Sunday, 30 November 2025

Rua da Palma que foi «Nova» e «da Imprensa»

As principais alterações urbanísticas no bairro da Mouraria iniciaram-se na segunda metade do século XIX. Uma das intervenções que mais contribuíram para a nova feição urbana da área foi a abertura da Rua Nova da Palma, alterando a malha e a dinâmica urbana da zona da Baixa da Mouraria. Para tal, foram destruídos um troço da Cerca Fernandina e a Ermida de Nossa Senhora da Guia (de 1759). Por detrás da antiga Igreja da Nossa Senhora do Socorro estava a famosa horta das Atafonas, expropriada em 1859. 

Rua da Palma e Av. Alm. Reis |c. 1940|
Procissão Nossa Senhora da Saúde. [vd. N.B]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Inicialmente, o novo trecho da rua chamou-se da Imprensa, mas no edital de 1859 “foi trocada em Rua Nova da Palma, e incorporada a nova artéria no primeiro troço quinhentista que já tinha esse nome. […] Em 1889 passou esta via pública, de extremo a extremo, a chamar-se Rua da Palma” (Silva: 1987). Contudo, as construções que deveriam “marginar a artéria” decorreram com lentidão, tendo tido início somente em 1852. Surgiram então o Teatro do Príncipe Real (1865) – depois chamado Teatro Apolo –, o Real Coliseu de Lisboa (de 1887), o Paraíso de Lisboa (local para realização de espectáculos) e o Circo Popular Lisbonense. [Menezes: 2023]

Rua da Palma, 238 |1927|
Novo edifício das encomendas postais (o anterior ocupou o espaço do Real Coliseu de Lisboa,  depois Garagem Liz.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. A procissão da Saúde era dos mais curiosos espectáculos da Lisboa religiosa, com um carácter diverso da dos Passos e da do Corpo de Deus ou S. Jorge.
primeira vez que se realizou foi em 20 de Abril de 1570. A última em 20 de Abril de 1910. Saia de manhã cedo da Mouraria, ia à Sé onde se cantava um Te-Deum, e depois a S. Domingos, onde havia sermão. Recolhia ao entardecer à Mouraria — e era de ver-se. [Araújo: 1989]

Friday, 28 November 2025

Jardim Augusto Rosa (Largo da Sé)

Já agora, no Jardim do Largo [da Sé], admiremos o busto em bronze de Augusto Rosa, uma das mais belas figuras da cena portuguesa de todos os tempos; é escultura de Teixeira Lopes. Foi colocado aqui por uma vereação de 1925, ano em que à antiga Rua do Limoeiro, e antes Rua do Arco do Limoeiro, foi dado o nome do excelso artista. [Araújo, II, 1938]

Jardim Augusto Rosa (Largo da Sé) [entre 1926 e 1936]
Por edital de 8 de Janeiro de 1925 o jardim do Largo da Sé passa a denominar-se
Jardim Augusto Rosa.
António Passaporte (Colecção Loty), in Lisboa de Antigamente

Sunday, 23 November 2025

Avenida da República: viadutos ferroviários de Entrecampos

A Avenida — que em linha recta, é de 1.509 metros — é uma avenida moderna, macadamizada. Havia uma grande dificuldade a vencer — diz Pimentel na sua Lisboa — , quasi a meio trajecto dessa avenida, e que era a passagem de nível para a linha em frente do Mercado Geral de Gados, mas para essa faz-se um desvio, constrói-se um viaduto correspondente, e está vencida a dificuldade. O caminho de ferro de cintura virá a passar do lado da estrada de Entre Campos, onde actualmente passa; daí em diante é que começa a operar-se o desvio, cortando a linha a Avenida Ressano Garcia [hoje Av. da República] em terrenos que pertencem ainda ao Mercado Geral, em seguida esses terrenos, e logo depois a Avenida António Maria d'Avellar [hoje Av. Cinco de Outubro]. (Lisboa, Por Alberto Pimentel, 1903, p. 507)

Avenida da República |195-|
Viaduto ferroviário de Entrecampos inaugurado a 17 Novembro de 1950Rua Visconde de Seabra.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

