Sunday, 28 April 2024

Rua Dom João V

Este arruamento foi rasgado no meado da década de 1940 [vd 2ª imagem] na anterior «Rua A à Rua das Amoreiras». O topónimo foi atribuído pela edilidade em 22 de Junho de 1948.
O Edital de 22 de Junho de 1948 veio confirmar a proposta da Comissão de Toponímia datada de 8 de Junho do mesmo ano, que atribuía os topónimos aos novos arruamentos à Rua das Amoreiras, homenagem que incidiu nas seguintes personalidades: Dom João V (Rua A), Custódio Vieira (Rua B), Dom Tomás de Melo Breyner (Rua C) e Cláudio Gorgel do Amaral (Rua D). 

Rua Dom João V |195-|
Perspectiva tomada a partir do terraço do reservatório da Mãe de Água das Amoreiras. 
Helena Corrêa 
Barros, in Lisboa de Antigamente

Dom João V (1689-1750) foi o vigésimo quarto rei de Portugal, e o seu reinado, 1707-1750 (ano da sua morte), foi um dos mais longos da História portuguesa. Nasceu a 22 de Outubro de 1689, e foi aclamado rei a 1 de Janeiro de 1707. Adquire o cognome de «Magnânimo» devido à promoção de obras grandiosas como o Convento de Mafra edificado para agradecer o nascimento do seu primeiro filho varão.
O monarca marcou Lisboa com a construção do imponente Aqueduto das Águas Livres. A ele se deveu também a construção do Convento das Necessidades e da Igreja de Santa Engrácia, transformada no século XX em Panteão Nacional.

Panorâmica tirada da Mãe de Água sobre a Quinta do Biaggi vendo-se a abertura da futura Rua Dom João V |1943-06]
Atalaia (ou mirante?) existente na Quinta do Biaggi.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Friday, 26 April 2024

Avenida da República, 87-97

As Avenidas Novas representam o desenvolvimento urbano que causou a expansão de Lisboa para norte em finais do século XIX e ao longo da primeira metade do século XX.
Pela designação de Avenidas Novas entende-se uma série de avenidas e ruas largas e arejadas que se recortam entre as antigas estradas do Arco do Cego e S. Sebastião da Pedreira, e ao N. do Parque Eduardo VII [antigo Vale do Pereiro ], Andaluz e Praça José Fontana [antigo Largo do Matadouro].
Em 1910 a maior parte dos arruamentos estava concluída, compondo uma malha ortogonal de ruas e avenidas largas com passeios e praças arborizadas segundo os mais modernos conceitos urbanísticos, naturalmente destinadas às classes sociais mais abastadas. 

Avenida da República, 87-97 |1965|
edifício localizado no número 93A-E situado no gaveto com a Av. António Serpa foi demolido.
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Este novo percurso de ascensão da cidade, vindo da Baixa e desembocando no Campo Grande, foi desde logo habitado pela burguesia emergente, que aí começou a construir os seus palacetes e prédios elegantes, tão típicos Lisboa do primeiro quartel do século XX.

É disto exemplo o prédio situado na Avenida da República, 97-97-C. Este imóvel (ao fundo e à dir. na 2ª imagem), bem como os dois imediatamente anteriores, estavam em vias de classificação como conjunto desde 11/12/1981. Um deles foi entretanto demolido, e a classificação dos dois prédios restantes passou a correr de forma individual, de acordo com as distintas características de cada um.
(IGESPAR, IP, 2011)

Avenida da República, 95-97 |1959|
Antiga Av. Ressano Garcia (1910)
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): imagem corrigida (invertida 
no abandalhado aml).

Sunday, 21 April 2024

Hotel Aviz (Palacete Silva Graça)

Já agora, anotemos o luxuoso Hotel Aviz, que se contém no quarteirão que segue para Sul — sugere o ilustre Norberto de Araújo.

