Sunday, 28 January 2024

Avenida da República: antigo Viaduto de Entrecampos

Até 1950 — ano da inauguração do novo viaduto de Entrecampos — o trânsito automóvel e pedonal nas Avenidas da República e 5 de Outubro, processava-se através de pequenos túneis sob a Linha Férrea de Cintura de Lisboa
Segundo afirma Norberto de Araújo («Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 63-64») «A linha férrea foi aqui assente em 1890, e inaugurada a 11 de Junho; este viaduto e o da Avenida Cinco de Outubro, são posteriores, e do nosso século. Devo dizer-te, porém, que já em 1873 (inaugurada em 1 de Outubro), corria aqui uma linha pelo sistema Larmanjat, que pouco tempo durou.»

Avenida da República |1934-04-19|
Antigo Viaduto de Entrecampos, lado N.; em cima, à esquerda, um apeadeiro(?) do lado do Campo Pequeno; à direita, o edifício da Avenida da República, 97-97C.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Avenida da República sob Linha Férrea de Cintura de Lisboa junto à Rua de Entrecampos |1926-06-17|
Ao fundo nota-se a antiga Estação ferroviário e a passagem de nível de Entrecampos.  Até 1950, do lado do Campo Pequeno e da Avenida Cinco de Outubro [vd. última imagem], o trânsito automóvel e pedonal, processava-se através de pequenos túneis sob a Avenida da República.
Legenda no arquivo: «As estações de caminhos-de-ferro tomadas militarmente durante o Golpe de Estado de 1926»
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Assim, em 17 de Novembro de 1950, foi inaugurada a passagem inferior da Av. da República, depois de removidas as terras do antigo aterro ferroviário, resolvendo deste modo um problema que se arrastava desde a construção da Av. Ressano Garcia (hoje Av. República) no início do século XX.
 
Avenida da República,  lado S. |1944-04|
Túneis sob o antigo Viaduto de Entrecampos.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Avenida Cinco de Outubro,  lado S.  junto ao Mercado Geral de Gados depois Feira Popular |1944-04|
Túnel sob o antigo Viaduto de Entrecampos. Á dir. nota.se a torre da Igreja de N. S. de Fátima sita na Av. de Berna.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Friday, 26 January 2024

Largo dos Jerónimos: Calçada do Galvão e o antigo Jardim Colonial

Do Largo dos Jerónimos saem a poente a Rua dos Jerónimos também de Belém antiga que morre na confluência da Rua das Pedreiras e Estrada dos Pocinhos, já subúrbios campestres e a nascente a Calçada do Galvão (António José Galvão , oficial maior da Secretaria de Estado dos Estrangeiros e da Guerra) que conduz ao Cemitério da Ajuda e às terras de Pedro Teixeira, em rigor arredores de Lisboa dentro de Lisboa.


Este topónimo homenageia António José Galvão, oficial-mor do Corpo de Sua Majestade (Intendente das Polícias). No nº 25-27 deste arruamento encontra-se a «Casa do Galvão», casa nobre de gosto barroco, construída numa quinta doada, em 1758, pelo rei D. José I a António José Galvão.

Calçada do Galvão |1941|
Perspectiva tomada do Largo dos Jerónimos; à direita, o Jardim Botânico Tropical, criado por Decreto Régio em 25 de Janeiro de 1906, pelo Conselheiro Moreira Júnior (Ministro da Marinha e Ultramar), sob o nome de Jardim Colonial.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Aqui temos o portão do jardim Colonial [actual Jardim Botânico Tropical — recorda Norberto de Araújo — , área arborizada e ajardinada com cerca de cinco hectares que constitui um admirável Parque científico e cultural de Lisboa.
Este belo logradouro botânico (a Cerca do Paço ou Palácio de Belém) foi o Regius Hortus Suburbanus, de «singular recreação», construído por D. João V [...] Este portão de ingresso e cortina gradeada, foram inaugurados em 1936, apesar de uma legenda de azulejo embebida no muro apresentar a data de 1927 (começo das obras, logo depois interrompidas); substituem a muro velho e portão de madeira da Cerca.
Quanto ao Jardim Colonial, foi criado em Janeiro de 1906 pelo Jardim Colonial então Ministro da Marinha e Ultramar, Dr. Moreira Júnior como dependência do Instituto de Agronomia, e instalou-se primeiramente (1907) no Jardim Zoológico
Como esta Cerca desde 1910 se encontrava quási ao abandono, foi para ela transferido o Jardim Colonial em Junho de 1912, mas só em 1914, após montagem de aparelhos de aquecimento nas novas estufas , a instalação se realizou em definitivo , já com novas alamedas abertas e com o traçado paisagista rectificado.

