Portugal em Berna. 

Avenida Guerra Junqueiro [c. 1958]
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

A vida rural inspirou-lhe Os Simples (1892), a sua simpatia pelos pobres continua em Os Pobrezinhos, escreveu A Velhice do Padre Eterno, uma obra de sátira anticlerical e ainda dentro da sátira política Finis Patriae (1890).
Destaque ainda para A Morte de D. João (1874), poema simultaneamente panfletário, satírico e religioso e Oração à Luz (1904). [cm-lisboa.pt]

Avenida Guerra Junqueiro [post. 1958]
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Loja das Meias

A Loja das Meias surgiu há mais de 100 anos, na esquina do Rossio com a Rua Augusta e durante muito tempo vendia somente meias e espartilhos. A história da Loja das Meias confunde-se muito naturalmente com a história da cidade de Lisboa. O local onde se situa o seu primeiro estabelecimento, no gaveto do Rossio com a Rua Augusta, tem sido o palco espontâneo do pulsar da capital. Todos os grandes acontecimentos, desde as visitas dos Chefes de Estado às manifestações políticas e sociais passaram à porta da Loja das Meias

Loja das Meias [1917]
Rua Augusta, 1-3; Praça Dom Pedro IV,  291-295
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

Em 1925 ampliado o espaço por ocupação do primeiro andar, instalado o 1.º elevador em estabelecimentos comerciais e rasgadas as montras, introduzido o conceito de montra temática. Surgem os concursos de montras em que a Loja das Meias ganha numerosíssimos prémios.
Em 1938 realizaram-se obras de modernização da loja, sob o risco do arq.º Raúl Lino e colaboração dos artistas plásticos mais famosos da época, tais como Fred Kradofer e Tomás de Mello, são remodeladas as fachadas exteriores, ampliada a Loja e criadas novas secções, sendo considerado então o mais «parisiense» e luxuoso do Rossio.

Loja das Meias [1917]
Rua Augusta, 1-3; Praça Dom Pedro IV,  291-295
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Com o advento da 2.ª Guerra Mundial passaram por Lisboa, e são clientes da Loja das Meias, personalidades como Primo de Rivera, Duque de Windsor, Elsa Schiaparelli, Jean Renoir, Guillermina Suggia, Barão de Rotschild, rei Humberto de Itália, Carol da Roménia, entre outros.

Loja das Meias [c. 1939]
Rua Augusta, 1-3; Praça Dom Pedro IV,  291-295
Fotógrafo não identificado, 
 in Lisboa de Antigamente

Monday, 25 January 2016

Avenida António Augusto de Aguiar e Rua Filipe Folque

Esta rua homenageia Filipe Folque (1800-1874), doutorado em Matemática desde 1826 e que nesse mesmo ano foi nomeado ajudante do director das obras do Mondego, e no seguinte, ajudante do Observatório da Universidade de Coimbra. A partir de 1840 foi lente de Astronomia e Geodesia na Escola Politécnica de Lisboa e professor de matemática dos filhos da rainha D. Maria II.

Avenida António Augusto de Aguiar e Rua Filipe Folque [1959]
Dístico atribuído em 1902; Palacete Bensaúde [demolido]
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Depois, entre 1844 e 1870, Filipe Folque foi Director-geral dos Trabalhos Geodésicos do Reino e assim dirigiu entre 1856 e 1858 um levantamento topográfico de Lisboa (a Carta topographica da cidade de Lisboa, editada em 1878) e publicou diversos estudos como «Colecção de Tábuas para facilitar vários cálculos astronómicos e geodésicos» (1865) ou «Rapport sur les travaux géodésiques du Portugal et sur l’état actuel de ces mêmes travaux pour être présenté à la Comission Permanente de la Confèrence Internationale» (1868). (cm-lisboa.pt)

Rua Filipe Folque e Avenida António Augusto de Aguiar [1959]
Palacete Bensaúde [demolido]
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 24 January 2016

Travessa Água-da-Flor

Situada entre a Rua de São Pedro de Alcântara e a Rua da Rosa, trata-se de um arruamento que data da formação do Bairro Alto, muito embora, só apareça mencionado nos registos paroquiais de 1666. Anteriormente designado por Travessa da «Agoa do Frol». 

