E já agora, duas palavrinhas acerca do Paço de D. Leonor, de Santo Elói ou S. Bartolomeu (pois não houve senão lindos Lolós um com duas designações locais). A solução do problema da sua localização — adianta Norberto de Araújo — deu-a o historiador Anselmo Braamcamp Freire, em termos irremissíveis, e ante uma argumentação documentada. Assentava no extremo deste Largo dos Lóios, num triângulo contido pelas antigas e desaparecidas Rua da Amargura, Rua de Jerusalém (que corria ao meio longitudinal do actual Largo) e Adro de S. Bartolomeu. Isto é: a ponta extrema do Paço ou Casas entrava pela actual Rua Bartolomeu de Gusmão (até há pouco de S. Bartolomeu), e que é esta que aqui corre subindo para o Castelo, correspondendo sensivelmente a setecentista Rua Direita das Portas da Alfofa.
Do Paço da Rainha, mulher de D. João II, [o Príncipe Perfeito], a excelsa fundadora das Misericórdias, residência que teve larga história realenga, tocada de certa poesia e envolta em relativa grandeza, que não ostentação — nada existe.
A Rua de São Bartolomeu passou pelo Edital de 13 de Dezembro de 1911 a denominar-se Rua Bartolomeu de Gusmão, com a legenda «Inventor dos Aeróstatos 1675–1724», em homenagem ao criador da Passarola Voadora, embora mais de 40 anos depois a legenda tenha passado a «Precursor da Aeronáutica 1675–1724» de acordo com o parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 24 de Julho de 1958.
Este arruamento homenageia Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685–1724), filho dum modesto cirurgião-mor de presídio, Francisco Lourenço, e de sua mulher, Maria Álvares.
Nascido em Santos, S. Paulo, no Brasil, fez estudos no Seminário jesuíta de Belém, na freguesia de Cachoeira, Capitania da Baía, onde se ordenou. Desde muito cedo se interessou pelo estudo da Física, tendo concebido uma máquina de elevação de água a 100 metros de altura, no Seminário de Belém. Em 1701 veio para Portugal.
Quando se matriculou na Faculdade de Cânones de Coimbra, em 1 de Dezembro de 1708, com o nome de Bartolomeu Lourenço, já como sacerdote, desconhecia-se, ainda, a célebre figura em que se tornaria, no ano seguinte, devido ao prodigioso invento de um aeróstato, recebendo, por isso, o epíteto de “padre voador”. Era o primeiro balão de papel que se ergueria no ar, sem fazer grande voo, tendo recebido do Rei D. João V a exclusividade da construção de “máquinas voadoras”. A primeira apresentação pública, feita em Lisboa, no Palácio Real, não teve sucesso e o balão ardeu, sem ter feito qualquer voo. Só numa segunda tentativa, em 8 de Agosto de 1709, se ergueu no ar, em voo de 4 metros de altura. A ”passarola voadora”, de que se conhecem diversos desenhos e gravuras, não seria mais do que um projecto que o engenhoso inventor nunca chegou a construir.
Rua Bartolomeu de Gusmão |1949| Precursor da Aeronáutica [1685-1724] (legenda de 195-) Antiga de São Bartolomeu antes Direita das Portas da Alfofa. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Durante a segunda metade do século XVIII difundiu-se a ideia de que o próprio Bartolomeu de Gusmão teria efectuado um voo num aeróstato por ele construído, entre o Castelo de S. Jorge e o Terreiro do Paço, mas trata-se de uma lenda, não há documentos que registem esse acontecimento e as suas experiências teriam avivado a imaginação popular a tal ponto que ele seria alvo de chacota.
____________________________________________Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, pp. 65-66, 1938.
Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", 1948.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, pp. 65-66, 1938.
Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", 1948.