Sunday, 31 December 2023

Rua de Diogo Cão

O edital de 07/08/1911, além de alterar as nomenclaturas de vários arruamentos, definiu em planta os topónimos a atribuir aos arruamentos do Rio Seco, na Ajuda, entre os quais este se incluía.
Diogo Cão (c. 1452-1486) foi um navegador português do século XV que possivelmente nasceu na Freguesia de Sá, concelho de Monção, ou na região de Vila Real, ou até em Évora, em data desconhecida, pois somente a realeza fazia registos concretos da data de nascimento e falecimento. Filho natural de Álvaro Fernandes/Gonçalves Cão, fidalgo da Casa Real.
Escudeiro e depois Cavaleiro da Casa do Infante D. Henrique, enviado por D. João II de Portugal, realizou duas viagens de descobrimento da costa sudoeste africana, entre 1482 e 1486. Chegou à foz do Zaire e avançou pelo interior do rio, tendo deixado uma inscrição comprovando a sua chegada às cataratas de Ielala, perto de Matadi. Ao chegar à foz do rio Zaire, Diogo Cão julgou ter alcançado o ponto mais a sul do continente africano (Cabo da Boa Esperança), que na verdade foi dobrado por Bartolomeu Dias pouco tempo depois, e ao qual inicialmente chamara Cabo das Tormentas.
Estabeleceu as primeiras relações com o Reino do Congo. Em 1485 chegou ao Cabo da Cruz (actual Namíbia). Introduziu a utilização dos padrões de pedra, em lugar das cruzes de madeira, para assinalar a presença portuguesa nas zonas descobertas.

Rua de Diogo Cão |1939-08|
Navegador — Século XV 
Cruzamento com a Rua da Aliança Operária; ao fundo, passado o túnel, nota-se o Largo do Rio Seco.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Diogo Cão é citado em diversas obras artísticas, como n´Os Lusíadas, de Luís de Camões ou no romance As naus, de António Lobo Antunes. Surgiu em vários selos e notas de Portugal e das suas antigas colónias. Diogo Cão é também citado no poema Padrão constituinte da obra Mensagem de Fernando Pessoa. 

Friday, 29 December 2023

Pelourinho da Praça do Município

Pelourinho, ou picota, como todos sabem, era a coluna Mænia dos povos medievos.
No foro romano a coluna Mænia era o lugar do castigo dos criminosos; nas cidades e vilas cristãs tinha igual emprego, e figurava, alem disso, como insígnia de jurisdição municipal. [Castilho: 1893]

Praça do Município |c. 195-|
Antiga do Pelourinho Velho; Arsenal da Marinha na Rua do Arsenal
Luís Filipe de Aboim, in Lisboa de Antigamente

Pelourinho era um símbolo da autonomia municipal; onde ele estava – estava o Senado ou suas casas. Tinha uma significação de justiça aplicada nas execuções, mas só queremos vê-lo apenas na sua representação de autoridade municipalista e não na sua expressão fatídica. [Araújo: 1939]

Pelourinho da Praça do Município |1908|
Antiga do Pelourinho Velho; Câmara Municipal de Lisboa
Postal ilustrado em fototipia litografada, edição Malva e Roque, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 24 December 2023

A tracção eléctrica: o carro do fio e os guarda-fios

A tracção eléctrica — registava Alfredo Mesquita em 1903 — serve já hoje a cidade de Lisboa em todas as direcções. É um dos seus mais importantes e mais recentes melhoramentos. 

As nossas ruas estreitas não justificam de certo o emprego exclusivo dos condutores aéreos para a transmissão da energia eléctrica, sendo naturalmente indicado o sistema misto de condutores aéreos e subterrâneos como o mais adequado ás condições em que se encontram os arruamentos. Sob o ponto de vista estético, não se enriqueceu também a cidade com o emaranhado dos fios, que em muitos locais atingem o aspecto de verdadeiras redes, em outros o de enxugadouros.
 
