Sunday, 20 July 2025

Largo do Rato que foi «»Praça do Brasil»

Conforme refere Norberto Araújo, nas suas «Peregrinações em Lisboa», «só os dísticos municipais e os letreiros dos eléctricos dizem Praça do Brasil; título pomposo com o qual a República portuguesa nascente em 1910 quis consagrar a República irmã mais velha de Além Atlântico».

O nome desta zona tem origem na alcunha que popularizou o esquecido patrono do Convento Trino, que domina o largo, e até finais do século XIX o único edifício de características nobres fundado em 1621 por Manuel Gomes de Elvas, influente cristão-novo de Lisboa. Depois da sua morte continuou a ser apadrinhado pelos seus descendentes, um deles, Luís Gomes de Sá e Meneses, tinha por alcunha “o Rato”, alcunha que se apegou ao convento e estendeu-se ao largo fronteiro.

Largo do Rato |1937-04-08|
Antiga Praça do Brasil, antes Largo do Rato, antes Rua do Rato, antes Rua Direita do Rato. Mais tarde, por edital de 23/12/1948, regressou ao topónimo Largo do Rato. |
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

«Desce a Rua das Amoreiras, deserta. Ao entrar no Rato é como se entrasse noutra cidade, noutro dia. Todas as pessoas e veículos que não estavam nas ruas vazias estão aqui, num mar de cabeças onde flutuam os carros parados, eléctricos, autocarros. Centenas, milhares de pessoas, a andar para todos os lados e paradas a conversar, numa azáfama de feira». (NOGUEIRA: 2012)

Largo do Rato |194-|
Perpectiva tomada da Rua das Amoreiras.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Friday, 18 July 2025

Regueirão dos Anjos

A parte baixa da freguesia de Arroios abrange o troço da Avenida Almirante Reis, que lhe cabe actualmente, bem como o Intendente, as Ruas do Benformoso e dos Anjos, a do Febo Moniz e pouco mais. O Regueirão dos Anjos e a Rua do Benformoso constituem os vestígios dum talvegue, no fundo do vale, por onde corriam as águas. Júlio de Castilho diz, na sua «Lisboa Antiga», que o nível do Regueirão dos Anjos era considerado tão inferior ao das Ruas dos Anjos e de Arroios que não se podia canalizar os esgotos que aí se depositavam e que o transformavam em verdadeiro foco de infecção. Diz também que poucos anos antes (o autor escrevia em 1916), o Regueirão fora entulhado a mais de dois metros de altura para deixar de se transformar num enxurro caudaloso às mais pequenas chuvadas. Modernamente ainda o Regueirão não está de todo livre das inundações nos dias de muita chuva.

Regueirão dos Anjos |1942|
Vista do S. no sítio onde este é cortado pelo viaduto da Rua Febo Moniz (dist. 1909). 
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. Febo Moniz de Lusignan (1515-158-) foi um fidalgo, funcionário no Paço Real ao tempo de D. Sebastião e nomeado Procurador da Câmara de Lisboa às Cortes de Almeirim de 1580, onde se opôs à escolha de um estrangeiro para ocupar o trono português, pelo que quando Filipe II tomou o trono de Portugal, prendeu Febo Moniz, que morreu pouco depois.

Rua Febo Moniz vista do Largo de Santa Bárbara |c. 1980|
Edifício Portugal junto ao Regueirão dos Anjos.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 13 July 2025

Estr. de «Bemfica» que foi Estrada Real

Bemfica (estrada de) principia em sete Rios, indo de S. Sebastião da Pedreira e finda em Santo Antonio da Convalescença, freguezia de Bemfica. [Velloso: 1869]

Este topónimo está ligado à proximidade do Convento de São Domingos de Benfica. Esta localidade, onde viveu e morreu Frei Luís de Sous, é descrita na sua História de S. Domingos cap. III do livro segundo. Leiamos isto do insigne clássico: «A huma piquena legua da cidade, pola estrada que corre para Cintra, (...) fica como escondido, e furtado a communicação da gente hum pequeno valle, que sendo naturalmente aprazível, por frescura de fontes e arvoredo, mereceo, ao que se póde crer, o nome que tem de Bemfica. (...) Na ladeira do monte maior, está situado o Convento, e d'ella se estende com sua cerca até hir beber no Rio».
Foi no Convento de São Domingos de Benfica que Frei Luís de Sousa professou como frade dominicano, em 1614. Este convento foi reconstruído no século XVII, parcialmente destruído pelo Terramoto de 1755 e extinto em 1834.

