Sunday, 29 September 2024

Igreja de São Domingos

S. Domingos — Dilecto — é uma crónica viva de Lisboa, com as suas imediações da Praça da Figueira, com o seu trânsito obrigatório, pela Rua Barros Queiroz e Calçada do Garcia, formigueiros de gente, que desce dos Anjos, dos bairros novos, ou de Sant'Ana velha. [...]

Junto do templo dominicano, assentava, crê-se que já antes de se erguer o Convento, a pequenina ermida de N. Senhora da Purificação, da Escada, de grande nomeada na Lisboa velha; o seu lugar era onde está a Casa de Candeeiros, que foi de Tomé de Barros Queiroz, bom cidadão de Lisboa (...)»

Igreja de São Domingos [c. 1910]
Rua Barros Queirós; Largo de S. DomingosGinjinha do Rossio
A velha Igreja de São Domingos ficava junto à ermida de Nossa Senhora da Escada, também conhecida por Nossa Senhora da Corredoura, por ficar próximo do sítio deste nome, actualmente a Rua das Portas de Santo Antão, e cuja construção datava dos princípios da monarquia.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Tendo sido lançada a primeira pedra no ano de 1241, e alvo de sucessivas e diferentes campanhas de obras que lhe foram alterando e adicionando a traça primitiva, data de 1748 a reforma efectuada na capela-mor pelo arqº Ludovice, acabando por ser a única zona do templo poupada ao terramoto de 1755. Seguidamente, a igreja foi reconstruída por Manuel Caetano de Sousa, que reaproveitou o portal e a sacada sobrejacente pertencentes à Capela-Real do Paço da Ribeira.
Em termos formais, esta Igreja conventual denuncia uma arquitectura barroca, de planta em cruz latina. Enquanto que exteriormente é caracterizada pelas suas linhas simples, o interior ainda revela alguma da sua notória riqueza ecléctica. Assim, serão dignos de realce, não apenas o aspecto grandioso de todo o espaço interior, como os próprios mármores e pinturas, infelizmente hoje desaparecidos.

Era notável a sua riqueza em alfaias preciosas, havendo uma imagem de prata maciça, que saía em procissão num andor do mesmo metal, alumiada por lâmpadas também de prata. As pinturas dos altares, os paramentos, os tesouros, tudo desapareceu durante o terramoto de 1755, salvando-se unicamente a sacristia e a capela-mor, mandada fazer por D. João V e riscada pelo arquitecto João Frederico Ludovice, em 1748 - homem que projectou o colossal Convento de Mafra. A capela-mor, toda de mármore negro, e em cujas colunas se vêem, junto à base, medalhões delicadamente cinzelados, que também avultam sobre os nichos laterais.
 
Igreja de São Domingos |Inicio séc. XX|
Perspectiva longitudinal do interior da Igreja
A Capela-mor, edificada em 1748 por Ludovice e acabada por João António de Pádua é rematada
por um arco de volta perfeita que marca a outra extremidade da abóbada de berço e possui quatro
grandes colunas sem capitel que delimitam o receptáculo do Sacrário com porta de bronze. O conjunto
é rematado por formação escultórica ladeando o registo central, duas mísulas com as estátuas de
S. Domingos e S. Francisco. Nas paredes laterais, janelas ao nível do grupo escultórico superior.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Em 13 de Agosto de 1959, um violento incêndio destruiu por completo a decoração interior da igreja, onde constavam altares em talha dourada, imagens valiosas e pinturas de Pedro Alexandrino de Carvalho. A igreja recebeu obras e reabriu ao público em 1994, sem esconder as marcas do incêndio, como as colunas rachadas. Ainda que destruída, é uma igreja que sobressai pela policromia dos seus mármores. 
Actualmente é a igreja paroquial da freguesia de Santa Justa e Santa Rufina, em plena Baixa Pombalina e foi classificada como Monumento Nacional. Expõe metade do lenço usado por Lúcia no dia 13 de Outubro de 1917 (a outra metade encontra-se no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Fátima) e ainda o terço usado por Jacinta Marto no mesmo dia.

