Friday, 31 July 2020

Avenida Conselheiro Fernando de Sousa

Por requerimento de 1967 de D. Manuel Maria Ferreira da Silva, Arcebispo titular de Cízico, Bispo de Fabiana e director dos jornais “O Século”,  “Diário de Notícias”, “A Voz” e “Novidades” foi fixado o nome do Conselheiro Fernando de Sousa na Avenida «A» às Amoreiras.

Avenida Conselheiro Fernando de Sousa [1968]
Jornalista 1855-1942
Antiga Avenida «A»« às Amoreiras; cruzamento com a Avenida Engenheiro Duarte Pacheco
Artur Bastos, in Lisboa de Antigamente

Fernando de Sousa (1885–1942) seguiu a carreira militar alcançando em 1897 o posto de tenente-coronel mas demitiu-se em 1900 por, como católico, se recusar a bater-se em duelo. Também concluiu o curso de engenharia em 1876 que lhe permitiu ter sido director-geral dos Trabalhos Geodésicos bem como desenvolver carreira enquanto Eng.º ferroviário.
Como jornalista usou algumas vezes o pseudónimo Nemo e ficou conhecido por ter dirigido os jornais «Gazeta dos Caminhos-de-Ferro», «Correio Nacional» (1897-1901), «A Palavra», «Portugal», «A Ordem», «A Época» (1919-1927) e «A Voz» (1927-1942). [cm-lisboa.pt]

Avenida Conselheiro Fernando de Sousa [c. 1968]
Jornalista 1855-1942
Antiga Avenida «A»« às Amoreiras; cruzamento com a Avenida Engenheiro Duarte Pacheco
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 26 July 2020

Estação do Rossio: rampa para o Largo do Duque do Cadaval

Na noite de sete de Março de 1914, Fernando Pessoa, poeta e fingidor, sonhou que acordava. Tomou o café no seu pequeno quarto alugado, fez a barba e vestiu-se com esmero. Enfiou a gabardina, porque lá fora chovia. Quando saiu faltavam vinte minutos para as oito, e às oito em ponto estava na estação do Rossio, na plataforma de comboios com destino a Santarém.
(Antonio Tabucchi. «Sonho de Fernando Pessoa, poeta e fingidor». Sonho de Sonhos, 1914)

Estação do Rossio:  rampa para o Largo do Duque do Cadaval  [c. 1900]
A Estação Central da C. P. do Rossio — traço do arq.º Luis Monteiro — começada a construir em 1887 é inaugurada em 1888.
Fotógrafo não identificado,in Lisboa de Antigamente

Palmilhei a rampa que leva à Estação. Por entre o tropel de passageiros golfados do último comboio, proveniente lá do calcanhar de Judas, enxerguei ao alto, para as Escadinhas do Duque, uma lanterna vermelha que me acenava com quartos de pernoitar.
(RIBEIRO, Aquilino, Lápidees Partidas, 1969)

Rampa da Estação do Rossio [c. 1940]
Calçada do Carmo; Calçada Duque
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Calçada Duque (de Cadaval) Esta via pública começou a chamar-se Calçada do Duque — recorda Vieira Silva— , até à Rua da Condessa, depois que o Duque de Cadaval tomou de aforamento em 1699 uma extensa propriedade, que descrevemos, cuja frente sul confinava com a calçada. Da Rua da Condessa para cima chamava-se Rua do Postigo de S. Roque, ou Calçada de S. Roque. Em 1780 ainda assim acontecia, como pode ver-se na planta da Freguesia do Sacramento que faz parte do Plano de Divisão e Translação das Parochias de Lisboa, aprovado pelo alvará régio de 19 de Abril desse ano. Actualmente o nome Calçada do Duque aplica-se à via pública em escadaria que começa na Calçada do Carmo, no alto da segunda rampa de acesso à estação de Caminho de Ferro do Rossio [vd. imagem abaixo], e termina no Largo Trindade Coelho antigo de S. Roque.
(VIEIRA DA SILVA, Augusto, A Cerca Fernandina de Lisboa, 1987)

Estação do Rossio: acesso superior virado ao Largo do Duque de Cadaval  [1928]
A Estação Central da C. P. do Rossio — traço do arq.º Luis Monteiro — começada a construir em 1887 é inaugurada em 1888.
Legenda da foto no arquivo: «Romenos vindos do Brasil, acampados na estação do Rossio»
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Friday, 24 July 2020

