Sunday, 27 September 2020

Rua Áurea, 167-169: Papelaria da Moda


Lojas de Antanho: Papelaria da Moda (Vieira)

 

O jornal diário A Capital: Diário Republicano da Noite, na sua edição de 29 de Junho de 1916, dedicava um longo artigo às mais antigas e tradicionais lojas da Baixa, mais precisamente aquelas situadas na Rua Áurea, vulgo do Ouro. Sobre a história do estabelecimento denominado Papelaria da Moda (Vieira) — e respeitando a grafia da época — o texto rezava assim:

Nos n.ºs 167 e 169 está presentemente instalada a Papelaria Vieira (da Moda), cuja especialidade consiste na venda de penas com tinta, tendo uma colecção enorme e riquíssima. Antes estava ali uma casa de brinquedos vários, pertencente ao sr. Antonio Candido de Menezes. Foi n'essa loja que o palhaço Wythoine teve a sua tabacaria. E curiosa a história d'esse palhaço, que trabalhou com Sechi e Alfano, no Circo Price, a esquina da travessa das Vaccas [actual Rua. do Salitre]. Sahindo d'essa casa de espectaculos, Wythoine fundou a empreza de onde sahiu a do Colyseu dos Recreios, dando-lhe o nome «Lisbon Pavillon and Summer Gardenn's».

Rua Áurea, 167-169 |c. 1914|
Papelaria da Moda
Alberto Carlos Lima, 
in Lisboa de Antigamente

Mais tarde, porém, como fosse posto fora da empreza, fundou a tabacaria alludida, onde passou o resto da vida.
A papelaria Vieira está na antiga loja de Wythoine há dois annos [c. 1914], o maximo. Entretanto, conta já uma notavel clientella, recrutada na alta roda lisboeta, sendo notavel o negocio que ella faz de penas com tinta e dos respectivos accessorios. Na sua especialidade, esta casa virá dentro em pouco a ser uma das mais importantes de Lisboa.==
(A Capital: diário republicano da noite, Guimarães, Manuel, 1868-1938, ed. com., N.º 2106, 26 Jun. 1916)

Rua Áurea, 167-169 |1928-06|
Carro decorado da Papelaria da Moda
Fotógrafo não identificado,
in Lisboa de Antigamente

Friday, 25 September 2020

Panorâmica sobre a Boa-Hora

A Associação de Socorros Mútuos e Instrução Aliança Operária foi homenageada por atribuição do Edital de 14 de Outubro de 1915 à Rua de Santana, hoje Rua Aliança Operária.
A Associação de Socorros Mútuos e Instrução Aliança Operária, conhecida como Aliança Operária, fundada em 1880, foi uma das muitas nascidas em Portugal e sediadas na cidade de Lisboa, após o impulso das doutrinas socialistas na Europa a partir de 1848, como a Associação Operária (1849), o Centro Promotor das Classes Laboriosas de Lisboa (1851), a Associação Tipográfica Lisbonense (1852), a Associação Fraternidade Operária (1873), a Associação dos Trabalhadores da Região Portuguesa (1874), a Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário (1883), a Caixa Económica Operária ou a Fraternidade Operária Ajudense. [cm-lisboa.pt]

Panorâmica sobre a Boa-Hora [s.d.] [c. 1940]
Rua Aliança Operária
À direita, o antigo Convento de Nossa Senhora da Boa-Hora (Hospital Militar de Belém); em último plano, ao centro, a Igreja da Memória.
Eduardo Portugal,  in Lisboa de Antigamente

Sunday, 20 September 2020

Profissões de antanho: o chumeco

Chumeco era, no nosso tempo — diz Calderon Dinis — , a classificação profissional, um pouco depreciativa é certo, que se dava a todo o sapateiro de escada, ao remendão que punha meias solas e gáspeas nas botas, que então os sapatos ainda eram de pouco uso, ou umas tombas a tapar os buracos eventualmente aparecidos.

Chumeco teria sido adaptado ao português vulgar derivado do inglês — shoemaker — que significa sapateiro. 


Magníficos profissionais, sapateiros autênticos, que para eles nunca havia dificuldades, a todos satisfazendo com a mesma bonomia e prodígios de habilidade, fosse a endireitar sapatos cambados de senhoras vizinhas, ou a aliviar joanetes com o alvéolo necessário na gáspea, tudo feito com muita paciência e perícia, embora a freguesia, quase sempre, parca de recursos, fosse exigente.

