Wednesday, 30 January 2019

Vila Sousa

Esses dois prédios defronte do Jardim [Augusto Gil] e do ângulo da Igreja com a Sacristia, são velhos e representativos do sítio, embora muito transformados.
Aquele, no tôpo contido entre a Calçada da Graça e a Travessa das Mónicas, foi o Palácio dos Senhores de Trofa (Carvalhos e Lemos); [...]
O outro, enorme, renovado no seu exterior — grande prédio de rendimento — , e que se situa entre as Travessas das Mónicas e a de S. Vicente (esta antiga Travessa das Bruxas) era o Palácio dos Condes de Val-de-Reis, antes Azambujas, e mais tarde Loulés; foi muito arruinado pelo Terramoto; reconstruido, ardeu aí por 1819, entrando em ruínas, adquiridas pelos irmãos Francisco e Guilherme Tomaz da Costa, em 1880. Fez-se depois, 1889, a Vila Tomaz da Costa, habitada por muitas famílias; em 1918, passou à firma João Luiz de Sousa, e filho, pertencendo desde 1923 a Eugénio de Sousa. Hoje é a Vila Sousa.

Vila Sousa [entre 1902 e 1908]
Largo da Graça, 77-82; Tv. de S. Vicente,13-15 (esq.); Tv. das Mónicas, 6-28 (dir.)
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

O conjunto — que domina a colina da Graça com os seus azulejos em cerâmica azul — organiza-se em volta de grande pátio central ao qual se tem acesso, tal como às habitações, por uma entrada em túnel com abóbada plena. A disposição arquitectónica dos vários corpos que compõe o conjunto, conferem-lhe, talvez, mais feição de "ilha" do que bairro operário. Possui 5 pisos, onde se incluem a s/loja e mansarda. Um dos corpos foi edificado posteriormente. Tímpano de ferro no portal: «1890».

Vila Sousa, entrada [c. 1910]
Largo da Graça, 77-82
Empresa de aluguer de carruagens (Brown-inglesa) de Eduardo Augusto de Oliveira
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, p. 49, 1938..

Sunday, 27 January 2019

Cinema Popular: o Piolho de Marvila

O Cinema Popular (Palais) foi inaugurado em 1935, sendo um dos vários cinemas que serviram a população dos bairros do Poço de Bispo, Beato e Marvila. Este representante dos cinemas piolho era vizinho da Mansão de Santa Maria de Marvila (séc. XVII) e podia acomodar 476 espectadores. Terá sido desactivado na década de 1980 e, posteriormente, demolido.

Cinema Popular (Palais) [1972]
Rua Direita de Marvila, 10
Ao fundo, a  Mansão de Santa Maria de Marvila (séc. XVII).
Vasco Gouveia de Figueiredo, in Lisboa de Antigamente

Tanto na bibliografia como nas entrevistas efectuadas, são comuns as referências aos cinemas de bairro,  Cinema Popular (1935-1990) e ao “Cinema do Beato”, inaugurado em 1917 como Animatógrafo do Beato, tendo mais tarde mudado o nome para Cine Pátria, que se manteve em actividade, com interrupções, até à década de 1980 e, no auge da sua popularidade, chegou a ter 447 lugares.. Nestes locais, as matinés a preços baixos permitiam um acesso relativamente frequente a este tipo de entretenimento: “O cinema, sentados no chão, era muito barato. Ainda me lembro de, por 7 tostões e meio, estar sentado no chão a ver um filme”.

Cinema Popular (Palais) [1966]
Rua Direita de Marvila, 10
Ao fundo, a  Mansão de Santa Maria de Marvila (séc. XVII).
Augusto Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
FERREIRA, Paula Cristina; SANCHEZ, Paula; FIGUEIREDO, Sandra - A freguesia do Beato na história. Lisboa: Junta de Freguesia do Beato, 1995;
CONSIGLIERI, Carlos… [et al.] - Pelas freguesias de Lisboa: São João, Beato, Marvila, Santa Maria dos Olivais. Lisboa: Câmara Municipal, 1993. p. 78.
ALVEA, Joana Gouveia, TOSTÕES, Ana, Building reuse in Lisbon: the case of Modern Cinema Theatres [1904 – 1957], 2010.

