Friday, 28 February 2020

Boqueirão do Duro

Ignora-se o motivo da denominação, mas parece que os boqueirões eram antigos escoadoiros que se abriam para o rio, e conservaram o nome depois de enxutos e transformados em vielas. Júlio de Castilho — Ribeira de Lisboa, p. 340 — diz que a Rua da Moeda começou por ser um boqueirão, inundado de agua, ao longo do qual se recordava de ter visto fragatas de carga.

Boqueirão do Duro [c. 1910]
Perspectiva tirada da Av. 24 de Julho
José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Estende-se no chão vizinho ao antigo Cais do Tojo e no sítio da velha marinha da Boa Vista — refere Luís Pastor de Macedo (Lisboa de Lés-a-Lés, vol. III). Segundo verificámos em vários processos de emprazamentos, da freguesia de Santos, o boqueirão do Duro só aparece com este nome depois do incêndio que houve no Cais do Tojo em 1821.

E agora chega a vez ao boqueirão. Como nomes de arruamentos há em Lisboa pelo menos dois: Boqueirão do Duro, Boqueirão dos Ferreiros, que ambos vão desembocar ao Atêrro [hoje Av. 24 de Julho], sinal de que noutro tempo desembocavam no Tejo. Ou era o Tejo que por eles embocava na margem?

Boqueirão do Duro [1945]
Perspectiva tirada da Av. 24 de Julho; inundações.
Judah Benoliiel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 23 February 2020

Sítio que foi da Boa Morte: palacete dos Condes de Sabrosa

Entramos no sítio que foi da Boa Morte, invocação que teimosamente perdura na bôca de velhos bairristas, e que os roteiros modernos se encontram na necessidade de apontar, em sujeição à tradição oral.
O cruzamento das Ruas de Santo António, Sant'Ana, Possidónio da Silva, do Possolo e do Patrocínio, é que fazem o sítio da Boa Morte. A razão dêste nome, de fundamento religioso, está na existência da Igreja da Boa Morte do Convento da mesma invocação; [...]

Palacete dos Condes de Sabrosa [c. 1940]
Rua de Sant'Ana com a Rua do Possolo

Casa de estilo português, revestida exteriormente de azulejos da Cerâmica de Campolide.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bem curioso é êste enfiamento da Rua de Sant'Ana; à sua esquina, do lado poente, com ingresso pela Rua do Possolo, 76, ergue-se com um único andar o palacete dos Condes de Sabrosa, essa casa de estilo português, tôda revestida exteriormente de azulejos decorativos, de tipo de silhar palaciano, mas pintados há poucas dezenas de anos por João Rodrigues, e saídos dos fornos da Cerâmica de Campolide [Fábrica da Louça do Rato].

Nota(s): Actualmente está aqui instalada a  Embaixada da Finlândia.

Palacete dos Condes de Sabrosa [1969]
Rua do Possolo, 76 com a
Rua de Sant'Ana
Casa de estilo português, revestida exteriormente de azulejos da Cerâmica de Campolide.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 56-59, 1939.

Friday, 21 February 2020

Largo do Tabelião

Este Largo que se configura quase como uma travessa entre a Rua Martim Vaz e a Calçada de Sant'ana aparece referido na planta nº 36 do Atlas da Carta Topográfica de Lisboa de Filipe Folque, de 1858. Data do reinado de D. Afonso II (1211- 1223) o primeiro notário público, denominado na época e até ao final do século XIX como tabelião, termo que só foi alterado por Decreto de 14 de Setembro de 1900. Em Lisboa, havia pelo menos um tabelião desde 1257 e João Brandão contabiliza 18 no ano de 1552 pelo que não será descabida a suposição deste topónimo ter origem na existência de um tabelião no local.

Largo do Tabelião |1903|
Cruzamento com a Calçada de Sant'ana e Travessa do Convento da Encarnação (ao fundo). 
O nome deriva da existência no local do Convento da Encarnação.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 16 February 2020

Rua da Conceição vulgo dos Retroseiros

Sobre a Rua da Conceição refere a Portaria pombalina de 5 de Novembro de 1760 que «Assim se denominará a segunda das referidas seis traveças, e nella se acommodorão os Mercadores de logens de retroz.». A escolha do topónimo deriva da proximidade à [Igreja da Conceição (Nova), demolida].

