Sunday, 31 December 2023

Rua de Diogo Cão

O edital de 07/08/1911, além de alterar as nomenclaturas de vários arruamentos, definiu em planta os topónimos a atribuir aos arruamentos do Rio Seco, na Ajuda, entre os quais este se incluía.
Diogo Cão (c. 1452-1486) foi um navegador português do século XV que possivelmente nasceu na Freguesia de Sá, concelho de Monção, ou na região de Vila Real, ou até em Évora, em data desconhecida, pois somente a realeza fazia registos concretos da data de nascimento e falecimento. Filho natural de Álvaro Fernandes/Gonçalves Cão, fidalgo da Casa Real.
Escudeiro e depois Cavaleiro da Casa do Infante D. Henrique, enviado por D. João II de Portugal, realizou duas viagens de descobrimento da costa sudoeste africana, entre 1482 e 1486. Chegou à foz do Zaire e avançou pelo interior do rio, tendo deixado uma inscrição comprovando a sua chegada às cataratas de Ielala, perto de Matadi. Ao chegar à foz do rio Zaire, Diogo Cão julgou ter alcançado o ponto mais a sul do continente africano (Cabo da Boa Esperança), que na verdade foi dobrado por Bartolomeu Dias pouco tempo depois, e ao qual inicialmente chamara Cabo das Tormentas.
Estabeleceu as primeiras relações com o Reino do Congo. Em 1485 chegou ao Cabo da Cruz (actual Namíbia). Introduziu a utilização dos padrões de pedra, em lugar das cruzes de madeira, para assinalar a presença portuguesa nas zonas descobertas.

Rua de Diogo Cão |1939-08|
Navegador — Século XV 
Cruzamento com a Rua da Aliança Operária; ao fundo, passado o túnel, nota-se o Largo do Rio Seco.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Diogo Cão é citado em diversas obras artísticas, como n´Os Lusíadas, de Luís de Camões ou no romance As naus, de António Lobo Antunes. Surgiu em vários selos e notas de Portugal e das suas antigas colónias. Diogo Cão é também citado no poema Padrão constituinte da obra Mensagem de Fernando Pessoa. 

Friday, 29 December 2023

Pelourinho da Praça do Município

Pelourinho, ou picota, como todos sabem, era a coluna Mænia dos povos medievos.
No foro romano a coluna Mænia era o lugar do castigo dos criminosos; nas cidades e vilas cristãs tinha igual emprego, e figurava, alem disso, como insígnia de jurisdição municipal. [Castilho: 1893]

Praça do Município |c. 195-|
Antiga do Pelourinho Velho; Arsenal da Marinha na Rua do Arsenal
Luís Filipe de Aboim, in Lisboa de Antigamente

Pelourinho era um símbolo da autonomia municipal; onde ele estava – estava o Senado ou suas casas. Tinha uma significação de justiça aplicada nas execuções, mas só queremos vê-lo apenas na sua representação de autoridade municipalista e não na sua expressão fatídica. [Araújo: 1939]

Pelourinho da Praça do Município |1908|
Antiga do Pelourinho Velho; Câmara Municipal de Lisboa
Postal ilustrado em fototipia litografada, edição Malva e Roque, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 24 December 2023

A tracção eléctrica: o carro do fio e os guarda-fios

A tracção eléctrica — registava Alfredo Mesquita em 1903 — serve já hoje a cidade de Lisboa em todas as direcções. É um dos seus mais importantes e mais recentes melhoramentos. 

As nossas ruas estreitas não justificam de certo o emprego exclusivo dos condutores aéreos para a transmissão da energia eléctrica, sendo naturalmente indicado o sistema misto de condutores aéreos e subterrâneos como o mais adequado ás condições em que se encontram os arruamentos. Sob o ponto de vista estético, não se enriqueceu também a cidade com o emaranhado dos fios, que em muitos locais atingem o aspecto de verdadeiras redes, em outros o de enxugadouros.
 
Largo do Chiado |1926|
A tracção eléctrica:  o  "carro do fio" e os "guarda-fios". Igreja de Nossa Senhora da Encarnação.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Não é menos certo que os acanhados passeios das principais ruas comerciais, reservados ao trânsito dos peões, foram prejudicados com o pejamento á circulação que lhes resulta de terem sido destinados a alicerces das desgraciosas colunas a que se prendem os fios da rede. Mas é grande verdade, também, que o regímen da tracção eléctrica fez esquecer em absoluto, e com incontestável satisfação dos habitantes de Lisboa, o antigo regímen das mulas dos americanos, dos solavancos dos Ripert, das molas desconjuntadas do Jacinto, do Florindo, do Salazar e da Luzitana. . . E hoje a vista de alguma d'essas já raras carriolas, que ainda se arrastam pelas ruas da cidade, oferece um contraste deplorável a par d'um carro eléctrico comodo e veloz.

