Sunday, 27 March 2022

O Sitio das Picôas

O sítio das Picôas que já surge referido nas «Memórias Paroquiais de Lisboa» de 1758, derivou do nome de uma quinta do morgado das Picoas — D. Nuno Freire de Andrade e Castro de Sousa Falcão —  do qual dependia uma Ermida (já demolida) na Rua das Picoas próximo da actual Av. Praia da Vitória.
A Rua das Picoas, embora só tinha sido oficializada por deliberação camarária de 12 de Julho de 1906, era anterior à urbanização que o local sofreu no final do século XIX, como Estr. das PicoasDiz-se que entre os proprietários da quinta se contaram duas senhoras de apelido Picão, a quem o povo chamou «as Picôas», e assim foi baptizado o sítio
Sabe-se também que em meados do século XVIII existiam casas nobres na quinta, então propriedade do negociante lisboeta António das Neves Colaço, e uma ermida com a invocação de Nossa Senhora do Carmo.

Rua das Picoas, troço da velhinha Estr. da Picôas, actual Rua Eng.º Vieira da Silva [ant. 1910]
Na elevação, ao fundo da Rua das Picoas – no cruzamento com a Av. Fontes Pereira de Melo – vê-se o antigo Palácio Camarido, no leito (hoje) da Av. da Praia da Vitória, do lado do Cine-Teatro Monumental; em primeiro plano e no quarteirão entre as Ruas Fernão Lopes e Actor Taborda, a varina e o homem de calções parecem vir do Mercado 31 de Janeiro (antigo Matadouro Municipal) a caminho da actual Rua Actor Taborda, dístico de 1906.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Em 1956, este troço da Rua das Picoas – entre a Praça José Fontana e a Avenida Fontes Pereira de Melo – passou a designar-se com Rua Engenheiro Vieira da Silva (1869-1951), reputado olisipógrafo que integrou a 1ª Comissão Municipal de Toponímia que falecera 5 anos antes, por Edital de 22 de Junho.

Rua Eng.º Vieira da Silva [1960]
Perspectiva tirada da 
Praça José Fontana observando-se à esq. o Mercado 31 de Janeiro e, à dir., a Av. Almirante Barroso: ao fundo vê-se a fachada do Cine-Teatro Monumental sobre a Avenida Fontes Pereira de Melo.
Filipe Romeiras, in Lisboa de Antigamente

Friday, 25 March 2022

Avenida António Augusto de Aguiar

Vamos, Dilecto — convida Norberto de Araújo — , dar volta pelo lado exterior nascente do Parque [Eduardo VII], subindo o primeiro lanço de Fontes Pereira de Melo, e tomando logo por António Augusto de Aguiar, Avenidas delineadas em 1899, que com lentidão se foram edificando por dez anos adiante.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 51, 1939)

Avenida António Augusto de Aguiar [c. 1910]
O prédio de gaveto com a Av. Fontes Pereira de Melo, 2, já não existe; sublinhe-se que até 1 de Junho de 1928, a circulação de viaturas em Portugal fazia-se pela esquerda, como se pode constatar nesta imagem; à esquerda o Parque Eduardo VII].

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 20 March 2022

Construção da Praça Chile

Este arruamento foi atribuído na Sessão de Câmara de 25 de Outubro de 1928 por proposta de um vereador, conforme aparece descrito nas actas: «O Sr. Quirino da Fonseca: — Sr. Presidente apresento as seguintes propostas: «Estando a ultimar-se a Rotunda onde actualmente chega a Avenida Almirante Reis, tenho a honra de propor que, em homenagem à República Sul Americana do Chili, essa Rotunda seja denominada Praça Chili.»

Construção da Praça do Chile [1942]
Avenida Almirante Reis 
Fotógrafo não identificado, in DN

Em 1942, a Praça do Chile vai receber a estátua de Neptuno, obra do escultor Machado Castro, que será transferida mais tarde para a Estefânia, substituída (em 1950) pela estátua de Fernão de Magalhães oferecida oferecida pelo Chile.

Praça do Chile [1942]
Ajardinada a rotunda nota-se o lago ainda sem a estátua do Neptuno; Avenida Almirante Reis
Fotógrafo não identificado

Depois da demolição do velho Chafariz do Loreto, andou a estátua do Neptuno a peregrinar, do depósito de águas das Amoreiras para o Museu Arqueológico do Carmo, e deste para os Barbadinhos, daqui para esta Praça do Chile, para finalmente se estabelecer no lago da rotunda do Largo de Dona Estefânia em 1951.

