Wednesday, 30 September 2015

Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida)

Nesta esquina da Rua do Quelhas existiu, de pé até que lhe foi dado outro destino, o Convento das religiosas inglesinhas de Santa Brígida erguido neste local entre 1651-1656, depois do incêndio do primitivo, que fora fundado por D. Izabel de Azevedo em 1594. 
O Convento de Santa Brígida — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , depois conhecido por «Convento do Quelhas», tinha a sua Igreja da Invocação de S. Salvador, de Sião. Quando da proclamação da República, a Casa conventual estava ocupada por jesuítas, que a haviam adquirido em 1864, sendo naquela altura alvo da sanha de exaltadas gentes, dada a fama que o «Quelhas» tinha adquirido nas camadas populares. 

Aquele Pinto Machado — recorda Norberto de Araújo — que tinha o seu palácio na Rua do Machadinho — diminutivo que nasceu do apelido do fidalgo — , foi quem fez rasgar, depois de 1758, uma serventia já desenhada desde 1680 — Caminho Novo — na quinta de D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, por alcunha o Quelhas, quinta na qual o fidalgo tinha sua casa, que bem pode ter sido aquela onde assentou o palácio dos Pinto Machados. [...] Depois do terramoto é que começou a chamar-se-lhe Rua do Quelhas, o tal D. Francisco de Sousa que por aqui fora grande senhor. Por essa época começou o verdadeiro povoamento lento e seguro deste sítio, a justificar a urbanização do começo do século passado.

Rua do Quelhas, 6A [c. 1909]
Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida)
Em virtude das más condições do edifício e principalmente da sua adaptação às novas funções pós-convento, entre 1866 e 1910 operou-se um alargado conjunto de alterações, que se prenderam essencialmente com o acrescento de mais um piso à igreja, a construção de uma torre, a ampliação de um piso no corpo dos antigos dormitórios e a construção de edifícios na cerca do convento.
Paulo Guedes, 
in Lisboa de Antigamente

O edifício do Colégio do Quelhas, era vulgarmente chamado Convento das Inglesinhas, por ter sido convento das Agostinhas de Santa Brígida (Irlandesas). Ficara desabitado desde 1834, ano em que as monjas o abandonaram, já que, embora súbditas de Inglaterra, temiam qualquer violência, em virtude do Decreto que extinguia em Portugal as Ordens Religiosas. [...] Em 1864 o Convento é adquirido pelos Jesuítas que aí mantém o Colégio de Jesus procedendo a várias ampliações, nomeadamente o acréscimo de um piso em toda a ala Nordeste, o alargamento da capela com uma ala exterior a Noroeste, sobre o actual jardim, e o acrescento no mesmo sentido do corpo destacado do refeitório.

Convento das Inglesinhas, claustro e torre sineira [s.d.]
Ruas do Quelhas e das Francesinhas
Em 1904 iniciam-se as obras da nova capela: começada a construir a 11 de Abril
de 1904 e concluída e inaugurada a 24 de Dezembro de 1907. 
Fotógrafo não identificado in Lisboa de Antigamente

O casarão enorme — prossegue o autor das Peregrinações — com suas altas paredes conventuais, da cor rosa característica do velho «Quelhas», recebeu, em 1932-1933, um profundo lenho, e bem merecido foi ele, no ângulo sul, onde se começou a erguer um edifício para laboratório do Instituto, obra que não prosseguiu pois foi aproveitada depois para se levantar a sede da Emissora Nacional.
Altaneira sobre os restos inexpressivos do Convento, e sobre a mancha clara e moderna do pequeno palácio da Emissora, lã está anda a Torre rectangular, de negro cimento, com sua varanda de eirado, e com outra, mais pequena, a um terço da altura.== 
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. VII, 1938)

Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida) [c. 1910]
Rua do Quelhas (e Tv. do Pasteleiro) com a antiga Rua João das Regras antes
do Caminho Novo e actual Rua das Francesinhas
No decorrer de oitocentos, a Companhia de Jesus procedeu a profundas alterações
no espaço a si destinado, concretizadas sobretudo na ampliação de um piso do edifício da
igreja (no qual foi construído um enorme salão) e na construção de uma grande torre adossada
à cabeceira do templo (com c. de 25-30 metros de altura), a qual marco
 a paisagem urbana da zona até ter sido demolida no início do século XXI.
Fotógrafo não identificado in Lisboa de Antigamente
 
N.B. Com a chegada da República, o convento serviu para instalar o Museu da Revolução Republicana (altura em que os seus ocupantes são expulsos do edifícios e do país) e posteriormente a Emissora Nacional, o Instituto Superior de Comércio, e depois o ISCEF, actualmente Instituto Superior de Economia e Gestão. As obras de restauro foram financiadas através do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) e de receitas próprias, custando no total cerca de oito milhões de euros.
O convento é hoje propriedade do ISEG, sendo o edifício mais antigo do complexo arquitectónico do instituto, com direito a referência em várias publicações nacionais e internacionais.

Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida) [1910]
Rua do Quelhas, 6A
No dia 5, aquando da Implantação da República, o Quelhas tornou-se num dos principais focos de conflito, com milícias armadas disparando continuamente contra o edifício jesuíta:
«
O Quelhas, um grande conjunto de edifícios agrupados à volta de uma igreja e cercados por um alto muro, apresentava um espectáculo extraordinário quando finalmente lá chegámos. Havia soldados de cavalaria e infantaria por todo o lado; havia metralhadoras; havia mesmo peças de artilharia. E toda esta força militar estava desencadeada, num tiroteio desenfreado, contra o colégio que, a julgar pelo silêncio reinante do outro lado do muro, estava completamente abandonado. Mas isso não importava. As bombas fustigavam a torre, as metralhadoras disparavam sem parar, balas das espingardas silvavam entre as árvores. Cheguei ao colégio quando estava a nascer o dia. O portão estava aberto e a multidão movia-se para todos os lados. O saque estava em curso, com grande frenesi.[...] »
António Novais, 
in Lisboa de Antigamente

Tuesday, 29 September 2015

Largo do Conde Barão: Palácio Alvito

«Eis-nos no Largo do Conde Barão. Êste dístico provém do Conde-Barão de Alvito cujo Palácio aqui existiu — e existe ainda, transformado —, no prédio, esquina da Rua dos Mastros, e que se prolonga para o nascente [...]»
(in Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, p. 80)

Na primeira imagem, os famosos carros «Americanos» imortalizados por Eça de Queiroz em «Os Maias». Percorrendo a cidade, do Intendente ao Conde-Barão, de lotação limitada e puxados a dois ou quatro muares, ofereciam já o conforto dos rails, ou calhas, a mesma via transmitida, por herança, aos actuais «eléctricos».
À esquerda, o palácio que foi dos Almada-Carvalhais — Provedores da Casa da Índia — mandado construir no século XVI (cerca de 1545), por Rui Fernandes de Almada, banqueiro e feitor da Flandres. À data desta imagem, o solar já era propriedade da Companhia Nacional Editora, Limitada, «honra da indústria gráfica portuguesa», datada do ano de 1884.

Largo do Conde Barão [séc. XIX]
Palácios dos Almada-Carvalhais e dos Alarcões, respectivamente. Lá bem no alto, o miradouro de Sta. Catarina
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente


O Palácio do Conde-Barão de Alvito [vd. 2ª foto] é um edifício palaciano, de arquitectura chã, construído em finais do século XVI e transformado em 1606, sofrendo alguns restauros nos séculos XVIII, XIX e 1ª metade do século XX. Foi residência dos Barões de Alvito (mais tarde Condes-Barões), que o abandonaram logo a seguir ao terramoto de 1755, passando o edifício por diversas mãos. Contudo, a memória da família ali se perpetuou, dando o nome ao largo que posteriormente se formou frente ao palácio. [...]

Largo do Conde Barão [1912]
Palácio (do Conde-Barão de) Alvito; carro da empresa Salazar
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Monday, 28 September 2015

Colégio Académico e «Patisserie Versailles»

Edifício projectado pelo arq.º Álvaro Machado, em 1904. Em 1905 era propriedade de Madame Anne Roussel que aqui fundou um colégio  —  Colégio Anne Roussel —  «destinado a ser um estabelecimento de educação de crianças do sexo feminino».  Entre 1920 e 1932, funcionaram no edifício o Colégio Inglês e a Escola Minerva [vd. 1ª foto]. Desde 1932 está aqui instalado o Colégio Académico.