Largo dos Jerónimos |1939-03-06|
Ao fundo nota-se o portão do antigo Jardim Colonial, actual Jardim Botânico Tropical, criado por Decreto Régio em 25 de Janeiro de 1906.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Este Jardim é rico de espécies — acrescenta Araújo — , abundando as palmeiras, cedros, eucaliptos e casuarinas, entre plantas e arbustos de flora tropical e subtropical, tudo num delicioso conjunto, raro em Lisboa, envolvendo regatos, lagos, estufas, cascatas, tanques, grupos escultóricos e abrigos de meia sombra.==

 Antigo Jardim Colonial, actual Jardim Botânico Tropica |1961|
O plano inicial do Jardim foi concebido no reinado de D. Carlos I e a sua instalação foi dirigida por Henry Navel, jardineiro paisagista francês, que conseguiu aliar os aspectos educativos, que norteavam a sua criação, aos paisagistas. 
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 91-93, 1939.

Sunday, 21 January 2024

Palacete Contreiras

Mandado construir em 1889 pelo oficial da Marinha e meteorologista meteorologista do Observatório da Tapada da Ajuda José Augusto Alves do Rio, o Palacete Contreiras manteve-se como residência particular até meados dos anos 70 do século passado, altura em que a Embaixada Britânica o adquiriu para acolher o British Council (Palacete do Menino de Ouro).
Palacete de planta compacta, com cobertura em telhado a 4 águas e clarabóia, de 4 frentes, (hoje) 3 delas articuladas com eixos viários, definindo parte de quarteirão. Em posição fronteira ao Palacete do Menino de Ouro.
Alguns tectos dos compartimentos do andar nobre apresentam-se decorados com pintura mural, um deles com uma cena figurativa representando dois «putti» (meninos) e com a assinatura S. Ordonez.
Em 1952, o palácio encontra-se na posse de Rita Barros e Sá Contreiras; c. 1976/77 é vendido pelos descendentes de José Augusto Alves do Rio à Embaixada Britânica, que aí instala outros serviços do British Council (antes no próximo Palacete do Menino de Ouro).

Nota(s): Imóvel ou conjunto com valor tipológico incluído na Zona Especial de Protecção do Bairro Alto. {monumentos.pt]
Entretanto foi recuperado e convertido em edifício Residencial Contreiras Palace, composto por  apartamentos de luxo.

Palacete Contreiras |c. 1900|
Rua de São Marçal, 174;Travessa de São Francisco de Borja; Rua Cecílio de Sousa, 61-65; Travessa da Procissão
A 1ª transversal é a parte final da antiga Travessa de São Francisco de Borja que ligava à Rua Cecílio de Sousa (antiga Rua da Procissão). Este troço foi vedado mais tarde e o troço restante entre a Rua Monte Olivete e a Rua de São Marçal tomou a designação de Rua Luís Fernandes. A transversal mais abaixo é a Travessa da Procissão.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

N.B. Após o terramoto de 1755 e do incêndio que se lhe seguiu Lisboa viu proliferar nas fachadas das casas, um pouco por toda a cidade, os registos de azulejos com São Marçal, advogado contra incêndios e patrono dos bombeiros, pode-se formular a hipótese de que o topónimo seja como que um registo no mesmo sentido.

