Sunday, 27 June 2021

Profissões de Antanho: vendedor de água fresca e Capilé

Mais uma recordação da Lisboa do século passado, da Lisboa dos trapeiros imundos, das saloias de botas de cano alto e de saia rodada, dos vendedores de sinas, dos aguadeiros, das ciganas, da mulher da fava-rica, da mulher dos farrapos ou das garrafas para vender, do homem dos balões, dos pirolito, da água fresca e do capilé.

Vendedor ambulante de água fresca e Capilé |1908|
Avenida 24 de Julho; ao fundo nota-se a Fábrica de Gás da Boavista.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O Xarope de Capilé é uma receita antiga, incluída no Cozinheiro Moderno (1780), confeccionado a partir de frondes de avenca e com um toque de água natural de flor de laranjeira, dilui-se com água para obter um refresco ligeiramente doce, e não era vergonha nenhuma para o grande Eça de Queiroz, declarar o capilé como sua bebida preferida para acompanhar o Bife à Marrare.

Vendedor ambulante de água fresca e Capilé |1908|
Avenida 24 de Julho
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Friday, 25 June 2021

Rua da Palma, 43: Casa Travassos

É aquela rua onde na sua parte mais estreita - a que vai do Socorro à Rua dos Fanqueiros - faz com que o lisboeta experimente a sua paciência, quando por ela passa, quer de eléctrico, quer de automóvel, tal a lentidão com que o trânsito se escoa por ali.==
(Luís Pastor de Macedo, «Lisboa de lés-a-lés», vol. III, 1981)

Casa Travassos, que vendeu a Sorte Grande [1938]
Rua da Palma, 43 (antes das demolições, hoje Praça de Martim Moniz)
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 20 June 2021

Banco de Lisboa & Açores

O Banco de Lisboa & Açores, que temos à vista, é na sua fachada o mais imponente edifício moderno da Baixa; não é obra trivial — risco de Ventura Terra — , com suas quatro colunas, nas quais, acima de placas de mármore , assentam cabeças de leão; três largas varandas, muito decorativas, sobre pianhas em concha regular, enobrecem a frontaria.

Banco de Lisboa & Açores |12 de Maio de 1911|
Rua Áurea, 82-92
Ornamentações por ocasião do IV Congresso Internacional de Turismo de Lisboa.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O Banco Lisboa & Açores foi fundado em 1875, e transferiu-se para este local, deixando a sua sede na Rua do Comércio (passada ao Banco de Portugal) em 1907; o edifício novo fora concluído em 1906.

O vastíssimo hall, circular é precedido de um pequeno vestíbulo com pinturas e pormenores de arte; toda a construção, na parte aberta ao público, é nobre de materiais.

Banco de Lisboa e Açores |1928|
Rua Áurea, 82-92 (N→S)
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. No período de 1968-1969, além da sede, em Lisboa, e de filiais no Funchal, Ponta Delgada e no Porto, o banco possuía 14 dependências e 29 agências espalhadas pelo País.
Entretanto, na sequência da tendência crescente de concentração de capitais e de fusão de instituições, constituindo organismos mais sólidos e credíveis, também o Banco Lisboa & Açores negociou a sua integração com o recém-criado Banco Totta-Aliança. A Portaria de 14 de Novembro de 1969 autorizou a fusão dos dois bancos, ficando a nova instituição com a denominação de Banco Totta & Açores, entidade que iniciou funções a 01 de Janeiro de 1970.

Banco de Lisboa & Açores |c. 1900|
Fachada sobre a Rua dos Sapateiros, 21
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 55, 1939.

Friday, 18 June 2021

Profissões de Antanho: venda ambulante de bolos e pinhões

Nos quatro cantos da praça, as quatro bandas militares emendavam as marchas festivas; os pregões dos tendeiros e dos vendedores ambulantes pareciam animados do mesmo furor de emulação: 

— Piiinhão quente! Está quentinho o pinhão!

Venda ambulante de bolos e pinhões [Início séc. XX]
Cais das Colunas, Praça do Comércio, antigo Terreiro do Paço
Fotógrafo não identificado, Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado aml.

Sunday, 13 June 2021

Travessa do Oleiro

«Tv. do Oleiro he a segunda á esquerda na Rua do Poço dos Negros, vindo da Esperança, e termina na Rua dos Poyaes de S. Bento
(Itinerario lisbonense, 1804)

Segundo o olisipógrafo Matos Sequeira esta artéria «chamou-se primitivamente (segundo quartel do século XVII) Travessa do Benedicto abaixo do Poço Novo, e ainda em 1641 era assim conhecida. Depois passou a denominar-se do Oleiro, depois outra vez do Benedicto (1671), de João Latino (em 1760) e novamente, até hoje, do Oleiro.
O Benedicto que deu o nome a esta serventia, era um João Benedicto, que largos anos ali teve a sua oficina de oleiro. Esquecido o nome, ficou o mister a substituí-lo na designação local. As olarias abundavam nestas paragens, aproveitando naturalmente o barro dos terrenos da calçada do Combro e imediações.