Encontrou-se uma inscrição, que ainda em 1883 existia, e eu vi — diz mestre Castilho — , numa parede do armazém de retroseiro de Manuel Pereira Bastos [em 1909, Fernandes & Cardoso], na rua dos Retroseiros (ou da Conceição), com porta para a escada n.° 83 [11ª porta à esq.]; (...) Diz assim : SSACRVM / AESCVLAPIO / M[arcus] . AFRANIVS . EVPORIO / ET / L[ucius] . FABIVS DAPHNVS / AVG[ustales] / MVNICIPIO . D(ono) . D(ederunt) »
(CASTILHO, Júlio de, Lisboa antiga:Segunda parte: Bairros orientais, Vol. 1, 1884, pp.154-155)

Rua da Conceição vulgo dos Retroseiros |1915|
Esquina com a Rua da Prata, antiga Bella da Rainha [vd. N.B.]
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Esta dedicatória na lápide de mármore dedicada AESCVLAPIVS (deus da Medicina) não está necessariamente associada ao culto imperial, apesar dos cargos religiosos nesse âmbito desempenhados por Marcus Afranius Euporio e por Lucius Fabius Daphnus.
Tradução: «Consagrado a Aesculapio. Marco Afranio Euporio e Lúcio Fábio Daphno, augustais do município, deram e dedicaram»

N.B. A «Rua da Prata» foi chamada durante os anos de 1760 a 5 de Novembro de 1910 de «Rua Bella da Rainha» em memória da Rainha «D. Mariana Vitória (1718-1781)», mulher do Rei D. José I, e filha de Filipe V de Espanha. A «Rua da Prata» adquiriu este nome porque no período que antecedeu o terramoto de 1755 existiu próximo a «Rua Dos Ourives Da Prata», ou ainda dos «Prateiros» rua muito característica e concorrida na época.
Em Reunião na Câmara Municipal de Lisboa, em 6 de Outubro de 1910, presidida por Anselmo Braamcamp Freire, [...] a Rua Bela da Rainha passa a denominar-se Rua da Prata;[...]

Friday, 14 February 2020

Retiro Quebra-Bilhas

O lendário antigo "Retiro Quebra-Bilhas", foi inaugurado em 1793[?], no lado Oriental do actual Campo Grande. Encerou na década de 1980.

O último retiro das hortas, fora de portas. Inicialmente terá sido um telheiro com pipas de vinho alinhadas, mesas, bancos corridos e uma cozinha improvisada e diz a tradição que colheu o nome da alcunha do boleeiro que o fundou. Embora haja quem sustente que a existência do retiro remonta a 1793, cálculos mais realistas atribuem-lhe idade um pouco acima dos 100 anos.

Retiro Quebra-Bilhas  |1959|
Campo Grande
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

De caminho molhava-se a palavra, petiscava-se, realizavam-se colações ligeiras no Telheiro de Frielas, no Teotónio da Calçada de Carriche (Nova Cintra), no Colete Encarnado ou no Quebra-Bilhas do Campo Grande, na tendinha do Campo Pequeno, no Salgado, ao Arco do Cego. [Tinop: 1899]

Retiro Quebra-Bilhas  |1966|
Campo Grande
João Goulartin Lisboa de Antigamente

Bibliografia
RIBEIRO, Jorge, As Lojas: Lisboa de um tempo ao outro, p. 176, 1938.

Sunday, 9 February 2020

Dispensário Rainha D. Amélia (ou de Alcântara)

A construção deste Dispensário para Tuberculosos corresponde a uma iniciativa da Rainha D. Amélia e tinha como objectivo o amparo e tratamento de crianças e jovens atingidos por esta grave doença. No local fornecia-se aos internados a assistência médica e medicamentosa necessária. O apoio aos doentes ficava ainda a cargo de uma comunidade religiosa as Irmãs Missionárias que habitavam um edifício anexo localizado a Oeste do Dispensário e que correspondia à antiga casa do Vigário do Convento de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento de Alcântara. Curiosamente, esta comunidade ainda se mantém no local.

