Monday, 20 July 2015

Convento do Santo Crucifixo das Capuchinhas Francesas

Sobre a ruína do mosteiro do Santo Crucifixo paira ainda hoje a aza (sic) negra da fatalidade; e, daqui a pouco, razoirado o terreno, modificado o aspecto da rua, erguidos no seu local novos edifícios, ruirá também a própria lembrança das pobres freiras francesinhas. 
Paz às suas almas! [Sequeira: 1924]

Nesta historia verá Vossa Magestade hum edificio por todas as circunstancias Real, porque lhe deu princípio a Augustissima Rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboya. [Barbosa: 17484]

O Convento do Santo Crucifixo das Capuchinhas Francesas, conhecido como das «Francesinhas» foi fundado em 1667 pela Rainha de Portugal Maria Francisca de Sabóia, esposa de D. Afonso VI e, em segundas núpcias, de D. Pedro II. Quando morreu, a rainha foi sepultada no convento que fundou. Em 1911, o corpo foi trasladado para o Mosteiro de São Vicente de Fora, dando-se então início à demolição do convento [vd. 3ª imagem].

Esquina da Calçada da Estrela e do Caminho Novo, hoje Rua das Francesinhas [1910]
Joshua Benoliel,
in Lisboa de Antigamente

A denominação de Capuchinhas Francesas ficou definitivamente associada ao Convento do Santo Crucifixo (denominação oficial do cenóbio) e adveio unicamente da origem das freiras fundadoras — quatro freiras clarissas que a tinham acompanhado de França D. Maria Francisca de Sabóia — , não constituindo qualquer ramo ou variação do instituto de religiosas denominado Capuchinhas, fundado em 1535 pela espanhola Maria Lorenza Longo, em Nápoles, ao qual pertenciam as monjas do convento.
O convento do Santo Crucifixo constitui um importante exemplo do que foi a arquitectura monástica no feminino, com as suas particulares exigências e necessidades. O conjunto formado pela parte edificada, cuja centralidade era marcada pelo claustro, a cerca conventual (com a sua importância no contacto com a natureza), a distinção funcional e predefinida entre os diferentes espaços e as relações entre eles (quer se destinem a meditação e oração, ao trabalho diário, ao lazer ou ao contacto com o exterior) fazem do espaço conventual uma unidade autónoma que se pretendia auto-suficiente.

Esquina da Calçada da Estrela e do Caminho Novo, hoje Rua das Francesinhas [1910]
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Na Igreja destacava-se segundo a descrição do autor anónimo, numa data em que ainda não estava concluída a capela-mor, um grande nicho sobre o arco triunfal:

[]  e sobre ele [arco] assenta hum nicho grande com columnas de talha dourada, e dentro do nicho se deyxa ver a fermosa imagem de um crucifixo, em estatura natural de um homem, e ao pé da cruz fazem assistência à sagrada imagem do Senhor, a de sua Mãy Sanctissima e do Discipulo amado e da penitente Magdalena. Esta imagem do Sancto Crucifixo dá o titulo ao mosteyro, que he o padroeyro da casa debayxo de cuja proteccção vivem as Religiosas, que à capella mor dam o titulo das Chagas de Christo
[História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa, 1972] 

Este nicho terá sido posteriormente fechado e as imagens colocadas em outro altar, possivelmente no compartimento que Matos Sequeira identificou como casa mortuária, no sobre claustro, e que possuía uma capela com essa invocação. O mesmo autor, refere-se à imagem de Cristo de grandes dimensões “ (…) um madeiro enorme, com a imagem do Crucificado”, na época, já retirado do seu local e colocado na sacristia junto à capela-mor. [Tição: 2007] 

Demolição do Convento das Francesinhas [1911]  
Em baixo, onde se vê o gradeamento, observa-se a Rua Miguel Lupi.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Nos jardins do Convento encontra-se actualmente o Instituto Superior de Economia e Gestão. Só em 1949 se desenhou o jardim na sua forma actual. Com uma homenagem à Família numa escultura de Leopoldo de Almeida que ornamenta um chafariz de 8 bicas. Posteriormente, foi inaugurado um monumento em homenagem a Bento de Jesus Caraça.

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