Igreja de São Domingos, abside e torre sineira |c. 1950|
Rua Dom Duarte cruzamento com a Rua da Palma  e Rua Barros Queirós
Numa passagem para a sacristia, com entrada pela Rua da Palma, encontram-se os túmulos do grande pregador dominicano Fr. Luís de Granada (m. 1588) e do reformador da ordem Fr. João de Vasconcelos (m. 1652). Esta igreja tem ainda uma cripta abobadada e dotada de lambris de azulejos, onde está o túmulo de D. João de Castro, capelão de D. João. 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa», vol. XII, p. 80, 1939.
CARRIÇO, Hugo Miguel, Informação sobre igrejas de Lisboa, 2017.

Friday, 27 September 2024

Rua Violante do Céu

Por Edital de 19 de Julho de 1948 foi inscrito o nome de Violante do Céu na Rua nº 10 do Sítio de Alvalade, a que mais tarde, por parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 15/05/1970, se juntou a legenda «Poetisa / 1601–1683». 

Rua Violante do Céu |1961|
Poetisa 1601-1683
Antiga Rua nº 10 do Sítio de Alvalade.
Cena de rua com venda ambulante; fotografia tirada da Escola Eugénio dos Santos no cruzamento com a Av. de Roma.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Soror Violante do Céu foi freira dominicana que na vida secular se chamava Violante Montesino. Professou no convento de Nossa Senhora do Rosário da Ordem de S. Domingos em 1630. Conhecida nos meios culturais da sua época como Décima Musa e Fénix dos Engenhos Lusitanos, cultivou a vertente conceptista do Barroco, que assentava, essencialmente na construção mental e na elegância da subtileza, exibindo um estilo muito mais intelectualizado do que o admitiria o preconceito sentimentalista feminino. Profundamente entrosada no espírito da Fénix Renascida, exibe nas suas composições uma dietética idealista que procura concretizar o impossível, transformar a morte na vida, a tristeza na alegria.
Destacam-se na sua obra «La Transformación por Diós» (1619), «Rimas» (1646) e «Parnaso Lusitano de Divinos e Humanos Versos» (1733). [infopedia]

Sunday, 22 September 2024

Escadinhas na Rua do Sacramento, à Pampulha

O topónimo deriva do Convento do Sacramento, de religiosas dominicanas que foi fundado em 1612 pelos Condes de Vimioso. A sua igreja manteve o culto alguns anos depois de 1834 e nuns anexos da ala poente esteve instalada depois de 1911, a Academia de Ciências de Portugal. A partir de 1916, o edifício passou a depender do então Ministério da Guerra.

Rua do Sacramento a Alcântara: Escadinhas na Pampulha |1949|
Cruzamento com a Rua Tenente Valadim com a Calçada da Pampulha em fundo.
Fernando M. Pozal, in Lisboa de Antigamente

Em relação à etimologia da palavra «Pampulha», refere Gomes de Brito na sua Ruas de LisboaÉ este um dos dísticos da via pública lisbonense até agora, supõe-se, indecifrados, e já agora indecifráveis, provavelmente. De remota era é decerto, pois que por coevo da dominação filipina se pode afirmar.
Aliás, no que a esta denominação diz respeito. Norberto Araújo faz afirmação idêntica.  
(BRITO, Gomes de) Ruas de Lisboa. Notas para a história das vias públicas, 1935.)

Friday, 20 September 2024

Cruzamento formado pelas Ruas Nova de São Mamede, Salitre, Barata Salgueiro e Rodrigo da Fonseca

No final do século XII, e sob a autoridade do Bispado de Lisboa, surgem na capital as dez primeiras freguesias (terreno delimitado, na cidade ou no campo, em que habitavam indivíduos que seguiam o mesmo culto, tendo como ponto principal o templo ou a igreja matriz). Em 1247, nasce São Mamede, famosa por albergar o Jardim Botânico de Lisboa e o Edifício da Imprensa Nacional. É a mais antiga das freguesias que hoje formam a de Santo António.

A Rua Nova de São Mamede é assim designada por se encontrar nas proximidades da Igreja Paroquial de São Mamede. Esta paróquia remonta ao século XIV (1312), Anteriormente designada Travessa de São Mamede, este arruamento foi renomeado  pelo Edital do Governo Civil de 5 de Abril de 1945, tendo o seu início no Largo de São Mamede e término na Rua do Salitre.