Friday, 25 January 2019

Lojas de antanho: Farmácia J. Nobre

Uma das mais antigas farmácias de Lisboa, situada no andar térreo do Hotel Francfort, no Rossio, (antes instalada na Rua da Mouraria) modernizada pelo seu proprietário J. Nobre.
«Com uma fachadda alegre [...] é toda embranco e oiro internamente, rebrilhando em espelhos do fundo que lhe fazem realçar a beleza.»
(in Ilustração Portuguesa, N.º 525, 13 Mar. 1916)

Farmácia J. Nobre |1916|
Praça Dom Pedro IV, 109-110
Joshua Benoliel,in Lisboa de Antigamente
Farmácia J. Nobre, laboratório de análises clínicas |1916|
Praça Dom Pedro IV, 109-110
Joshua Benoliel,in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 23 January 2019

Ermida da Cruz das Almas

Pois estamos outra vez na Cruz das Almas
O sítio da Cruz das Almas — diz Gustavo de Matos Sequeira — aparece-nos pela primeira vez citado em 1719, no registo de óbito de uma Inez, filha de Manuel de Sequeira e de Catarina Maria, feito na freguesia de São José. Noutros, em 1730 e 1732, surge- nos a designação ao «Canto das Almas». A não ser que a referência seja a outro local — à «Cruz de Santa Marta» talvez — temos que assentar que esta denominação topográfica só se fixou muito mais tarde, tanto mais que a «cruz do Padrão» não pertencia à paróquia de São José. O que é certo, também, é que em 1731, o bispo de Lamego D. Nuno Alvares Pereira de Melo faleceu à «Cruz das Almas» em 8 de Março deste ano, e já se sabe que os Cadavais tinham aqui casa e propriedades rústicas e que foi um Cadaval o fundador da ermida de que já vamos falar. [...] ¹

Ermida da Cruz das Almas |c. 1940|
Rua de Campolide
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

A Ermida que aqui vês — recorda-nos, por seu turno, Norberto de Araújo — pequeno prédio que se segue, já na Rua de Campolide, à esquina da Rua das Amoreiras, foi fundada em 1756 por D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 3º Duque do Cadaval, e um dos dezóito filhos ilegítimos que êste Duque teve. Os Cadavais tinham aqui perto uma casa sua, junto do Palácio Anadia, mas já na Rua do Portal de S. João dos Bemcasados, isto é: na, depois, das Amoreiras.
A Ermida foi dedicada à Imaculada Conceição Maria Santíssima, como estás lendo, em inscrição gravada na verga do portal. 

Ermida da Cruz das Almas |1945|
Rua de Campolide, à esquina da Rua das Amoreiras
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Esta Ermida da Cruz das Almas interiormente possue um belo silhar de azulejos do Rato, policromo, um teto estucado e pintado, e, no altar-mór, um Cristo, de marfim, e algumas imagens (S. Domingos e Santa Tereza) além de um retábulo de N. Senhora da Conceição.²

Sítio da Cruz das Almas |1857|
Vermelho: Ermida da Cruz das Almas
Azul: troço da antiga Rua das Amoreiras, que corresponde actualmente à Rua Prof. Sousa da Câmara
Laranja: Rua de Campolide (antiga Estr. de Campo Lide

Verde: Rua do Arco do Carvalhão
Levantamento da Planta de Lisboa (excerto), 1857 por  Filipe Folque, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Depois do terramoto: subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa, Volumes 3-4, p. 489, 1967.
² ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 581-82, 1939.

Sunday, 20 January 2019

Prédios da Cruz das Almas

Este cruzamento da Cruz das Almas — recorda-nos Norberto de Araújo — era sitio — vê lá tu! — de S. João dos Bemcasados, (chamou-se também Cruz de S. João dos Bemcasados), antes de se rasgar e urbanizar a Rua que teve este nome, ali há poucos anos, e onde já estivemos.