Praça do Comércio |1927-03-30|
Guarda-fios levantando as linhas.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A fábrica geral da electricidade está situada em Santos, nos terrenos conquistados ao Tejo. Tem uma área de 6.200 metros quadrados adquiridos ao Estado em hasta publica, por 62:000^000 réis. Sendo o terreno formado por aterro moderno, as fundações foram dispendiosíssimas. Está tudo assente em estacaria e num monólito de cimento que suporta os edifícios e máquinas.==

Avenida 24 de Julho |c. 1927|
À esq. nota-se a Estação geradora de Santos.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
MESQUITA, Alfredo. Lisboa, pp. 526-527, 1903.

Friday, 22 December 2023

Clube Naval de Lisboa

Foi fundado em 27 de Janeiro de 1892 por Abel Power Daggge, entre outros,  e remontava ao "Clube de Remeiros Lusitano", fundado desde 1862. Considera-se, portanto, que a história do CNL vem desde essa distante data. Foi um dos primeiros Clubes em Portugal a praticar a vela, o remo e a natação. Actualmente dispõe de um tanque para remar, vários tipos de barcos para aprendizagem de remo e vela .
Conta no seu palmarés com as Taças Vasco da Gama, Taça de Portugal, Taça Camões e foi o Primeiro clube em Portugal a construir a sua sede em 1898 no no Cais da Viscondessa. [wikipedia.org]

Clube Naval de Lisboa [post. 1899]
Cais da Viscondessa, a Santos
Ao fundo nota-se a Igreja de Santos-o-Velho
António Novaes[?], in Lisboa de Antigamente

O Clube, que nos estatutos iniciais tinha como missão “cooperação à utilíssima, nobre e filantrópica ideia de criação dum posto de socorros a náufragos e a instrução náutica”, rapidamente assumiu um papel importante no panorama náutico português
Em 1893 o Rei D. Carlos I atribui o título de Real ao clube, que passa a denominar-se Real Club Naval de Lisboa e o Príncipe D. Luiz Filipe aceita o título de Comodoro Honorário.

Clube Naval de Lisboa |1904|
Uma das primeira eliminatórias da Taça Lisboa com uma pista da Junqueira.
Fotografia anónima], in Lisboa de Antigamente

​No campo da organização de regatas, de remo e vela foi de fundamental importância para o crescimento do Clube a abertura da secção de Cascais em 1901. Esta secção foi encerrada no final da década de 30, coincidindo com a fundação do Clube Naval de Cascais. Durante mais de trinta anos o clube organizou anualmente eventos de grande importância para a época. [Clube Naval de Lisboa | Restaurante do Clube Naval de Lisboa]

Sunday, 17 December 2023

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira

Por Carvalho da Costa com a sua preciosa Corografia portugueza (1708) podemos ver como certos lugares andavam designados com nomes vagos quanto à particularização, por haver neles referência comum e lata a determinado ponto de referência. Ao anunciar as serventias da freguesia de S. Miguel, menciona a  "banda da praia" e o "chafariz de dentro”, querendo significar o lugar ou faixa ribeirinha e o lugar ou área do Chafariz de Dentro com as ruas e outras serventias confinantes dentro da freguesia. Na conta da freguesia de Santo Estêvão procede da mesma forma, levado decerto pelo uso: a "Praia" , o "Outeiro" , as "Varandas", a "Lapa" , a "Alfungera", a "Rigueira", os "Remédios", os "alpendres do chafariz".

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira  |c. 190-|
Casa de ressalto; varina
José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Sabe-se que cerca de 1183 se tinha formado um pequeno povoado para além da regueira que passara a designar-se por Regueira do Salvador e de ambos os lados da Regueira havia nascentes. O arrabalde de Alfama muçulmana articulava-se entre 2 pólos ligados pela Regueira: o do núcleo termal e das fontes públicas e o do bosque de Alfungera.
Na época dos descobrimentos a Rua da Regueira como as de S. Pedro, S. Miguel, da Adiça, o Largo do Salvador e as escadas da Igreja de S. Miguel eram os espaços urbanos mais vivenciados pela população local.