Dispensário Rainha D. Amélia (ou de Alcântara) |c. 1949|
Rua Tenente Valadim, (ste troço está hoje integrado na Av. Infante Santo) no cruzamento com a Rua do Sacramento A Alcântara e Calçada Pampulha: abertura Av. Infante Santo, rasgada no final da década de 1940.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O edifício designado como "Dispensário de Alcântara" ou "Dispensário Rainha D. Amélia", localiza-se num gaveto entre a Avenida Infante Santo e a Rua Tenente Valadim. Trata-se de uma construção mista de ferro e alvenaria de pedra construída de raiz nos finais do século XIX (1893) apresentando uma planta quadrangular em torno de um pátio central iluminado por claraboia em vidro. No exterior, pintado a ocre, rasgam-se diversos janelões dispostos ao alto, quer simples quer duplos, rematados superiormente por vergas que se prolongam nas ombreiras. Uma moldura saliente seguida de platibanda marca todo o perímetro superior das fachadas.
De destacar a presença de um soco em pedra bujardada onde, na secção inferior, se abrem pequenas janelas rectangulares que na fachada defronte à Avenida são de diminutas dimensões mas na Rua Tenente Valadim assumem uma maior expressão apresentando vergas em arco. Ainda na fachada principal, virada à Avenida, surge uma porta destacada ao centro com arco de volta inteira inserida num pórtico em arco abatido sobre o qual se inscreve a designação do edifício. Nesta fachada observam-se também dois corpos laterais salientes, tipo torreão, coroados por frontões onde se inscrevem janelões semicirculares.

Dispensário Rainha D. Amélia (ou de Alcântara) |190-|
Rua Tenente Valadim, (este troço está hoje integrado na Av. Infante Santo)
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

No interior a compartimentação é feita através de paredes de alvenaria e tabique apresentando lambris de azulejo alusivos às funções de cada espaço. No quadrante Oeste o pavilhão prolonga-se apresentando, ao nível do piso superior, um terraço virado ao Tejo onde os doentes iam igualmente para usufruir dos bons ares.
Trata-se assim de um imóvel de relevante interesse patrimonial onde a configuração arquitectónica se adequa exemplarmente às funções — cuidados de saúde — algo que na época era bastante inovador.
Infelizmente hoje o edifício encontra-se em avançado estado de degradação não se sabendo ainda qual será o seu destino. [DGCP]

Friday, 7 February 2020

Rua Tenente Valadim, à Pampulha

Esta Rua Tenente Valadim que celebra a memória de um oficial sacrificado nas guerras de África 1890, leva à Avenida 24 de Julho [vindo da Calçada Pampulha]; não tem meio século [...]
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, p. 56, 1938)

Eduardo António Prieto Valadim nasceu em Lisboa a 13 de Junho de 1865. Entrou para o Colégio Militar em 1876 com o nº 132. Oficial do Exército, distinguiu-se nas campanhas de África do final do século XIX, em Moçambique. Morreu decapitado pelo régulo Mataca, no Niassa, em Moçambique, em Janeiro de 1890, quando se preparava para içar a bandeira portuguesa numa povoação daquela província ultramarina a fim de assegurar a soberania nacional.

Rua Tenente Valadim, à Pampulha |1939|
[Este troço está hoje integrado na Av. Infante Santo]
No cruzamento com a Rua do Sacramento A Alcântara e Calçada Pampulha: ao centro, entre o casario, vislumbra-se a futura Av. Infante Santo, rasgada no final da década de 1940.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 2 February 2020

Antiga Estação Ferroviária da Parede

Esta estação situa-se no troço entre as Estações de Pedrouços e Cascais da Linha de Cascais, que foi inaugurado pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses em 30 de Setembro de 1889. A estação entrou ao serviço com a denominação de «Parede-Galiza».

Antiga Estação Ferroviária da Parede |1928|
Parede, Cascais
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda da foto no arquivo: «As crianças [da Colónia Infantil de O Seculo] na estação da Parede»

A ligação ferroviária do Cais do Sodré a Cascais data de 1896, «antes ia-se a Cascais partindo da estação de Pedrouços, que servia de testa de linha.» [Araújo: 1939]

Antiga Estação Ferroviária da Parede.Galliza |1889|
Parede, Cascais
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