Estr. de «Bemfica» |1938|
Junto à Tv. S. Domingos de Benfica
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Estr. de «Bemfica» |1938|
Próximo do Calhariz
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente





























Bemfica, era sítio que, segundo Ramalho Ortigão: «Em nenhum outro lugar de Portugal, se exceptuarmos Sintra, se encontrarão reunidas em tão pequeno circuito, tão lindas, tão históricas, tão anedóticas, tão saudosas quintas. 
A antiga e amável povoação de Benfica, ainda que tão decaída hoje da alta importância que teve outrora no conceito, caprichoso e inconstante, da alta sociedade da capital, é ainda assim, no seu tanto, o recantinho suburbano de Lisboa que mais aproximada ideia nos sugere do que é para Roma o prestígio de Tivoli e de Frascati.» [Arte portuguesa, II, 1943]

Estr. de «Bemfica», 675 | 1961|
Boa parte do edificado já se encontra demolido.
Artur I. Bastos, in Lisboa de Antigamente
Estr. de «Bemfica», 542 |1971|
Próximo da Av. do Uruguai
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

“O break rodava na estrada de Bemfica: iam passando muros enramados de quintas, casarões tristonhos de vidraças quebradas, vendas com o seu masso de cigarro á porta dependurado de uma guita: e a menor arvore, qualquer bocado de relva com papoulas, um fugitivo longe da collina verde, encantavam Cruges. Ha que tempos elle não via o campo!” (Queiroz, Eça de, ln Os Maias, 1888)

Estr. de «Bemfica» |c. 1950|
Junto ao Calhariz no local onde os eléctricos faziam a inversão de marcha; antiga Estr. Real nº 82 (1889); alguns dos edifícios à direita ainda lá encontram.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Estr. de «Bemfica» |1961|
Esquina com a Avenida Grão-Vasco.
Augusto de Jesus Fernandes in Lisboa de Antigamente

Friday, 11 July 2025

Avenida Elias Garcia, 49

À anteriormente designada Avenida José Luciano foi atribuída a denominação de Avenida Elias Garcia, através do Edital de 5 de Novembro de 1910, integrando o conjunto dos primeiros dez topónimos atribuídos pela Vereação da Câmara Municipal em homenagem à República – Avenida da República e Avenida 5 de Outubro e a figuras republicanas como Almirante Reis, Miguel Bombarda e Elias Garcia – , alterando denominações referentes a figuras da monarquia. [cm-lisboa.pt]

Avenida Elias Garcia, 49 |1961|
Quarteirão entre as Avenidas da República e Defensores de Chaves.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

N.B. José Elias Garcia (1830-1891) - Professor, jornalista, ativista político e coronel de Engenharia. Formou-se em Engenharia Militar na Escola do Exército, onde exerceu a docência. Dedicado aos ideais e ao movimento republicanos, em 1854 fundou O Trabalho, primeiro jornal republicano, tendo colaborado, a partir daí, em diversas publicações com a mesma orientação política. Quatro anos depois funda um outro jornal, o «O Futuro». Foi vereador da Câmara Municipal de Lisboa, deputado reformista a partir de 1870 e deputado republicano em 1890. Ingressou na Maçonaria em 1853, onde exerceu uma atividade muito intensa, chegando a ser grão-mestre do Grande Oriente Lusitano. Foi director da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses. [infopedia.pt]

Avenida Elias Garcia, 49 1961
Quarteirão entre as Avenidas da República e Defensores de Chaves.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 6 July 2025