Largo do Chiado |1926|
A tracção eléctrica:  o  "carro do fio" e os "guarda-fios". Igreja de Nossa Senhora da Encarnação.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Não é menos certo que os acanhados passeios das principais ruas comerciais, reservados ao trânsito dos peões, foram prejudicados com o pejamento á circulação que lhes resulta de terem sido destinados a alicerces das desgraciosas colunas a que se prendem os fios da rede. Mas é grande verdade, também, que o regímen da tracção eléctrica fez esquecer em absoluto, e com incontestável satisfação dos habitantes de Lisboa, o antigo regímen das mulas dos americanos, dos solavancos dos Ripert, das molas desconjuntadas do Jacinto, do Florindo, do Salazar e da Luzitana. . . E hoje a vista de alguma d'essas já raras carriolas, que ainda se arrastam pelas ruas da cidade, oferece um contraste deplorável a par d'um carro eléctrico comodo e veloz.

Praça do Comércio |1927-03-30|
Guarda-fios levantando as linhas.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A fábrica geral da electricidade está situada em Santos, nos terrenos conquistados ao Tejo. Tem uma área de 6.200 metros quadrados adquiridos ao Estado em hasta publica, por 62:000^000 réis. Sendo o terreno formado por aterro moderno, as fundações foram dispendiosíssimas. Está tudo assente em estacaria e num monólito de cimento que suporta os edifícios e máquinas.==

Avenida 24 de Julho |c. 1927|
À esq. nota-se a Estação geradora de Santos.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
MESQUITA, Alfredo. Lisboa, pp. 526-527, 1903.

Friday, 22 December 2023

Clube Naval de Lisboa

Foi fundado em 27 de Janeiro de 1892 por Abel Power Daggge, entre outros,  e remontava ao "Clube de Remeiros Lusitano", fundado desde 1862. Considera-se, portanto, que a história do CNL vem desde essa distante data. Foi um dos primeiros Clubes em Portugal a praticar a vela, o remo e a natação. Actualmente dispõe de um tanque para remar, vários tipos de barcos para aprendizagem de remo e vela .
Conta no seu palmarés com as Taças Vasco da Gama, Taça de Portugal, Taça Camões e foi o Primeiro clube em Portugal a construir a sua sede em 1898 no no Cais da Viscondessa. [wikipedia.org]

Clube Naval de Lisboa [post. 1899]
Cais da Viscondessa, a Santos
Ao fundo nota-se a Igreja de Santos-o-Velho
António Novaes[?], in Lisboa de Antigamente

O Clube, que nos estatutos iniciais tinha como missão “cooperação à utilíssima, nobre e filantrópica ideia de criação dum posto de socorros a náufragos e a instrução náutica”, rapidamente assumiu um papel importante no panorama náutico português
Em 1893 o Rei D. Carlos I atribui o título de Real ao clube, que passa a denominar-se Real Club Naval de Lisboa e o Príncipe D. Luiz Filipe aceita o título de Comodoro Honorário.

Clube Naval de Lisboa |1904|
Uma das primeira eliminatórias da Taça Lisboa com uma pista da Junqueira.
Fotografia anónima], in Lisboa de Antigamente

​No campo da organização de regatas, de remo e vela foi de fundamental importância para o crescimento do Clube a abertura da secção de Cascais em 1901. Esta secção foi encerrada no final da década de 30, coincidindo com a fundação do Clube Naval de Cascais. Durante mais de trinta anos o clube organizou anualmente eventos de grande importância para a época. [Clube Naval de Lisboa | Restaurante do Clube Naval de Lisboa]

Sunday, 17 December 2023

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira

Por Carvalho da Costa com a sua preciosa Corografia portugueza (1708) podemos ver como certos lugares andavam designados com nomes vagos quanto à particularização, por haver neles referência comum e lata a determinado ponto de referência. Ao anunciar as serventias da freguesia de S. Miguel, menciona a  "banda da praia" e o "chafariz de dentro”, querendo significar o lugar ou faixa ribeirinha e o lugar ou área do Chafariz de Dentro com as ruas e outras serventias confinantes dentro da freguesia. Na conta da freguesia de Santo Estêvão procede da mesma forma, levado decerto pelo uso: a "Praia" , o "Outeiro" , as "Varandas", a "Lapa" , a "Alfungera", a "Rigueira", os "Remédios", os "alpendres do chafariz".