N.B. O topónimo Rua Visconde de Seabra perpetua na toponímia de Lisboa o nome de António Luís de Seabra (1798-1895), 1º visconde de Seabra, com título atribuído em 25 de Abril de 1865, responsável pela organização do projecto de Código Civil que foi promulgado por Carta de Lei em 1 de Julho de 1867.
Formado em 1820, a sua carreira desenvolveu-se como deputado, membro da Câmara dos Pares, Ministro da Justiça (1852 e 1868), reitor da Universidade de Coimbra (1866-68) e juiz do Supremo Tribunal de Justiça. [cm-lisboa]

Viaduto ferroviário de Entrecampos, lado N. |1944|
 Em cima à esq., o antigo apeadeiro ferroviária; à dir. nota-se o edifício na Avenida da República, 97.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): Em 1956, dá-se uma alteração no esquema de circulação da Avenida da República. Em 1968/1969 novo desenho de circulação automóvel é introduzido na Avenida da República, devido ao aumento do tráfego automóvel, reprojectando-se um novo viaduto ferroviário para Entrecampos.

Viaduto ferroviário de Entrecampos, lado S. |1968|
Até 1970, do lado do Campo Pequeno e da Avenida Cinco de Outubro, o trânsito automóvel e pedonal, processava-se através de pequenos túneis sob a Avenida da República. Esta situação altera-se radicalmente com a construção de um novo tabuleiro ferroviário.
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente

Friday, 21 November 2025

Rua dos Remédios que foi «das Portas da Cruz»

Descendo as escadinhas de Santo Estêvão, entra-se numa das mais importantes e populosas ruas da Alfama, a dos Remédios, assim chamada desde 1859, e antes Rua das Portas da Cruz, invocação tradicional, justificada pela existência, no seu cabo, de uma das mais importantes portas naturais de Lisboa, que se integrou na Cerca de D. Fernando, no século XVIII foi chamada também, no seu troço inicial pelo menos, Calçada dos Remédios.

Rua dos Remédios |1962|
Troço junto ao Beco da Maria Guerra.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL.

Logo ao princípio da rua, para quem vem do Chafariz de Dentro [vd. imagem adiante], à esq., a ermida dos Remédios do Espírito Santo de Alfama, fund. em 1551 para capela do hospital dessa denominação pelos navegantes e pescadores do bairro.
No Itinerário lisbonense, de 1818, figuram duas Ruas dos Remédios: uma que principia no Largo do Terreiro do Trigo e termina na Rua das Portas da Cruz, e outra que é a quarta à esquerda, entrando pela Rua da Lapa. [Guia de Portugal: 1924]

Rua dos Remédios |1949|
Vista tomada do Largo do Chafariz de Dentro.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 16 November 2025

Profissões de antanho: o cauteleiro

— Quem é que se habilita à sorte, é o 1469 que anda amanhã a roda!

É profissão que jamais acabará. É vê-los por aí, sobretudo pela Baixa, oferecendo a fortuna a toda a gente. No nosso tempo, a cautela, cremos que a vigésima parte do bilhete inteiro, vendia-se por três vinténs!
E não havia barbeiro que, pelo Natal ou Páscoa, não tivesse colado no espelho, em frente do freguês, o bilhete da sorte, para que bem o observasse e comprasse enquanto lhe escanhoava os queixos.
O grande actor Estêvão Amarante, criador admirável de tantos tipos populares de Lisboa, também fez o cauteleiro num quadro de revista, cantando um fado que ficou, como todas as suas criações, na alma do povo, imitando um cauteleiro que era muito conhecido pelo pregão harmonioso e nostálgico com que oferecia a Sorte Grande!

— Quem é que se habilita à sorte, é o 1469 que anda amanhã a roda!

Profissões de antanho: o cauteleiro |entre 1908 e 1914|
Largo de Dom João da Câmara, antigo «de Camões».
Ao fundo observa o afamado Café Suisso.
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

Nesse tempo, e hoje também, os cauteleiros apregoam por Lisboa e por todo o País, mas sem a cantoria de então.
A dada altura apareceu pelas ruas da Baixa, sem apregoar, um cauteleiro fardado, que oferecia o jogo quase sempre pelos estabelecimentos. Exibia boné agaloado a ouro, sobrecasaca preta com botões amarelos, galões dourados na gola e pasta debaixo do braço, cautelosamente segura por corrente. Era um indivíduo gordo, à volta dos quarenta anos e que, no seu jeito amável, aconselhava, como quem conversa, a jogar na lotaria. Hoje os cauteleiros usam boné de pala e a profissão, aparentemente, deve ser rendosa. Haja em vista o desafogo de certas casas de lotaria! 