Avenida da República, 13 |1931|
Escola Minerva, esquina com a Av. Duque de Ávila
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Numa linguagem neo-românica um pouco tosca, caracteriza-se, também, por um certo ecletismo. Edifício de gaveto de planta irregular, desenvolvendo-se em 3 pisos, cujo corpo que torneja, apresenta planta de quarto de círculo, 2 pisos e cércea inferior relativamente aos corpos adjacentes, onde se encontra incrustado. A sua fachada caracteriza-se por uma dinâmica de janelas, com predomínio do arco pleno e da verga curva, do recurso repetido a janelas polilobadas com bandas lombardas e a janelas de frestas. Destaca-se, ainda, o desenho  das  fachadas, eficazmente realçado através de faixas em azulejo, autoria do pintor José António Jorge  Pinto, cuja  sofisticação,  simbologia  e  complexidade  de  padrões  são  deveras notáveis.

Escola Minerva |1905|
Fachada sobre a Av. Duque de Ávila
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Avenida da República, 13 e 15A |1968|
Esquina com a Av. Duque de Ávila; Colégio Académico e «Patisserie Versailles»
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

A «Patisserie Versailles» ocupou a loja do edifício projectado em 1919 pelo arqº Manuel Norte Júnior. Fundada em 1922 por Salvador Antunes, um português com formação em pastelaria francesa e apaixonado pela art nouveau, tem o nome do famoso palácio francês e o seu interior parece mesmo uma sala saída deste.

Patisserie Versailles (à dir. vê-se o fundador Salvador José Antunes) |c. 1922|
Avenida da República, 15A
Armando Serôdio, i
n Lisboa de Antigamente
 
Enormes espelhos nas paredes e tectos trabalhados nos quais pendem lustres, detalhes art nouveau fazem parte da decoração com pinturas de Benvindo Ceia, retratando os lagos de Versailles, e o trabalho em talha por Fausto Fernandes, que recriam um ambiente de um verdadeiro clássico café europeu, onde era servida a pastelaria mais variada de Lisboa. O nome de «Patisserie Versailles» manteve-se até 1926, ano em que foram proibidas designações estrangeiros.

Patisserie Versailles |c. 1937|
Avenida da República, 15A
Estúdio Mário Novais,
in Lisboa de Antigamente

Chafariz da Boa Hora

Os frades agostinhos do Convento da Boa Hora recebiam por ordem régia duas penas de água das minas da Sacota e da Torre do Relógio em terrenos das Quintas Reais. Em 28 de Maio de 1834 foram extintas as ordens religiosas masculinas e a Junta da Paróquia da Ajuda tentou aproveitar essa água para a construção de uma fonte pública, solicitando em petição tal benesse à rainha D. Maria II.

Rua Nova do Calhariz (à Ajuda) |séc. XIX/XX|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Obteve autorização régia, mas enfrentou-se o problema de o convento ter sido repartido entre o regimento de Infantaria n.º 17 e o arrendatário António Mota, que tinha em sua posse parte da antiga cerca, tendo por contrato cedido as águas às lavadeiras. 
O chafariz acabou por ser construído, sendo inaugurado no dia de aniversário da rainha, em 4 de Abril de 1838. Contudo, o regimento de Infantaria abusava no consumo na altura das secas, ficando o chafariz sem água. Para obviar esta situação o arquitecto régio Possidónio da Silva propôs em 1850, que o dito regimento nas épocas de seca, permitisse ao público usar a antiga bica conventual.

Rua Nova do Calhariz (à Ajuda)  |1966|
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 27 September 2015

O último chalet da Avenida Fontes Pereira de Melo

O Caso do Chalet Misterioso


Esta fotografia atribuída ao fotógrafo Paulo Guedes (1886-1947), está titulada pelo arquivo como «Moradia», não referindo o local e, estabelecendo como data, uma qualquer década de «19--». O processo que levou à identificação do local deste estranho e misterioso chalet, tem algo de novela policial. Tudo por causa daquele prédio que ali se vê atrás. Havia qualquer coisa de familiar na traça daquele antigo edifício. Uns meses depois, procurando imagens para publicar aqui no tasco, eis senão quando, ao rever umas fotos da Praça do Saldanha, deparo nada mais nada menos que com o «prédio do anjo»: Eureka! Fez-se luz!
Aquela sensação "familiar" tinha a ver com o "anjo". Depois desta epifania o resto foi fácil. Bastou pesquisar no arquivo pela planta topográfica da zona do Saldanha, et voilá!. Ali se vê o contorno inconfundível do «Chalet Misterioso» e, logo ao lado, o "prédio do anjo", na esquina da Av. Fontes com a antiga estrada das Picoas (hoje Rua Engº Vieira da Silva). Já quanto à data da foto, a coisa já fia mais fino; a única pista que temos é-nos dada pelo sinal de "Paragem", plantado no candeeiro da esquina. O eléctrico já por ali passava desde 1902, era a carreira 2 (que na altura não tinha número), entre os Restauradores e o Lumiar (Estr. da Torre). Assim sendo, já é possível atribuir a localização exacta e, uma data aproximada, à fotografia d'«O Caso do Chalet Misterioso».