Rua da Regueira, 1  |s.d.|
Casa de ressalto com varas de madeira.
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Friday, 15 December 2023

Avenida Dr. António José de Almeida

Por edital de 12/11/1929, a Avenida 12 do Novo Bairro no seguimento da Avenida Almirante Reis, passou a denominar-se Dr. António José de Almeida.
António José de Almeida (1866-1929) foi o 6.º Presidente da República Portuguesa (1919-1923). À sua profissão de médico aliou a actividade de jornalista e político.
Foi eleito em 6 de Agosto de 1919, com o apoio dos partidos Evolucionista e Unionista e de muitos apoiantes do Partido Democrático.
À data da sua eleição, era já uma das figuras mais prestigiadas do republicanismo, em grande parte pela eloquência e capacidade retórica que faziam dele «o tribuno da República».
Durante a sua Presidência, a Constituição foi revista, tendo-se atribuído ao Chefe do Estado o poder de dissolução do Congresso.
Foi o único Presidente que, durante a I República (1910-1926) cumpriu na íntegra os quatro anos de mandato presidencial fixados pela Constituição de então.

Avenida Dr. António José de Almeida |1935|
Perspectiva tirada do Instituto Nacional de Estatística
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Porém, por conspirar contra a ditadura de João Franco, acaba por ser preso, sendo apenas libertado após o Regicídio (1908).
Depois da proclamação da República, António José de Almeida foi nomeado Ministro do Interior do Governo Provisório Republicano (1910-1911). Em 1912 protagoniza uma cisão no Partido Republicano, daí emergindo o Partido Republicano Evolucionista, de índole mais conservadora.
Quatro anos depois chefia um governo de coligação (entre o Partido Republicano e o Partido Republicano Evolucionista), cargo que foi acumulado com a pasta das Colónias.

Monumento a António José de Almeida |post. 1937|
Avenida Dr. António José de Almeida

Em sua memória, foi erigido um monumento da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arqº Pardal Monteiro na actual Avenida António José de Almeida (1937). 
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 10 December 2023

Panorâmica do Martim Moniz

Em 1908 o herói Martim Moniz ganhou uma placa evocativa na porta do seu sacrifício e, em 1915, ficou também imortalizado na toponímia da Mouraria já que a Rua de São Vicente à Guia – que se situava entre a Rua da Mouraria, Rua do Arco do Marquês de Alegrete e a Calçada do Jogo da Pela – se passou a denominar Rua Martim Moniz, pelo Edital de 14 de Outubro de 1915.
Na década de 90 do século XX, a edilidade lisboeta procurando preservar a toponímia mais histórica e tradicional da zona, ao arruamento já conhecido vulgarmente por Largo do Martim Moniz – situado entre a Rua da Palma e a Rua do Arco do Marquês de Alegrete - atribuiu o topónimo Rua Martim Moniz, por Edital de 30 de Abril de 1991.

Panorâmica do Martim Moniz |1976|
Miradouro de Nossa Senhora do Monte

Francisco Leite Pinto, in Lisboa de Antigamente

Passados 6 (1997) anos e concluída a recuperação urbana desta zona levada a cabo pela Câmara Municipal de Lisboa, determinou esta que o espaço delimitado pela Rua da Senhora da Saúde, Rua Fernandes da Fonseca, Rua da Palma e Rua do Arco do Marquês de Alegrete, onde se situava também a Rua Martim Moniz se passasse a denominar Praça Martim Moniz.

Panorâmica do Martim Moniz |1976|
Francisco Leite Pinto, in Lisboa de Antigamente

Friday, 8 December 2023

Rua da Misericórdia, 81: travão partido, eléctrico desarvorado

Esta artéria tinha-se denominado Rua do Mundo (1910), para perpetuar o nome do jornal que estava sediado neste arruamento e ainda antes designava-se Rua de São Roque (1889). Inicialmente designada Rua Larga de S. Roque, em memória da Igreja e Convento de São Roque que era também o topónimo inicial de Bairro Alto de São Roque e Rua da Misericórdia — a partir de 1937, em referência à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com sede no Largo Trindade Coelho.
 
