De acordo com o olisipógrafo Norberto de Araújo, este topónimo está ligado ao culto de «Santo Amaro, bispo e abade, advogado dos braços e pernas partidas», vai um pouco esquecido; o seu culto, que principiou por ser dos naturais da Galiza, tornara-se alfacinha, mas os lisboetas já o perderam de vista.
Ainda segundo o mesmo autor «a Calçada de Santo Amaro, essa é a mais antiga artéria do sítio, a findar na Travessa dos Moinhos; (...)
À
esquina da Calçada de Santo Amaro, junto às Escadinhas [1ª foto], aí tens esse
enorme casarão — hoje [1939] todo de azul — com dois corpos altos
divididos por um pátio, e ainda mostrando jardins, restos de melhor
tempo. A primeira casa neste sitio foi erguida cerca de 1716 por D. José
Saldanha em terrenos que eram do Morgado deste titulo. [...]
Calçada de Santo Amaro |c. 1939| Escadinhas de Santo Amaro; palácio Saldanha Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Neste palácio habitaram em 1868 o Duque de Montpensier, filho do Rei Luiz Filipe, e sua filha D. Mercedes, que foi depois Rainha de Espanha (primeira mulher de Afonso XII).
Dos séculos XVI ao XIX — relembra Norberto de Araújo — desde a linha de Alcântara ao Alto de Santo Amaro — era um mundo de romeiros.
Pois, Dilecto, subamos as Escadinhas
a caminho da velha e curiosíssima Igreja de Santo Amaro.(...)
Este adro, esta ladeira, este eirado que vês,
as escadinhas com o seu pitoresco natural, eram lugar concorrido e festeiro em dia de Santo Amaro, prolongando-se a romaria de 15 de Janeiro a 2 de Fevereiro; o templo regurgitava de fiéis e as cercanias enchiam-se de foliões.
Era a romaria «dos pinhões» — grandes molhadas dêles em enfiadas fazendo colares —, a festa dos «galegos», muito devotos de Santo Amaro, com suas gaitas de foles, pandeiros, zabumbas, com uma alegria que extravasava de Alcântara ao cabo da Junqueira. A última festa desta natureza — aliás uma pálida sombra do que fora há um século — realizou-se em 1930.==
Calçada de Santo Amaro |c. 1903| Vendedores ambulantes junto à Capela de Santo Amaro por alturas da Romaria de Santo Amaro ou «dos Pinhões». Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 43-46, 1939.
ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, p. 113, 1943.
ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, p. 113, 1943.
Sem dúvida o melhor blogue sobre a temática das várias que existem na Internet. A
ReplyDeleteisto chamo serviço público. Parabéns.
Carlos G. Pinto
Sem qualquer dúvida o melhor. Bem concebido.
Delete