Sapateiro de escada, engraxadoria |1968]
Rua 1.º de Dezembro, antiga do Príncipe, antes Travessa Camões
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Muitos sapateiros que conhecemos envelheceram nas suas reduzidas oficinas de vão de escada, onde também engraxavam calçado. Sabiam a vida de todos os moradores dos prédios, que eles divulgavam, pitorescamente, enquanto davam lustro aos sapatos. Outros os substituíram, pois que o chumeco remendão, no fim de contas, foi e é um hábil e profissional, grande auxiliar das pessoas que nem sempre podem comprar calçado novo.
Pacientemente, em meio da aparente desordem dos montões de sapatos e botas para consertar, eles conheciam e sabiam a quem pertenciam e nunca se enganavam.

SProfissões de antanho: o chumeco
Profissões de antanho: o chumeco


Sapateiro cosendo um sapato |1967|
Alfama
Sid Kerner, in Lisboa de Antigamente      



Aprendiz de sapateiro |1922|
Alfama
Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente



Bibliografia
DINIS, Calderon , Tipos e Factos da Lisboa do meu tempo (1900-1974), p. 274, 1986.

Friday, 18 September 2020

Edifício da (antiga) Companhia dos Elevadores Mecânicos de Lisboa

Palacete projectado pelo arq. Jorge de Almeida Segurado, em 1926  (traçado sobre a construção de 1879), com três frentes urbanas, sendo a fachada voltada ao Largo de Santos precedida por espaço ajardinado. Desafogada vista sobre o rio Tejo e impacto urbanístico derivado da localização do imóvel face ao traçado que aqui descreve a Av. 24 de Julho, são elementos de enquadramento aos quais se deverão juntar as características próprias desta zona histórica e muito em especial da envolvente do Largo de Santos (a E., um quarteirão com edifícios de habitação do séc. 19; a N., o Cinema Cinearte e o Palácio Marquês de Abrantes; ao centro, o Jardim). 
Actualmente sede da ERC.

Edifício da (antiga) Companhia dos Elevadores Mecânicos de Lisboa |195-|
Avenida 24 de Julho, 58;  Largo de Santos;  Calçada Ribeiro Santos
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Com base nas Décimas da Cidade, pelo menos de 1815 a 1833 que se conhece a existência de um pequeno arruamento antecessor desta Calçada Ribeiro Santos, com a denominação de Travessa das Pedras de Santos, a começar entre as ruas das Janelas Verdes e de Santos-o-Velho em direcção ao rio, havendo lá três propriedades edificadas. Melhorada e ampliada entre as décadas de 60 e 70 do século XIX, passando por terrenos, uns públicos e outros particulares, entretanto, expropriados, veio a confluir na avenida 24 de Julho, ganhando a designação de Calçada de Santos (vulgo Rampa de Santos), o que durou até 1974.

Edifício da (antiga) Companhia dos Elevadores Mecânicos de Lisboa  |post. 1926| 
Calçada Ribeiro Santos, 1
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 13 September 2020

Palacete da Quinta dos Lilases

O edifício integrado num espaço amplo e funcional apresentava em 1902 todo um conjunto de equipamentos característicos das quintas de recreio agrícola: cocheira, cavalariças, capoeiras e vacarias, celeiros, estufa, lagos, casa para caseiros, hortas e mata.  


O edifício de cariz romântico, apresenta uma simetria rigorosa na sua fachada virada á Alameda das Linhas de Torres, sendo o seu revestimento de azulejo de fabrico industrial, num interessante tom verde – água, que contrasta com o branco dos elementos em cantaria e do reboco. 
Começou por ser uma pequena casa de habitação em 1886, pertencente a Francisco César Batalha. Na transição dos séculos XIX-XX, Francisco Mantero e Velarde — notável empresário colonial na província ultramarina de São Tomé e Príncipe, onde viveu muitos anos — decidiu comprá-la. Segundo refere Julieta da Cunha Gonçalves: «Com alguns terrenos que foram desanexados da «Quinta das Flores». além de outros que comprou e mais uma faixa de terreno que foi buscar à sua «Quinta das Conchas», Francisco Mantero fez em 1897 a «Quinta dos Lilazes», que durante um quarto de século não parou de engrandecer e alindar. A quinta confronta a poente com a então chamada Rua do Lumiar (também chamada Estrada do Lumiar e Alameda do Lumiar), a norte com a «Quinta das Flores», e com a Quinta de Pimentel Leão, a nascente com a vinha de Aurora Francisca Ribeiro Ferreira e a sul com a «Quinta das Conchas» que também pertencia a Francisco Mantero.