Salitre. O local em que se encontra foi mencionado pela primeira vez em 1665 nos Livros dos Óbitos da freguesia de São José: “Pátio do Salitre”, designação que se manteve até 1746. Este topónimo nasceu das nitreiras ou salitrais que os frades de São Bruno – conhecidos como Cartuxos ou Brunos – tinham nas suas hortas, nos terrenos que detinham nesta artéria, já que salitre é o nome vulgar do nitrato de potássio, um adubo. Este arruamento inicia-se na Avenida da Liberdade, terminando na Rua Rodrigo da Fonseca.

Cruzamento formado pelas Ruas Nova de São Mamede, Salitre, Barata Salgueiro e Rodrigo da Fonseca |ant. 1928|
Autor desconhecido, in Lisboa de Antigamente

A Rua Barata Salgueiro homenageia o Dr. Adriano Antão Barata Salgueiro (1814-1895) que cedeu gratuitamente e a preços reduzidos terrenos para a o projecto de urbanização da Avenida da Liberdade. Denominação atribuída por Deliberação Camarária de 6 de Maio de 1882. Este arruamento tem início na Rua de Santa Marta e termina Rua Rodrigo da Fonseca.

A Rua Rodrigo da Fonseca — anteriormente designada Azinhaga do Vale do Pereiro — foi renomeada pela Deliberação Camarária de 28 de Fevereiro de 1884 e respectivo Edital do Governo Civil de 4 de Março do mesmo ano, iniciando-se na Rua do Salitre e terminando na Rua Marquês de Fronteira. 
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Bibliografia
jfsantoantonio.pt

Sunday, 15 September 2024

Avenida Almirante Reis, 6

No número 6 da Av. Alm. Reis destaca-se uma fachada de azulejo azul e branco de cariz revivalista evidencia o complexo urbano relacionado com a Fábrica Viúva Lamego que apresenta outras zonas de azulejo de padrão azul e branco e outras ainda com um verde e preto algo islamizante. 

Avenida Almirante Reis, 6 |Inicio séc. XX|
Edifício da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, fund. em 1849, embelezado com um vistoso revestimento azulejar que abrange a totalidade da fachada.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Esta fachada é um exemplo típico de uma arquitectura ou melhor de uma decoração do meio do século XIX. Este interessante edifício está classificado como Imóvel de Interesse Público.

Avenida Almirante Reis, 6 |1970-02|
Edifício da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, fund. em 1849, embelezado com um vistoso revestimento azulejar que abrange a totalidade da fachada. Travessa Cidadão João Gonçalves.
João Goulart, in Lisboa de Antigamente

Friday, 13 September 2024

Avenida Álvares Cabral

Pelo edital de 18/11/1910 «a Avenida que deve ligar o Largo da Estrella com o antigo Largo do Rato, hoje Praça do Brazil» passa a denominar-se de Avenida Álvares Cabral.

No 1º Edital após a implantação da República, datado de 5 de Novembro de 1910, foram atribuídos ao Largo do Rato o topónimo Praça do Brasil e, à Praça do Príncipe Real, o de Praça do Rio de Janeiro. O primeiro foi em "homenagem ao grande País nosso amigo e irmão e à passagem do seu chefe de Estado por esta capital"

Avenida Álvares Cabral SN|1944|
Antiga Pedro Álvares Cabral
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Na realidade, a circunstância do Presidente Hermes da Fonseca ter estado em Lisboa nos dias 4 e 5 de Outubro, conferia ao Brasil a condição de ser o primeiro país a reconhecer o novo regime. Percebe-se assim que o 2º Edital datado de 18/11/1910 denomine a artéria que desemboca na então Praça do Brasil com o nome do navegador português que primeiro chegou às Terras de Vera Cruz: Pedro Álvares Cabral.

Avenida Álvares Cabral N→S |c. 194.|
Antiga Pedro Álvares Cabral; Rua de S. Bento
C. Salgado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 8 September 2024

Rua de Santo António dos Capuchos

Santo António dos Capuchos (Rua de) — Em 1786 se lhe chamava «Rua Nova de Santo António dos Capuchos». Por esta rua transitou o cadáver da rainha de Inglaterra [Catarina Henriqueta de Bragança, vd. Nota(s)], indo a seu enterro em Belém. [Brito: 1935]
O topónimo do arruamento deriva da Convento de Santo António dos Capuchos (hoje hosp.) — dos religiosos franciscanos da província de Santo António — fund. neste local em 1570.