Campo dos Mártires da Pátria com a Calçada do Moinho de Vento

Isto foi o Campo de Sant'Ana.
Desde 12 de Novembro de 1880 11 de Julho de 1879, passou a chamar-se Campo dos Mártires da Pátria, designação que perdura no dístico municipal, mas que não entrou na auditiva popular. O Campo de Sant'Ana — ajardinado em feitio paisagista ao tipo ingénuo lisboeta, desde há uns quarenta anos — é uma alameda, e por vezes passeio de estudantes, que teria uma característica bizarra em Lisboa se a costumeira tradicionalista das capas e batinas não houvesse, quási, desaparecido.¹


Campo dos Mártires da Pátria |1940|
Jardim do Campo de Santana ou Braamcamp Freire; Monumento a Sousa Martins.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Embora fixada na memória da cidade em data que se desconhece. já em 1770 esta artéria aparece mencionada como «Moinho de Vento» na «Fregª de N. Snra. da Pena» e também é indicada como «em vez de 'Moinho de Vento' refere 'Calsada do Moinho de Vento'».

Campo dos Mártires da Pátria com a Calçada do Moinho de Vento|1907-07|
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Porém, embora não se tratando de um dado validado, existirá um processo da Inquisição datado de 1594, no qual surge uma menção a um moinho de vento na encosta do Campo Santana. Segundo Pero Nunes Tinoco, arquitecto que levou a cabo as medições e o roteiro do projecto do Aqueduto das Águas Livres no século XVII, toda a gigantesca obra iria atravessar os terrenos lavradios até aos moinhos de vento.
A Calçada do Moinho de Vento está incluída num espaço considerado como imóvel de interesse público tal como consta no Decreto n.º 2/96 de 6 de Março de 1996, promulgado pelo Ministério da Cultura no Diário da República.²

Campo dos Mártires da Pátria com a Calçada do Moinho de Vento|1907-07|
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

N.B. O Campo de Santana passou a designar-se Campo dos Mártires da Pátria, pela deliberação camarária de 5 de junho e consequente Edital municipal de 11 de Julho de 1879, em memória dos 11 companheiros de Gomes Freire de Andrade suspeitos de conspiração contra o general Beresford, que neste local foram enforcados há 200 anos, no dia 18 de outubro de 1817. No decorrer do século XIX, a memória ainda viva destes acontecimentos também cognominava popularmente a artéria como Campo Mártires da Liberdade. [cm-lisboa.pt]
______________________________________________________
Bibliografia
¹ 
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 35, 1938.
² 
jfsantoantonio.pt.

Friday, 4 July 2025

Largo de Jesus

Foi o Largo de Jesus destinado, por edital municipal de 4 de Dezembro de 1863, para praça de venda de leite. [Castilho: 1903]

Tomando no Poço Novo [actual Lg. Dr. António de Sousa de Macedo], à esq., a travessa do Convento de Jesus, entra-se no largo de Jesus, onde se eleva a igreja do mesmo nome. O convento das Terceiras de Jesus foi fund. no séc. XVI, ficando a igr. arruinada em 1755 e sendo reconstruída pouco depois, seguido o risco do arquitecto Joaquim de Oliveira. [Guia de Portugal: 1924]

Largo de Jesus |1924-10-29|
Antigo dos Cardais; Convento de Jesus actual Igreja Paroquial das Mercês
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): Legenda no arquivo: «A greve dos estudantes do liceu Passos Manuel»

Há três séculos e meio este sítio – Largo de Jesus – pouco mais era do que um deserto, com uma ou outra casa, e uma ermidinha destas muitas que se erguiam pelos subúrbios da Lisboa de D. Fernando, e que não se sabe quem as ergueu e como eram desenhadas — recorda Norberto de Araújo. [...]
No começo deste século, em terrenos que foram da antiga Cerca, elevou-se (1906), o magnífico Liceu de Passos Manuel, irmão dos de Camões e de Pedro Nunes, iniciativa de João Franco, e das mais estimáveis. [Araújo, V, 1938]