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira  |c. 190-|
Casa de ressalto; varina
José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Sabe-se que cerca de 1183 se tinha formado um pequeno povoado para além da regueira que passara a designar-se por Regueira do Salvador e de ambos os lados da Regueira havia nascentes. O arrabalde de Alfama muçulmana articulava-se entre 2 pólos ligados pela Regueira: o do núcleo termal e das fontes públicas e o do bosque de Alfungera.
Na época dos descobrimentos a Rua da Regueira como as de S. Pedro, S. Miguel, da Adiça, o Largo do Salvador e as escadas da Igreja de S. Miguel eram os espaços urbanos mais vivenciados pela população local.

Rua da Regueira, 1  |s.d.|
Casa de ressalto com varas de madeira.
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Friday, 15 December 2023

Avenida Dr. António José de Almeida

Por edital de 12/11/1929, a Avenida 12 do Novo Bairro no seguimento da Avenida Almirante Reis, passou a denominar-se Dr. António José de Almeida.
António José de Almeida (1866-1929) foi o 6.º Presidente da República Portuguesa (1919-1923). À sua profissão de médico aliou a actividade de jornalista e político.
Foi eleito em 6 de Agosto de 1919, com o apoio dos partidos Evolucionista e Unionista e de muitos apoiantes do Partido Democrático.
À data da sua eleição, era já uma das figuras mais prestigiadas do republicanismo, em grande parte pela eloquência e capacidade retórica que faziam dele «o tribuno da República».
Durante a sua Presidência, a Constituição foi revista, tendo-se atribuído ao Chefe do Estado o poder de dissolução do Congresso.
Foi o único Presidente que, durante a I República (1910-1926) cumpriu na íntegra os quatro anos de mandato presidencial fixados pela Constituição de então.

Avenida Dr. António José de Almeida |1935|
Perspectiva tirada do Instituto Nacional de Estatística
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Porém, por conspirar contra a ditadura de João Franco, acaba por ser preso, sendo apenas libertado após o Regicídio (1908).
Depois da proclamação da República, António José de Almeida foi nomeado Ministro do Interior do Governo Provisório Republicano (1910-1911). Em 1912 protagoniza uma cisão no Partido Republicano, daí emergindo o Partido Republicano Evolucionista, de índole mais conservadora.
Quatro anos depois chefia um governo de coligação (entre o Partido Republicano e o Partido Republicano Evolucionista), cargo que foi acumulado com a pasta das Colónias.

Monumento a António José de Almeida |post. 1937|
Avenida Dr. António José de Almeida

Em sua memória, foi erigido um monumento da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arqº Pardal Monteiro na actual Avenida António José de Almeida (1937). 
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 10 December 2023

Panorâmica do Martim Moniz

Em 1908 o herói Martim Moniz ganhou uma placa evocativa na porta do seu sacrifício e, em 1915, ficou também imortalizado na toponímia da Mouraria já que a Rua de São Vicente à Guia – que se situava entre a Rua da Mouraria, Rua do Arco do Marquês de Alegrete e a Calçada do Jogo da Pela – se passou a denominar Rua Martim Moniz, pelo Edital de 14 de Outubro de 1915.
Na década de 90 do século XX, a edilidade lisboeta procurando preservar a toponímia mais histórica e tradicional da zona, ao arruamento já conhecido vulgarmente por Largo do Martim Moniz – situado entre a Rua da Palma e a Rua do Arco do Marquês de Alegrete - atribuiu o topónimo Rua Martim Moniz, por Edital de 30 de Abril de 1991.

Panorâmica do Martim Moniz |1976|
Miradouro de Nossa Senhora do Monte

Francisco Leite Pinto, in Lisboa de Antigamente

Passados 6 (1997) anos e concluída a recuperação urbana desta zona levada a cabo pela Câmara Municipal de Lisboa, determinou esta que o espaço delimitado pela Rua da Senhora da Saúde, Rua Fernandes da Fonseca, Rua da Palma e Rua do Arco do Marquês de Alegrete, onde se situava também a Rua Martim Moniz se passasse a denominar Praça Martim Moniz.

