«Em Lisboa morrem por anno, em média, 9 mil pessoas. N'este numero vao incluidas perto de 2 mil creanças com menos de um anno de edade. De 0 a 2 anos morrem de diarreias e enterites, em media por anno, 750 creanças na capital e mais de 8:000 em todo o reino.» — afirmava em 1907, num jornal de carácter médico — o dr. Jorge Cid, director clínico do Lactario de Lisboa.
Foi fundada, logo no início do século (1901), uma instituição particular, a Associação Protectora da Primeira Infância, pelo Coronel Rodrigo António Aboim de Ascensão, com o apoio da rainha D. Amélia, após ter visitado, em Paris, uma Gota-de-Leite do Dr. Léon Dufour, em 1900, e ter estudado a sua organização. Deve-se igualmente à rainha D. Amélia a criação, em 1903, do primeiro lactário, situado no Largo do Museu da Artilharia.
Largo do Museu de Artilharia [c. 1902] Lactário da Associação Protectora da Primeira Infância, risco do arquitecto Miguel Ventura Terra. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Largo do Museu de Artilharia [c. 1910] Lactário da Associação Protectora da Primeira Infância, risco do arquitecto Miguel Ventura Terra. Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente |
Este lactário — sob projecto do arquitecto Miguel Ventura Terra (na altura vereador da Camara Municipal de Lisboa) — tinha uma vacaria em anexo, com capacidade para dezoito cabeças de gado. Além da vacaria, o edifício era constituído por uma série de pequenos pavilhões, cada um deles destinado a uma actividade específica, como os serviços administrativos e os gabinetes médicos. O seu o primeiro director clínico foi o Dr. Gomes Resende.
Largo do Museu de Artilharia [c. 190-] Vacaria do Lactário n.º 1, risco do arquitecto Miguel Ventura Terra Ao fundo, a torre sineira da Ermida do Senhor Jesus da Boa Nova Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente Obs.: local não identificado no aml |
Largo do Museu de Artilharia [1927] Crianças amamentadas a cargo da Associação Protectora da Primeira Infância. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Posteriormente, a Associação fundaria mais três lactários. O lactário nº 2, no Largo da Esperança, em Santos-o-Velho, inaugurado pela rainha D. Amélia em 29 de Dezembro de 1907. O lactário nº 3, no Largo do Calvário, em Alcântara, começou a distribuir leite a 30 de Julho de 1927. O lactário nº 4 foi implantado no bairro do Beato e terá iniciado funções em 1929.
Largo da Esperança, Av. D. Carlos I [post. 1907] Lactário n.º 2 José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente |
Largo do Calvário [1930] Ao centro, o Lactário n.º 3 Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
A Associação Protectora da Primeira Infância (APPI) desenvolveu um serviço de distribuição diária de leite para bebés lactantes cujas mães não podiam amamentar. O leite era distribuído gratuitamente duas vezes por dia, em doses recomendadas pelo pediatra, sendo transportado em garrafas-biberão esterilizados em autoclave.
Consciente das principais causas da mortalidade infantil na primeira infância, a APPI direccionou os seus Serviços e recursos para o apoio alimentar e pediátrico, para a assistência das crianças no domicílio (0 aos 3 anos) e para o auxílio à maternidade e à família, numa actuação global no plano da assistência.
A inscrição na APPI era realizada em boletim próprio, onde se anotava toda a informação sobre o agregado familiar e, posteriormente, os registos das consultas de pediatria. Até 2011, a APPI contou com mais de 14 000 crianças auxiliadas.
A inscrição na APPI era realizada em boletim próprio, onde se anotava toda a informação sobre o agregado familiar e, posteriormente, os registos das consultas de pediatria. Até 2011, a APPI contou com mais de 14 000 crianças auxiliadas.
Ilustração Portuguesa, 1907.
(+ info: appinfancia.org)
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