Rua da Misericórdia, 81 |1910|
Travão partido, eléctrico desarvorado
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 3 December 2023

Terreiro do Paço: «O Caes das ex-colunas»

Segundo Norberto Araújo «Este delicioso Cais das Colunas — que deve seu nome às colunas de pedra colocadas no sopé da escadaria suave — é posterior ao Terramoto. Anteriormente, mais à nossa esquerda, e também mais recuado, existia um «Cais da Pedra», que o sismo de 1755 subverteu.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 28)

Contudo, as colunas nem sempre estiveram presentes. A ausência de um ou mesmo dos dois ornatos, terá sido uma constante durante diversas décadas.
A 13 de Março de 1925, o jornal «A Época» fazia saber que «na última reunião da Câmara Municipal de Lisboa, o sr. dr. Alexandre Ferreira chamou a atenção da Comissão Executiva e especialmente ao vereador do pelouro de engenharia sr. Raul Caldeira, para o facto, de no Cais das Colunas, não existirem há muito as colunas que deram origem àquela nomenclatura».

Terreiro do Paço: «O Caes das ex-colunas» |c. 1953|
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

A queda das colunas, representando por vezes vários anos de ausência de um ou mesmo dos dois ornatos, terá sido uma constante durante diversas décadas — conforme comprovam estas imagens captadas na década de 1950. Ribeiro Cristino frisou a sua falta, no início da década de 1910, nas páginas do Diário de Notícias, com a publicação do artigo «O Caes das ex-colunas» (Cristino 1923, p. 14-16).

As colunas regressaram ao cais a que deram o nome em Julho de 1929. Assim o noticiou o «Diário de Notícias» de 9 de Julho desse ano: «O Cais das Colunas estava há largos anos sem colunas (…) A primeira das colunas do cais ficou ontem de pé, como a nossa gravura atesta e prova. Pouco falta, portanto, para que o «Diário de Notícias» possa dizer nas suas colunas que o Cais das Colunas voltou a ter colunas no cais». As colunas que actualmente ali se encontram são as mesmas que foram colocadas em 1939.

Terreiro do Paço: «O Caes das ex-colunas» |1957-02-18|
Visita oficial da rainha Isabel II de Inglaterra
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Friday, 1 December 2023

Rua Dom Francisco Manuel de Melo

Topónimo atribuído por Deliberação Camarária de 21/10/1909 homenageia  D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666) considerado uma das personalidades portuguesas mais proeminentes do século XVII. Nascido em Lisboa de família nobre. Começou muito novo a frequentar a corte, cursou Humanidades no Colégio de Santo Antão e dedicou-se ao estudo da Matemática, pois pensava seguir a carreira das armas. Militou na marinha e, depois de um naufrágio que sofrera, estabeleceu-se na corte de Madrid. Em 1639 comandou um regimento na Flandres e lutou contra os Holandeses. Em 1641, encontrando-se em Londres. aderiu à causa da independência em Portugal, regressando ao reino onde, depois de receber a comenda da Ordem de Cristo, é acusado e preso por conivência no assassinato de Francisco Cardoso. É na prisão que escreverá as suas melhores obras.
O seu trabalho bilingue comporta comédias, novelas, versos líricos e, pensa-se, algumas sátiras que se terão perdido. Versou sobre assuntos historiográficos, moralistas, políticos e militares.

Rua Dom Francisco Manuel de Melo | 1962|
Antiga Rua B entre as Rua de Artilharia 1 José da Silva Carvalho e Castilho
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 26 November 2023

Rua Serpa Pinto: Vendedor ambulante Azeite, petróleo e vinagre

Esta Rua de Serpa Pinto — diz Norberto de Araújo — no troço que desce do Largo do Directório [actual Largo de São Carlos] até à confluência do Ferregial e Víctor Cordon, é de dístico recentemente reposto [1937].


– Aazêêite dôôôce! Óh-pritróliine!
– Azêite dôô-c´i bom vináágre!
 
À direita — nos degraus onde se senta o amodorrado moço de fretes — nota-se a fachada lateral da Igreja dos Mártires; do lado esquerdo, tornejando a Rua Garrett, a casa de modas «Paris em Lisboa» fundada em 1888; ao fundo, no topo, a «Casa do Ferreira das Tabuletas» na Rua da Trindade, 28-34.