— Quem é que se habilita à sorte, é o 1469 que anda amanhã a roda!

Profissões de antanho: o cauteleiro |1922-3-8|
Calçada do Duque com a Rua da Condessa.
Legenda no arquivo: «O coxo das cautelas na Escadinhas do Duque»
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? Questiona-se o Desassossegado Bernardo Soares. O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros, [e das Escadinhas do Duque, porque não?]. Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu — a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim — sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um “o que será dele?”. E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer.
(Fernando Pessoa / Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 1931)

Profissões de antanho: o cauteleiro |início séc. XX|
Aguadeiro e cauteleiro junto ao fontanário do Largo Trindade Coelho, antigo de S. Roque. 
Ao centro vê-se a Coluna mandada erguer pela colónia italiana, comemorando o casamento do 
Rei Dom Luís I com Dona Maria Pia de Sabóia em 1862.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
(DINIS, Calderon, Tipos e Factos da Lisboa do meu tempo (1900-1974), p. 276, 1986).

Friday, 14 November 2025

Alto e Arco do Carvalhão

Carvalhão (arco do) fica na estrada do arco do Carvalhão, freguezia de Santa Izabel.
Carvalhão (estrada do arco do) primeira á esquerda na rua de S. João dos Bemcasados [R. Amoreiras], indo da rua do arco das Aguas Livres e finda na quinta da Cabrinha, freguezia de Santa Izabel. [Velloso: 1869]

Arco do Carvalhão situado sobre a Rua do Arco do Carvalhão, em Lisboa. Freguesia de Campolide, Classificado no conjunto do Aqueduto, como Monumento Nacional por Dec. de 16-6-1910. Estabelecidas Zonas Especiais de protecção pelas portarias 1092/95 (DR 206) de 6-9-1995, 1099/95 (DR 207) de 7-9-1995 е 512/98 ( DR 183) de 10-8-1998.

Ruas do Alto e do Arco do Carvalhão |1939|
ChafarizAqueduto das Águas Livres
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Trata-se de trecho do aqueduto que vence, com dois amplos vãos, os dois arruamentos em que, neste local, se subdivide a Rua do Arco do Carvalhão. Antes de ser chamada «do Arco do Carvalhão», a rua tinha o nome de «do Sargento-Mor», como recorda o ilustre Norberto de Araújo. [...] Agora estamos no Arco do Carvalhão, sob dois imponentes arcos do Aqueduto. Esses terrenos [...] estendiam-se além da actual Rua das Amoreiras, desde o trecho da Cruz das Almas até a actual Rua Marquês da Fronteira. [...] O «Carvalhão» era, na verdade, o futuro Marquês de Pombal, e do seu sobrenome vieram os nomes da rua atual. [...]

Ruas do Alto e do Arco do Carvalhão |1961|
Ao fundo nota-se o Viaduto da Avenida Duarte Pacheco ou do Arco do CarvalhãoAqueduto das Águas Livres.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Ainda de acordo com o insigne olisipógrafo Norberto Araújo «terrenos eram estes de Sebastião José de Carvalho e Melo, ainda antes de ser Marquês de Pombal e Conde de Oeiras e «Carvalhão» era o nome pelo qual era conhecido «e do apelido derivaram os nomes da Rua actual (Arco do Carvalhão) que leva à Cruz das Almas, e da ladeira (Alto do Carvalhão) só há poucos anos (1933) edificada em forma, e que leva a D. Carlos Mascarenhas».

Ruas do Alto e do Arco do Carvalhão |195-|
Fotografia aérea da Av. Eng. Duarte Pacheco, Aqueduto das Águas Livres
Rua do Alto do Carvalhão anotada com cor azul e Rua do Arco do Carvalhão a encarnado.
Mário de Oliveira, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ALMEIDA, Álvaro Duarte de, Portugal património: Lisboa· 2007.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp.77-78, 1939.