Sunday, 29 June 2025

Calçadinha da Figueira

Figueira (calçadinha da) segunda á esquerda na calçadinha de S. Miguel, indo do largo de S. Miguel e finda na rua d'Adiça [actual Rua Norberto de Araújo desde 1956], freguezia de S. Miguel 2 a 12 e 1 a 27. [Velloso: 1869]

Esta Calçadinha da Figueira, cheia de escadas — recorda Norberto de Araújo — , leva a um curto enquadramento, que não chega a Largo, e no qual começa a Rua, bairrista como poucas, do Castelo Picão. Ali tens à direita, n.º 19 da Calçada da Figueira ainda, uma Clérigos Pobres lápide, que diz «Clérigos Pobres»,
Este pormenor despercebido a tanta gente, leva-me a crer que a Casa dos Arcos houvesse sido uma estância dos Clérigos Pobres, talvez dos que tiveram hospício em S. Pedro de Alcântara. O quintal da Casa citada não fica a vinte passos do prèdiozito da lápide. Mais duas casitas típicas alfamenses à direita, e eis-nos em pleno Castelo Picão.

Calçadinha da Figueira |1945|
O nome remete para a existência de figueira(s) no local.
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

A Calçadinha da Figueira, identificada como Calçada da Figueira, consta do levantamento dos arruamentos da cidade datado de 1858, conduzido por Filipe Folque.

Calçadinha da Figueira |c. 1960|
Perspectiva tirada da Rua Norberto de Araújo.
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Friday, 27 June 2025

Palácio de São Bento: Estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães

Inaugurada em 1876 no então designado Largo das Cortes — até à construção da escadaria monumental na década de 1930 — esteve posteriormente implantada no Vestíbulo do Palácio de São Bento, tendo sido reinaugurada, em 15 de Outubro de 1984, no jardim da Praça de São Bento. A estátua de corpo inteiro e cadeira fundidas em bronze e modeladas, em 1870, por Vítor Bastos, assentam sobre uma base de pedra.
  
Estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães |Início séc. XX|
Palácio de São Bento, antigo Largo das Cortes
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

N.B. José Estêvão Coelho de Magalhães (1809-1862), destacou-se pela sua contínua luta a favor da liberdade, denominador comum que moveu tanto a sua carreira como a sua vida. Foi soldado, jornalista, professor da Escola Politécnica, advogado, político, parlamentar e grande orador, tendo ficado célebres os seus empolgantes discursos parlamentares, em particular as suas discussões com Almeida Garrett. Em sua homenagem, a Câmara Municipal de Lisboa consagrou-lhe uma rua com o nome de José Estêvão, pelo qual ele era mais conhecido.

Palácio de São Bento, galilé escadaria monumental |1938-11-08|
Rua de S. Bento
A fachada principal, remodelada durante a primeira metade do século XX, projecto do arqº Ventura Terra.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 22 June 2025

Rua da Escola Politécnica que foi «da Cotovia»

O olisipógrafo Norberto Araújo caracteriza da seguinte forma esta antiga artéria no velhinho sítio da Cotovia:
Esta artéria, rasgada como larga serventia entre as quintas do Noviciado da Companhia de Jesus e a de D. Rodrigo, fazia a ligação do sítio da Cotovia com o de Campolide, que começava — já o disse — onde veio a ser o Rato. 

