Em Lisboa, e
imediatamente à frente do Largo do Limoeiro, junto à antiga Cadeia
encontramos o Pátio do Carrasco, estranhamente funesto e degradado. Por
aqui terá vivido temporariamente Luís António Alves dos Santos
(1806–1873), «o Negro», marcado pela casualidade histórica de ter sido o
último carrasco de Portugal.
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Pátio do Carrasco, Largo do Limoeiro, 3 [c. 1940] Eduardo Portugal, in A.M.L. |
Dizem que haveria ali um túnel subterrâneo por onde Luís caminhava até à
prisão do Limoeiro, mesmo ao lado. No local onde estaria essa passagem,
ainda hoje se ouvem gritos.
Os moradores pensam que são do próprio
Luís, atormentado pelas mortes que causou e que fizeram dele «o último
carrasco de Portugal», com um salário de 4.100 réis e direito a
referência num livro de Camilo Castelo Branco.
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Pátio do Carrasco, Largo do Limoeiro, 3 [c. 1940] Eduardo Portugal, in A.M.L. |
Mas é aqui que a
história se torna difícil de entender: é possível que Luís Alves nunca
tenha executado ninguém. Da única vez que foi encarregue de o fazer, em
Tavira, deu ao seu imediato o dinheiro que tinha consigo, para que o
substituísse. Como na época os carrascos usavam capuz, era possível
trocarem de lugar sem que ninguém se apercebesse. Será que Luís grita
atormentado pelas mortes que causou na juventude? O carrasco lutou ao
lado dos absolutistas, no século XIX, e confessou ter matado dois homens
em legítima defesa. Morreu aos 67 anos, com um ataque de asma, já
depois da abolição da pena de morte em Portugal.
(in «101 Lugares para Ter Medo em Portugal», Vanessa Fidalgo, Esfera dos Livros, 2013)
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Exterior do Pátio do Carrasco, Roque Gameiro, 1925 |
Se quiser ver, tenho uma foto do túnel.
ReplyDeleteCom certeza, pode enviá-la através do FB para https://www.facebook.com/lisboadeantigamente/.
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