Friday, 17 July 2015

Mercado da Praça da Figueira

Entraram numa praça que tinha ao centro um mercado com uma cobertura de ferro forjado.

Robert Wilson, A Companhia de Estranhos, 2009


Nasceu em 1755, no terreno das ruínas do Hospital Real de Todos-os-Santos, impondo-se como mercado central e destinado à venda de frutas e legumes. Passou entretanto por vários nomes: Horta do Hospital, Praça das Ervas, Praça Nova e Praça da Figueira. De um local de bancadas diárias passou a praça fixa, com barracas arrumadas e um poço próprio; era — claro — ao ar livre, como comprova a imagem abaixo.

Mercado da Praça da Figueira [ant. 1885]
Rua da Betesga
Colecção do Conde de Arnoso, in Lisboa de Antigamente

Ao longo dos tempos, foi sofrendo algumas alterações consoante as necessidades da população. Assim, em 1835, é arborizada e iluminada, e em 1849 o recinto foi fechado com grades de ferro e oito portas,. Em 1883 a velha Praça foi demolida,  e em 16 de Maio de 1885 inaugurou-se o novo Mercado, do risco de Manuel Maria Ricardo Correia, com a presença da Família Real. 

Mercado da Praça da Figueira [16 de Maio de 1885]
Inauguração do mercado da Praça da Figueira, com a presença da Família Real (o Rei D. Carlos e a sua consorte D. Amélia de Orleães)
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente


Consistia num edifício rectangular, com estrutura em ferro forjado e ocupando uma área de quase 8 mil metros quadrados.
Da venda de fruta e legumes, passou-se à transacção de outros produtos alimentícios necessários à população, fazendo da baixa lisboeta um local com um constante fervilhar de vida.

"Bendita seja a Praça da Figueira, colorida, estridente, regateira,
como todo o mercado que se preza...
É bem esta a paisagem portuguesa
que se deve mostrar, como surpresa,
à colónia estrangeira."

Fernanda de Castro (1900-1994). «O Mercado». Cidade em Flor. [1924]

Mercado da Praça da Figueira [post. 1885 e ant. 1900]
Rua da Betesga
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Desde logo, a praça tornou-se um dos emblemas de Lisboa, quer pela sua construção, quer pela sua localização no centro da cidade, quer ainda pela realização de verdadeiros arraiais por altura dos santos populares, transformando-a num verdadeiro teatro.
Em 1947, a vereação da altura decidiu o fim da praça, prevendo o alargamento da rede viária de Lisboa, que incluía a demolição do Socorro e zona baixa da Mouraria como forma de escoamento de trânsito, aproximando a cidade de Lisboa aos padrões europeus. 
Em 1949 festeja-se o último Santo António, procedendo-se de seguida — a 30 de Junho — à demolição do edifício. [cm-lisboa.pt]

Mercado da Praça da Figueira [c. 1906]
Rua da Betesga
Fotógrafo desconhecido

Bibliografia
CARNEIRO, Luís Miguel e Ilharco, Simões, Confeitaria Nacional.
CASTILHO, Júlio de, Lisboa antiga: bairros orientais,vol. I, III, X.
id, Lisboa antiga: o Bairro Alto, vol. V.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII.

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