Rua da Escola Politécnica |1908|
À dir. abre-se o Beco do Colégio dos Nobres.
Legenda no arquivo: «Prédios engalanados por ocasião da visita do rei D. Manuel à Escola Politécnica|»
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Antes do Terramoto a rua tinha duas designações para cada um dos seus troços: Rua Direita da Fábrica das Sedas até ao Palácio dos Soares (depois Imprensa Nacional), daí para diante até à actual Praça do Rio de Janeiro era Rua do Colégio dos Nobres, designação que sucedeu à de Rua Direita da Cotovia. Em Setembro de 1859 passou toda a artéria a ser Rua da Escola Politécnica.==
(ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 19, 1939)

Panorâmica de Lisboa |190-|
Observa-se (parcialmente) o Largo do Rato junto ao Chafariz do Rato, o Palácio dos Duques de Palmela e a Rua da Escola Politécnica.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Friday, 20 June 2025

Rua de Dom Vasco

Este topónimo já aparece — como "Calçada" — nalgumas cartas topográficas, em 1892, e em antigos escritos a propósito do combate aos incêndios citadinos, em que os sinos das igrejas indicavam, pelo número de badaladas, a freguesia do incêndio, e que aqui transcrevemos: «No ano de 1862, davam-se 33 badaladas na igreja da Boa Hora, em Ajuda, com o posto da guarda na Calçada de Dom Vasco».
(CRUZ (Francisco Inácio dos Santos).— memoria sobre os differentes meios de atalhar os incêndios..., 1850)

A carreira nº 18 — Praça do Comércio-Ajuda — foi inaugurada em 1927.
Perspectiva tomada da Tv. da Boa Hora à Ajuda.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B.  Dom Vasco Manuel de Figueiredo Cabral da Câmara) (1766-1830). Em 1805 recebeu o título de conde de Belmonte. Foi porteiro-mor da Casa Real, Fidalgo da Casa Real, morgado de Ota, de Belmonte e de Santo André, pertenceu ao conselho de D. João VI, foi gentil-homem da sua câmara, presidente da Junta da Administração do Tabaco e deputado da Junta dos Três Estados do Reino.

Sunday, 15 June 2025

Santo Estêvão: da Calçadinha e das Escadinhas até ao Largo

Nas suas Peregrinações em Lisboa, Norberto de Araújo — a quem vamos sempre seguindo — depois de historiar modificações anteriores, diz: «Em 1833 Alfama formava um dos quatro distritos de Lisboa — veja-se a sua largueza por extensão convencional! — com 12 freguesias, afinal todas as paroquiais em redor do Bairro alfamista puro, incluindo o Castelo, mas ficando São João da Praça integrada no distrito do Rossio. Em 1852 ainda Alfama era um dos quatro distritos da cidade, já com São João da Praça em sua área natural, mas arrebanhando os Anjos e o Socorro! 
Em 1867 desapareceram todos os bairros de distinção nominal, e só então a palavra Alfama sucumbiu, oficialmente».

Tuas vielas velhinhas
Tuas ruas tão estreitinhas
São glórias, têm fado
Tu és a Lisboa antiga
Onde há sempre uma cantiga
P’ra recordar o passado

(do fado Alfama Velhinha de Armando Santos)

Estevão (calçadinha de Santo) segunda á esquerda na rua dos Remedios, indo do largo do chafariz de Dentro e finda na rua da Regueira, freguezia de Santo Estevão 2 a 28 e 1 a 35. [Velloso: 1869]

Santo Estêvão: Calçadinha e Escadinhas |c. 1945|
Perspectiva tirada da Rua da Regueira.
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

Descendo as Escadinhas de Santo Estêvão — recorda o ilustre Norberto de Araújo — encontramos o balneário municipal [vd. 3ª imagem], construído em 1936, e logo pequeno Largo que cai sobre a Rua da Regueira, diante do Beco do Espírito Santo, ficando-nos à esquerda a Rua dos Remédios.

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira |1950|
Beco do Espírito Santo
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

enquadramento é gracioso, seja qual for o conceito que nós possamos ter de beleza nestes quadrinhos bairristas, onde — e é o caso neste sítio — o pitoresco, o religioso, o fidalgo com o solar dos Azevedos Coutinhos. se dão mãos, para que Alfama se represente nos três Estados. 
(ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 90-92, 1939)

N.B. O topónimo Santo Estêvão, na freguesia de Santo Estevão, advém da igreja do mesmo orago.