É também antigo, embora tenha sofrido beneficiações que lhe disfarçam o semblante, o prédio da esquina, e o que se lhe segue na Rua das Amoreiras [hoje Rua Prof. Sousa da Câmara].
Vê nesse cunhal uma pedra, com letras gravadas, e que atesta a antiguidade da casa e o senhorio do sítio: «Foreiras a Sebastião José de Carvalho e Melo. Ano de 1742». É bem interessante — talvez único em Lisboa em casas particulares, e com vista para a rua — esse relógio de sol, ainda bem conservado.

Cruzamento da antiga Rua das Amoreiras [hoje Rua Prof. Sousa da Câmara] com a Rua de Campolide (Cruz das Almas) [908]
Relógio de sol visível no cunhal do prédio.

Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Mais valioso é o prédio que a este se continua, solarengo, com pormenores decorativos, belos jardins e fisionomia repousado do fim de setecentos. Aí tens no seu portão principal, n.° 170, um curioso pormenor: sobre o pilar direito vê-se uma Cruz (seria esta a «Cruz das Almas»?) e sob ela uma data 1626, e no pilar esquerdo uma pomba de Espírito Santo [vd. ampliando 2.ª foto]

Este prédio, e o contíguo do cunhal, supostamente dos Rebelos Palhares, e, porventura, dos Cadavais, pertenciam no século passado a D. Mariana Emília Cambiasso e depois do capitalista Manuel Maria de Antas Barbosa. Em 1920 eram de D. Sofia Fricks em administração de seu sobrinho Frederico, e foram há poucos anos (1932-1934) vendidos, um após outro, ao engenheiro César Augusto Pimentel.

Rua das Amoreiras [hoje Rua Prof. Sousa da Câmara, 170] [1908]
Prédio com o n.º de policia 170 onde se pode observar a cruz no pilar referida por Norberto de Araújo.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p.81, 1939.

Friday, 18 January 2019

Sete Rios

Como poderia haver sete «rios», que percorressem a curta zona compreendida entre o Jardim Zoológico (Estrada de Benfica) e a linha férrea (Campolide-Rego) ? Que «rios» foram ou eram estes? ¹


Lisboa possui dois casos do emprego toponímico do mesmo número redondo «sete»: Sete Rios, local onde, ao menos na época pluviosa, convergem vários cursos de água, e Alto dos Sete Moinhos, local onde se ergueram diversos moinhos de vento, de que ainda restam as ruinas.²

Sete Rios |196-|
Desvio das linhas dos eléctricos devido às obras do Metropolitano em Sete Rios; Estr. de Benfica.
Judah Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

O lugar de Sete Rios surge então — recorda o Guia de Portugal de 1924 —, na confluência de duas estradas, uma para O., chamada hoje Rua de Campolide, que leva à estação deste nome, e outra para E., que constitui a travessa das Laranjeiras. [...] O troço da esq. leva ao Palácio Farrobo com frente ao  Chafariz das Laranjeiras.
Uma linha eléctrica liga a Rotunda [actual Praça do Marquês de Pombal] com Benfica passando pela Avenida de António Augusto de Aguiar, Palhavã, Sete Rios, Laranjeiras, Cruz da Pedra e S. Domingos de Benfica.³
 
Estr. de Benfica vista da Rua de Campolide) |196-|
Antes do desvio das linhas dos eléctricos devido às obras do Metropolitano.
Judah Benoliel[?], 
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ Ocidente: Revista portuguesa de cultura, vol. 57, p. 2, 1959.
² O número redondo «sete» na toponímia lisboeta. Papeis de José Maria António Nogueira in Anais das Bibliotecas, Museus e Arquivo Historico Municipais, p. 107, 1931.
³ Guia de Portugal, 1924.

Wednesday, 16 January 2019

O Sítio dos Sete Moinhos

É um alto entre o do Carvalhão e o Senhor dos Terremotos, onde existem sete moínhos, dos quais só cinco trabalham, achando-se desarmado o último de E.; serve de sinal o último de O., chamado o da ponta.