Avenida Engenheiro Duarte Pacheco

Esta artéria homenageia aquele de quem se dizia entusiasticamente nas ruas de Lisboa dos anos 30 que, «com Pacheco, enquanto houver casa de pé, a revolução continua».
Duarte José Pacheco (1899-1943), licenciou-se em engenharia Electrónica, no IST, com 19 valores e este jovem professor do Instituto Superior Técnico desde 1922 — e seu director a partir de 1924 — foi eleito presidente da Câmara de Lisboa com apenas 29 anos, em 1928, ano em que também entrou pela primeira vez no Governo, com a pasta da Instrução Pública.
Quatro anos mais tarde, em Julho de 1932, foi nomeado ministro das Obras Públicas e Comunicações, pasta que tutelou até à sua trágica morte num desastre de viação. 

Avenida Engenheiro Duarte Pacheco |1958|
Instalações abastecedoras de gasolina da SONAP
Auto-estrada Lisboa-Cascais; Parque Florestal de Monsanto; Viaduto Duarte Pacheco
Almeida Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Considerado um visionário, desejava fazer de Lisboa a capital do Império, sonho que veio a concretizar com a Exposição do Mundo Português, em 1940, símbolo emblemático do apogeu do Estado Novo e dos seus valores. 
 
Avenida Engenheiro Duarte Pacheco |1967|
João Brito Geraldes, in Lisboa de Antigamente
Avenida Engenheiro Duarte Pacheco |1968|
Edifício Philips
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente
Notas(s):Infelizmente a imagem é de baixa qualidade/resolução, graças ao paupérrimo trabalho de digitalização efectuado pelo Arquivo Municipal de Lisboa (AML) hoje completamente ao abandono.

Foi responsável por obras tão importantes como a Estrada Marginal Lisboa-Cascais, as Avenidas Novas, o Parque de Monsanto e o Estádio Nacional.
O Viaduto Duarte Pacheco foi inaugurado em 1944. [cm-lisboa.pt]

Avenida Eng.º Duarte Pacheco |c. 1955|
Antigo edifício-sede da Fiat Portuguesa
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 19 July 2020

Antigamente, «fazia-se a Avenida»

A Avenida da Liberdade, inaugurada em 1885, ou a Avenida, como quase logo passou a ser designada, foi um lugar em si mesmo. Nos últimos anos do século XIX e até à proclamação da República, «fazia-se a Avenida» como se fazia a Rua do Ouro e o Chiado: para passear, ver e ser visto, numa ritualização do passeio urbano cujas características eram ainda românticas.

Avenida da Liberdade [c. 1900]
Eixo Praça da Alegria-Rua das Pretas
 «Bom e barato / Bom Barato / Cada Pacote / Custa um pataco.»
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O ajardinamento das placas laterais (que salvaguardaram espécies do Passeio Público e alguns dos seus elementos decorativos, como os pequenos lagos), a amplitude do espaço de andar e a quase ausência de trânsito explicam que a Avenida tenha sido, de facto, a mesma espécie de palco que fora o Passeio Público, mas sem muros nem portões de acesso, democratizando o passeio e a fruição de espectáculos ocasionais de Verão.
(SILVA, Raquel Henriques da, O Livro de Lisboa: O Passeio Público e a Avenida da Liberdade, 2006)

Friday, 17 July 2020

Rua Pascoal de Melo

A Rua "de" Pascoal de Melo — rasgada cerca de 1880 —, foi um topónimo atribuído por edital de 08/06/1889, na artéria até aí conhecida como Rua Pascoal José de Melo. Por parecer da Comissão Municipal de Toponímia, homologado pelo Vice-Presidente da CML em 16/04/1951, foi suprimida a partícula “de” nos letreiros toponímicos deste arruamento, ficando Rua Pascoal de Melo.