Calçadinha de Santo Estêvão |c. 1945|
À esq.no nº 19, nota-se o antigo balneário municipal.
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Estevão (escadinhas de Santo) terceira á esquerda na rua dos Remedios indo de largo do chafariz de Dentro e findam na calçadinha de Santo Estevão, freguezia de Santo Estevão 2 a 18 e 1 a 23.
Estevão (largo de Santo) faz frente á egreja de Santo Estevão, e é aonde vão terminar as escadinhas de Santo Estevão, beco do Chanceller, ruas do Vigraio e Cruz do Mau, freguezia de Santo Estevão 1 a 16.
[Velloso: 1869]

Escadinhas e Largo de Santo Estêvão |1944|
Igreja de Santo Estêvão (traseiras) e Arco do Chanceler junto ao Palácio Azevedo Coutinho.
J. C. Alvarez, in Lisboa de Antigamente

Friday, 13 June 2025

Rua Saraiva de Carvalho

No último quartel do século XIX, as Ruas de Santa Isabel e de S. Miguel da Boa Morte, no bairro de  Campo de Ourique, passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua Saraiva de Carvalho, através da publicação do Edital de Municipal de 16/11/1885, em homenagem ao jurisconsulto Saraiva de Carvalho.

Antiga de «Santa lzabel»
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

N.B. Augusto Saraiva de Carvalho (1839-1882). Advogado. Parlamentar. Reformista. Ramalho Ortigão chama-lhe pimpolho ilustre e rebento florescente da janeirinha. Em 1864 é um dos fundadores, no Pátio do Salema, do Clube dos Lunáticos com José Elias Garcia e Latino Coelho.

Ministro da justiça do governo de Ávila, desde 29 de Outubro de 1870 a 30 de Janeiro de 1871. Sai então do governo, juntamente com Alves Martins, quando os deputados reformistas liderados por Latino Coelho, lançam um ataque ao governo. Com efeito, Saraiva de Carvalho levou ao rei, sem passar por Ávila, a nomeação do bispo do Algarve, D. Inácio do Nascimento Morais Cardoso, considerado liberal, capelão de D. Pedro V, em vez da do arcebispo de Goa, D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, apoiado por Ávila, acusado de congreganismo romano e ultramontanismo.
Ministro das obras públicas, comércio e indústria do governo de Braamcamp (de 1 de Junho de 1879 a 25 de Março de 1881). [Maltez]

Antiga de «Santa lzabel»
Direcção Praça São João Bosco (Cemitério dos Prazeres).
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 8 June 2025

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila

O topónimo Av. Duque de Ávila foi atribuído pela CML por edital de 20 de Novembro de 1902 à nova via pública que ligava a velhinha Estr. do Arco Cego (troço da actual R. de Dona Filipa de Vilhena (1922) à Rua Marquês de Sá da Bandeira.  Actualmente liga esta artéria à Rua Alves Redol.

A «Patisserie Versailles» ocupou a loja do edifício projectado em 1919 pelo arqº Manuel Norte Júnior que se destaca pela sua verticalidade. Com planta rectangular, rés-do- chão e 5 pisos e com telhado a 2 águas. Teve como construtor José Tomaz de Sousa.
Em 1922 Norte Jr. projectara o luxuoso salão de chá em estilo Luís XIV, chamado «Versailles» (e dito «pâtisserie»), que drenava todo o bom tom da Avenida da República e seus limites mais que a «Paulistana», aberta abaixo, em 30, com serviço de bar americano mais à moda, oferecido aos clientes em balcão de bancos altos. [França: 1992]

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila |post. 1961|
Gaveto com a Av. Duque de Ávila: nota-se o Colégio Académico, e o edifício projectado pelo arq.º Álvaro Machado, em 1904 onde está instalada a Patisserie Versailles
Gonçalves, F., in Lisboa de Antigamente

Fundada em 1922 por Salvador Antunes, um português com formação em pastelaria francesa e apaixonado pela Art Nouveau, a Patisserie Versailles, tem o nome do famoso palácio francês e o seu interior parece mesmo uma sala saída deste. [Santana: 1975]