Lisboa possui dois casos do emprego toponímico do mesmo número redondo «sete»: Sete Rios, local onde, ao menos na época pluviosa, convergem vários cursos de água, e Alto dos Sete Moinhos, local onde se ergueram diversos moinhos de vento, de que ainda restam as ruínas.¹

O Sítio dos Sete Moinhos [1939]
Dois dos sete moinhos, ainda com os painéis de azulejos
Eduardo Portugal, in AML

O topónimo perpetua a memória do lugar dos Sete Moinhos, pelos moinhos que no sítio existiam e cujos vestígios eram ainda visíveis na última década do século XX. 

O Sítio dos Sete Moinhos [1939]
Rua e Calçada dos Sete Moinhos; ao fundo Alto dos Sete Moinhos e Serra de Monsanto
Eduardo Portugal, in AML

Bibliografia
¹ O número redondo «sete» na toponímia lisboeta. Papeis de José Maria António Nogueira in Anais das Bibliotecas, Museus e Arquivo Historico Municipais, p. 107, 1931.

Sunday, 13 January 2019

Palácio dos Távora

Aqui temos a Travessa da Nazaré — diz Norberto de Araújo — , que deve seu nome à Ermida de que te falei, demolida há muito, e que em cotovelo leva à Calçada do Monte.
Oferece-nos à vista um curioso prédio Solarengo, n.ºˢ 13 a 21, palácio grado que foi no século XVIII. É hoje [em 1939] na sua parte nobre a sede do Centro Escolar Dr. António José de Almeida, aqui instalado desde 1913, e que foi fundado em 1906 na Travessa do Borralho aos Anjos [hoje Rua Francisco Lázaro].

O velho palácio em cujos baixos estão moradias pobres, ostenta dignidade nas suas dez varandas nobres, no seu alto e rasgado pórtico, e num conjunto severo de arquitectura civil. Possui três salas apaineladas, das quais uma pintada a claro escuro e outra com figuras e perspectivas interessantes, que talvez merecessem estudo. A Ermida da Nazaré nada sofreu com o Terramoto. Estou em crer que este Palácio teve restauro no século XVIII, mas não em consequência de ruína ou desmoronamento; aquelas pinturas, pois, uma delas pelo menos, pedem bem recuar ao princípio de setecentos.
 
Palácio dos Távora |c. 1900|
Travessa da Nazaré, 13 a 21
Machado & Souza,  in Lisboa de Antigamente

Os silhares de azulejos que revestem as salas são muito bons, e de variados tipos, azues e policromos, frescos, decorativos, exemplares de marca. 
Tinha capela privada, e possui um belo terraço com ampla vista sobre a cidade, verdadeiro miradouro.
Pertenceu nos meados da século passado este prédio ao Conselheiro Dr. Alfredo Dias Ascensão. Pertence agora [1938] a Artur Simões Faria, que do passado remoto da Casa nada sabe dizer. 

Dilecto: Lisboa está cheia destes mistérios, destas graças perdidas, destes romances vagos de famílias. 
Cada palácio morto é um Tombo-vazio. Deles raras vezes fica papel, notícia ou documento quando se foi o último senhor, e a Casa entrou no «inquilinato público» Muito do que conseguimos, aqui e ali, desvendar, já estaria perdido dentro de uma dúzia de anos.¹






 
Palácio dos Távora |c. 1900|
Travessa da Nazaré, 13 a 21
Machado & Souza,  in Lisboa de Antigamente





 
As suas antigas cocheiras, de linhas sóbrias e severas, são hoje ocupadas pelo ginásio. A antiga cozinha continua a manter os azulejos de padrão ou pombalinos da segunda metade do século XVIII que a revestem completamente. É difícil ultrapassar a extraordinária criatividade dos fabricantes de azulejos dessa época, bem como a dos técnicos que procediam à sua aplicação nas paredes.
A seguir ao grande terramoto que destruiu Lisboa em 1755, durante o Governo do Marquês de Pombal, 1.º Ministro do Rei D. José, houve necessidade de arranjar um material de revestimento barato e fácil de produzir, para ser usado nas novas construções que se erguiam rapidamente por toda a cidade. Assim, as oficinas de cerâmica começaram a produzir azulejo de padrão em grande escala para as novas casas e com as quais os compradores e os operários que os aplicavam, podiam fazer um sem número de combinações diferentes e muito imaginativas.

