Friday, 7 April 2017

Calçada de Santo Amaro

De acordo com o olisipógrafo Norberto de Araújo, este topónimo está ligado ao culto de «Santo Amaro, bispo e abade, advogado dos braços e pernas partidas», vai um pouco esquecido; o seu culto, que principiou por ser dos naturais da Galiza, tornara-se alfacinha, mas os lisboetas já o perderam de vista.


Ainda segundo o mesmo autor «a Calçada de Santo Amaro, essa é a mais antiga artéria do sítio, a findar na Travessa dos Moinhos; (...)
À esquina da Calçada de Santo Amaro, junto às Escadinhas [1ª foto], aí tens esse enorme casarão — hoje [1939] todo de azulcom dois corpos altos divididos por um pátio, e ainda mostrando jardins, restos de melhor tempo. A primeira casa neste sitio foi erguida cerca de 1716 por D. José Saldanha em terrenos que eram do Morgado deste titulo. [...]

Calçada de Santo Amaro |c. 1939|
Escadinhas de Santo Amaro; palácio Saldanha
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Neste palácio habitaram em 1868 o Duque de Montpensier, filho do Rei Luiz Filipe, e sua filha D. Mercedes, que foi depois Rainha de Espanha (primeira mulher de Afonso XII).
Este palácio que dos nobres, primeiros moradores, passou à burguesia industrial, teve tradições artísticas, um ambiente característico de Lisboa de oitocentos [...]

Calçada de Santo Amaro !1944|
Junto à Capela de Santo Amaro; fontanário
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Dos séculos XVI ao XIX — relembra Norberto de Araújo — desde a linha de Alcântara ao Alto de Santo Amaro — era um mundo de romeiros.
Pois, Dilecto, subamos as Escadinhas a caminho da velha e curiosíssima Igreja de Santo Amaro.(...)
Este adro, esta ladeira, este eirado que vês, as escadinhas com o seu pitoresco natural, eram lugar concorrido e festeiro em dia de Santo Amaro, prolongando-se a romaria de 15 de Janeiro a 2 de Fevereiro; o templo regurgitava de fiéis e as cercanias enchiam-se de foliões.
Era a romaria «dos pinhões» — grandes molhadas dêles em enfiadas fazendo colares —, a festa dos «galegos», muito devotos de Santo Amaro, com suas gaitas de foles, pandeiros, zabumbas, com uma alegria que extravasava de Alcântara ao cabo da Junqueira. A última festa desta natureza — aliás uma pálida sombra do que fora há um século — realizou-se em 1930.==

Calçada de Santo Amaro |c. 1903|
Vendedores ambulantes junto à Capela de Santo Amaro por alturas da Romaria de Santo Amaro ou «dos Pinhões».
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 43-46, 1939.
ARAÚJO, Norberto de,  Legendas de Lisboa, p. 113, 1943.

2 comments:

  1. Sem dúvida o melhor blogue sobre a temática das várias que existem na Internet. A
    isto chamo serviço público. Parabéns.
    Carlos G. Pinto

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    1. Sem qualquer dúvida o melhor. Bem concebido.

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