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila |1959|
Obras de mudança de carris. 
Benoliel, Judah, in Lisboa de Antigamente

Friday, 6 June 2025

Rio Tejo e Torre de Belém

Vapor «Mirandelle» da empresa H. Hersent, responsável pelas obras de construção do porto de Lisboa. Por esta altura, os navios de passageiros não acostavam aos cais e fundeavam ao largo onde desembarcavam e embarcavam os seus passageiros, empregando-se no transporte destes, embarcações fluviais como a que se vê na foto.
Por Carta de Lei de 16 de Julho de 1885 foi o Governo autorizado a adjudicar a construção das obras do porto de Lisboa, o projecto a executar era da autoria dos engenheiros portugueses João Matos e Adolfo Loureiro, tendo o rei D. Luís inaugurado, em 31 de Outubro de 1887, o início das primeiras obras entre a Torre de Belém e Santa Apolónia. Até 1907 a exploração do porto esteve confiada ao empreiteiro das obras H. Hersent.

Rio Tejo e Torre de Belém |1905|
Vapor «Mirandelle» da empresa H. Hersent.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 1 June 2025

Rua da Boavista

A origem do nome do sítio é projecção toponímica do Alto da Boa Vista, ou seja, ou Alto do Belver ou Belveder actual Alto de Santa Catarina. Não quero deixar de observar-te — recorda o ilustre Norberto de Araújo — que as edificações desta artéria da Boa Vista, do lado Sul, não levam cem anos (c. 1840). O edifício da Companhia do Gás sucedeu ao antigo Quartel da Brigada Real de Marinha. Foi aqui a primeira Fábrica do Gás, cujo privilégio concedido a Claudio Adriano da Costa e ao francês José Detry, datava de 3 de Maio de 1846

Rua da Boavista |ant. 1914|
O edifício do lado esq., até à esquina com o Boqueirão dos Ferreiros pertencia à «Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz»; em ampliando a foto observam-se, ao fundo, os sete arcos do do prédio nº 67 erguido pelo industrial Ferreira Pinto em meados do séc. XIX para «palacete de família, e constitui ainda a única nota decorativa urbana da Rua da Boa Vista.» [Araújo, 1939]
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL

De facto, foi junto ao rio, meio de transporte privilegiado, que a «Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz» instalou, em 1846, a sua primeira fábrica de Gás; e, dois anos depois, em 1848, já Lisboa inaugurava a iluminação a gás, com 28 candeeiros, nas ruas da Baixa (Rua dos Capelistas, Rua do Ouro e Rua da Prata), no Chiado, na Rua do Alecrim, no Cais do Sodré, em S. Paulo e na Boavista.

Rua da Boavista |1940|
Companhias Reunidas de Gás e Electricidade: fachadas Norte e OesteBoqueirão dos Ferreiros.
Kurl Pinto, in Lisboa de Antigamente

Em 1914 deu-se na fábrica a formidável explosão que originou dezanove mortes, e o fabrico do gás passou então, inteiramente, para o Bom Sucesso — vizinhança da Torre de Belém — , onde ase manteve até 1949.

Rua da Boavista |1914|
Topónimo anterior ao terramoto de 1755, como vem mencionado nas Memórias Paroquiais.
Incêndio no edifício da Companhia de Gás.
Anselmo Franco, in Lisboa de Antigamente

Friday, 30 May 2025

Um «americano» no Terreiro de Trigo

São, efectivamente, posteriores ao triunfo do liberalismo em Portugal, os primeiros transportes colectivos urbanos que cruzaram as ruas de Lisboa. Data de 1803 o aparecimento do omnibus, puxado a muares, para a exploração dos quais se constituiu uma Empresa de Transportes com sede na Praça do Pelourinho. No entanto, incómodos, caros e raros, o povo miúdo pouco beneficiou com eles. Verdadeiramente populares e servindo já vastas zonas da cidade foram os seus sucessores, os carros americanos, inaugurados em Lisboa em 1874.