Rua Serpa Pinto, cruzamento com a Rua Garrett  |séc. XIX|
Vendedor ambulante Azeite, petróleo e vinagre
Antiga Rua Nova dos Mártires. Por deliberação e edital da CML respectivamente de 12 e 16/11/1885, a Travessa de Estevão Galhardo, foi integrada na Rua Serpa Pinto, por ser o prolongamento desta.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O topónimo Homenageia o benemérito explorador africano Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto, de seu nome completo — que em 1879 e 1884, atravessou a África, de Angola à Contracosta e realizou outras explorações, feitos assombrosos para o tempo, causa do brutalíssimo ultimato inglês de 1890 e da revolta de 31 de Janeiro de 1891. O general visconde de Serpa Pinto nasceu em Cinfães em 1846 e faleceu em 1900.

Friday, 24 November 2023

Estr. para Caselas, pelo Caramão da Ajuda

Na Planta da Cidade de 1908, de Júlio Silva Pinto e Alberto de Sá Correia, o arruamento é designado por Estr. de Caselas, tal como o vamos também encontrar no «Guia das Ruas de Lisboa» de 1941, editado pela Tipografia Gonçalves da Rua da Misericórdia.
Já depois, o Decreto-Lei nº 42142 de 1959 que regista a nova divisão administrativa da cidade de Lisboa, designa-a como «eixo do futuro traçado da Estrada do Caramão».

Estr. para Caselas, pelo Caramão da Ajuda |1942|
Cemitério da Ajuda visto da Rua das Açucenas; à esq., a Calçada do Galvão.
A denominação deste arruamento foi oscilando ao longo do século XX entre a Estr. de Caselas e a Estr. do Caramão.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

N.B. A Rua da Açucenas era a antiga Estrada do Cemitério que começava na Calçada do Mirante à Ajuda e terminava no Cemitério da Ajuda. Este cemitério foi mandado construir por iniciativa da Rainha D. Maria I (1787) para servir os criados da Casa Real e os pobres das freguesias da Ajuda e Belém.

Sunday, 19 November 2023

Camisaria Maison de Blanc

Cena de rua
Um polícia sinaleiro orienta o trânsito no Rossio, na esquina com a Rua Primeiro de Dezembro, onde esteve instalada a afamada Camisaria Maison de Blanc. Em 1937, foi tomada de trespasse para a nova sucursal de O Século.

Praça de D. Pedro IV, na esquina com a Rua Primeiro de Dezembro |c. 1930]|
Ferreira da Cunha,in Lisboa de Antigamente

À entrada d'esta loja — recorda Paulo Freire — havia duas formosíssimas jarras da Índia que os que d'ellas se recordam classificam ainda hoje de preciosas. A Maison de Blanc foi antes d'isso Maison Blanche e pertencia ao Alves que era o proprietário do prédio e que o vendeu ao Ferreira do Campo Grande . Do Alves passou a casa à firma Miranda & Rodrigues que a trespassou há pouco à firma actual que foi quem lhe mudou o nome para que este se não confundisse com nomenclaturas de tradição brejeira e duvidosa fama. [Freire: 1931]

Prédio que faz esquina do Rossio para a Rua Primeiro de Dezembro, onde está a camisaria Maison de Blanc|1937-08-01|
Fotógrafo não identificadoa,in Lisboa de Antigamente

Friday, 17 November 2023

Chafariz do Largo da Palma de Baixo

Quanto a este chafariz possuímos a planta com a sua localização e a memória descritiva.
O projecto datado de 1903 refere-se a construção de um chafariz, a pedido dos «habitantes de Palma de Baixo«. para o largo da povoação.
E um chafariz Isolado, como podemos observar, tratando-se de um modelo «de há anos adaptado para servir as povoações limítrofes» (segundo a memória descritiva), orçando em 700$000 réis.
Foi pedida a dotação diária de 8000 litros.

Chafariz do Largo da Palma (de Baixo) |c. 1953|
Confluência do Rossio de Palma, Travessa de Palma e Rua Antonino e Sá
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

O topónimo — atribuído pela CML em 1897 — deriva do nome do sítio, ligado à flora local, surgindo já em documentação medieval, de 1208, associado a uma transacção de compra e venda de vinhas no sítio de Palma, as quais eram abundantes no local. No século XVI o crescimento da zona é patente sendo já referidos dois sítios: a Palma de Cima e a Palma de Baixo.

Sunday, 12 November 2023

Igreja do Santo Condestável

A igreja paroquial do Santo Condestável, moderna mas com reminiscências de ogival, situa-se na encruzilhada das ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass, nos limites de Campo de Ourique, e é orientada sensivelmente a Nascente.