Avenida Fontes Pereira de Melo esquina com a Rua Engº Vieira da Silva [c. 1909]
 Casa Manuel José Ferreira Alegria,  projecto do construtor civil Hermenegildo Augusto de Faria Blanc.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Capela de N. Senhora do Monte Carmo no Palácio Faial

O muro, que ampara jardins, e o Palácio Faial que a ele se segue, são da Casa Palmela, cuja Duquesa é também Marquesa do Faial.
Estes terrenos todos para a nossa direita (nascente) até à Rua das Amoreiras pertenciam no século XVII à Quinta do Pé de Mu, confrontando com a cerca das freiras do Rato, quinta depois chamada do Fetal ou Feital. (...) Em 23 de Junho de 1890 adquiriu-os o Duque de Palmela, e datam dessa época, tal qual os vemos agora, o Palácio Faial e anexos.

Capela de N. Senhora do Monte Carmo no Palácio Faial |1958|
Rua do Sol ao Rato
Armando Serôdio, iin Lisboa de Antigamente

A Capela de N. Senhora do Monte Carmo, que aí vemos, foi edificada pela Duquesa de Palmela, D. Maria Luíza, em 1905, aproveitando algumas imagens e materiais sacros da capela do mesmo orago do palacete da Rua Formosa (desde 1892 propriedade de «O Século»), do Visconde da Lançada (Pina e Brederode, Duque de Palmela por seu casamento). Esta Ermida ostenta belos azulejos, que toda a revestem em altos silhares de três metros de altura, dando quadros bíblicos de bom desenho cerâmico do final de setecentos. No altar-mor está a Imagem de N. Senhora do Carmo; (...) É este um pequeno templo, bem diferenciado, no semblante, das velhas ermidinhas pobres ou palacianas de Lisboa.

Capela de N. Senhora do Monte Carmo no Palácio Faial |1958|
Rua do Sol ao Rato
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

No prédio que se segue à Capela, e também da mesma propriedade, habitou, e morreu a 18 de Junho de 1875, o Poeta António Feliciano de Castilho, 1.º Visconde de Castilho, pai do insigne escritor e investigador da «Lisboa Antiga». Aí tens uma lápide que atesta o facto. Falta dizer-te, Dilecto, que em Março deste ano de 1939 a Câmara Municipal adquiriu por 1.450 contos grande parte dos terrenos rústicos e urbanos desta Casa, a norte e por trás do Palácio (33.600 metros quadrados).»
(Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 68)

Capela de N. Senhora do Monte Carmo no Palácio Faial |1916|
Rua do Sol ao Rato
 Holstein Beck, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 26 September 2015

Largo Júlio de Castilho

O topónimo Largo Júlio de Castilho foi atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa através de Edital de 02/03/1925 e após Deliberação Camarária de 20/02/1925 ao Largo da Duquesa.

Júlio de Castilho, 2.º visconde de Castilho, erudito escritor e historiador, percursor dos estudos olisiponenses, nasceu 30 de Abril de 1840 e morreu a 8 de Fevereiro de 1919, na sua casa do Lumiar. Fidalgo da Casa Real por sucessão a seus maiores, habilitado com o curso superior de Letras; sócio correspondente da Academia das Ciências, por diploma de 21 de Março de 1872; sócio efectivo da Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses; correspondente do Instituto de Coimbra, do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco; do Instituto Vasco da Gama de Nova Goa; da Associação Literária Internacional de Paris; e honorário do Grémio Literário Faialense e do Grémio Literário Artista da Horta; governador civil do distrito da Horta; primeiro-oficial da Biblioteca Nacional de Lisboa, poeta e escritor.
Fizeram história os seus volumes sobre a cidade de Lisboa: «Lisboa antiga». [cm-lisboa.pt]

Largo Júlio de Castilho, antigo Largo da Duquesa |c. 1940|
Ao centro, o Chafariz do Boneco, ou Fonte de São João Baptista. Ao fundo, a casa onde morreu Júlio de Castilho, ostentando uma lápide em memória do mestre olisipógrafo.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Eis o que disse Norberto de Araújo sobre Júlio Castilho aquando da inauguração do busto do distinto olisipógrafo que se encontra no Miradouro de Santa Luzia: «Estamos diante do busto do Mestre infatigável e iluminado da «Lisboa Antiga» e de «A Ribeira de Lisboa», generoso percursor dos estudos olisiponenses. Ninguém como ele, soube carrear materiais, acumular subsídios, desbravar caminho, inspirar a paixão por Lisboa.»

