Pois, companheiro paciente, aí temos um dos mais formosos espécimes palacianos lisboetas, em arquitectura nobre e equilibrada, documento seiscentista puro: o Palácio Azambuja, hoje [desde 1918] sede da Embaixada de Espanha.¹
O Palácio de Palhavã, conhecido por Palácio Azambuja ou Palácio dos «Meninos de Palhavã», remonta na sua feição senhorial a 1660, ano em que foi edificado sobre o núcleo e os chãos de casas nobres levantadas no começo do século XVI por Gomes Lourenço de Palhavã, da família Carvalhosas Palhavã, cujo solar se situava em Carvalhosa, no Concelho de Guimarães, onde esses fidalgos assistiam.²
Esta propriedade — lê-se no Archivo pittoresco — , ainda não há muitos anos, era célebre pela espessura de seus bosques, pela grandeza dos jardins e preciosa colecção das suas plantas, pela abundância de estátuas e vasos de mármore que a decoravam, dentre as quais algumas sobressaíam por excelência d'arte, e finalmente pela bondade e frescura de suas águas.
Palácio de Palhavã [post. 1902] Avenida António Augusto de Aguiar, 39, antiga estrada de Palhavã Beatriz Chaves Bobone, in Lisboa de Antigamente |
Esta quinta e palácio foram fundados na segunda metade do século XVII por D. Luiz Lobo da Silveira, segundo conde de Sarzedas. Seu filho, D. Rodrigo da Silveira, terceiro conde do mesmo título, fez-lhe muitos aumentos, entre outros o grande portão da entrada principal, onde avultam as armas desta antiga e ilustre família, que vindo a extinguir-se no século passado [XVIII], reverteram os seus bens para os condes da Ericeira, criados posteriormente marqueses de Louriçal; e pela extinção desta casa sucederam nos seus morgados os srs. condes de Lumiares.
No palácio de Palhavã morreu em 7 de Dezembro de 1663 a rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboya, filha do duque de Nemours, e mulher d'el-rei D. Pedro II, tendo ido para ali convalescer. Serviu também aquele palácio de residência aos príncipes D. António, D. Gaspar, e D. José, filhos naturais mas reconhecidos d'el-rei D. João V, (o segundo veio a ser arcebispo de Braga, e o terceiro inquisidor geral de Lisboa), aos quais o povo apelidava Meninos de Palhavã, epíteto que lhes conservou ainda mesmo na velhice.
Palácio de Palhavã, pátio [post. 1902] Avenida António Augusto de Aguiar, 39 Entrada nobre do Palácio de Palhavã-Azambuja na face Norte do pátio. Beatriz Chaves Bobone, in Lisboa de Antigamente |
Durante a longa residência destes príncipes em Palhavã chegou a quinta ao seu maior esplendor, e mais esmerada cultura. Adornavam-se os seus jardins com a mais rica e bela colecção de plantas exóticas que então havia na capital.
Depois da morte dos príncipes começou a decadência da quinta, que
aumentou posteriormente á invasão francesa de 1808. Porém a grande ruína
desta propriedade foi causada pelas lutas durante o cerco de Lisboa de
1833, na guerra da restauração da liberdade.
Foi teatro de um mortífero combate na tarde e noite de 5 de Setembro d'aquele ano. Palácio e quinta tudo foi assolado. Desde então progrediu a devastação até ao ponto de reduzirem a terras de trigo os seus bosques, pomares, e jardins. Passado tempo alguns dos seus vasos e as figuras de mármore mais pequenas vieram ornar a varanda do jardim que se prolonga com o palácio do sr. conde de Lumiares, ao Passeio Publico.
Porém ainda lá se conservam algumas estátuas colossais, erguendo-se em meio de cearas, e lagos ornados de figuras, tudo feito em Itália, havendo entre estas obras de arte algumas produções do célebre escultor Bernini. Felizmente esta propriedade foi comprada há pouco pelos srs. condes de Azambuja, que se propõem a restaurar o palácio e quinta, conservando ao primeiro todas as suas feições primitivas.³
N.B. Actualmente, e desde 1939, é a residência oficial de Espanha em Portugal. O Consulado funciona no Palácio Mayer na Rua do Salitre. Pode assistir aqui a uma visita guiada aos jardins do Palácio pela mão da Embaixadora de Espanha em Portugal — Marta Betanzos.
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Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 55, 1939.
² idem, Inventário de Lisboa, vol. VI, 1949.
³ Archivo pittoresco, vol. IV, pp. 81-82, 1863.
A última foto deve ter a data errada....
ReplyDeleteDe acordo com o arq. da FCG, está correcta.
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