A Igreja do Santo Condestável, com traça em forma de cruz latina, cuja construção se concluiu em 1951 em terrenos vizinhos das ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass, inspira-se nos templos portugueses da fase final do gótico, o flamejante no seu período embrionário, expressivamente representados em Lisboa pela Igreja do Carmo e em Santarém pela da Graça. Mas à parte o fundamental e típico, a Igreja do Santo Condestável afasta-se nos pormenores mínimos dos seus modelos, de que conserva porém, e inteiramente, a espiritualidade. Todo o edifício se assinala pela simplicidade e pela alvura, onde sobressai num contraste feliz o granito de Sintra. Há um misto de nobreza e de humildade na aliança dos paramentos de simples reboco branco com as cantarias cinzentas, trabalhadas a pico fino. Templo erguido a um dos maiores de Portugal, recorreu-se para a execução da estrutura ao processo tão português da alvenaria de pedra e cal.

Igreja do Santo Condestável |1953|
Ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass; ao fundo nota-se o Mercado de Campo de Ourique erguido em 1933.
A Fachada, com um corpo central no qual se rasga o grande p6rtico de arco em ogiva, e duas torres simétricas.
António Passaportein Lisboa de Antigamente
Igreja do Santo Condestável |195-|
Ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass
O pórtico com adro sobrelevado ao nível da praça, ao qual se acede por quatro degraus, dando serventia à galilé. Gradeamento de ferro forjado em ponta de lança. Sobre o pórtico o brasão das Armas Reais de Portugal, tal como se usava no começo da 2ª Dinastia.
Salvador de Almeida Fernandesin Lisboa de Antigamente

A autoria da igreja pertence ao arq-º Vasco de Morais Palmeiro (Regaleira) que teve como colaboradores na parte ornamental os escultores Leopoldo de Almeida, Veloso da Costa e Soares Branco, e os pintores José de Almada Negreiros, Portela Júnior e Joaquim Rebocho, e na construção o eng.º Santos Fernandes e Mestre Cipriano. Os trabalhos de serralharia artística foram executados pela Serralharia Artística do Corvo.
Dirigiu administrativamente a erecção do edifício uma comissão designada pelo Patriarca de Lisboa e de que fizeram parte o falecido Prior P.• Francisco Maria da Silva, o Marquês de Abrantes, o arquitecto Regaleira e Alberto Portugal da Silveira. A Comissão de Honra pertenceram, entre outros, S. A. a Infanta D. Felipa de Bragança, e o Ministro da Defesa, coronel Santos Costa.
 
Campo de Ourique e a Igreja do Santo Condestável, fotografia aérea |1956|
Ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass
A Fachada posterior, tendo no centro da parede (onde se unem o Presbitério e Patronato) um apoio ou mísula, destinado à estátua de Nossa Senhora de Fátima. Aqueles anexos, nos topos exteriores, estão ligados por muro com janelões com grelhagem de tijolo à meia esquadria, e cancelo de ferro forjado, de acesso a pequeno pátio.
Mário de Oliveirain Lisboa de Antigamente

A inauguração do templo teve lugar em 14 de Agosto de 1951, aniversário de Aljubarrota, com a presença do Chefe do Estado, do Cardeal-Patriarca. A urna, com as relíquias de Nun'Alvares, foi então trazida num ·armão de artilharia, com escolta de honra, da capela da Venerável Ordem Terceira do Carmo (0onde se guardava desde 1834) para o novo templo, em aparatoso cortejo.

Igreja do Santo Condestável, inauguração  |1951-08-14|
Rua Saraiva de Carvalho; Rua Francisco Metrass
Duas torres de secção quadrada com encostos de granito de Sintra e silhares
que prolongadas verticalmente em forma de pilastras terminam fazendo
moldura às ventanas; cantoneiras nas esquinas, terminadas por coruchéus,
igualmente de granito; a cobertura em grimpa acoruchada, que assenta em sobre-beira
dupla de telha portuguesa, rematada airosamente por pára-raios decorativos (Cruz dos Pereiras).
Só a torre Norte (a da direita) tem ventanas sineiras.
Firmino M. Costain Lisboa de Antigamente


Por decreto patriarcal de 21 de Maio de 1984 foi criada a freguesia eclesiástica do Santo Condestável, começando as funções paroquiais em 8 de Junho imediato. A área da nova freguesia foi constituída à custa das de Alcântara e Santa Isabel. Até 1951 serviu de igreja paroquial a capela setecentista da Senhora das Dores (mais exactamente «do Amor da Virgem Senhora Nossa das Dores»)
na Rua do Patrocínio, construída com material sobejado da edificação da Basílica do Coração de Jesus (Estrela). 