Largo Júlio de Castilho, antigo Largo da Duquesa |c. 1940|
Casa onde morreu Júlio de Castilho.

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Viaduto Duarte Pacheco

O Viaduto Duarte Pacheco é o maior e mais importante viaduto de Lisboa. É parte integrante de uma das principais vias de acesso à cidade ligando-a ao Parque de Monsanto onde a auto-estrada Lisboa-Cascais começa. Projectado por João Alberto Barbosa Carmona e inaugurado a 28 de Maio de 1944, o Viaduto Duarte Pacheco é feito de betão armado, mede 505 mt. de extensão, incluindo muros de avenida, e tem 24 metros de largura. O seu custo ascendeu a 85.000 Euros e nele trabalharam cerca de 4.000 operários.
 
Viaduto Duarte Pacheco e Auto-estrada Lisboa-Cascais |1942-12-06|
Autor não identificado, in Lisboa de Antigamente

Fotografia aérea sobre Campolide, Viaduto Duarte Pacheco
 e Avenida de Ceuta |c. 1950|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Duarte José Pacheco (1899-1943), licenciou-se em engenharia Electrónica, no IST, com 19 valores e este jovem professor do Instituto Superior Técnico desde 1922 — e seu director a partir de 1924 — foi eleito presidente da Câmara de Lisboa com apenas 29 anos, em 1928, ano em que também entrou pela primeira vez no Governo, com a pasta da Instrução Pública.

Viaduto Duarte Pacheco e Auto-estrada Lisboa-Cascais |c. 1945|
Para os lisboetas nada melhor do que uma caminhada e um passeio pós-prandial até ao Viaduto de Duarte Pacheco.
Autor não identificado, in Lisboa de Antigamente
Viaduto Duarte Pacheco e Auto-estrada Lisboa-Cascais |c. 1951|
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Quatro anos mais tarde, em Julho de 1932, foi nomeado ministro das Obras Públicas e Comunicações, pasta que tutelou até à sua trágica morte num desastre de viação.
Considerado um visionário, desejava fazer de Lisboa a capital do Império, sonho que veio a concretizar com a Exposição do Mundo Português, em 1940, símbolo emblemático do apogeu do Estado Novo e dos seus valores. Foi responsável por obras tão importantes como a Estrada Marginal Lisboa-Cascais, as Avenidas Novas, o Parque de Monsanto e o Estádio Nacional. [cm-lisboa.pt]

Viaduto Duarte Pacheco sobre a Avenida de Ceuta |c. 1952|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Viaduto Duarte Pacheco e Aqueduto das Águas Livres com a Av. de Ceuta |c. 1953|
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Friday, 25 September 2015

Teatro Apolo ou do «Príncipe Real»

Na esquina da Rua Fernandes da Fonseca e Rua Nova da Palma— recorda Norberto de Araújo — assenta o Teatro Apolo, até 1910 chamado do Príncipe Real (D. Carlos), e que foi ali erguido em 1864 [1865] por Francisco Ruas, no local onde existiu o salão Wauxhall. Pelo velho «Príncipe Real», dos dramalhões, teatro definido, passaram grandes figuras da cena portuguesa, entre elas, mais permanentemente, Ernesto Vale. e Adelina Abranches.

