Se a Praça Duque da Terceira já não tem os famosos cafés do tempo de Eça de Queirós, toda a zona é rica de edifícios e monumentos do século XIX. No centro daquela praça foi erigido em 1877 o monumento ao general conde de Vila Flor, duque da Terceira que libertou Lisboa do governo absoluto em 1833, obra do escultor Simões de Almeida.
Sigamos o olisipógrafo Norberto de Araújo em mais uma Peregrinação e «enfiemos ao Cais do Sodré, que aí temos alguma cousa que ver e outras para lembrar.
A Praça do Duque da Terceira é do meado do século passado [séc. XIX], e assenta sabre chãos que eram praia há menos de um século. A Praça Duque da Terceira constitui uma parte do Cais do Sodré, e não logrou absorver a velha designação mesmo na limitada área em que a Praça, com sua estátua, rigorosamente se contém». Recorda-nos ainda o mesmo autor que na denominação municipal «Cais do Sodré é a larga zona que abrange o Jardim Roque Gameiro e vai desde a Estação da linha do Estoril-Cascais até ao Corpo Santo», e ainda que as «designações «Cais do Sodré» ou «Praça dos Remolares» foram comuns durante muito tempo, antes de se erguer a Estátua; «Remolares», perdeu-se na oralidade. Há no povo uma atracção particularíssima para os vocábulos sonantes. «Sodré» — canta».
Praça Duque da Terceira |c. 1890| Cais do Sodré, antiga Praça dos Remolares Monumento ao Duque da Terceira À direita vê-se parte do prédio onde existiu o famoso Hotel Central, imortalizado por Eça de Queiroz em «Os Maias»; no piso térreo, o «jacobino» Café do Grego (depois Café Londres); ao centro, no gaveto nascente da Praça com a Rua do Alecrim vê-se o toldo do Alfaiate Rego (depois Café Royal). Como era costume naquela época, as inscrições do toldo e da fachada exibiam publicidade em inglês: Rego Tailor. O mesmo se pode constar do lado poente: Barbear Shaving Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
A primeira pedra deste monumento foi lançada em 24 de Julho de 1875; a inauguração solene realizou-se em 24 de Julho de 1877, no 44.° aniversário do desembarque do Duque da Terceira em Lisboa. A estátua é do cinzel de José Simões de Almeida, e o risco do monumento de José António Gaspar.O monumento é simples, discreto de linhas, com as suas quatro inscrições: «Guerra Peninsular 1808 a 1814» — «Campanhas da Liberdade 1826 a 1834» — «24 de Julho de 1833» — «Ao Duque da Terceira 1877», esta na face principal, sul.
A estátua homenageia o Duque da Terceira, António José de Sousa Manuel Menezes Severim de Noronha,
herói das guerras liberais, natural de Lisboa, Trata-se de uma estátua
de bronze, com altura de 3,30m, onde a figura do duque é representada em
traje militar, de rosto sóbrio e numa posição de chefia e comando. O
plinto de pedra em forma de prisma tem uma base mais alargada com friso
saliente junto ao chão de empedrado artístico de vidraço e friso duplo
saliente no final desta parte. No pedestal foi colocada uma folha de
palmeira e na parte superior deste plinto um brasão de armas coroado e
ladeado por ramos de oliveira. Este conjunto, de estátua e plinto, tem a
altura total de 9m.
A
estátua ao Duque da Terceira sofreu recentemente uma intervenção de
conservação e restauro, patrocinada pela Renault. O projecto,
acompanhamento e fiscalização da obra, da responsabilidade da Divisão de
Salvaguarda de Património Cultural/DPC/DMC da Câmara da Municipal de
Lisboa, ficou concluída em Fevereiro de 2015.
Monumentos e edifícios notáveis do distrito de Lisboa, vol. 5, Junta Distrital de Lisboa, p. 19, 1962.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, pp. 37-40. 1939.
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