Igreja do Santo Condestável, pórtico  |1956|
Rua Saraiva de Carvalho; Rua Francisco Metrass
O portal em ogiva chanfrada aberta em frontal de pedra, no estilo gótico flamejante
com o escudo de armas dos Pereiras a fazer remate. Cornija com legenda camoneana
sobre ela um grupo escultórico ornamental representando o beato frei Nuno de Santa
Maria entre dois Anjos orantes (S. Miguel e o («Anjo de Portugal») (Leopoldo de Almeida).
Mário de Oliveirain Lisboa de Antigamente

No Interior, assinala-se o Corpo da igreja, de três naves (a central sobrelevada) e transepto, e nele:
O tecto de dois tramos, de falsa abóbada de aresta estucada de branco.
As naves separadas por quatro grupos de pilares formando arcada em ogiva, a nave central ocupando toda a1tura, as laterais correndo por baixo do trifório. A iluminação das naves laterais é feita por duas frestas de cada lado, com caixilhos de chumbo e vidros de cor. A meio das naves portas laterais, cada qual com sobreporta, nicho e nele imagem de pedra.

 

Igreja do Santo Condestável, perspectiva, Altar-mor  |1956|
Rua Saraiva de Carvalho; Rua Francisco Metrass
A Capela-mor, prolongamento da nave central e cujo acesso se faz por um arco chanfrado
de ogiva deprimida, iluminada lateralmente por dois pares de janelas de arco de dupla curva,
com vidros de cor montados em armadura de chumbo. Todo o fundo é ocupado por grande
retábulo de pintura a fresco (Portela e Rebocho) representando a glorificação de Nun'Alvares).
Mário de Oliveirain Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1956.

Friday, 10 November 2023

Avenida da República, 71-73

Logo no dia 6 de Outubro de 1910, a Câmara Municipal de Lisboa inventava, nas avenidas novas, uma «Avenida da República» (sacrificando o nome do criador da Lisboa nova, Ressano Garcia) e outra «5 de Outubro» [antiga António Maria de Avelar], paralela. Paulatinamente, os nomes das ruas dessa zona da cidade, precisamente a zona onde vivia a burguesia, iriam formar uma espécie de «quem é quem» republicano. [Ramos: 2001]

Avenida da República, 73 |1966|
A moradia, ao centro, foi demolida por volta da década de 1970.; à dir., vê-se parcialmente o Palacete Leite, risco do arq.º Norte Júnior, (sede da EMEL) que torneja para a Av. de Berna.
João Goulart,in Lisboa de Antigamente

O edifício que se vê na 2ª imagem foi projectado por Norte Júnior, em 1933, para Manuel Ramos, este edifício  situado no topo da Avenida da República, 71-73 apresenta um desenho de gosto Art Déco, com um cuidado programa decorativo distribuído por inúmeros pormenores de ornamentação nas janelas, varandas e em torno da porta principal.
Destaque para os frisos em relevo que coroam a fachada do edifício, com composições mitológicas de delicado lavor. Imóvel de Interesse Público (1983).

Avenida da República, 71 |1970|
Edifício riscado pelo arq-º Norte Júnior em 1933.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente
Notas(s):Infelizmente a imagem é de baixa qualidade/resolução, graças ao paupérrimo trabalho de digitalização efectuado pelo Arquivo Municipal de Lisboa (AML) hoje completamente ao abandono.

Sunday, 5 November 2023

Chafariz de Benfica

Inaugurado em 1788, foram responsáveis pela obra Reinaldo Manuel dos Santos e Francisco António Ferreira Cangalhas, que o conceberam segundo o programa neoclássico. Chafariz de espaldar, insere-se num pano de parede côncavo com embasamento cal- cário com bancos. O corpo do chafariz apresenta-se enquadrado por duas portas de emolduramento simples, e pano de muro em cantaria de calcário dividido em três módulos.