Foi aqui o palacete que o director de «O Século», José Joaquim da Silva Graça, fez levantar em 1904 (desenhado para habitação pelo arq.º Ventura Terra), para sua moradia particular. Em 1919 José Rugeroni, genro de Silva Graça, adquiriu este palacete ao mesmo tempo que comprava «O Século»; em 1931 decidiu José Rugeroni converter o palacete, com seus jardins e anexos, num hotel de luxo.
O edifício foi então radicalmente transformado, segundo a orientação do seu proprietário, com o qual colaborou o arquitecto Vasco Regaleira
O Hotel, cujo levantamento só foi possível com o auxilio financeiro da Caixa Geral de Depósitos, foi inaugurado em 24 de Outubro de 1933.


Hotel Aviz (Palacete Silva Graça) |c. 1960|
Av. Cinco de Outubro com a Av. Fontes Pereira de Melo
Na fachada destaque para a enorme águia de asas abertas.
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente
Hotel Aviz (Palacete Silva Graça) |c. 1960|
 O palacete do antigo jornalista Silva Graça situava-se entre as ruas de Tomás Ribeiro,
Viriato, Latino Coelho e Avenida de Fontes Pereira de Melo.
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

O Hotel está recamado de arte na construção e decoração de sentido histórico no seu ambiente; é possível que pareça pretensioso, mas resultou bem o risco, até pela solução de vários problemas, nos quais a intenção e o bom gosto se poderiam chocar.

Um «hall» vistoso introduz num salão «Renascença» — grande vestíbulo — no qual se vê, à direita, um fogão, tipo de lareira portuguesa, com ricas colunas de madeira lavrada, peça que adveio da Vila de Santo António, à Junqueira, que pertenceu aos Burnays; sobre ele se colocou um brasão da Casa de Aviz. Do lado oposta vê-se um belo armário « Renascença», exemplar seiscentista que estava no Convento das Trinas; anota aquela formosa porta monumental ao fundo, e a balaustrada de ferrageria portuguesa antiga, peça que pertenceu à capela do Convento de Sacavém. Evidentemente todos estes exemplares beneficiaram de restauro. As sobreportas ostentam as armas e as divisas dos infantes da Ínclita Geração.

Hotel Aviz (Palacete Silva Graça) |c. 1960|
 Vestíbulo no qual se vê, à direita, um fogão, tipo de lareira portuguesa e balaustrada de ferrageria portuguesa antiga.
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente
Hotel Aviz (Palacete Silva Graça) |c. 1960|
 Salão «Renascença».
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

A Sala de Leitura, com mobiliário de estilo alentejanos, o «bar», no qual se notam baixos relevos históricos de Diogo de Macedo, e um sentido original no mobiliário, os terraços decorados com azulejos de tipo hispano- -árabe - definem já o « carácter e a fisionomia do Hotel.
As dependências e quartos, no primeiro pavimento, designam-se por «Suites», ou melhor — por correntezas — , que tomaram os nomes dos reis e príncipes da Casa de Aviz: D. João I, D. Filipa de Lencastre, D. Duarte, D. Pedro «Regente», Infante D. Henrique, Infante Santo e Infante D. João. As guarnições interiores dos aposentos são ricas, como arte aplicada. 
A Sala de Jantar situa-se no primeiro pavimento, abrindo dos jardins; há que destacar nela um grande painel de azulejos (Leopoldo Batistini) que reproduz uma das tapeçarias portuguesas de Pastraña (Espanha), além de outras decorações artísticas, de sentido histórico e etnográfico.
 
Como viste, o Hotel Aviz não está mal; este, e o Palace do Bussaco, constituem os dois únicos espécimes de hotel de luxo em Portugal.¹

Palacete Silva Graça depois Hotel Aviz  |c. 1905|
Perspectiva tirada do cruzamento da Av. Cinco de Outubro com a Rua Pinheiro Chagas na direcção da Av. Fontes Pereira de Melo. Do lado esq. nota-se o muro da Casa-Museu Doutor Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Palacete Silva Graça depois Hotel Aviz |c. 1908|
Perspectiva sobre os jardins do Palacete Silva Graça vendo-se a Av. Cinco de Outubro à dir. e a Rua Viriato à à esq...
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