Sunday, 9 November 2025

Igreja de Santa Isabel

A igreja de Santa. Isabel é uma edificação setecentista, cujas obas começaram em 1742 e se prolongaram durante alguns anos ainda depois do Terramoto, que não causou no templo, em construção, estrago algum. Pode dizer-se que Santa Isabel, à parte a frontaria, completada em 1875, e a despeito dos restauros daquele ano, se encontra sensivelmente como foi erguida.

Como vês, Dilecto, a fachada do templo não é trivial, embora não contenha beleza ou particularidade a assinalar; as duas torres sineiras, ilustradas de mostradores de relógio, dão-lhe uma certa imponência bairrista. No pórtico, sob a legenda da padroeira «Beatae Elisabeth Lusitaniae Reginae», marca-se a data citada (da reconstrução): MDCCCLXXV. Vejamos o interior da Igreja

Igreja de Santa Isabel, fachada principal |1959|
Rua. Saraiva de Carvalho 2A
Santa Izabel, do orago da Rainha Santa, recebeu benefícios em dois períodos do século
XIX, nomeadamente em 1875.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

O tecto, simples, é de estuque com pintura representando a Assunção. de Santa Isabel. Onze capelas ou altares além da principal, tem esta Igreja. Notamos a começar pela direita: Senhor dos Passos, que ocupa o lugar de uma porta; Santa Terezinha, com retábulo de S. Gonçalo. pintura de Bernard Foit. Santa Rita, retábulo de S. Sebastião por Bruno José do Vale, cópia de Dominichino: Santo António, com retábulo deste padroeiro de Lisboa por Roque Vicente com toque de Pedro Alexandrino; Senhora das Graças e Santa Inês (antiga do Santíssimo), com retábulo «A Ceia», por Peregrino Parodi; e, no topo, N. Sr.ª da Conceição, com retábulo «Nascimento de Jesus», por Roque Vicente; pela esquerda vemos, a seguir ao baptistério, a capela de S. José, com retábulo de Sant'Ana, de Roque Vicente; S. Miguel e Almas com retábulo de Arcanjo, por Domingos Rosa; N. Sr.ª de Fátima com retábulo de N. Srª. do Carmo, cujo autor não identifiquei; e, no topo, o altar do Coração de Jesus, com retábulo de Joaquim Manuel da Rocha

Igreja de Santa Isabel |c. 1910|
Altar-mor cm imagem do orago
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Igreja de Santa Isabel |c. 1910|
N.S. Conceição com retábulo «Nascimento de Jesus»
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

























Catorze janelas se rasgam nas paredes da nave onde predomina o estuque «fingido», pois apenas as colunas de apoio lateral são de mármore pobre.
Na Capela-mor, na qual se debruçam duas tribunas por lado, está, sobre o sacrário a imagem de Santa Isabel, padroeira do templo . E mais nada digno de registo possuí Santa Isabel.==

 

Igreja de Santa Isabel |1956|
Altar de S. Miguel com retábulo de Domingos Rosa e imagem pintada e estofada do Século XVIII.
Rosa Duarte, in Lisboa de Antigamente

N.B. Mandada construir em 1742, pelo primeiro cardeal-patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, a Igreja Paroquial de Santa Isabel é considerada um imóvel de elevado valor histórico e arquitectónico. [+ imagens aqui]

Igreja de Santa Isabel, frontaria |1970|
Rua. Saraiva de Carvalho 2A em perspectiva tomada da R. de Santa Isabel.
A Fachada, (1875), com um corpo central, levemente avançado dos dois corpos laterais, servido por um pequeno adro, acima do nível da rua, rodeado por cortina gradeada.
João Goulart, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1956.
idem, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 64-65, 1939.

Friday, 7 November 2025

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por casa de João das Regras

Se o leitor alguma vez passar no largo actual do Borratém — diz Mestre Castilho, a quem vamos sempre seguindo — , há-de reparar num grande arco ogival de forte cantaria, que lá está, poucos metros desviado da esquina do beco dos Surradores. Havia, junto desse, outro, de diversa altura, muito característico; desapareceu na reconstrução do prédio em Fevereiro e Março de 1871. Felizmente copiei-os [vd. imagem abaixo] eu ambos, e conservo-os. [...]
Quanto a mim (salvo melhor juízo) a casa onde habitou João das Regras, a casa onde habitaram muitos dos seus sucessores, não é aquela.
(CASTILHO, Júli de o, Lisboa Antiga-Bairros Orientaes,Tomo.II, 1884)