Chafariz de Benfica |c. 1900|
Estr. de Benfica
Amplo chafariz implantado num recinto elíptico, pavimentado a calçada à portuguesa, aberto frontalmente composto pelo chafariz, ao centro, integrando arca de água, rodeado por dois panos laterais, curvos.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O central, mais alto, exibe tabela com o brasão de D. Maria I encimado por frontão. Adossado à zona inferior da fachada principal encontra-se o tanque com duas bicas. No alçado posterior observa-se a caixa cúbica do depósito, com cobertura piramidal.
Pela Resolução de 29 de Dezembro de 1779, e Alvará de 19 de Julho de 1786, se concederam os sobejos
para a Quinta do Desembargador Manuel Ignacio de Moura.

Chafariz de Benfica |1963|
Estr. de Benfica
Ao centro ostenta grande cartela rectangular, disposta na vertical, inferiormente formando arco de volta perfeita e, superiormente recortada para enquadrar brasão com as armas de D. Maria I, recortado e envolvido por motivos volutados e paquife, encimado por coroa. 
Armando Serôdio,  in Lisboa de Antigamente

N.B. Junto à extremidade da ala lateral direita, encontra-se um marco quilométrico tendo inscrito "LISBOA 8 Km". Na proximidade ergue-se a Igreja de Nossa Senhora do Amparo, com cruzeiro no adro.

Chafariz de Benfica |1963|
Estr. de Benfica; ao fundo nota-se a Igreja de N. S. do Amparo
Chafariz com duas bicas circulares; tanque de planta rectangular, de ângulos
recortados e perfil galbado, com bordo achatado, tendo dois pilares e réguas metálicas
para apoio de vasilhame. 
Armando Serôdio,  in Lisboa de Antigamente

Nota(a): Em 1758, Benfica tinha 805 vizinhos e 3960 pessoas; todos os domingos do mês de Maio realizava-se, junto do Convento de São Domingos de Benfica, uma feira livre; tinha duas fontes, uma no Convento de São Domingos e outra na Quinta de Santo Eloy; Em 1778, a Junta das Águas Livres mandou construir um sistema de canalização para abastecer o futuro chafariz de Benfica.

Chafariz de Bemfica |s.d.|
Estr. de Benfica
Os panos laterais, em alvenaria rebocada e pintada, terminados em friso e com cobertura em meia cana, têm frontalmente embasamento com bancos adossados e dois portais de verga recta de acesso à casa de água.
Gravura, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ALMEIDA, Álvaro Duarte de, Portugal património, 2007.
VELOSO DE ANDRADE, José Sérgio , Memória sobre Chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém e muitos lugares do Termo., 1851.

Friday, 3 November 2023

Avenida Rio de Janeiro

A Avenida Rio de Janeiro, foi um topónimo atribuído por Edital municipal de 29 de Julho de 1948, para designar a artéria até aí conhecida como Avenida de ligação entre a Avenida dos Estados Unidos da América e Avenida do Brasil

Avenida Rio de Janeiro |c. 1960|
Perspectiva tomada da R. Ricardo Jorge; ao fundo observa-se o Quartel do Batalhão de Sapadores Bombeiros (3ª companhia).
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente
Avenida Rio de Janeiro |1963-12|
Junto ao cruzamento com a R. Carlos Malheiro Dias tendo ao fundo a Av. do Brasil.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 29 October 2023

Jardim Augusto Gil

Por volta de 1700 é que começou em definição urbana o Largo da Graça — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , dando foros ao sítio velho.
Aqui temos o Jardim, pequeno e inocente Jardim de namorados de quinze anos — , do qual desapareceram algumas boas espécies de acácias e lódãos que até há pouco nele existiam; foi construído sobre a encosta, para o que foi preciso levantar, em 1881-1882, a cortina gradeada que nele vemos.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, p. 49, 1938)

Jardim Augusto Gil |c. 1952|
Largo da Graça
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Localizado junto à Igreja e antigo Convento da Graça, é um jardim modesto, de pequenas dimensões, pontuado por algumas árvores e canteiros e uma estátua figurativa em bronze de autor desconhecido, de bronze, intitulada 'Mãe e Filho', que evoca a relação maternal. Possui ainda uma escadaria, alguns bancos que apelam ao descanso e instalações sanitárias e, na década de \960, uma Biblioteca Municipal ao ar livre. Próximo do Miradouro da Graça [actual Sofia de Mello Andresen] onde se pode apreciar uma das melhores vistas sobre a cidade de Lisboa.

Jardim Augusto Gil, Biblioteca Municipal |1961|
Largo da Graça
Armando Serôdioin Lisboa de Antigamente

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