Entre o Campo Pequeno e Arroios existiu um arco de pedra, — e esse
arco, chamado, não se sabe porquê «Arco do Cego» deu o seu nome a esse
troço de estrada que, nos subúrbios da Lisboa setecentista, ia do largo
ou terreiro de S. Jorge até ao palácio Galveias.
Diz-se que comemorava as pazes feitas naquele sítio por intermédio da
Rainha Santa, entre D. Diniz e seu filho Afonso (1323). Era este arco de
pedra, de fortes aduelas, com um nicho gradeado ao alto, e que pela sua
estreiteza dificultava a passagem dos coches e carruagens de maior
porte. Nenhuma das obras, antigas e modernas, publicadas acerca da velha
Lisboa e dos seus arredores, se refere a este arco, nem mesmo por
incidente. Desconhece-se a data da sua construção e o seu autor.
Rua do Arco do Cego [c. 1950] Jardim do Bairro Social do Arco do Cego, também denominado Jardim das Estátuas. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Sabe-se apenas que a 10 de Maio 1742, D. João V adoecera, e os médicos da sua câmara resolveram que o enfermo tomasse os banhos das Caldas da Rainha. Pretendendo passar por ali com o seu coche real, para se dirigir às Caldas da Rainha verificou-se que não poderia de modo algum caber por um arco tão estreito e que não só os tapadoiros das rodas, mas a própria caixa esbarrariam de encontro aos pilares laterais e assim, mandou demolir o arco.
O velho arco foi derribado em 7 ou 10 de
Setembro de 1742 para D. João V passar, mas o sacrifício dos seus
braços de pedra foi inútil. A estrada alargou-se mas o coche real nunca
passou. A jornada das Caldas era definitivamente ordenada — mas pelo rio
acima, em bergantim até Vila Nova da Rainha.
(DANTAS, Julio, Figuras de ontem e de hoje.1876, pp. 153-154)
(DANTAS, Julio, Figuras de ontem e de hoje.1876, pp. 153-154)
Rua do Arco do Cego [1942] Jardim do Bairro Social do Arco do Cego, também denominado Jardim das Estátuas. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Norberto Araújo refere que foi aqui levantado um padrão em 1928, guardado em depósito, e de novo colocado nesta rua, um pouco mais a norte do primitivo local, no jardim junto ao edifício-sede da CGD, em 1934. ode ler-se na inscrição: "Santa Izabel, Rainha de Portugal, mandou colocar este padrão neste lugar, em memória da pacificação que nele fez entre seu marido, El-Rei D. Deniz, e seu filho D. Afonso IV, estando para se darem batalha, na era de 1323".
Rua do Arco do Cego [c. 1950] Jardim do Bairro Social do Arco do Cego, também denominado Jardim das Estátuas. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
O mesmo Norberto Araújo questiona se foi aqui o local onde esteve para se dar a batalha e diz ainda "Alvalade", por extensão, chegava mais longe; no século XIV, o Campo de Alvalade não tinha os limites que nós - ao passearmos no Campo Grande - podemos supor. Cremos que a colocação do padrão neste sítio, no século XVII, obedeceu apenas a uma circunstância de comodidade.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 73, 1939)
N.B. Este monumento em pedra lioz encontrava-se anteriormente no muro da Rua
do Arco Cego, tendo sido conservado e restaurado em 1904 e em 1994-95,
onde foi nessa data valorizado. É um padrão composto por uma lápide com a
inscrição e uma coluna que a encima e que inicialmente teria no topo
uma esfera armilar e frente do monumento para a sua protecção haveria um
gradeamento de ferro. Na coluna podia observar-se uma cruz gravada no
«Rainhas de Portugal» de Francisco da Fonseca Benevides. Há uma
referência ao monumento que foi classificado de «Monumento Nacional».
Foi a Rainha Santa Isabel de Portugal que mandou construir este padrão
em memória da pacificação que nela fez entre seu marido el-rei D. Dinis e
seu filho D. Afonso IV, estando para se darem uma batalha.
Achamos muito interessante este post.
ReplyDeleteVisualmente é BOM RECORDAR, até porque recordar também é viver.
ReplyDeleteUm bem-haja a quem pública e a este blog. Que venham mais.
ReplyDeleteGrato pelo apreço. Volte sempre.
DeleteMuito obrigado pelas imagens e sobretudo pela história dessa senhora antiga mas nunca velha, tantas vezes desprezada mas nunca esquecida, tantas vezes maltratada porèm sempre, sempre muito amada. Bem hajam. Abraço e como é da praxe nesta época bom Natal e feliz ano novo tanto aos autores como aos leitores.
ReplyDeleteIgualmente, grato pelo apreço.
DeleteUm verdadeiro espetáculo, este blog...
ReplyDeleteCurto, como exige a vida atual, mas com assuntos interessantíssimos, para quem gosta de aprender e sente verdadeira curiosidade sobre Lisboa!
Sim senhor!
Os meus sinceros e honestos parabéns... a quem de direito!
Grato pelo apreço.
DeleteAdoro este blog, tanto que aprendo sobre a minha terra, a minha Lisboa! Obrigada! Feliz ano de 2021
ReplyDelete