Rua Pascoal de Melo [1929-11-02]
Cruzamento com a Av. Almirante Reis; à direita, vê-se parte do antigo edifício da Cervejaria Portugália.
Legenda da foto no arquivo:«Aspecto do funeral do dr. António José de Almeida a caminho do cemitério»
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A Câmara pretendeu homenagear Pascoal José de Melo (1738–1798), ilustre jurisconsulto que se formou com apenas 19 anos em Leis na Universidade de Coimbra e onde ficou a ensinar até 1783, ao ser chamado a Lisboa para membro da Junta do Novo Código. Foi também desembargador da Casa da Suplicação (1758), conselheiro régio (1793). A sua obra fundamental «Institutiones Juris Civilis Lusitani» (1798) foi adotada para a cadeira de Direito Pátrio, sendo considerado uma das mais significativas expressões da reforma pombalina de 1772 e da ciência jurídica portuguesa oitocentista. [cm-lisboa.pt]

Rua Pascoal de Melo [c. 1910]
Junto ao Jardim Constantino na direcção do Largo de Dona Estefânia
in Lisboa nos Passos de Fernando Pessoa de Marina Tavares Dia, 2012

Sunday, 12 July 2020

Edifício-sede da Casa José Domingos Barreiros

Ali tens, no tôpo do Largo, a sede da importante casa José Domingos Barreiros, Limitada, em edifício próprio, tão elegante como decorativo, que ampara uma larga rêde de instalações e armazéns. Este prédio foi erguido há pouco mais de dez anos; o átrio e a escadaria revestem-se de azulejos (1928) de A. Moutinho, que dão cenas da Quinta das Varandas.


Arquitectura de armazenamento, oitocentista — funcionou entre 1896 e o final do séc. XX — , a Casa José Domingos Barreiros, fundada no último quartel do séc. XIX pelo comerciante que deu nome à firma, dedica-se ao armazenamento e comércio de vinhos. A expansão da actividade, no início do séc. XX, conduziu ao aumento da área de armazenagem, ocupando parte dos terrenos da antiga firma Cunha Porto, segundo risco do arq. Edmundo Tavares. Em 1917/18 foi dotada de meios mecânicos para mobilizar os produtos dentro dos amplos armazéns, através da integração de um ramal de caminho-de-ferro com cerca de 20 vagões particulares. Em 1922 e 1932 esta firma participou em dois eventos, respectivamente a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, com mostra de vinhos tinto, branco, claretes e rosés, e a Feira de Amostras de Produtos Portugueses de Angola e Moçambique. 

Casa José Domingos Barreiros [1961]
Praça David Leandro da Silva, n.º 28; Rua Fernando Palha, n.º 3-23; Rua Zófimo Pedroso
Augusto Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Trata-se de um amplo armazém implantado num quarteirão irregular, constituído por vários sectores distintos: a Sede, cuja fachada de aparato [1928], profusamente decorada e dinamizada pela introdução de vários tipos de vãos, revela um gosto eclético por elementos clássicos e barrocos; a zona dos armazéns virada a Norte, menos exposta ao sol, caracterizada por ser um espaço muito amplo com cobertura em vigamento de madeira, que actualmente apresenta a zona inferior seccionada em várias oficinas; e a zona residencial, a Sul, onde habitavam os empregados, ocupando dois pisos, o 2º e o sótão, com acesso pelo exterior, mas também ao interior. É de referir, ainda, na zona posterior, a existência de ampla varanda sobre o pátio de acesso aos armazéns, que permitia o controlo das saídas dos produtos. No interior, (átrio e escadaria), encontramos revestimento azulejar, datado de 1928, com representação de parras e uvas, da autoria de A. Moutinho.

Casa José Domingos Barreiros [1961]
Praça David Leandro da Silva, n.º 28; Rua Fernando Palha, n.º 3-23; Rua Zófimo Pedroso
Augusto Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, p. 78, 1939.
Marília e CONSIGLIERI, Carlos, O formoso sítio de Marvila, Lisboa, Junta de Freguesia de Marvila, 2002.

Friday, 10 July 2020

Calçada do Baltazar

Tem início no cruzamento da Calçada da Quintinha com a Calçada dos Setes Moinhos e termina na linha-férrea do ramal de Alcântara, sendo vulgarmente conhecida pelas denominações de Calçada e Caminho de Baltazar.
Segundo opinião de Orlando Capitão, (antigo Membro da Comissão Municipal de Toponímia) diz-nos:
“A indicação de topónimos com nome de pessoas e com este reduzido à sua expressão mais simples apenas o nome próprio ou um apelido, se perfeitamente perceptível no momento da atribuição, pode tornar-se insuficiente, pouco tempo depois, quando da correspondente placa toponímica conste apenas esse nome simplificado. Como a memória é curta, duas ou três gerações depois, muito pouca gente saberá de quem se trata. Poderão estar neste caso topónimos como: [...] Calçada do Baltazar [...]”. [cm-lisboa.pt]