Panorâmica do Martim Moniz |1976|
Francisco Leite Pinto, in Lisboa de Antigamente

Friday, 8 December 2023

Rua da Misericórdia, 81: travão partido, eléctrico desarvorado

Esta artéria tinha-se denominado Rua do Mundo (1910), para perpetuar o nome do jornal que estava sediado neste arruamento e ainda antes designava-se Rua de São Roque (1889). Inicialmente designada Rua Larga de S. Roque, em memória da Igreja e Convento de São Roque que era também o topónimo inicial de Bairro Alto de São Roque e Rua da Misericórdia — a partir de 1937, em referência à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com sede no Largo Trindade Coelho.
 
Rua da Misericórdia, 81 |1910|
Travão partido, eléctrico desarvorado
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 3 December 2023

Terreiro do Paço: «O Caes das ex-colunas»

Segundo Norberto Araújo «Este delicioso Cais das Colunas — que deve seu nome às colunas de pedra colocadas no sopé da escadaria suave — é posterior ao Terramoto. Anteriormente, mais à nossa esquerda, e também mais recuado, existia um «Cais da Pedra», que o sismo de 1755 subverteu.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 28)

Contudo, as colunas nem sempre estiveram presentes. A ausência de um ou mesmo dos dois ornatos, terá sido uma constante durante diversas décadas.
A 13 de Março de 1925, o jornal «A Época» fazia saber que «na última reunião da Câmara Municipal de Lisboa, o sr. dr. Alexandre Ferreira chamou a atenção da Comissão Executiva e especialmente ao vereador do pelouro de engenharia sr. Raul Caldeira, para o facto, de no Cais das Colunas, não existirem há muito as colunas que deram origem àquela nomenclatura».

Terreiro do Paço: «O Caes das ex-colunas» |c. 1953|
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

A queda das colunas, representando por vezes vários anos de ausência de um ou mesmo dos dois ornatos, terá sido uma constante durante diversas décadas — conforme comprovam estas imagens captadas na década de 1950. Ribeiro Cristino frisou a sua falta, no início da década de 1910, nas páginas do Diário de Notícias, com a publicação do artigo «O Caes das ex-colunas» (Cristino 1923, p. 14-16).

As colunas regressaram ao cais a que deram o nome em Julho de 1929. Assim o noticiou o «Diário de Notícias» de 9 de Julho desse ano: «O Cais das Colunas estava há largos anos sem colunas (…) A primeira das colunas do cais ficou ontem de pé, como a nossa gravura atesta e prova. Pouco falta, portanto, para que o «Diário de Notícias» possa dizer nas suas colunas que o Cais das Colunas voltou a ter colunas no cais». As colunas que actualmente ali se encontram são as mesmas que foram colocadas em 1939.

Terreiro do Paço: «O Caes das ex-colunas» |1957-02-18|
Visita oficial da rainha Isabel II de Inglaterra
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Friday, 1 December 2023

Rua Dom Francisco Manuel de Melo

Topónimo atribuído por Deliberação Camarária de 21/10/1909 homenageia  D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666) considerado uma das personalidades portuguesas mais proeminentes do século XVII. Nascido em Lisboa de família nobre. Começou muito novo a frequentar a corte, cursou Humanidades no Colégio de Santo Antão e dedicou-se ao estudo da Matemática, pois pensava seguir a carreira das armas. Militou na marinha e, depois de um naufrágio que sofrera, estabeleceu-se na corte de Madrid. Em 1639 comandou um regimento na Flandres e lutou contra os Holandeses. Em 1641, encontrando-se em Londres. aderiu à causa da independência em Portugal, regressando ao reino onde, depois de receber a comenda da Ordem de Cristo, é acusado e preso por conivência no assassinato de Francisco Cardoso. É na prisão que escreverá as suas melhores obras.
O seu trabalho bilingue comporta comédias, novelas, versos líricos e, pensa-se, algumas sátiras que se terão perdido. Versou sobre assuntos historiográficos, moralistas, políticos e militares.

Rua Dom Francisco Manuel de Melo | 1962|
Antiga Rua B entre as Rua de Artilharia 1 José da Silva Carvalho e Castilho
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

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