Rua da Palma, Rua Fernandes da Fonseca [1956]
Em primeiro plano, um trecho da Rua da Palma com o Teatro Apolo (à esquerda).
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Rua da Palma, Rua Fernandes da Fonseca [séc. XIX]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O edifício teve há poucos anos o dístico fatal «Para demolição»; parece, porém, que a condenação está suspensa. Tem um tecto de boa pintura de José Maria Pereira.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa [1938], vol. III, p. 72, 1938)

Rua da Palma, Rua Fernandes da Fonseca [1956]
Teatro Apolo, interior, boca de cena

Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente
Rua da Palma, Rua Fernandes da Fonseca [1956]
Teatro Apolo, tecto, obra de de José Maria Pereira

Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

«Dois Pobres E Uma Porta», em 3 actos e, «Muito Padece Quem Ama» são as comédias apresentadas na inauguração.Em 1906, Palmira Torres é a actriz principal da peça «A Severa», de Júlio Dantas. «Agulha em Palheiro», primeira revista original após a instauração da República, é aqui representada logo em 1911.

Rua da Palma [c. 1910]
Teatro Apolo, bilheteiras

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Rua da Palma [c. 1910]
Teatro Apolo, bilheteiras

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

«De Bota Abaixo», viria a ser a última revista estreada no Teatro Apolo, antes de este vir a ser demolido. O título era, aliás, um trocadilho com esse facto anunciado pela Câmara Municipal de Lisboa, então presidida por Salvação Barreto, como parte da reforma daquela zona da cidade. Um ano depois, em 1957, não obstante os inúmeros sucessos — e já rodeado pelos escombros dos prédios da Mouraria arrasados em redorcaiu o pano sobre o Apolo.

Rua da Palma, Rua Fernandes da Fonseca [1956]
Defronte ao
Teatro Apolo (onde se vê o parque de automóveis) erguia-se a Igreja do Socorro, demolida em 1949.

Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Thursday, 24 September 2015

Leitaria Polytécnica

Antes «Rua Direita da Fábrica das Sedas até ao Palácio dos Soares  de Noronha (depois Imprensa Nacional), daí para diante até à actual Praça do Rio de Janeiro era Rua do Colégio dos Nobres, designação que sucedeu à de Rua Direita da Cotovia. Em Setembro de 1859 passou toda a artéria a ser Rua da Escola Politécnica».
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 19, 1939)

Rua da Escola Politécnica, 263-265, junto ao Largo do Rato |c. 1910|
Leitaria Polytécnica, Leite e Manteigas
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 23 September 2015

Monumento a Eduardo Coelho

O monumento — obra do arquitecto Álvaro Machado e do escultor Costa Mota (tio) — foi custeado por subscrição pública promovida pelo Diário de Notícias, jornal fundado em 1863 por Eduardo Coelho sito na Rua dos Calafates.

Monumento a Eduardo Coelho [post. 1904]
Jardim Miradouro de São Pedro de Alcântara (Alameda Eduardo Coelho)
Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente

Para além do busto que celebra a memória do jornalista Eduardo Coelho, é composto por um pedestal, em frente do qual surge uma base com um garoto a apregoar jornais, o popular «ardina» — que parece ter movimento — surgindo, sobre este, o busto do homenageado. O busto e a estátua são de bronze, e o restante monumento em pedra. Foi inaugurado a 29 de Dezembro de 1904. Ao fundo, na 1ª foto, vê-se o quiosque do Jardim de S. Pedro de Alcântara, cuja história e pode ser lida aqui.

Monumento a Eduardo Coelho [post. 1904]
Jardim Miradouro de São Pedro de Alcântara (Alameda Eduardo Coelho)
Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente

O Sítio dos Quatro Caminhos

O Sítio dos Quatro Caminhos existe hoje apenas na tradição oral — observa Norberto de Araújo — ; em 1889 a serventia chamou-se cumulativamente «Rua dos Quatro Caminhos e dos Sapadores».  Ainda não há meio século [c. 1890] esta Cruz dos Quatro Caminhos era o eixo natural de quatro áreas do oriente da Cidade, uma apenas urbanizada em forma: a da Graça.
Por aqui se descia ao Caminho de Ferro e ao Vale de Santo António, sítios na vertente de muitas quintas desaparecidas; por aqui, a poente, se passava, via Caminho do Forno do Tijolo (a Charca), para os lados dos Anjos, Sant'Ana, Intendente, e Baixa; por aqui se fazia o trajecto, pela Estrada antiga — hoje Rua — que percorremos, até à Penha de França, descendo-se ao Poço dos Mouros.
 Em boa verdade, era uma extrema simpática da Cidade, com suas casas pequenas do século passado [séc. XIX], ou, as mais recuadas, do fim do século do Terramoto.

