Chegamos ao Hospital Colonial , erguido em terrenos que foram dos Condes da Ega, com seu palácio faz parte da história autêntica da Junqueira, difícil, até, de sintetizar. São do começo urbanizado do sítio, pois advêm dos Saldanhas, do século XVI.
Sem grande esforço — recorda Norberto de Araújo — tu, Dilecto, vais apreender a situação da antiga casa nobre dos Saldanhas e Egas, e um pouco, quase nada, da sua história. Á direita, subindo pela Calçada da Boa Hora, levanta-se o antigo Palácio da Ega, onde está, desde 1931, o Arquivo Colonial, com o seu «Pátio do Saldanha», que antes daquela data era uma ruína; os terrenos anexos e dependentes do Palácio prolongavam-se para norte, até à Boa Hora, e para Sul sobre a Junqueira; foi nos terrenos do Sul, estes que vês, ajardinados, defendidos da Rua por uma cortina de gradeamento [vd. duas primeiras imagens], que se instalou em 1925 o Hospital Colonial [em 1974 recebe a designação de Hospital de Egas Moniz].
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Palácio da Ega (Pátio Saldanha) |c. 1940| Perspectiva tomada da Rua da Junqueira Fachada Sul, sobre jardim, adornada de onze janelas de sacada. Note-se os terrenos defendidos da Rua por uma cortina de gradeamento. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
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Palácio da Ega (Pátio Saldanha), gradeamento da Quinta do Saldanha |1911| Rua da Junqueira Inscrição no original: Na Rua da Junqueira, nos extremos da antiga cerca do Palácio da Ega encontram-se dois pavilhões neogóticos, de construção igual e simétrica, de calcário branco e planta quadrada. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Como disse atrás, quando resumi o que foi o sítio da Junqueira, os Saldanhas — cujo primeiro foi D. António, companheiro de Albuquerque — , possuíam os terrenos todos de Santo Amaro a Belém, e que começaram a retalhar em 1701. Mas a sua casa, antepassado do Palácio Ega, datava aproximada---mente de 1582, e, com acrescentamentos, melhorias e feição palaciana cada vez mais acentuada, nos descendentes se conservou. Um deles, D. Manuel de Saldanha e Albuquerque, Vice-Rei da Índia, recebeu em 1758 o título de Conde da Ega.
Aqui fica explicado o enxerto dos Egas nos Saldanhas, a mesma família, afinal. A Quinta chamava-se «das Caldas», desde o seu começo; a designação foi amortecendo subordinada ao apelido dos Saldanhas. O 2.º Conde da Ega, Aires José Maria de Albuquerque, era o proprietário do Palácio quando Junot se instalou em Lisboa; tomou o partido do Marechal francês, que se instalou no velho Palácio dos Saldanhas, e se fez amante da segunda mulher do Conde, a linda Juliana Maria Luíza Sofia de Oyenhausen de Almeida, filha da insigne Marquesa de Alorna. Expulsos os franceses, o Conde emigrou, e a Condessa foi atrás do amante.
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Palácio da Ega, onde se encontra instalado o Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) |1966| Calçada da Boa-Hora Frontaria, voltada a Poente, sobre um jardim, este acortinado de gradeamento que corre ao longo da Calçada da Boa Hora, e nela o corpo central, no qual, em baixo se rasga o portal, sobrepujado no fecho do arco pela pedra de armas dos Albuquerques, e ladeado por duas janelas, emolduradas de vistosa composição arquitectónica; na altura do andar nobre, e único, abrem-se duas janelas de sacada. Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente |
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Palácio da Ega |194-| Calçada da Boa-Hora Os corpos laterais, recuados só no andar nobre, constituindo assim um terraço de cada lado, guarnecido de varanda de varões seiscentistas; em baixo, em cada corpo notam-se três vãos gradeados entre quatro colunas, constituindo os vãos centrais portas, rematadas em arco. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
O Estado condenou à morte o Ega, e tomou-lhe conta dos bens (com o Palácio e Quinta à cabeça), mas o Morgado foi mais tarde restituído aos Egas, o que não impediu que o general Beresford durante largos períodos o habitasse, enquanto andou por Portugal.
Na primeira metade do século passado [XIX] o Palácio da Ega ou do Saldanha, veio às mãos de particulares; o último, que foi a Conde da Folgosa, vendeu-o há poucos anos[c. 1930] ao Estado.
Os terrenos rústicos da Quinta já há muito que andavam alienados, desintegrados da antigo conjunto da propriedade dos Saldanhas dos séculos XVI a XVIII.
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Palácio da Ega |1940| Calçada da Boa-Hora Fachada lateral Sul voltada ao jardim, provido de grande tanque de rebordo curvilíneo, com acesso por passadiço elevado com conversadeiras, três portas e um alpendre. Possui dois corpos alinhados e separados por pilastra: o da esquerda, extenso, com dois pisos, e o da direita, mais estreito, correspondente à sala Pompeia, que possui mais um piso. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
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Palácio da EgaPalácio da Ega (Pátio Saldanha) |1940| Calçada da Boa-Hora Fachada lateral Sul possui dois corpos alinhados e separados por pilastra: o da esquerda, extenso, com dois pisos, e o da direita, mais estreito, correspondente à sala Pompeia, que possui mais um piso. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Dilecto: o velho Palácio «da Ega» — como muito vulgarmente se lhe chama, certamente em memória da formosa Condessa — está ainda hoje [1939] apresentável de aparência, como vês, ao fundo do Pátio, que foi limpo e acortinado.
Interiormente possuí, digna de referência, e salva da ruína quase absoluta que caía há umas dezenas de anos sobre a Casa, uma «Sala dos Marechais», também chamada «de Apolo» (porque nela existiu uma estátua de Apolo) e a de «Pompeia» (porque algumas pinturas se caracterizam por esse estilo) , sala decorativa que ostenta colunatas de madeira, tecto pintado, e silhares de azulejos magníficos, com vistas de Veneza.
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Palácio da Ega no Páteo do Saldanha |c. 1850| Sala Pompeia e nela doze colimas, de madeira, imitando mármore verde e amarelo, de traçado salomónico resultante do engrinaldado que as envolve. O tecto, recurvado em doze tramos, oval, no qual se abre, em altura, uma cúpula oval também, um e outra revestidos de pintura a têmpera sobre estuque, com ornatos e medalhões, ao estilo pompeiano do fim do século XVIII. Oito silhares de azulejo em tapeçaria, de tipo holandês do século XVIII, representando portos e cidades europeias, nem todos identificáveis. Litografia por Legrand, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1946.
idem, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 53-54, 1939.
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