Rua de São Marçal |c. 1900|
Travessa de São Francisco de Borja; Rua Cecílio de Sousa, 61-65; Travessa da Procissão
A 1ª transversal é a Tv. Monte do Carmo  seguida pela extinta Rua Cecílio de Sousa
(esq.) com o Palacete Contreiras e Rua Luís Fernandes à dir. defronte do Palacete
Palacete do Menino de Ouro (British Council).
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Friday, 19 January 2024

Ruas Braamcamp e Rodrigo da Fonseca

Cena de rua nos alvores do séc. XX no encontro das ruas Braamcamp e Rodrigo da Fonseca — ainda pouco mais do um beco sem saída, por esta altura — , em que participam o padeiro, a criada de servir, o vendedor de hortaliças no seu burrico; o trolha e o pintor dando os últimos retoques no prédio nº 84 da Braamcamp, e, em primeiro plano, o omnipresente leiteiro.

Ruas Rodrigo da Fonseca e Braamcamp (gaveto sul) |c. 190-|
Estas novas artérias foram rasgadas por no final do séc. XIX.  Era a R. do Vale do Pereiro cujo nível foi materialmente dragado até encontrar no seu próprio fundo o actual pavimento da R. Braamcamp.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Vinte e seis anos após o seu falecimento foi o político liberal Rodrigo da Fonseca (1787-1858) fixado como topónimo na antiga Azinhaga do Abarracamento do Vale de Pereiro por Edital camarário de 4 de Março de 1884, artéria que só ficou completamente concluída no séc. XX, na década de trinta.

Ruas Rodrigo da Fonseca e futura Braamcamp vista da actual R. Alexandre Herculano |c. 1900|
A casa apalaçada e o prédio com o actual n.º 15 foram demolidos para implantação das novas vias, sendo que o prédio à dir. ainda se mantinha de pé nos anos de 1960. Neste local, além de nova construção, existe hoje um pequeno espaço verde separando aqueles dois arruamentos.
Machado & Souzas, in Lisboa de Antigamente

A CML, através do seu Edital de 10/01/1888, consagrou na sua toponímia o político alfacinha Anselmo José Braamcamp (1819-1885) atribuindo o seu nome ao arruamento da cidade com início na Praça Marquês de Pombal e fim na Rua Alexandre Herculano.

Sunday, 14 January 2024

Avenida Vinte e Quatro de Julho: velhas inundações, novíssimo Mercado

O novo Mercado da Avenida 24 de Julho ou Mercado da Ribeira Nova, como também ficou conhecido, foi projectado pelo engº Ressano Garcia. Tinha 10 mil metros quadrados de área coberta e foi inaugurado em 1 de Janeiro de 1882. Em 1893 foi parcialmente destruído por um incêndio e acabou por ser demolido em 1926.
A reconstrução, ficou a cargo do arqº João Piloto e ficou concluída em 1930, com a instalação da cúpula com um lanternim.
Os lisboetas ficaram tão espantados ao verem uma cúpula num mercado decorado com frescos com motivos hortícolas pintados pelo italiano Gabriel Constanti que lhe chamavam a «Mesquita do Nabo».

Avenida Vinte e Quatro de Julho |1929-12-05|
Antiga Rua 24 de Julho e antes Aterro da Boavist
a
|Praça Dom Luís I; Mercado da Ribeira
.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Avenida Vinte e Quatro de Julho |1932-12-09|
Antiga Rua 24 de Julho e antes Aterro da Boavist
a
Mercado da Ribeira em fase final de construç
ão.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Na sessão da C.M.L. de 10/02/1862 foi apresentada uma proposta no sentido de que no Aterro da Boavista no terreno confinante, pelo norte com a Casa da Moeda, pelo sul com o Tejo, pelo nascente com o Forte de São Paulo e pelo poente com a Rua 24 de Julho, se formasse uma Praça e que a mesma tivesse a denominação de Praça Dom Luís I. O topónimo Praça de Dom Luís I foi atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa após Deliberação Camarária de 10/02/1862.
A Comissão Consultiva Municipal de Toponímia, na sua reunião de 19/01/1950, propôs alterar os nomes da Praça Dom Luís I e da Rua Dom Luís I, para Praça e Rua Marquês de Sá da Bandeira, em virtude de existir na praça um monumento ao ilustre fidalgo. Esta alteração nunca se efectivou e o marquês foi homenageado na toponímia, mas nas freguesias de Nossa Senhora de Fátima e São Sebastião da Pedreira.