Travessa do Oleiro |1960|
A primeira transversal é a Rua do do Poço dos Negros; ao fundo vislumbra-se o Beco do Carrasco
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Nos Elementos para a Historia do Município (tomo IX, pág 238), vejo uma postura da Câmara, do ano de 1610, proibindo aos oleiros a extracção do barro dos terrenos da herdade da Calçada do Congro [hoje "do Combro"], sob pena de prisão e multa, a fim de evitar desmoronamentos naquele local. Nos registos paroquiais e róis de confessados da freguesia de Santa Catarina, que percorri atentamente, encontrei, numerosos oleiros dados como moradores deste ponto, desde os fins do século XVI.»
(MATOS SEQUEIRA, Gustavo de, Depois do terremoto: subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa, Vol. 2, pp. 47-48, 1916)

Thursday, 10 June 2021

Mosteiro dos Jerónimos: Túmulo de Luiz de Camões

No túmulo de Luiz de Camões, assim está escrito: "Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos poetas de seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu."

 
Em 1880, as ossadas de Vasco da Gama e do poeta Luiz de Camões foram trasladadas para o Mosteiro dos Jerónimos. Os seus túmulos, da autoria do escultor Costa Mota tio, encontram-se no sob-coro da igreja. Vasco da Gama (do lado norte) e Luís de Camões (do lado sul) foram os dois representantes máximos da epopeia lusíada, que mereceram a honra de repousar ao lado de reis. Luiz de Camões, filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá Macedo, nasceu em 1524(?), tendo feito os seus estudos em Coimbra.
 
Túmulo de Luiz de Camões [ant. 1946]
Mosteiro dos Jerónimos
Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente

Em Ceuta, onde combateu os Mouros, perde um dos olhos. De regresso a Lisboa, é preso, em 1552, devido a uma rixa com um funcionário da Corte. Em 1553 é perdoado pelo rei e parte para a Índia, onde tomou parte em várias expedições militares. Segundo alguns autores compôs nesta altura o primeiro canto de Os Lusíadas. Em Macau exerceu o cargo de provedor-mor de defuntos e ausentes. Em 1569 regressa a Lisboa, publicando a obra Os Lusíadas três anos mais tarde. Morre em 10 de Junho de 1580, doente e na miséria.

Túmulo de Luiz de Camões [ant. 1946]
Mosteiro dos Jerónimos
Inscrição no túmulo: « PARA SERVIR-VOS, BRAÇO ÀS ARMAS FEITO;
PARA CANTAR-VOS, MENTE ÀS MUSAS DADA.
*LUSÍADAS * CANTO X * ESTANCIA CLV »
Garcia Nunes, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 6 June 2021

Rua Tomás da Anunciação, 153

O pintor Tomás da Anunciação, que se destacou sobretudo pela pintura paisagista e de animais, está desde o ano seguinte à sua morte perpetuado numa rua de Campo de Ourique, até aí denominada Rua nº 3 dos terrenos da antiga parada de Campo de Ourique.

Tomás José da Anunciação (1818–1879) nasceu na Ajuda e, iniciou a sua carreira como desenhador de estampas no Museu de História Natural do Palácio da Ajuda para, a partir dos 19 anos, frequentar a Real Academia de Belas-Artes de Lisboa, instalada no Convento de S. Francisco, onde a partir de 1852 se tornou professor da nova cadeira de Pintura de Paisagem, Animais e Produtos Naturais. Em 1857, com o seu quadro Vista de Penha de França, assumiu as funções de professor catedrático e, a partir de 1878, tornou-se Director da Academia. Distinguiu-se como pintor paisagista e animalista, sendo de realçar na sua obra de mais de 500 quadros, alguns títulos como O sendeiro (1856), Vitelo (1873), Perdidos do Rebanho, Ovelhas e Borregos e Rebanho Passando Um Riacho. Refira-se ainda que foram seus alunos José Malhoa e Silva Porto, bem como que deu aulas de pintura à Rainha D. Maria Pia. [cm-lisboa.pt]

Rua Tomás da Anunciação, 153 [191-]
Junto à Rua de Campo de Ourique
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL

Friday, 4 June 2021

Revista das ambulâncias Praça da Estrela

Estamos já em pleno coração da Estrela — diz Norberto de Araújo.
Eu não te disse, Dilecto, que esta era uma das mais belas Praças de Lisboa? O monumental, o paisagista, o urbano, conjugam-se neste Largo da Estrela (chamado até 1889 do Coração de Jesus), e desta harmonia, que talvez não houvesse sido estudada, resultou um admirável logradouro citadino-alegre, movimentado, limpo, lisboeta puro.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, 1939)

Revista das ambulâncias militares [entre 1897 e 1899]
Praça da Estrela
Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente

Web Analytics