Da actual Estrela — recorda Norberto de Araújo — até ao fundo do que é S. Bento havia, em encosta, no século de quinhentos duas herdades ou grandes quintas contíguas: a de cima, propriedade de Luiz Henriques; a de baixo, de Antão Martines.
Os
frades beneditinos de Tibães já se tinham instalado em 1573 na
quinta do Henriques, onde construíram um pequeno
Convento, chamado mais tarde de Nossa Senhora da Estrêla ou da Estrelinha.
Como este fosse pequeno, os monges deitaram os olhos para as terras que desfrutavam só com os olhos, e suas não eram, as do Martines, e compraram-nas, por tal sinal por uma tuta e meia (1596). A essa quinta chamava o povo a Quinta (ou Casa) da Saúde, porque em 1569 e 1570,
por ocasião de uma peste,
aqui se instalara uma espécie de hospital de pestilentos.
É esta a razão por que ao grande Convento novo se chamou de S. Bento da Saúde¹
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O antigo Mosteiro de S. Bento (da Saude ou dos Negros) já depois de convertido em Palácio das Cortes nos meados do século XIX [c. 1854] Nota-se a Calçada das francesinhas (principio da actual Calçada da Estrela) entre as hortas dos frades (de S. Bento) e a das freiras (da Esperança), esta a sul. vê-se também o Mosteiro das Francesinhas à esquina do Caminho Novo ((hoje Rua de João das Regras). Aguarela de Jan Lewicki, in Lisboa de Antigamente |
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Mosteiro de S. Bento [c. 1900] Em primeiro plano pode ver-se o Arco de S. Bento. José Artur Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente |
A origem do Palácio de S. Bento remonta a 1598, ano em que se iniciou a construção do convento beneditino na Quinta da Saúde. O arquitecto régio Baltasar Álvares foi o autor do projecto, continuado depois da sua morte por Frei Pedro Quaresma e por Frei João Turriano, e nunca concluído na totalidade dada a magnificência a que aspirava. Até 1833 o edifício pertenceu aos Frades Negros de Tibães e era conhecido por Convento de S. Bento da Saúde, sendo sua padroeira Nossa Senhora da Saúde cuja imagem existia no altar-mor da igreja conventual.
O mosteiro foi submetido ao longo da sua história a constantes
alterações arquitectónicas e acrescentos, na sequência de grandes
incêndios e do terramoto de 1755, época em que ainda não tinham
terminado as respectivas obras de acordo com o projecto inicial e nem
estava concluída a capela–mor. Outras modificações resultaram de
adaptações a novos gostos e novos estilos arquitectónicos e decorativos.
O edifício do mosteiro, por ser demasiado vasto e em grande
parte desocupado, teve a partir de então utilizações diversas tais como
Arquivo da Torre do Tombo, a Patriarcal, hospedaria de bispos, “prisão”,
Academia Militar, armazém dos despojos militares franceses e sepultura
de muitos mortos, como o embaixador de Espanha.
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Perspectiva do Mosteiro de São Bento da Saúde (pormenor), cópia anónima do projecto de Baltasar Álvares [c. 1730-1750] in Lisboa de Antigamente |
No edifício restam, para além da matriz arquitectónica edificada no séc. XVII, o Refeitório dos Frades, com o pavimento original de mármore branco e negro e painéis de azulejos de c. 1770 com episódios da Vida de S. Bento, a igreja conventual com pavimento de mármore branco e rosa e actualmente Átrio do Palácio, o claustro ainda que reduzido e alterado na década de [19]30. A inacabada cripta do Marquês de Castel-Rodrigo situada sob a capela-mor da igreja sabe-se que ainda existe, embora permaneça por localizar.
N.B. Com o decreto real de D. Pedro IV, datado de Setembro de 1833, as duas
Câmaras – Pares e Deputados – foram instaladas no edifício do Mosteiro
de S. Bento que passou a designar-se Palácio das Cortes. O seu recheio
foi nessa altura disperso e encontra-se actualmente em outras igrejas de
Lisboa e em museus. Depois de um incêndio em 1895 ter destruído por completo o edifício, foi
decidido reedificá-lo de raiz, com o objectivo de prosseguir a sua
missão legislativa.
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Palácio de S. Bento depois de convertido em Palácio das Cortes [1858] Rua de S. Bento Era um dos mais imponentes edifícios de Lisboa, apesar de nunca concluído, um mosteiro de grande prestígio a cujas cerimónias acorriam a corte e as grandes famílias da nobreza. A sua decadência tem início a partir do governo de Marquês de Pombal, e acentuada pelas Invasões Francesas e pelas Guerras Liberais culmina em 1834 ao serem extintas as ordens religiosas e as suas propriedades integradas nos bens do Estado. Amédée de Lemaire-Ternante, in Lisboa de Antigamente |
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Mosteiro de S. Bento [ant. 1896] Mosteiro de São Bento da Saúde (1598); Palácio das Cortes (1834); Congresso da República (1910); Assembleia da República Largo de São Bento (antigo das Cortes); Rua de São Bento; Rua Correia de Garção; Calçada da Estrela Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 32-34, 1939.
SANTOS, Maria José Silva, O parlamento de Portugal, p. 75, 2002.
parlamento.pt.