Avenida Vinte e Quatro de Julho |1932-09-21|
Antiga Rua 24 de Julho e antes Aterro da Boavist
a
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Avenida Vinte e Quatro de Julho |1929-12-05|
Antiga Rua 24 de Julho e antes Aterro da Boavist
a
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Friday, 12 January 2024

Rua Acúrcio das Neves

Por edital de 31-03-1932, foi inscrita a Rua José Acúrcio das Neves, na freguesia do Alto do Pina, na antiga Rua 7 do Bairro dos Aliados.

José Acúrcio das Neves (1766-1834) foi Director da Real Fábrica das Sedas, tendo antes sido desembargador na Relação do Porto. O seu pensamento político-económico ficou gravado em obras como os 5 volumes da «História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal e da restauração deste Reino» (1810-1811), os 2 tomos de «Variedades sobre Objectos Relativos às Artes, Comércio e Manufacturas» (1814 -1817), «Considerações Políticas e Comerciais sobre os Descobrimentos e Possessões dos Portugueses na África e na Ásia» (1830).

Rua Acúrcio das Neves |1961|
Escadinhas que ligam esta artéria à Rua Garrido; o arruamento tem início Rua Barão Sabrosa e finda na Rua Abade Faria
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente
Rua Acúrcio das Neves |1961|
Escadinhas que ligam esta artéria à Rua Garrido; o arruamento tem início Rua Barão Sabrosa e finda na Rua Abade Faria
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 7 January 2024

Avenida da República; gelados «Esquimaux»

«Olha o esquimó fresquinho!»

Foi com a fábrica Esquimaux que os lisboetas passaram a chamar «esquimó» ao gelado vendido em dose certa. Estava-se na década de 1930 e a designação permaneceu ao longo dos primeiros anos do segmento de mercado agora chamado «de impulso», com as marcas Olá e Rajá Olh'ó Rajá fresquinho, é fruta ou chocolate! — nas décadas de 1960 e 1970.¹

Avenida da República |1936|
Carro publicitando a marca de gelados «Esquimaux».

Ferreira da Cunha, in in Lisboa de Antigamente

Estes gelados e sorvetes, em copo, cone e cassata eram distribuídos por funcionários vestidos a rigor conduzindo triciclos. Eram produzidos pel'A Sibéria-Fábrica de Gelo, Gelados e Esquimaux (Marca Registada) com sede na Rua de Dona Estefânia, 205.

Triciclo com a marca de gelados «Esquimaux» |c. 1940|
Prove um e verá o que é bom.
Autor desconhecido, in in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ DIAS, M. Tavares, Lisboa Desaparecida, vol 8, 2003.

Friday, 5 January 2024

Assentamento de linhas de tracção eléctrica: Alcântara

A 5 de Junho de 1897 foi assinado um contrato entre a Câmara Municipal de Lisboa e a CARRIS para substituir o sistema de tracção animal por um sistema de tracção eléctrica por condutores aéreos.
No ano de 1900, iniciaram-se os trabalhos de modificação e assentamento de linhas, de instalação da rede aérea e de construção na zona de Santos da Central Eléctrica Geradora destinada a fornecer energia para o novo sistema de tracção. A 31 de Agosto de 1901 foi inaugurado o serviço de eléctricos.

Rua Prior do Crato, 134 |c. 1900|
Assentamento de linhas de tracção eléctrica.
Nota(s): local da foto não está identificado no arquivo da Carris.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Rua Presidente Arriaga, 124 |c. 1900|
Assentamento de linhas de tracção eléctrica.
À esq. nota-se a Igreja de São Francisco de Paula e, bem ao fundo à dir., vislumbra-se o Convento de S. João de Deus (GNR)
Nota(s): local da foto não está identificado no arquivo da Carris.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
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