Palacete da Quinta dos Lilases [1968]
Alameda das Linhas de Torres, 198-220
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Na parte traseira do imóvel, destaca-se a intervenção do arq-º Norte Júnior, que em 1916 realizou um curiosa galeria em ferro que, ao nível do 1º andar, une o corpo principal da habitação ao que terá sido um jardim de Inverno ou estufa.
No jardim um lago de formas curvilíneas apresenta ao centro duas pequenas ilhas arborizadas com a forma das ilhas de São Tomé e Príncipe, numa ilusão ás colónias onde Francisco Mantero fizera fortuna. Ladeiam o lago quatro pavilhões em ferro destinados originalmente um para merendas, outro para ginásio, um com baloiço e um com poço para mergulhos.

Palacete da Quinta dos Lilases, jardim [1968]
Alameda das Linhas de Torres, 198-220
Vasco Gouveia de Figueiredo, in Lisboa de Antigamente

N.B. No edifício da quinta, propriedade municipal, encontra-se hoje sedeada a Academia Portuguesa da História e na zona envolvente o Parque das Quintas das Conchas e dos Lilases, que constitui o 3º maior espaço verde da cidade de Lisboa depois de Monsanto e do Parque da Bela Vista. Encontra-se Em Vias de Classificação.
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Bibliografia
Os palácios de Lisboa; lisboapatrimoniocultural.pt.

Friday, 11 September 2020

Rua do Sol a Santana

A Rua do Sol a Santana, na freguesia de Arroios, antes do Edital de 1859 já era mencionada como Rua do Sol ao Campo Santana, como encontramos num prospecto de Maio e Junho de 1858 em que Maria Isabel Pires pretendia rectificar o prédio com o n.º 25, bem como depois do Edital do Governo Civil, em que registamos numa planta municipal de 16 de Novembro de 1892, da autoria de Augusto César dos Santos e Ressano Garcia, as obras a fazer na Rua do Sol ao Campo Santana.

Rua do Sol a Santana |1968|
Ao fundo, a entrada do Instituto de Medicina Legal de Lisboa na Rua Manuel Bento de Sousa.
Armando Serôdio. in Lisboa de Antigamente

Sunday, 6 September 2020

Palácio Tancos

O Palácio dos Marqueses de Tancos — ou simplesmente Palácio Tancos — , com ampla fachada sobre a calçada daquela denominação, é uma construção seiscentista, melhorada, ampliada e transformada no século XVIII. O seu núcleo primitivo remonta ao século XVI, pois já em 1589 o Conde da Castanheira, D. António de Ataíde, que foi conselheiro e embaixador de D. João III, aqui possuía umas casas nobres, certamente modestas em relação ao que veio a ser o palácio no decorrer dos séculos seguintes.


No começo do século XVII já residia aquele 1.º Conde de Atalaia nas casas nobres que dos Castanheiras haviam sido, e é de crer que fosse este fidalgo, possuidor de inúmeros bens, o primeiro edificador do palácio em que transformou completamente a casa quinhentista dos Ataídes. O 6.º Conde, D. João Manuel de Noronha, em 1791 feito 1.º Marquês de Tancos, foi, seguramente, quem am­pliou e restaurou a sua casa nobre à Costa do Castelo, considerada das melhores da côrte antes do Terramoto, que os Atalaias habitavam normalmente, onde se celebraram grandes festas e recepções,  e residiu o irmão do 1.º Marquês, o deão da Sé D. José Manuel, mais tarde (1794) Cardeal Patriarca.