Calçada do Baltazar [190-]
Aqueduto das Águas Livres; Viaduto ferroviário de Santana de Baixo sobre as Avenidas Calouste Gulbenkian e de Ceuta (esq).
Paulo Guedes,  in Lisboa de Antigamente

Sunday, 5 July 2020

Sessão de patinagem na Garagem Auto-Palace

A patinagem é o género de sport que mais tem custado a aclimar entre nós — noticiava a Ilustracao Portugueza em 1908 — , tendo falhado sempre as tentativas que com esse fim têm sido feitas em varias ocasiões. Desta vez, porém, torna-se muito provável que ela crie definitivos foros de cidade em Lisboa. Pelo menos as sessões de patinagem, que se realizam desde há algum tempo no Auto-Palaceentusiástica concorrência de amadores, que parece nas melhores disposições de manter-se.
A patinagem é sempre um sport dos mais elegantes, e é por isso com satisfação que o vemos em vésperas de conquistar um papel preponderante nos hábitos da nossa sociedade mundana, que começa a reunir-se já no Auto-Palace em grande numero para o praticar.[...]

Sessão de patinagem na Garagem Auto-Palace [1908]
Rua Alexandre Herculano
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Entre os cultores mais ferventes que a patinagem tem já contam-se, como mostram as nossas fotografias, as sr." condessa de Jimenez y Molina e sua filha D. Angela, as sr." D. Maria Guell y Bourbon, D. Mercedes Macuriges, D. Marjorie Villiers e D. Guadalupe de Castro, e os srs. barão de Wredenburch, José de Sousa Alte, Eduardo Romero, Jorge Bleck, E. Maia Cardoso, Eduardo Ferreira, Castro Silva, Carlos Maria, etc.. [Ilustração Portuguesa, 1908, 9 de Março]

Sessão de patinagem na Garagem Auto-Palace [1908]
Rua Alexandre Herculano
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em Portugal a notícia mais remota de uso de Patins é-nos relatada por Paulo Soromenho, que nos meados do ano 1873, a D. Maria Pia apresentou os primeiros patins de rodas que se conheceram. Outros relatos dessa época dão-nos conta da existência de patins no Palácio de Mafra trazidos de Paris. Dizem que o quarto de D. Maria II ficava tão longe da biblioteca que a Rainha fazia o percurso de patins. Mais tarde, o Rei D. Carlos também se tornou adepto da modalidade.
Desde as suas origens a patinagem está directamente ligada aos elegantes e aristocráticos da sociedade Portuguesa, que se juntavam em ringues públicos para deslizar ao som de música.

A patinagem artística entrou em Portugal no século XIX e cativou logo a elite, que se juntava em ringues públicos para deslizar ao som de música [s.d.]
Fotografia anónima

Friday, 3 July 2020

Palácio dos Condes de Vimieiro

Este palacete, de discreta aparência, defronte da Biblioteca Nacional, quási ao começo da Rua Ivens, n.° 10 [actual Largo da Academia Nacional de Belas Artes], onde está instalada desde 1914 a Companhia de Moçambique, é uma edificação do século passado [XIX], que se distingue pela sumptuosidade de algumas salas — uma adornada de ricos espelhos e duas de boas pinturas-e ainda pela magnífica vista panorâmica que da sua fachada nascente se desfruta, sobre o rio e sobre a Baixa e Castelo.

Palácio dos Condes de Vimieiro [193-]
Largo da Academia Nacional de Belas Artes, 10
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Foi aqui, até ao Terramoto, o palácio dos Condes de Vimieiro, em casas que no século XVI pertenciam ao fidalgo Martim Afonso de Sousa, senhor de Alcoentre, do conselho de D. João III, que foi governador da Índia, avoengo dos Vimieiros, os quais, pelo titulo Faro, constituíam um ramo da Casa de Bragança; nesse palácio habitava em 1578 o Cardeal Rei, D. Henrique, e em Junho de 1579 nele reuniram as Côrtes.
O prédio pertence ao Visconde de Coruche [em 1039].

Palácio dos Condes de Vimieiro [1968]
Largo da Academia Nacional de Belas Artes, 10
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, pp. 22-23, 1939.
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