Thursday 23 July 2015

Pátio do Carrasco (ou do Gama)

Do passado arquitectónico fala-nos ainda o Pátio do Carrasco, essa curiosidade cenográfica de Lisboa, em cuja fachada se vislumbram três janelas quinhentistas, de verga, e caneladas, com vestígios do delicioso mainel que as bipartia. Para o interesse pitoresco do sítio do Limoeiro o Pátio do Carrasco chega, mais no conjunto do que no pormenor, frentes de pardieiros disfarçados, escada decorativa sem alpendre, boca de entrada sem arco nem abóbada dois palmos de pobreza resignada, que se engrinalda pelo Santo António, e canta durante todo o ano.
(ARAÚJO, Norberto de Araújo, Legendas de Lisboa, pp. 71, 1943)
Em Lisboa, e imediatamente à frente do Largo do Limoeiro, junto à antiga Cadeia encontramos o Pátio do Carrasco, estranhamente funesto e degradado. Por aqui terá vivido temporariamente Luís António Alves dos Santos (1806–1873), «o Negro», marcado pela casualidade histórica de ter sido o último carrasco de Portugal.

Pátio do Carrasco |c. 1940|
Largo do Limoeiro, 3
Muito interessante é a fachada sobre o Largo do Limoeiro, onde se abrem em três pavimentos, janelas do séc. XVI, de verga direita canelada, com moldes e contra-moldes nas ombreiras, em algumas das quais se percebem vestígios do mainel que as bipartia ao alto. É dos poucos exemplares de casas quinhentistas existentes em Lisboa, É curioso o aspecto interior do pátio, onde há ainda pormenores construtivos dos séc. XVII e XVIII. [Proença: 1924]
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Dizem que haveria ali um túnel subterrâneo por onde Luís caminhava até à prisão do Limoeiro, mesmo ao lado. No local onde estaria essa passagem, ainda hoje se ouvem gritos.
Os moradores pensam que são do próprio Luís, atormentado pelas mortes que causou e que fizeram dele «o último carrasco de Portugal», com um salário de 4.100 réis e direito a referência num livro de Camilo Castelo Branco.

Pátio do Carrasco |c. 1960|
Largo do Limoeiro, 3
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Mas é aqui que a história se torna difícil de entender: é possível que Luís Alves nunca tenha executado ninguém. Da única vez que foi encarregue de o fazer, em Tavira, deu ao seu imediato o dinheiro que tinha consigo, para que o substituísse. Como na época os carrascos usavam capuz, era possível trocarem de lugar sem que ninguém se apercebesse. Será que Luís grita atormentado pelas mortes que causou na juventude? O carrasco lutou ao lado dos absolutistas, no século XIX, e confessou ter matado dois homens em legítima defesa. Morreu aos 67 anos, com um ataque de asma, já depois da abolição da pena de morte em Portugal.
(FIDALGO, Vanessa, 101 Lugares para Ter Medo em Portugal, 2013)
Pátio do Carrasco, Roque Gameiro, 1925
 É curioso o aspecto interior do pátio, onde há ainda pormenores construtivos dos séc. XVII e XVIII.

2 comments:

  1. Se quiser ver, tenho uma foto do túnel.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Com certeza, pode enviá-la através do FB para https://www.facebook.com/lisboadeantigamente/.

      Delete

Web Analytics