Palácio dos Távora,  azulejos |1968|
Travessa da Nazaré, 13 a 21
«Terraço com ampla vista sobre a cidade, verdadeiro miradouro»
Vasco Gouveia de Figueiredo, in Lisboa de Antigamente

O Palácio Távora também tinha uma sala decorada com pinturas a fresco do século XIX com vistas do Palácio da Pena de Sintra, mas foram apagadas por um qualquer desígnio misterioso partido da edilidade camarária lisboeta, actual proprietária do imóvel.²

N.B. O edifício é — desde 1973 — ocupado pelo Grupo Desportivo da Mouraria, que também se chamou os «Leões da Mouraria», associação desportiva local.

Panorâmica de Lisboa tirada do Castelo S. Jorge  |c. 1870|
Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte
A vermelho nota-se o Palácio setecentista dos Távora sito na Tv. da Nazaré.
Francesco Rocchini (1822-1895), in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, pp. 22-23, 1939.
²ADRIÃO, Vítor Manuel Mistérios de Lisboa, lendas e factos.

Friday, 11 January 2019

Capela da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco do Campo Grande

O edifício remonta ao século XVIII, com reconstrução posterior ao terramoto de 1755. Existia aqui uma ermida dedicada a São Caetano dos Clérigos de Nossa Senhora da Divina Providência. No século XIX já pertencia aos irmãos da Ordem Terceira de S. Francisco que aqui tinham um hospício que deve ter sido encerrado em 1834. Actualmente, no edifício anexo à capela, funciona o Lar Santa Clara, fundado em 1936.

Capela da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco do Campo Grande |193-|
Campo Grande, 362
Também conhecida como Ermida do Santíssimo Coração de Maria do Campo Grande
Eduardo Portugal, i n Lisboa de Antigamente
Capela da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco do Campo Grande |1941| 
Campo Grande, 362
Também conhecida como Ermida do Santíssimo Coração de Maria do Campo Grande
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente


Bibliografia
forbis.pt.

Wednesday, 9 January 2019

Travessa da Trabuqueta

Nesta Rua do Arco [a Alcântara] que leva à Rua Vieira da Silva, —  recorda-nos o ilustre olisipógrafo Norberto de Araújo —  nasce, logo à direita, a Trabuqueta.  
Trabuqueta! Vê tu que bizarra designação. Deve ser antiga, talvez desde o princípio deste dédalo arruado e insignificante. Aí tens uns casebres côr de rosa, ao lado de uns prédios de há meia dúzia de anos, mais senhores de si. 
A Trabuqueta e o Baluarte [Tv.] são vizinhos, cada um deles com a sua travessa e com o seu ar compungido de quem suplica —  que não reparem neles.

Travessa da Trabuqueta |c. 1940|
À esq., a Rua do Arco a Alcântara
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

Aquele gordíssimo e riquíssimo Jacinto a quem chamavam em Lisboa o «D. Galião», descendo uma tarde pela Travessa da Trabuqueta, rente de um muro de quintal que uma parreira toldava, escorregou numa casca de laranja e desabou no lajedo. Da portinha da horta saía nesse momento um homem moreno, escanhoado, de grosso casaco de baetão verde e botas altas de picador, que, galhofando e com uma força fácil, levantou o enorme Jacinto — até lhe apanhou a bengala de castão de ouro que rolara para o lixo. Depois, demorando nele os olhos pestanudos e pretos:
— Oh Jacinto «Galião», que andas tu aqui, a estas horas, a rebolar pelas pedras? E Jacinto, aturdido e deslumbrado, reconheceu o Senhor Infante D. Miguel! 
(QUEIROZ, Eça de, A Cidade e as Serras, 1901)

Travessa da Trabuqueta |c. 1940|
À esq., a Rua do Arco a Alcântara
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente
 
N.B. A Travessa da Trabuqueta, na freguesia dos Prazeres, foi fixada na memória de Lisboa em data que se desconhece e sobre ela apenas se conhece o que o olisipógrafo Norberto Araújo dela descreve.
________________________________________
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 23-24, 1939.