N.B. O quarto número 72, com uma casa de banho extraordinária, ficou conhecido pelo Quarto Eva Perón; noutras épocas recebeu também Cecil B. DeMille. Além destes, passaram por lá Mastroianni, Sinatra, Ava Gardner, Maria Callas e outros. Calouste Gulbenkian viveu e morreu neste Hotel.
Durante a Grande Guerra também espiões alemães foram frequentemente instalados no Aviz, como o famoso Dusko Popov, e membros de famílias reais, como Humberto II de Itália, o futuro rei Juan Carlos de Espanha e o ex-rei da Roménia, Carol. Este último tinha abdicado do trono romeno sob pressão alemã, em 1940. Como estava sempre a ser seguido por membros da Gestapo durante a sua estadia no Aviz, nunca deixou o hotel antes de se mudar para a Casa Mar e Sol, no Estoril.
Hotel Aviz foi também o local do lendário jantar do duque de Windsor − antigo rei Eduardo VIII de Inglaterra − e da sua esposa Wallis Simpson. O jantar teve lugar a 30 de Julho de 1940, no dia anterior à sua partida a bordo do Excalibur para as Bahamas, onde lhe foi atribuído o cargo de governador por Winston Churchill. Os serviços secretos alemães planeavam raptar o duque, que simpatizava fortemente com a Alemanha nazi, nessa mesma noite. Mas os serviços secretos britânicos descobriram a Operação Willi e a trama nazi falhou.²
Demolido em 1962 erguem.se no seu lugar o “Edifício Aviz e o “Hotel Sheraton”.
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Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 81-82, 1939.
² LANGENS, Joke, Lisboa em 10 Histórias, 2022.

Friday, 19 April 2024

Rua Castilho esquina com a Rua Braamcamp: Edifício Castil

O topónimo Rua Castilho foi atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa, através de Deliberação Camarária de 06/05/1882.
 
António Feliciano de Castilho, foi um dos grandes escritores da primeira época do romantismo em Portugal, em conjunto com Garrett e Herculano. Notabilizou-se especialmente pela riqueza e expressão artística da linguagem. Castilho nasceu em Lisboa a 28/01/1800 e morreu em Lisboa a 18/06/1875.
 
Rua Castilho esquina com a Rua Braamcamp |1964|
Prédio demolido por volta de 1970. No mesmo local ergue-se, desde 1972, o Edifício Castil. 
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

O Edifício Castil, projectado no início dos anos 70, do séc. XX, (1970-1972), com risco do atelier de Conceição Silva, no qual também participou o arq. Tomás Taveira, surge como o primeiro grande centro comercial de Lisboa, afirmando-se pelo carácter pioneiro da sua concepção arquitectónica, ao estabelecer o diálogo entre o uso do vidro, que cobre a fachada do edifício, com linhas de acentuada verticalidade estrutural. Entre 1973 e 1988 albergou o cinema Castil
Este imóvel encontra-se classificado como Monumento de Interesse Público.

Edifício Castil |1976|
Rua Castilho, 39-39B; Rua Braamcamp, 42-46
Álvaro Campeão, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 14 April 2024

Calçada de Carriche: Posto de abastecimento de combustíveis

O Desfiladeiro de Carriche, denominação já do tempo da ocupação romana, deu lugar à Calçada de Carriche, topónimo derivado de pedra qualquer que seja a sua origem e no século XX até mereceu honra de ser o título de um poema de António Gedeão, de 1958.

Daí a três quartos de hora, já com os Crespos arrumados em cima de nós, água no radiador, o tanque cheio de gasolina, e uma decisão tremenda de irmos assim até ao Porto, até Paredes, até o cabo do mundo — já ao fundo da Calçada de Carriche, a dona Alzira dá um grito! Os freios guincham, pula o carro, e "que foi? que foi?" — a dona Alzira tem dúvidas pálidas, inquietações, terrores, crava-me as unhas todas num braço: não sabe se deixou o gás apagado e o contador fechado!
(MIGUÉIS, José Rodrigues, Léah E Outras Histórias, 1958)
Calçada de Carriche |1961|
Posto de abastecimento de combustíveis
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente
Calçada de Carriche |1961|
Posto de abastecimento de combustíveis
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Friday, 12 April 2024