Travessa Água-da-Flor [c. 1900]
Esquina da  Rua do Diário de Notícias; ao fundo a Rua de São Pedro de Alcântara
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O seu topónimo tem origem no facto de nesta artéria habitar um vendedor, ou um fabricante, deste afamada água perfumada feita com flores de laranjeira usada para aromatizar. Todavia, em 1880, ficou conhecida como sendo o local onde ocorreu o famoso «conto do vigário», cujo termo ainda hoje é tão familiar.
(MACEDO, Luiz Pastor de, Lisboa de Lés-a-Lés , vol I, p. 67, 1941)

Travessa Água-da-Flor [c. 1900]
Esquina da  Rua do Diário de Notíciass; ao fundo a Rua de São Pedro de Alcântara
Machado & Souza,
in Lisboa de Antigamente

Igreja de Nossa Senhora da Porciúncula do Convento dos Barbadinhos

A igreja de Santa Engrácia, na calçada dos Barbadinhos. é uma edificação de 1720 a 1789, em terrenos cedidos por D. João V para o convento dos Barbadinhos italianos de Nossa Senhora da Porciúncula ou dos Anjos, congregação autorizada em 1686 e que se instalara em 1689 em casas junto à ermida de Nossa Senhora do Paraíso, na Cruz da Pedra, caminho de Xabregas.
A cerca do convento, que era vasta, foi retalhada e uma parte dela destinada ao reservatório da Companhia das Águas, chamado dos Barbadinhos.
A freguesia instalara-se entretanto, em 1681, na ermida de Nossa Senhora do Paraíso, ao cimo desta rua, e ali se conservou até ó de Abril de 1885, dia em que foi ocupar a igreja dos Religiosos Barbadinhos, que pela extinção das Ordens haviam deixado o país.
A igreja de Santa Engrácia recebeu em 1896 grandes reparações, estando encerrada uns tantos meses e reabrindo em 30 de Junho.

Igreja de Nossa Senhora da Porciúncula do Convento dos Barbadinhos |c. 1900|
Calçada dos Barbadinhos
A igreja de Santa Engrácia, situada ao fundo de um
vasto adro, fechado por gradaria, orientada a Poente, é no seu Exterior simples, mas
expressiva da fundação conventual. [Araújo: 1956]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
A igreja, classificada como Imóvel de Interesse Público, desenvolve-se em 3 corpos: o central precedido por galilé de 3 arcadas gradeadas e encimadas por 3 janelas iluminantes; o lateral esquerdo com uma torre sineira construída no séc. XIX, que veio afectar o equilíbrio primitivo da estrutura; e o lateral direito rebaixado. No exterior podemos ainda observar, sobre a arcada central, uma pedra com as armas reais e, sobre a janela do meio, um nicho que acolhe uma escultura, em pedra, da padroeira. No interior merece destaque a total ausência de talha dourada em benefício da talha escura executada com madeira do Brasil.

N.B. Com a extinção das ordens religiosas, esta igreja passou a paroquial de Sta. Engrácia, enquanto que a casa conventual está hoje dispersa por várias entidades e privados, tendo sido transformada numa «vila» com diversos moradores.

Igreja de Nossa Senhora da Porciúncula do Convento dos Barbadinhos, interior |1959|
Calçada dos Barbadinhos
O Corpo da igreja, em nave única, e nele o tecto, em estuque, com ornatos a tempera,
obra do restauro do séc. XIX, com uma pintura central que representa Nossa Senhora
da Conceição, rodeada de anjos. [Araújo: 1956]
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, 1956. 

Saturday, 23 January 2016

Escadinhas dos Terramotos

Passagem em escadaria entre a Rua do Arco do Carvalhão e a antiga estrada da circunvalação, actual Rua Maria Pia. As escadas começam ao lado do nº 143 da Rua do Arco do Carvalhão e findam defronte do nº 590 da Rua Maria Pia.
O topónimo advém da Ermida do Senhor Jesus dos Terramotos, situada na Rua Arco do Carvalhão, 116-118, junto às escadinhas. A ermida foi construída entre 1756 e 1798 e reconstruída em 1842. 

