A igreja do Coleginho, orientada a Poente, situa-se na Rua do Marquês de Ponte de Lima, em plena Mouraria de cima. Defronte esgueira-se, numa aberta do casario, o beco dos Três Engenhos; umas dezenas de passos a Norte rasgam-se, descendo ao vale a antiga rua Suja (Rua da Guia) e subindo para Santo André, a da Amendoeira. Mais além ficam a Rua dos Cavaleiros, o Terreirinhoe e as Olarias, onde foi o «almocavar» ou cemitério dos mouros e judeus.
Segundo a tradição a antiga igreja do Coleginho (Colégio velho de Santo Antão) ocupava o local da mesquita do arrabalde da Mouraria, se não o próprio templo, desafectado do culto muçulmano após a expulsão dos judeus e mouros decretada por el-rei D. Manuel em 1496. Colocada sob a invocação da Anunciação da Virgem, transformou-se em igreja conventual depois que em 1519, numas casas anexas, se instalaram as dominicanas vindas do mosteiro de Jesus, de Aveiro.
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Igreja do Coleginho (N. S. do Perpétuo Socorro) em 1922 e 1940, respectivamente Rua do Marquês de Ponte de Lima A Frontaria, de elegante traçado arquitectónico, de corpo único ladeado por pilastras às quais serve de remate o frontão com óculo e nela o pórtico, sem adro e cujo acesso é feito por cinco degraus, formado por duas colunas. in Lisboa de Antigamente |
As madres trocaram esta residência pela dos Cónegos regrantes de Santo Agostinho, na
Corredoura, de invocação de Santo Antão (no local da actual igreja de S. José). Passaram os Agostinhos a residir no mosteiro da Mouraria, até que em 1542 o cederam aos Jesuítas, para nele instalarem uma Residência, que depois se transformou em Colégio.
Pelo aumento da população escolar a Companhia transferiu os estudos para o novo e magnífico edifício que seria o Colégio novo de Santo Antão (hospital de S. José), conservando-se. porém, em Santo Antão da Mouraria (depois de um simulacro de venda aos Gracianos em 1587) uma residência (1593) extinta quando Pombal expulsou os Inacianos (1759).
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Igreja do Coleginho (N. S. do Perpétuo Socorro) |c. 1950| No andar superior três janelas com moldura e tímpano. Sobre elas corre a cimalha real, com friso e cornija.Amadeu Ferrari, in Lisboa de Antigamente |
Ignoram-se as obras de que o templo teria beneficiado, mormente no primeiro século da sua história (é de presumir que as tivesse havido no segundo quartel do século XVII) mas sabe-se que o Terramoto causou nele grandíssima ruína, que conduziu a uma reconstrução, concluída em 1764, e lhe imprimiu a feição actual. Já então (e até 1833) o templo estava anexo à residência dos Padres redentoristas de S. Libório, sucessores conventuais dos Jesuítas. Extintas as ordens religiosas, foi a igreja entregue à irmandade de Nossa Senhora do Bom-Despacho, sendo anos volvidos desafectada.
Reaberta ao culto em 1988, nela se instalou a sede eclesiástica da freguesia do Socorro (1951).
Apontamento a reter: Foi na igreja do Coleginho que antes de partir para o Oriente S. Francisco Xavier pregou pela última vez.
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Antigo edifício do Colégio de Santo Antão em 1836, em desenho de Luís Gonzaga Pereira |
A igreja do Coleginho quase nada conserva da sua traça quinhentista; é um templo com as características próprias de todos os de Lisboa reedificados após o Terramoto.
Embora pequeno, é notável pela riqueza e elegância da cantaria.
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Colégio de Santo Antão-o-Velho | Colégio de Santo Agostinho Museu de Lisboa | Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor. |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1955.