Fachada principal  do  Palácio dos  Condes de  Atalaia e  Marqueses de  Tancos, vendo-se ao fundo o  Palácio Vila Flor  [194-]
Calçada Marquês de Tancos; Costa do Castelo

Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

O Terramoto pouco teria danificado o Palácio de Tancos, mas impôs, certamente, obras de restauros; seu proprietário andava então pelo Alentejo, onde era governador das armas da província, e sua família assistiria em Lisboa, neste casarão palaciano de S. Cristóvão sob a Costa do Castelo.
Até 1865, permanentemente, ou com ausências periódicas, os Tancos-Atalaias habitaram a sua casa, em cuja capela se celebraram durante dois séculos casamentos e  baptizados de pessoas de família. Depois o  hist6rico palácio entrou em inquilinato, parcial pelo menos, para no decénio seguinte vir às mãos do comerciante Manuel Alves Dinis, e  parece que já então a  casa oferecia certa decrepitude, ou pelo menos abandono.
O palácio sumiu-se então; interiormente sujeito a adaptações para inquilinato rendoso, di­vis6rias, acrescentando utilitários, foi graduadamente perdendo o  carácter. No final do século XVII e até princípio do século XVIII, andou  o palácio arrendado aos Condes de Vale de Reis (chegando a  ser conhecido por esse título), mas este inquilinato fidalgo não prejudicava o palácio, e  até talvez o tivesse beneficiado. A cr6nica do inquilinato deste palácio não apenas a  dos baixos com oficinas e armazéns, é vasta, sobretudo a partir do final do século passado [XIX].  [...]

Palácio do Marquês de Tancos, fachada principal [1945]
Calçada Marquês de Tancos; Igreja de S. Cristóvão.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Nos andares térreos do lado da Calçada instalaram-se várias oficinas, e  muitas dependências com acesso pela Costa do Castelo, n.º 23, tem a  sua sede a  Associação de Beneficência de S. Cristóvão e S. Lourenço.
Este antigo palácio teve hist6ria social, fidalga, religiosa, e, decerto modo política; hoje [195o] é uma enorme massa urbana, alcantilada nas abas da Costa do Castelo sobre S. Crist6vão, que nada nos diz, sem auxilio das crónicas.

Palácio Tancos [c. 1900]
Calçada Marquês de Tancos; Costa do Castelo
O topo Nascente, estreito, com duas ja­nelas de  sacada,  baixa, ao  nível e idênticas

às  do  andar superior da  fachada grande.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

N.B. Não obstante o cerca de século e meio em que os espaços do palácio foram sendo sucessivamente vendidos e transformados, o conjunto apresenta ainda uma grande uniformidade urbanística e conserva grande parte do recheio artístico original, em especial as salas decoradas com azulejos panorâmicos das primeiras décadas do século XVIII, executados por Raimundo do Couto.

Palácio do Marquês de Tancos, Painel de azulejos [194-]
Calçada Marquês de Tancos
Pormenor valioso de um dos painéis de azulejos, vendo-se na bordadura superior as armas dos Atalaies.
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1950.

Friday, 4 September 2020

Beco dos Toucinheiros

Do segundo arco da ponte, no Largo da Marquesa de Niza, sai-nos a Rua Gualdim Pais, que não é antiga, e, mais a cá, pelo terceiro arco, 0 Beco dos Toucinheiros, que leva ao Alto dos Toucinheiros. Por extranho que te pareça, enfiemos por êle. É urna Vereda mal empedrada, que passa também sob. uma ponte do caminho de ferro. Trepemos.¹

Beco dos Toucinheiros [1940]
O Beco dos Toucinheiros, que liga a Rua de Xabregas à Vila Dias, aparece já referido em 1858
no «Atlas da Carta Topográfica de Lisboa» de Filipe Folque,
bem como uma azinhaga dos Toucinheiros.
Eduardo Portugal,  in Lisboa de Antigamente

O topónimo deve advir do sítio do Alto dos Toucinheiros, que segundo Luís Pastor de Macedo («Lisboa de Lés-a-Lés», vol. V) é topónimo citado pela 1ª vez em 1765, no Livro V de óbitos de Santa Engrácia mas «Alguns anos antes, porém, apontam-se já as casas dos Toucinheiros».
Neste arruamento foi fundada em 1854 a Fábrica de Fiação de Xabregas, perto da secular Fonte da Samaritana, no Beco dos Toucinheiros, razão porque a Fábrica também era conhecida como fábrica da Samaritana ou fábrica do Black em referência ao engenheiro fundador, Alexandre Black. Em 1858 passou a pertencer à Companhia da Fábrica de Algodões. Neste contexto não se estranhará que nesta artéria exista também o Pátio do Black.²

Beco dos Toucinheiros, ao fundo vê-se Xabregas [1938]
Eduardo Portugal,  in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, p. 58, 1939.
² cm-lisboa.pt.
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