Sunday 13 December 2015

Rua do Arco do Cego

Entre o Campo Pequeno e Arroios existiu um arco de pedra, — e esse arco, chamado, não se sabe porquê «Arco do Cego» deu o seu nome a esse troço de estrada que, nos subúrbios da Lisboa setecentista, ia do largo ou terreiro de S. Jorge até ao palácio Galveias.
Diz-se que comemorava as pazes feitas naquele sítio por intermédio da Rainha Santa, entre D. Diniz e seu filho Afonso (1323). Era este arco de pedra, de fortes aduelas, com um nicho gradeado ao alto, e que pela sua estreiteza dificultava a passagem dos coches e carruagens de maior porte. Nenhuma das obras, antigas e modernas, publicadas acerca da velha Lisboa e dos seus arredores, se refere a este arco, nem mesmo por incidente. Desconhece-se a data da sua construção e o seu autor. 

Rua do Arco do Cego [c. 1950]
Jardim do Bairro Social do Arco do Cego, também denominado Jardim das Estátuas
Eduardo Portugal, in AML

Sabe-se apenas que a 10 de Maio 1742, D. João V adoecera, e os médicos da sua câmara resolveram que o enfermo tomasse os banhos das Caldas da Rainha. Pretendendo passar por ali com o seu coche real, para se dirigir às Caldas da Rainha verificou-se que não poderia de modo algum caber por um arco tão estreito e que não só os tapadoiros das rodas, mas a própria caixa esbarrariam de encontro aos pilares laterais e assim, mandou demolir o arco.
O velho arco foi derribado em 7 ou 10 de Setembro de 1742 para D. João V passar, mas o sacrifício dos seus braços de pedra foi inútil. A estrada alargou-se mas o coche real nunca passou. A jornada das Caldas era definitivamente ordenada — mas pelo rio acima, em bergantim até Vila Nova da Rainha.
(DANTAS, Julio, Figuras de ontem e de hoje.1876, pp. 153-154)

Rua do Arco do Cego [1942]
Jardim do Bairro Social do Arco do Cego, também denominado Jardim das Estátuas
Eduardo Portugal, in AML

 Norberto Araújo refere que foi aqui levantado um padrão em 1928, guardado em depósito, e de novo colocado nesta rua, um pouco mais a norte do primitivo local, no jardim junto ao edifício-sede da CGD, em 1934. ode ler-se na inscrição: "Santa Izabel, Rainha de Portugal, mandou colocar este padrão neste lugar, em memória da pacificação que nele fez entre seu marido, El-Rei D. Deniz, e seu filho D. Afonso IV, estando para se darem batalha, na era de 1323".

Rua do Arco do Cego [c. 1950]
Jardim do Bairro Social do Arco do Cego, também denominado Jardim das Estátuas
Eduardo Portugal, in AML

O mesmo Norberto Araújo questiona se foi aqui o local onde esteve para se dar a batalha e diz ainda "Alvalade", por extensão, chegava mais longe; no século XIV, o Campo de Alvalade não tinha os limites que nós - ao passearmos no Campo Grande - podemos supor. Cremos que a colocação do padrão neste sítio, no século XVII, obedeceu apenas a uma circunstância de comodidade.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 73, 1939)

Transcrição:
"Este Padrão, que é Património do Estado, recorda a acção pacificadora da Raínha Santa Isabel, na primavera de 1323, quando duas facções de portugueses iniciavam um combate fratricida, ela acorreu ao lugar de Alvalade e, caminhando entre as fileiras inimigas foi onde el rei estava, e donde el rei estava tornou ao infante, e por vezes, vindo de uma parte para outra tratou entre eles por tal maneira que o infante fosse beijar as mãos de seu pai, e el-rei benzesse seu filho, e partiram dali amigos."

N.B. Este monumento em pedra lioz encontrava-se anteriormente no muro da Rua do Arco Cego, tendo sido conservado e restaurado em 1904 e em 1994-95, onde foi nessa data valorizado. É um padrão composto por uma lápide com a inscrição e uma coluna que a encima e que inicialmente teria no topo uma esfera armilar e frente do monumento para a sua protecção haveria um gradeamento de ferro. Na coluna podia observar-se uma cruz gravada no «Rainhas de Portugal» de Francisco da Fonseca Benevides. Há uma referência ao monumento que foi classificado de «Monumento Nacional». Foi a Rainha Santa Isabel de Portugal que mandou construir este padrão em memória da pacificação que nela fez entre seu marido el-rei D. Dinis e seu filho D. Afonso IV, estando para se darem uma batalha.

9 comments:

  1. Achamos muito interessante este post.

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  2. Visualmente é BOM RECORDAR, até porque recordar também é viver.

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  3. Um bem-haja a quem pública e a este blog. Que venham mais.

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  4. Muito obrigado pelas imagens e sobretudo pela história dessa senhora antiga mas nunca velha, tantas vezes desprezada mas nunca esquecida, tantas vezes maltratada porèm sempre, sempre muito amada. Bem hajam. Abraço e como é da praxe nesta época bom Natal e feliz ano novo tanto aos autores como aos leitores.

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  5. Um verdadeiro espetáculo, este blog...
    Curto, como exige a vida atual, mas com assuntos interessantíssimos, para quem gosta de aprender e sente verdadeira curiosidade sobre Lisboa!
    Sim senhor!
    Os meus sinceros e honestos parabéns... a quem de direito!

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  6. Adoro este blog, tanto que aprendo sobre a minha terra, a minha Lisboa! Obrigada! Feliz ano de 2021

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