Sítio dos Quatro Caminhos [1969]
Rua dos Sapadores
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente


De acordo com Norberto Araújo, o topónimo deriva de um quartel lá existente:
Na primeira metade do século do Terramoto já aqui havia um aquartelamento, embora de reduzida superfície: era o Regimento da Segunda Armada, aos Quatro Caminhos, e, em boa verdade, não consegui saber a que correspondia aquela designação do regimento. No século passado, e durante longos anos, esteve aqui o Regimento de Engenharia, fazendo-se por várias vezes obras e ampliações, sempre restritas. Em 1911, pela reorganização do Exército, subdividiu-se a arma de engenharia, ficando neste quartel Sapadores Mineiros. Fizeram-se então novas ampliações, e ergueu-se este edifício que vês, corpo central de comando, recuado um pouco de frente, para alargamento da nova Rua de Sapadores (1912-1913). Em 1927, após a revolução de 7 de Fevereiro, os Sapadores saíram e entraram os Telegrafistas.

Sítio dos Quatro Caminhos [1953]
Vista tomada da Rua da Graça, ficando à esq. Rua Angelina Vidal e, à dir. a Rua dos Sapadores.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Hoje tudo isto tem um aspecto alegre e já digno de um bairro de Lisboa. Anota essas casas baixinhas, do lado direito, esse pedaço de habitações pobres contínuas sobre uma cortina à entrada da Rua Angelina Vidal (antigo Caminho do  Forno do Tijolo), esse outro grupo de casebres junto do muro do Quartel, à nossa esquerda: são o último sinal dos Quatro Caminhos setecentista. Estão por meses; podes talvez saudá-los pela última vez.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 25-26, 1938)

Sítio dos Quatro Caminhos [1953]
Rua da Penha de França, entrada da Rua direita da Graça com a Rua dos Sapadores.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Tuesday, 22 September 2015

O último chalet da Avenida Cinco de Outubro

Em 1908, o jornal «O Século» e a sua revista «Ilustração Portuguesa» — uma das publicações de maior tiragem da época — , além de outros brindes anuais distribuídos por meio de concurso, oferecia aos seus leitores a possibilidade de ganharem um magnífico chalet na Avenida António Maria de Avelar (hoje Av. Cinco de Outubro) construído com todas as condições do conforto «moderno».

Avenida Cinco de Outubro, 113A-113D |1937|
Gaveto com a Avenida Elias Garcia, 90-90A
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

A vasta equipa de detectives de «Lisboa de Antigamente» pôs-se em campo e foi investigar, conseguindo descobrir no arquivo fotografias que, embora não identificadas como sendo deste chalet, mostram a fase de construção do mesmo, assim como, a evolução da envolvente e do edificado ao longo dos anos nesta avenida.

Avenida Cinco de Outubro, 113A-113D |1908|
Gaveto com a Avenida Elias Garcia, 90-90A
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Avenida Cinco de Outubro, 113A-113D |1908|
Gaveto com a Avenida Elias Garcia, 90-90A
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Só não conseguimos identificar o nome do felizardo que alcançou tão fabuloso prémio. Lembramos que esta zona de Lisboa, muito afastada do centro da capital, era à época constituída maioritariamente por algumas fábricas (tijolo, panificação, etc.), casas rústicas. hortas e terras de semeadura, como aliás pode ser comprovado por fotografias de igual período e já aqui publicadas. Demolido em meados do século passado.

Avenida Cinco de Outubro, 113A-113D |post. 1909|
Gaveto com a Avenida Elias Garcia, 90-90A
Paulo Guedes,
in Lisboa de Antigamente

Monday, 21 September 2015

Campo de futebol das Salésias

Em 28 de Fevereiro de 1904, um grupo de 24 ex-alunos da Real Casa Pia de Lisboa, de onde se destacava a figura de Cosme Damião, cria, nas traseiras da Farmácia Franco, na zona de Belém, o Sport Lisboa com uma única secção, a de futebol. Nessa reunião histórica, ficaria definido que o recém-criado clube jogaria de vermelho e branco e que teria no emblema uma águia e o moto «E Pluribus Unum».

O primeiro campo de jogos foi na Quinta da Feiteira, mas os tempos eram difíceis. Devido a problemas financeiros, vários jogadores da primeira equipa abandonam o Benfica para o mais abastado Sporting, o que deu início a uma rivalidade que perdura até os dias de hoje e contribuiu para que em 1908, se desse a fusão do Sport Lisboa com o Grupo Sport Benfica, clube que tinha como prática o ciclismo, levando à origem do actual emblema (com a introdução da roda de bicicleta) e ao nome definitivo: Sport Lisboa e Benfica.

