Nesta esquina da Rua do Quelhas existiu, de pé até que lhe foi dado outro destino, o Convento das religiosas inglesinhas de Santa Brígida erguido neste local entre 1651-1656, depois do incêndio do primitivo, que fora fundado por D. Izabel de Azevedo em 1594.
O Convento de Santa Brígida — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , depois conhecido por «Convento do Quelhas», tinha a sua Igreja da Invocação de S. Salvador, de Sião. Quando da proclamação da República, a Casa conventual estava ocupada por jesuítas, que a haviam adquirido em 1864, sendo naquela altura alvo da sanha de exaltadas gentes, dada a fama que o «Quelhas» tinha adquirido nas camadas populares.
Aquele Pinto Machado — recorda Norberto de Araújo — que tinha o seu palácio na Rua do Machadinho —
diminutivo que nasceu do apelido do fidalgo — , foi quem fez rasgar,
depois de 1758, uma serventia já desenhada desde 1680 — Caminho Novo — na quinta de D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, por alcunha o Quelhas, quinta na qual o fidalgo tinha sua casa, que bem pode ter
sido aquela onde assentou o palácio dos Pinto Machados. [...] Depois do
terramoto é que começou a chamar-se-lhe Rua do Quelhas, o tal D.
Francisco de Sousa que por aqui fora grande senhor. Por essa época
começou o verdadeiro povoamento lento e seguro deste sítio, a justificar
a urbanização do começo do século passado.
O edifício do Colégio do Quelhas, era vulgarmente chamado Convento das Inglesinhas, por ter sido convento das Agostinhas de Santa Brígida (Irlandesas). Ficara desabitado desde 1834, ano em que as monjas o abandonaram, já que, embora súbditas de Inglaterra, temiam qualquer violência, em virtude do Decreto que extinguia em Portugal as Ordens Religiosas. [...] Em 1864 o Convento é adquirido pelos Jesuítas que aí mantém o Colégio de Jesus procedendo a várias ampliações, nomeadamente o acréscimo de um piso em toda a ala Nordeste, o alargamento da capela com uma ala exterior a Noroeste, sobre o actual jardim, e o acrescento no mesmo sentido do corpo destacado do refeitório.
O casarão enorme — prossegue o autor das Peregrinações — com suas altas paredes conventuais, da cor rosa característica do velho «Quelhas», recebeu, em 1932-1933, um profundo lenho, e bem merecido foi ele, no ângulo sul, onde se começou a erguer um edifício para laboratório do Instituto, obra que não prosseguiu pois foi aproveitada depois para se levantar a sede da Emissora Nacional.
Altaneira sobre os restos inexpressivos do Convento, e sobre a mancha clara e moderna do pequeno palácio da Emissora, lã está anda a Torre rectangular, de negro cimento, com sua varanda de eirado, e com outra, mais pequena, a um terço da altura.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. VII, 1938)
N.B. Com a chegada da República, o convento serviu para instalar o Museu da Revolução Republicana (altura em que os seus ocupantes são expulsos do edifícios e do país) e posteriormente a Emissora Nacional, o Instituto Superior de Comércio, e depois o ISCEF, actualmente Instituto Superior de Economia e Gestão. As obras de restauro foram financiadas através do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) e de receitas próprias, custando no total cerca de oito milhões de euros.
O
convento é hoje propriedade do ISEG, sendo o edifício mais antigo do
complexo arquitectónico do instituto, com direito a referência em várias
publicações nacionais e internacionais.
Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida) [1910] Rua do Quelhas, 6A No dia 5, aquando da Implantação da República, o Quelhas tornou-se num dos principais focos de conflito, com milícias armadas disparando continuamente contra o edifício jesuíta: «O Quelhas, um grande conjunto de edifícios agrupados à volta de uma igreja e cercados por um alto muro, apresentava um espectáculo extraordinário quando finalmente lá chegámos. Havia soldados de cavalaria e infantaria por todo o lado; havia metralhadoras; havia mesmo peças de artilharia. E toda esta força militar estava desencadeada, num tiroteio desenfreado, contra o colégio que, a julgar pelo silêncio reinante do outro lado do muro, estava completamente abandonado. Mas isso não importava. As bombas fustigavam a torre, as metralhadoras disparavam sem parar, balas das espingardas silvavam entre as árvores. Cheguei ao colégio quando estava a nascer o dia. O portão estava aberto e a multidão movia-se para todos os lados. O saque estava em curso, com grande frenesi.[...] » António Novais, in Lisboa de Antigamente |