Sunday, 6 January 2019

Mosteiro dos Jerónimos, Sala do Capítulo: Túmulo de Alexandre Herculano

A Sala do Capítulo tem esta denominação por servir às reuniões periódicas dos monges, as quais tinham o seu início com a leitura de um capítulo da Regra. Nessas reuniões, discutia-se a eleição dos priores, a recepção dos noviços e procedia-se à confissão pública das faltas.

Originalmente pensada para este efeito, a Sala do Capítulo nunca teve tal utilização pois a abóbada e decoração interior só foi completada no séc. XIX. A porta foi concluída nos anos de 1517-1518, tendo sido executada por Rodrigo de Pontezilha. Na sua decoração destacam-se duas imagens representando S. Bernardo e S. Jerónimo.


No centro da sala foi colocado, no século XIX, o túmulo de Alexandre Herculano delineado por Eduardo Augusto da Silva. Em 1940 é modificado, sendo deixada singelamente apenas a arca tumular
 
A singela arca tumular de Alexandre Herculano [séc- XIX]
Sala do Capítulo, Mosteiro dos Jerónimos
Domingos Alvão, in Lisboa de Antigamente

A Sala do Capítulo foi também utilizada como panteão de outros escritores e presidentes da República, até à finalização das obras na Igreja de Santa Engrácia. Convertida em Panteão Nacional, foram então para aí trasladadas as personalidades mais recentes da História de Portugal.
A trasladação do corpo de Herculano, que se encontrava no jazigo da Família Gorjão, em Santa Iria da Azóia, para a sala do capítulo nos Jerónimos ocorreu em 1888.

Túmulo de Alexandre Herculano [1934]
Sala do Capítulo, Mosteiro dos Jerónimos
Domingos Alvão, in Lisboa de Antigamente

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, escritor e historiador, nasceu em Lisboa a 28/3/1810 e morreu em Vale de Lobos, a 13/9/1877.
Obras: A harpa do crente (1838); O bobo (1843); Eurico, o presbítero (1844); O monge de Cister (1848); Lendas e narrativas (1851); História de Portugal (em quatro volumes, o último publicado em 1853).
No túmulo está gravado um excerto do poema «A harpa do Crente» que reza assim: 
Dormir? Só dorme o frio
Cadáver que não sente
Alma voa e se abriga
Aos pés do Omnipotente.

Túmulo de Alexandre Herculano [c. 1910]
Sala do Capítulo, Mosteiro dos Jerónimos
Poema inscrito na arca tumular
Garcia Nunes, in A.M.L.

Friday, 4 January 2019

Travessa da Horta da Cera

Ainda existe o nome de travessa da Horta-da-cera —  recorda-nos mestre Castilho — ; era ha poucos annos uma viella quasi deserta, tortuosa, que levava desde a calçada [hoje Rua] do Salitre até á rua de S. José [vd. carta topográfica]. A Avenida [da Liberdade] cortou-a ao meio, como se corta uma cobra, por fórma que o principio occidental d'essa antiga serventia é a 5.ª travessa á esquerda no Salitre, para quem vai do Rato, e finda na Avenida; e o outro troço oriental da cobra é a 3.ª travessa á esquerda, na rua de S. José, indo da rua das Pretas, e finda na mesma Avenida.¹

Travessa da Horta da Cêra [1944]
Ao fundo, a Avenida da Liberdade.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Espreita-me, à direita, em desnível o que resta da antiga Travessa da Horta da Cera —  diz, por seu lado, Norberto de Araújo. Olha quanto é curioso esse prédio, n.ºˢ 3 a 13 [à esq. na 1ª foto e à dir. na 2ª], do lado norte da serventia quási a entrar na Avenida; é em toda esta larga zona moderna o mais vetusto espécime urbano do tempo velho.²

Travessa da Horta da Cêra [1944]
Ao fundo, a Rua do Salitre.