Praça do Príncipe Real: a Patriarcal e a Praça do Rio de Janeiro

Foi sítio das «Obras do Conde de Tarouca», das «Casas do Conde de Tarouca» e das «Terras do Conde de Tarouca» (anteriormente a 1755); «Patriarcal Queimada» e «Largo das Pedras» (depois de 1769); «Obras do Erário Novo» (em 1810), «Erário Régio» (em 1813), «Covas da Patriarcal» e «Pedras da Patriarcal» (à roda de 1820); «Caboucos do Erário» (entre 1825 e 1849), «Praça do Príncipe Real» (em 1855, embora o edital camarário se publicasse em 1 de Setembro de 1859) e «Praça do Rio de Janeiro» (em 1910, edital de 5 de Novembro).

Praça do Príncipe Real: a Patriarcal e a Praça do Rio de Janeiro |entre 1908 e 1914|
Junto à Cç. da Patriarcal; ao fundo vê-se a embocadura da Rua da Escola Politécnica.
Destaque para o empedrado artístico no passeio em frente ao n.º 27. moradia (rés-do-chão e 2 andares), da riquíssima família Sommer. O seu primeiro proprietário foi José Ribeiro da Cunha, que aí viveu enquanto não lhe aprontaram o «prédio dos torreões».
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

As «Manas Perliquitetes», duas curiosíssimas figuras da Lisboa pacata século XIX, que moravam à Escola Politécnica, também deambularam pelo jardim e procuravam este lugar romântico, a cismar com o Amor, à espera dos seus cavaleiros andantes, que nunca se prostraram a seus pés. Mestre Matos Sequeira ainda conheceu estas celebridades de pitoresca excentricidade e a seu modo escreveu uma curiosa crónica, em que expande, com o maior interesse, a vida caricata das inofensivas manas, Carolina Amália e Josefina Adelaide Brandi Guido, descendentes de duas famílias de duas famílias de origem italiana, e que não puderam furtar-se ao lápis humorístico de Bordalo Pinheiro e à graça satírica das «revistas» da época. [Costa, Mário, 1959]

Sunday, 7 April 2024

Lavadeiras saloias no Campo Grande

Entre os trabalhadores de condição servil foram muito populares em Lisboa, onde deram origem a perfis profissionais bem definidos os seguintes: as lavadeiras saloias, vindas de Caneças ou de Loures, transportando-se em burricos ou em carroças com as suas enormes trouxas de roupa. [...]
As carroças das lavadeiras de Caneças estacionam nas velhas estalagens do Jardim do Regedor ou do Borratém, enquanto as boas mulheres se espalham na Cidade, de trouxa à cabeça.
(O POVO DE LISBOA: Tipos, Ambiente, Modos de Vida, Mercados e Feiras, Divertimentos, Mentalidade. 1979)

Campo Grande |190-|
Carroças transportando lavadeiras com suas trouxas de roupa.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Friday, 5 April 2024

Rua do Merca-Tudo

Mestre Júlio de Castilho atribui a origem deste topónimo a duas figuras diferentes: uma delas terá sido, segundo o autor de A ribeira de Lisboa, um tal Afonso Alves – de quem já aqui falámos. A outra será um João Fernandes a quem ele aqui se refere no fim deste texto na obra Lisboa Antiga: «Outras alcunhas deixam de ser épicas, e limitam-se apenas a ser gaiatas. Que o demonstrem: Diogo Lopes de Sousa, que pelo seu génio inquieto ficou o traquinas; Jorge de Sousa, no seculo xvi, a quem as damas do paço puseram o diabo, pelas muitas travessuras que lá fazia em pequeno; ou D. Gonçalo Annes Tello, a quem talvez as suas finuras deram o cognomento de o raposo; ou João Gomes, o cheira-dinheiro; ou João Fernandes, o Merca-tudo, que pela sua maravilhosa ganância, e pela sua astúcia em alborcar, conseguiu deixar nome a certa rua á Esperança, e entroncar-se em famílias ilustres».
(CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga, 1885)

Rua do Merca-tudo, venda ambulante |1950|
Tv. dos Pescadores (dir.); ao fundo nota-se a Av. D. Carlos I
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

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