Saturday 11 July 2015

Personagens alfacinhas: Manas Perliquitetes

«O mundo riu-se delas. Andaram ridicularizadas nos palcos e nos jornais, apuparam-nas nas ruas» (in Depois do Terramoto», de Gustavo de Matos Sequeira)

Caricaturadas por Rafael Bordalo Pinheiro, entre outros, Carolina Amália (1833-1897) e Josefina Adelaide Brandi Guido (1841-1907), são figuras do Chiado Oitocentista, conhecidas pelas suas toilettes peculiares, ridículas e extravagantes e por passarem o dia a calcorrear as lojas de moda. Oriundas de uma família tipicamente burguesa, netas de comerciantes italianos que se fixaram em Lisboa, eram filhas de Narciso José Tomaz Guido, militar que, segundo consta, possuía razoável fortuna. Após a morte deste, a vida destas irmãs solteironas sofreu uma grande mudança, tendo terminado os seus dias na maior miséria. A primeira grande alteração foi, sem dúvida, a transferência da sua residência da Rua de S. Bento para a Rua da Escola Politécnica, momento em que travaram conhecimento com Luís de Almeida de Mello e Castro, boémio alfacinha, cantador de fado e amador tauromáquico, seu amigo e vizinho a quem ficaram a dever a alcunha de «Manas Perliquitetes».

Manas Perliquitetes [189-]
Não serão as Perliquitetes originais mas bem que poderiam ser. Ao cabo e ao resto,
há-as em todo lado e em todos os tempos e em todos as épocas.
Mosteiro dos Jerónimos
Joshua Benoliel, in A.M.L.


O mundo riu-se delas — recorda o ilustre Matos Sequeira; o povo trazia-as às vaias. Não podiam sair senão sob uma chuva de insultos e de chufas e o menos que logravam eram os frouxos de riso dos menos atrevidos. Andaram ridicularizadas nos palcos e nos Jornais, apupavam-nas nas ruas, e ninguém, ao passar por elas, vendo-as andrajosas e famintas, reparava que, acima do ridículo que lhe sugeria um sorriso, havia nelas uma coisa que bem melhor pedia uma lágrima: a degradação a que as levara a miséria e a fome.

Rua Garrett [1922]
Não serão as Perliquitetes originais mas bem que poderiam ser. Ao cabo e ao resto, há-as em todo lado e em todos as épocas.
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

A mais velha faleceu, há cerca de 20 anos [em 1897], na Rua da Penha de França; Josefa Adelaide, que mais pomposamente se intitulava D. Adelaide, morreu já, também, a 10 de Setembro de 1907, com 60 anos de idade e poucos menos de miséria.
Assistiu-lhe aos últimos momentos uma sua irmã bastarda, chamada Maria da Piedade; pobre velha, surda e trôpega que talvez ainda viva por aí algures. D. Adelaide Guido morreu no terceiro andar do n.º 109 da rua de São Roque [actual da Misericórdia].

Rua Garrett [1921]
Não serão as Perliquitetes originais mas bem que poderiam ser. Ao cabo e ao resto, há-as em todo lado e em todos os tempos 
e em todos as épocas.
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

5 comments:

  1. Ouvi sempre falar delas, mais em criança, diga-se: "Olha, parecem as manas Perliquitetes!" Estas memórias deviam ser perpetuadas.

    ReplyDelete
  2. Também me soou a memórias antigas, essa das "manas perliquitetes" curiosidades da nossa Lisboa que quase parecia uma aldeia, sem sentido pejorativo claro.

    ReplyDelete
  3. duro albuquerque de entranhas duras tu nao maduras tu nao refletes fazeres aquilo de que te ufanas prender as manas perliquitetes

    ReplyDelete

Web Analytics