Praça do Chile [1950]
A estátua de Neptuno, de 1771, em mármore de Carrara, é obra do escultor Machado Castro.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Friday, 18 March 2022

Rua Gomes Freire que foi «Carreira dos Cavalos»

Esta rua que desde 18 de Agosto de 1879 ostenta o nome de Gomes Freire homenageia Gomes Freire de Andrade (1757-1817), o filho de um diplomata que seguiu a carreira militar e foi considerado como um dos mais ilustres e mais atrozmente perseguidos mártires da liberdade em Portugal. Como militar, Gomes Freire de Andrade combateu em Argel (1784), na Rússia (1788), na Guerra do Rossilhão (1790) e já como marechal-de-campo, na Guerra das Laranjas (1801).

Rua Gomes Freire  [1967]
Antiga Carreira dos Cavalos; ao fundo vislumbra-se o Palacete Ceraque
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto está erradamente identificado no abandalhado amL.

Sunday, 13 March 2022

Panorâmica do sítio de Arroios

Eis uma fotografia deveras interessante e com mais de cem anos. Se o leitor observar atentamente, verá no canto inferior esquerdo, um troço da antiga «Avenida Dona Amélia»¹, actual Almirante Reis (já arborizada), que termina abruptamente no muro que circunda o «Convento e Igreja (Hospital) de Nossa Senhora da Conceição de Arroios»²; o seu prolongamento — paralelo ao casario da velha Estr. de Sacavém (actual Rua Quirino da Fonseca) — irá conduzir, anos mais tarde, à «Praça do Areeiro». Identificada pela letra "C" observa-se a antiga «Capela da Azinhaga das Freiras».
No local junto ao muro do hospital de Arroios nascerá a rotunda da «Praça do Chile»³, para a direita temos a «Rua Moraes Soares» e para a nossa esquerda o começo da «Rua António Pereira Carrilho»⁵ (troço da antiga Estrada da Circunvalação) na direcção do «Largo do Leão» — os edifícios assinalados com as letras "A" e "B" ainda existem.

Panorâmica do sítio de Arroios [c. 1919]
Terrenos da Avenida Almirante Reis, vendo-se ao fundo, os torreões da praça de Touros do Campo Pequeno.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Em último plano, podem ver-se os quatro torreões da «Praça de Touros do Campo Pequeno»; à direita deste vêm-se as chaminés da antiga «Fábrica de Cerâmica Lusitânia» situada defronte do Palácio Távora Galveias na velhinha Estr. do Arco do Cego, localização actual do edifício-sede da Caixa Geral Depósitos e onde ainda se pode ver uma chaminé de um dos seus fornos.

Levantamento topográfico do sítio de Arroios, 1909
Legenda (clicar na imagem para ampliar):
¹ Avenida Dona Amélia actual Almirante Reis² Convento e Igreja (Hospital) de Nossa Senhora da Conceição de Arroios³ Praça do Chile Rua Moraes Soares Rua António Pereira Carrilho Largo do Leão Estr. de Sacavém.
"A" e "B" edifícios que ainda existem; "C" Capela da Azinhaga das Freiras.
Planta de Lisboa [fragmento]: Vieira da Silva Pinto, 1909, in Lisboa de Antigamente

Friday, 11 March 2022

Rua António Pereira Carrilho

Os limites da antiga Estrada da Circunvalação foram estabelecidos em 1852  tendo sido a primeira vez que o Município de Lisboa ficou «demarcado por uma linha de limites contínua e nitidamente definida».

Rua do Conselheiro Pereira Carrilho |1953|
Notável Economista e Jornalista (1835-1903)
Topónimo atribuído por edital da CML em 1916; troço da antiga Estrada de Circunvalação; Cruzamento junto ao Largo do Leão.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