Um «americano» no Terreiro de Trigo |séc. XIX|
Antigo Campo da Lã. O topónimo advém da presença no local do edifício do Celeiro Público ou Terreiro do Trigo depois Mercado de Produtos Agrícolas e mais tarde (1937) Alfandega de Lisboa que vê ao fundo.
Imagem tomada do Palacete do Chafariz d'El-Rey, ou Palacete das Ratas.
Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 25 May 2025

Lisboa vista de Almada

Grande panorama! — disse o Conselheiro com ênfase. — E encetou logo o elogio da cidade. Era uma das mais belas da Europa, decerto, e como entrada, só Constantinopla! Os estrangeiros invejavam-na imenso. Fora outrora um grande empório, e era uma pena que a canalização fosse tão má, e a edilidade tão negligente!
— Isto devia estar na mão dos ingleses, minha rica senhora! —exclamou. Mas arrependeu-se logo daquela frase impatriótica. Jurou que era uma maneira de dizer. Queria a independência do seu país; morreria por ela, se fosse necessário; nem ingleses nem castelhanos!... Só nós, minha senhora! — E acrescentou com uma voz respeitosa: — E Deus!

Lisboa vista de Almada |c. 1870|
Margem S. do Tejo.
Laurent, J. (1816-1886, in Lisboa de Antigamente
Lisboa vista de Almada |c. 1900|
Margem S. do Tejo.
Charles Trampus, in Lisboa de Antigamente

— Que bonito está o rio! — disse Luísa.
Acácio afirmou-se, e murmurou em tom cavo:
O Tejo! ==
(QUEIROZ, Eça de, O Primo Basílio, 1878)

Lisboa vista de Almada, margem S. do Tejo  |1750|
Orig. copperplate engraving. Engraved by J. G. Ringle after F. B. Werner's drawing. Published by M. Engelbrecht in Augsburg, ca. 1750. With ornamental title cartouche, another cartouche with a ship and explanatory notes under the picture.

Thursday, 22 May 2025

Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade

O Parque — no seu início e no primitivo sonho paisagista, assim podemos dizer — data da penúltima década do século passado (1885), e seu primeiro nome, caído em esquecimento, foi o de Parque da Liberdade.

Era então tudo isto por aqui terreno de mau cultivo, ou nenhum, terras que ocupavam a poente za zona de Vale Pereiro — recorda Mestre Araújo, a quem vamos sempre seguindo — , quási todas pertencentes no século XVIII aos padres da Congregação do Oratório (de S. Felipe Nery), e a ocidente e a norte restos de quintas das Lages, de Galvão Castelo Branco, dos Pachecos Malheiros, e do Poceiro. Estes tratos de terrenos há muito que se haviam desmembrado das designações e possuidores setecentistas; a mais importante zona, vastíssima, era a do Casal do Monte Almeida, de Carlos Maria Eugénio de Almeida, com o qual a Câmara manteve demoradas demandas, que duraram de 1894 a 1930.
 
Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade |c. 1900|
Rio Tejo
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Municipalizados, em parte, os terrenos destinados ao Parque, começou a Câmara (1888) a pensar a sério no ajardinamento e aformoseamento paisagista do seu Parque, abrindo um concurso internacional entre arquitectos especializados, cujos três prémios foram ganhos por franceses; o projecto classificado em primeiro lugar (Henry Lusseau) não pôde ter execução, como não a pode ter o projecto Forestier, de 1926, nem sabemos se o terá o de Luiz Cristino da Silva, de 1932, que inclui uma entrada monumental.

O Parque — denominado de Eduardo VII depois da visita que este Rei de Inglaterra fez a Lisboa em 1903 — logo que foi proclamada a República mereceu às vereações cuidados especiais, em bons propósitos que a carência de um plano definido, ou a falta de verbas, nunca deixaram coroar de êxito.

Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade |c. 1954|
Castelo de S. Jorge; Monumento ao Marquês de Pombal (1934); Rio Tejo
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

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