Rua de Santo António dos Capuchos, 35 |1942|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): Dona Catarina de Bragança (1638-1705) morreu no Paço da Bemposta. Enterrada no real convento de Belém ou Igreja dos Jerónimos, o seu corpo foi depois trasladado para o panteão dos Braganças em São Vicente de Fora.

Friday, 6 September 2024

Pátio do Pimenta

Na casa cujo piso térreo aqui se vê à dir. com o novo nº de policia «1», morou Almeida Garrett, em 1836, «na casa que fica á esquerda, entrando, com um jardinzlnho do lado de oeste, e tem o n.º 13-A. Casa pequena, mas bonita, contornada com arbustos e flores, tendo uma linda vista sobre o Tejo».

Vítor parou, resolveu esperar. A chuva caía e, envergonhado do cocheiro, tinha-se refugiado à esquina, na Calçada do Pimenta; não tirava o olhar da janela mas nenhuma mulher passava sob a vidraça da janela; e a luz, um pouco fraca, parecia ser das velas sobre o toucador. [QUEIROZ, Eça de, Tragédia da Rua das Flores, 1877]

 

Pátio do Pimenta com Rua do Ataíde que desce ao fundo, passado o arco. |1954-10|
 Na casa cujo piso térreo aqui se vê à dir. com o novo nº de policia «1», morou Almeida Garrett, em 1836, «na casa que fica á esquerda, entrando, com um jardinzlnho do lado de oeste, e tem o n.º 13-A. Casa pequena, mas bonita, contornada com arbustos e flores, tendo uma linda vista sobre o Tejo».
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Eça de Queiroz chamou à Rua do Ataíde «Calçada do Pimenta». No cimo desta Calçada existe, de facto, o chamado «Pátio do Pimenta», onde morou o sobrinho de Almeida Garrett, companheiro do cunhado de Eça, o conde de Resende, e participante da verdadeira tragédia da Rua das Flores com Vieira de Castro. Descobrindo este que a mulher o enganava com o sobrinho de Garrett, resolveu matá-la, o que fez sufocando-a com uma almofada.
O pátio do Pimenta, ainda hoje existente, encontrava-se aí demarcado, podendo assim concluir-se que a «Calçada do Pimenta» referida por Eça era a Rua do Ataíde, já com essa designação no tempo do romancista, à esquina da qual se localizava o andar onde Genoveva se suicidaria.

Sunday, 1 September 2024

Antigo Largo de Alcântara: Ruas Prior do Crato e Maria Pia

Alcântara urbanizada não leva duzentos anos: de arrabalde fez-se cidade em fins de setecentos. Mas é lisboeta de casco e sumo. Rescende alguma coisa de um passado evocativo. Já lá não está a ponte de Alcântara com S. João Nepomuceno — recorda o ilustre Norberto de Araújo. Mas o Prior do Crato resiste no letreiro da artéria principal do bairro. 
(ARAÚJO, Norberto de, «Legendas de Lisboa», p. 143, 1943)

Originalmente, o topónimo foi aprovado como Rua Prior do Crato (Dom António) e passou a ter a grafia actual após uma decisão da reunião de Câmara de 14/12/1943. Também apesar de não constar na placa toponímica, foi o topónimo aprovado com a legenda «O Glorioso vencido da Ponte de Alcântara em 25 de Agosto de 1580»-

Antigo Largo de Alcântara: Ruas Prior do Crato e Maria Pia |1966|
Cruzamento das Ruas Prior do Crato e Maria Pia
A velha ribeira pode ter sido encanada. A vetusta ponte pode ter desaparecido, mas eis que logo outra surge, lá ao fundo, no horizonte.
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente

Foi pelo Edital de 07/11/1901 que parte da Estr. de Circunvalação, do lado sul da antiga ponte de Alcântara e até ao cruzamento com a Rua do Arco do Carvalhão, se passou a denominar Rua Maria Pia, mas segundo Norberto Araújo, já desde o final do séc. XIX que o povo a chamava assim.

Antigo Largo de Alcântara: Ruas Prior do Crato e Maria Pia |1949|
Largo de Alcântara [sítio da ponte de Alcântara], cruzamento das ruas Maria Pia e Rua Prior do Crato.
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

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