António Pereira Carrilho, a cujo topónimo acresceu mais tarde a legenda «Notável Economista e Jornalista 1835–1903» por parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 03/03/1960, antes de ser Rua do Conselheiro Pereira Carrilho era um troço da antiga Estrada de Circunvalação. O homenageado é António Maria Pereira Carrilho, Depois de uma carreira como empregado comercial, passa a funcionário público, ascendendo a director-geral da contabilidade pública e a secretário-geral do Ministério da Fazenda. Gozando de altas protecções maçónicas, torna-se um dos principais símbolos do burocrata do rotativismo liberal. Enfrenta Oliveira Martins, quando este é Ministro da Fazenda no governo de José Dias Ferreira, e, com o apoio do chefe do governo, torna-se um dos principais pretextos para a queda daquele. Premiado com o cargo de Presidente da Companhia dos Caminhos de Ferros Portugueses. Deputado em 1875-79; 1882-94 e em 1902. Par do reino em 1902-1903.[in Politipédia; cm-lisboa.pt]

Rua António Pereira Carrilho |1966-05|
Notável Economista e Jornalista (1835-1903)
Depois da da alteração toponímica e após remoção do separador central que se observa na imagem anterior.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 6 March 2022

Rua de Santa Cruz do Castelo que foi da Alcáçova

Eis-nos na Rua de Santa Cruz — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , onde podes notar esse prédio n.° 38-40, logo no seu começo neste lanço, e que parece ser dos mais antigos, e certamente dos mais pobrezinhos e pitorescos da freguesia. Finalmente aqui tens o terceiro prédio dos representativos de que te falei; é o n.º 74. Guarda exteriormente um certo aspecto, e tem também um pequeno pátio, «das Laranjeiras», sem nenhuma expressão.

Rua de Santa Cruz do Castelo |ant. 1908|
Junto ao n.º 3 (à esq.)
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

O nome da freguesia de Santa Cruz do Castelo advém da Igreja de Santa Cruz da Alcáçova, depois chamada de Santa Cruz do Castelo e que aparece já num documento de 25 de Maio de 1168.
Nesta altura a freguesia correspondia à paróquia e abrangia todo o recinto murado do Castelo e alcáçova de Lisboa e assim tem permanecido até à actualidade.
A denominação da paróquia civil foi mudada para Castelo, por decreto de 16 de Março de 1915.

Rua de Santa Cruz do Castelo |ant. 1908|
Junto ao n.º 74 (à esq.)
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Ao chegarem ao Largo do Chão da Feira continuaram a subir, passando por baixo da Porta da Alcáçova; atravessaram um pátio seco cheio de folhas e ramos atirados pelo vento e subiram pela Rua Direita de Santa Cruz em direcção à Igreja de Santa Cruz da Alcáçova [do Castelo].
(in Lisboa Triunfante, David Soares, 2008)

Rua de Santa Cruz do Castelo |ant. 1908|
Junto à Porta de S. Jorge ou da Alcáçova
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, p. 26, 1938.
 cm-lisboa.pt.

Friday, 4 March 2022

Ruas Alexandre Herculano e Castilho

O topónimo Rua Alexandre Herculano foi atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa, através de Deliberação Camarária de 06/05/1882, à “perpendicular à Avenida da Liberdade, em direcção ao Largo do Rato”. Pela mesma deliberação foram atribuídas na mesma área a Rua Castilho, a Rua Barata Salgueiro, a Praça do Marquês de Pombal e a Rua Mouzinho da Silveira.

Rua Alexandre Herculano [Início séc. XX]
Éh! galinhas!  Mérca frangos! Galinhas! Quem nas quér i com ôvo?
prédio de dois pisos (já demolido) — e que fazia esquina com a Rua Castilho foi residência de João Franco Castelo Branco, último Presidente do Conselheiro do Rei D. Carlos I, entre 1906 e 1908: o edifício contiguo, que torneja para a Rua Mouzinho da Silveira, ainda existe.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL

O topónimo Rua Castilho foi atribuído pela edilidade em 1882, homenageia António Feliciano de Castilho, um dos grandes escritores da primeira época do romantismo em Portugal, em conjunto com Garrett e Herculano. Notabilizou-se especialmente pela riqueza e expressão artística da linguagem. Castilho nasceu em Lisboa a 28/01/1800 e morreu em Lisboa a 18/06/1875.

Rua Castilho [ant. 1907]
Venda ambulante de toalhas
Cruzamento com a Rua Alexandre Herculano; ao fundo, o antigo Quartel do Vale de Pereiro (Quartel de Caçadores 2) na actual Rua Braamcamp.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL

Nota(s): Infelizmente as duas últimas imagens são de baixa qualidade/resolução, graças ao paupérrimo trabalho de digitalização efectuado pelo Arquivo Municipal de Lisboa (amL).
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