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por casa de João das Regras |c. 1900|
Rua do Arco do Marquês de Alegrete. Procissão da Senhora da Saúde.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Esta casa, situada no Poço do Borratém, é tradicionalmente referida como a Casa de João das Regras, e embora não exista qualquer prova documental, é comum mencionar-se que o jurista português, apoiante de D. João I, viveu neste edifício.
Depois do terramoto de 1755, que destruiu grande parte do edifício primitivo, a casa foi reconstruída, mantendo-se apenas a arcada gótica do conjunto. Em 1851, um dos arcos foi demolido, subsistindo dois. Actualmente persiste apenas um arco ogival no piso térreo.

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por
casa de João das Regras 
Vêem-se os dois arcos do pavimento térreo, como ainda existiam em 1871; actualmente
apenas se conserva o do lado direito.
Desenho de Júlio de Castilho, in Lisboa Antiga-Bairros Orientais

De planta rectangular, a Casa de João das Regras destaca-se pela verticalidade da estrutura, dividida em quatro pisos acrescentados por águas-furtadas. No piso térreo, inscreve-se o grande arco de ogiva, que permite o acesso ao interior, emoldurando uma porta com montras e janela superior. Os três pisos superiores têm igual composição, com duas janelas de sacada e respectivo varandim de ferro em cada um. 
Nota(s): O espaço é hoje utilizado para diversos fins, estando sediada uma loja no andar térreo, e vários serviços administrativos nos andares superiores. [DGPC]

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por
casa de João das Regras |1923|

Barraca de venda de peixe (posto n.º 1) junto ao Beco dos Surradores.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 2 November 2025

Avenida da República: o moderno e o clássico

A Avenida da República pertence às «Avenidas Novas» que foram rasgadas no fim do séc. XIX, princípio do séc. XX. O escritor Stefan Zweig (1881-1942) participou, em 1936, num congresso do Pen Club e fez uma breve paragem em Lisboa, durante a sua viagem de barco para o Brasil.

Lisboa, terça-feira 11 de Agosto.
Desengano agradável. Não tinha esperado tanta cor desta cidade. Uma outra Génova, mas mais colorida, mais meridional, mais natural, com magníficas ruas elegantes e as Avenidas, com os seus cafés. E, contudo, burros e mulheres de cesto à cabeça nas ruas secundárias: grande estadão no meio da pobreza e miséria no meio do luxo, este magnífico contraste dos países meridionais. 
As pessoas não são tão altivas como em Espanha, nem tão bela e fortemente morenas. E não têm aquele orgulho dos «caballeros», embora passem igualmente todo o dia a mandar engraxar os sapatos. Por aí deambulo horas a fio: as lojas abertas, que vendem umas porcarias quaisquer, têm um encanto particularmente primitivo, mais do que as Avenidas, que têm um ar um tanto ou quanto balcânico. [Frank: 2019]

Avenida da República, 58 com o Campo Pequeno, 1 |1963-06|
Antigo Largo Doutor Afonso Pena, antes Campo Pequeno ou Largo do Campo Pequeno.
Prédios demolidos (moradia incluída) pouco tempo depois de «batida a chapa» em 1963 por J. Goulart. Actualmente ocupado pelo antigo edifício de escritórios Cosec. Ao fundo à esq. — junto ao arvoredo — nota-se, parcialmente, o Viaduto Ferroviário de Entrecampos.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Erigido na Avenida da República, 32, em 1946, de acordo com o projecto do arq. Pardal Monteiro, o edifício na imagem abaixo destaca-se pela fachada que evidencia o elemento central da composição, com saliência e ritmo marcado pela sucessão de janelas e varandas, culminando na pérgula que o coroa. Em 1983, foi alteado com um corpo de três pisos recuados, projectados pelos arquitectos Leão Miranda e Hestnes Ferreira, que respeitaram a estrutura original da pérgula e a reinterpretaram na cobertura de forma mais complexa, com um belvedere. A qualidade dessa intervenção rendeu ao edifício o Prêmio Eugênio dos Santos de 1991.

Avenida da República, 32 comAv. Miguel Bombarda |1963-06|
Ao centro vê-se o prédio riscado em 1946 pelo arq. Pardal Monteiro.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

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