Terras do Desembargador, junto ao Convento das Freiras Salésias, em Belém [entre 1906 e 1907]
Jogo de futebol entre o Sport Lisboa (mais tarde SLB) e o CIF (Clube Internacional de Futebol)
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

As falhadas tentativas de reorganização do Club Lisbonense e do Grupo Estrela abriram caminho ao aparecimento no dia 8 de Dezembro de 1902 do Club Internacional de Foot-Ball, que foi o prolongamento natural do Grupo dos Pinto Basto e do Foot-Ball Club Swits.
O inicio da prática de futebol em Portugal está indelevelmente ligado ao CIF. As primeiras bolas de futebol trazidas para Portugal, os primeiros “grupos” (equipas) de praticantes, as primeiras regras oficiais do desporto, as primeiras ligas e associações de clubes resultaram de intervenção directa do CIF ou de membros fundadores e directores do Clube.

Campo de futebol das Salésias [1933]
O desfile de Infantaria durante os exercícios no campo das Salésias
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
DIAS, Marina Tavares, História do Futebol em Lisboa, 2000.

Sunday, 20 September 2015

Teatro do Ginásio

Os bicos de gás do Ginásio tinham um fulgor de festa. E Ega deu de rosto com o Craft, que atravessava do lado do Loreto, de gravata branca e flor no paletó.
(QUEIROZ, Eça de, Os Maias, 1888)


Ocupando os terrenos do antigo Palácio Geraldes, o Teatro do Ginásio abre portas em 17 de Maio 1846, com o drama «Paquita de Veneza ou Fabricantes de Moeda Falsa», onde estreia o actor Taborda e, a farsa «A Herdeira». Embora um espaço exíguo e incómodo é, através do seu reportório, essencialmente cómico, um dos espaços teatrais mais frequentados. Ao seu êxito não são indiferentes os monarcas que, após as remodelações de 1852,  aí adquirem um camarote.

Teatro do Ginásio, antigo Gymnasio Lisbonense |c. 1900|
Rua Nova da Trindade, antiga Tv. do Secretário da Guerra
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sousa Bastos descreve como “Suas Magestades manifestaram desejos de assistir àquelles espectaculos; mas o theatro era de tal ordem, que não podia recebel-as. Começaram então os socios a pensar em demolir o nojento barracão, sujo, tortuoso, de escadas íngremes e corredores acanhados e no mesmo local mandaram construir uma decente e commoda casa d’espectaculos.” [Bastos: 1908]
 
Vários actores de renome pisaram os palcos do Ginásio, e companhias hoje consideradas basilares do teatro português foram responsáveis pela exploração do espaço: foi o caso da empresa Maria Matos-Mendonça de Carvalho entre 1916 e 1918, Lucinda Simões na época de 1919-1920 e a companhia Alves da Cunha na época de 1920-1921.

 
Foi precisamente nesta época, a 6 de Novembro de 1921 (estava em cena o espectáculo O Célebre Pina), que um incêndio irrompeu de madrugada deixando o teatro em escombros.
 
 
Combate ao incêndio no Teatro do Ginásio
na madrugada de 6 de Novembro de 1921
 
 
 
Em 1925, a sua reconstrução é entregue ao arq.º João Antunes. O novo edifício tinha toda a comodidade necessária, podendo mesmo dizer-se que tinha luxo e tecnologia. Mesmo assim, a afluência do público decresceu acabando a direcção por recorrer à solução que muitos espaços adoptaram na altura, apresentando cinema a par do teatro. Em 1932 esta solução tornou-se permanente, com o novo nome Cine-Ginásio, e a década de 40 foi pautada quase exclusivamente pela projecção de cinema..[Instituto Camões]

Palco do Teatro do Ginásio, antigo Gymnasio Lisbonense |c. 1900|
Rua Nova da Trindade, antiga Tv. do Secretário da Guerra
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
 
O fim do Ginásio ocorreu em 1952 com a demolição do interior. Nos anos 80, durante as obras, encontra-se um torreão da muralha fernandina, desde então exposto ao público. A fachada é imóvel de interesse público, desde 1983. Actualmente transformado em espaço comercial.

Teatro do Ginásio, antigo Gymnasio Lisbonense |1944|
Rua Nova da Trindade, antiga Tv. do Secretário da Guerra
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
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