Escadinhas dos Terramotos [ant. 1945]
Rua do Arco do Carvalhão
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Antes de se chamar Rua do Arco do Carvalhão tinha o nome de «Rua do Sargento-Mór», como indica Norberto de Araújo nas suas Peregrinações em Lisboa.
Estes terrenos pertenciam a Sebastião José de Carvalho e Melo, ainda antes de ser Marquês de Pombal e Conde de Oeiras e estendiam-se desde a Cruz das Almas até à Rua Marquês de Fronteira. Era proprietário de casas, terras, olivais, pedreiras, nomeadamente a da Cascalheira, fornos de cal, moinhos e azenhas. «Carvalhão» era o nome pelo qual era conhecido o futuro Marquês de Pombal, o qual se compreende, pela quantidade de património que possuía nesta zona da cidade.

Escadinhas dos Terramotos, frades de pedra [ant. 1945]
Rua Maria Pia
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Palácio dos Duques de Cadaval

No extremo noroeste do Rossio existiam até c. 1880, o palácio, jardins e terrenos da Casa de Cadaval, dentro de um grande pátio na Rua do Príncipe (actual Rua 1º de Dezembro). Depois do Terramoto de 1755, em que foi completamente arrasado, foi reconstruido, ficando com a frente para a Rua do Príncipe (cf. 1ª foto), e a fachada principal voltada ao sul, para o Pátio do Duque (cf. 2ª foto), ou do Duque de Cadaval (v. Carta Topográfica). Foi demolido em 1880 para permitir a construção da estação do caminho de ferro do Rossio e do seu anexo, destinado originariamente a hospedaria e botequim.

Palácio dos Duques de Cadaval, Rua do Príncipe, actual Rua 1º de Dezembro [ant. 1880]
Estúdio Horácio Novais in Lisboa de Antigamente
Palácio dos Duques de Cadaval, Rua do Príncipe, fachada virada a Norte, actual Largo Duque de Cadaval [ant. 1880]
Estúdio Horácio Novais in Lisboa de Antigamente
Palácio dos Duques de Cadaval, Rua do Príncipe, fachada virada a Norte, actual Largo Duque de Cadaval [ant. 1880]
Estúdio Horácio Novais in Lisboa de Antigamente
Atlas da Carta Topográfica nº 36 de Lisboa de Filipe Folque, 1858, [fragnento]
Legenda:
- Vermelho: terrenos do palácio, jardins virados a Norte
- Azul: fachada principal voltada a Sul, para o Pátio do Duque, ou do Duque de Cadaval
- Verde: frente para a Rua do Príncipe (v. 1ª foto)

Friday, 22 January 2016

Rua do Amparo: Manteigaria União e Casa Suissa

Sucursal da antiga e popular Manteigaria União, sita na  Rua do Amparo,  interior datado 1900 e tecto pintado com querubins. Ao lado desta (à dir. na foto) ficava a pastelaria e salão de Chá «Casa Suissa», fundada por Isidro Lopes e Raul de Moura em 18 de Março de 1922, para exercer a actividade de «pastelaria, leitaria e seus derivados». Até então, funcionava neste local a «Casa Suissa», nome de 1910, mas aplicada um estabelecimento de fazendas e retrosaria.

Rua do Amparo [c. 1930]
Manteigaria União e Casa Suissa
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

N.B.  Até ao Edital da CML de 28/8/1950, a Rua do Amparo estendia-se da Praça D. Pedro IV (Rossio) à Rua do Arco do Marquês de Alegrete (Poço do Borratém); a partir desta data, este arruamento ficou limitado pelas Praças de D. Pedro e da Figueira. 

«Casa Suissa», antiga fachada
Rua do Amparo
A fachada actual da Pastelaria Suiça, de 1947, é da autoria de Francisco Tojal.

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