O Convento da Encarnação foi mandado construir pela Infanta D. Maria (1521-1577). É um convento de freiras beneditinas, uma das belas jóias da arquitectura religiosa a ver em Lisboa, pouco conhecida, talvez, pela sua localização. E porque sua igreja só abre uma vez por semana, aos domingos. É um tesouro bem guardado.
Vicissitudes várias, relacionadas com o contexto histórico das décadas seguintes, levaram a que o Convento de Nossa Senhora da Encarnação, só viesse a ser fundado em 1614, sob a égide de Filipe III.
Convento de Nossa Senhora da Encarnação: «O Mosteiro da Infanta» [c. 187-] Largo do Convento da Encarnação Panorâmica tirada de São Pedro de Alcântara, vê-se o Convento da Encarnação, a Igreja de São Luís dos Franceses, e, em último plano, a Igreja e Convento da Graça. Franccsco Rocchini, in Lisboa de Antigamente |
Viveu a Senhora Infanta [D. Naria] — recorda o ilustre Norberto de Araújo — entre artistas, latinistas e teólogos. Devota como seu irmão, D. João III, não esqueceu nunca a filha de D. Manuel, o «Venturoso», os hábitos da corte do Paço da Ribeira, onde nascera em 1521. Era riquíssima. A sua vida de sempre menina decorreu, deslizou entre mesuras paçãs e perfumes de incenso. [...]
Diz-se que foi amada por Camões, e que talvez lhe tivesse dado asas para o Poeta voar a tão «alto pensamento». Era uma linda senhora, de nariz um tudo nada imperfeito, o que lhe imprimia um ar de malícia excelsa, e lhe aumentava o picante da expressão, misto de sensualidade e idealismo, como no desenho de Chantilly, cópia de Gregório Lopes. [...]
E eis-nos, Dilecto, no Largo, e defronte do Convento da Encarnação. É o edifício enorme que de todos os altos de Lisboa se avista,
É um casario soturno, quase misterioso, debruçado sobre o Rossio. Na sobreporta da Igreja ostenta-se o brasão daquele infantado virginal. Por todo o edifício, pelos claustros e terraços, esconsos e escadarias, pejadas de oratórios, de altares, de mistérios místicos — passa ainda, apesar de no mosteiro nunca ter vivido, o talhe esbelto da Senhora Infanta, vestida com o hábito branco de S. Bento, ornado da cruz verde de Avis, tal qual cai ainda hoje dos reposteiros moles.
No exterior, em pleno Largo do Convento , uma casinha setecentista de um pitoresco inverosímil, milagre de arquitectura ingénua e popular, reúne-se à ostentação artística da Igreja, repousada nos seus azulejos, pinturas de bom pincel e lavores de prata.
Após a extinção das ordens religiosas, a 30 de Maio de 1834, as condições de vida no convento decaem consideravelmente por ter cessado a entrada dos rendimentos provenientes da Ordem de Avis. O Convento da Encarnação é extinto em Março de 1896 após a morte da última religiosa e integrado na Fazenda Nacional. Já no início do século XX passa a integrar os «Recolhimentos da Capital», conjunto que desde 2011 está sob gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Convento de Nossa Senhora da Encarnação, interior da igreja [c. 1900] Largo do Convento da Encarnação Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente |
Convento de Nossa Senhora da Encarnação, coro [c. 1900] Largo do Convento da EncarnaçãoUma parte do Claustro Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de Araújo, Legendas de Lisboa, pp. 60-61, 1943.
ALMEIDA, Fernando de, Monumentos e edifícios notáveis do Distrito de Lisboa, Volume 5, Segundo Tomo, 1975.