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

N.B. Este topónimo deve a sua existência a um conjunto de hortas - denominadas «da Cera» no séc. XVIII - localizadas entre as antigas Rua de Santa Marta/Rua de S.José e a Calçada do Salitre, as quais resistiram no local até à abertura da Avenida da Liberdade em 1880-1886.

Travessa da Horta da Cera, extracto da Carta topográfica de Filipe Folque, 1857
Legenda: a Vermelho a antiga Travessa da Horta da Cera (antes de ser cortada pela Av. da Liberdade); a Verde a antiga Calçada do Salitre (hoje Rua); a Azul, a Rua de S. José.
in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)

Bibliografia
¹ CASTILHO, Júlio de, Amores de Vieira Lusitano: apontamentos biographicos, p 215, 1901.
² ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, p. 38, 1938.

Wednesday, 2 January 2019

Antiga Casa José Alexandre

Pelo brilho cintilante das suas montras — escreve Mário Costa — , somos atraídos ao magnificente recheio da Antiga Casa José Alexandre, Ld.", do «quinquilheiro José Alexandre», que Castilho apelidou de «protótipo do que havia de melhor melhor em Londres e Paris».
A Casa José Alexandre, que ainda em 1840 «vendia ortaliça e flores em caixinhas» (Castilho, 1902), foi sempre ampliando o seu comércio, conforme se depreende dum reclamo datado de 1890, em que se proclamava a venda dos seguintes produtos, a juntar aos artigos caseiros a que desde sempre se dedicou:
«Genuíno e superior vinho do Porto da Quinta da Cachucha (Alto Douro), talheres e vários artigos de Chr. Christofle, perfumarias, esponjas, espanadores, de penas e de cerdas, escovas, cutelaria fina, tinta para escrever, medidas, artigos para engenharia e grande variedade de objectos para todos os usos».

Antiga Casa José Alexandre |194-|
Rua Garrett, 8-18;Calçada do Sacramento, 2-4
Garcia Nunes, 
in Lisboa de Antigamente

Com o comércio de ferragens, entrou em 1833, nos números 10 e 12, João José Alexandre de Oliveira. Mais tarde, José Vicente de Oliveira tomou o número 8; e, em 1901, José Brás de Carvalho melhorou a casa, com a tomada das restantes portas, que para a Calçada do Sacramento têm os números 2 e 4. (....) Em Outubro de 1957, com o arrendamento do l.° andar, ligado directamente ao piso inferior, as instalações tomaram amplitude chique, atraente, de linhas modernas, que permitiram dar maior relevo aos variados artigos em exposição, em que predominam as porcelanas, os cristais, os Biscuits e os Crystofles.

Antiga Casa José Alexandre |post. 1957|
Rua Garrett, 8-18;Calçada do Sacramento, 2-4
Estúdio Mário Novais, 
in Lisboa de Antigamente

Noutras eras, estabeleceram-se em algumas destas cinco portas, uma livraria, uma retrosaria, uma capelista, a loja de modas de «Madame Fleury» e o afamado «Magalhães do Chiado» — loja de modas também — um dos mais celebrados centros de cavaco da capital. Entre os seus frequentadores aparecem mencionados muitíssimos nomes de destacadas figuras da época, sobressaindo: os conselheiros Fontes e Rodrigo da Fonseca, o 5.° marquês de Castelo-Melhor, os condes de Anadia, de Cabral, da Figueira e da Lapa, o poeta Eduardo Vidal, José Ribeiro da Cunha, Miguel Mac-Bride, Henrique Zenóglio, Fidié, Lopes Pastor, barão de Sabrosa e Costa Cabral.

Antiga Casa José Alexandre, montra com artigos Crystofle [|post. 1957|
Rua Garrett, 8-18;Calçada do Sacramento, 2-4
Estúdio Mário Novais, 
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, pp. 259-262, 1987.
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