Ora aí temos o Arco do Marquês do Alegrete — diz Norberto de Araújo — no aspecto de 1674, ano em que foi transformada a velha porta de S. Vicente da Mouraria, assim chamada ainda em 1554. Intitula-se do Marquês do Alegrete, porque a ele se encostou o palácio construído pelo Conde de Vilar Maior, antecessor da Casa dos Alegretes, depois Penalvas e Taroucas (Teles da Sylva).
O boletim trimestral — Olisipo do grupo de Amigos de Lisboa — , apurou em Abril de 1945: «Passam por hora sob o Arco do Marquês de Alegrete: mais de 100 eléctricos, 200 automóveis, 6000 pessoas a pé e muitos caminhões. Apesar de algumas dúvidas nas quantidades, sobretudo no exagero de tantos eléctricos por hora quando competiam num buraco de agulha, além da multidão, com «caminhetas e carretas», cito o rol feito pelo olisipógrafo Luís Pastor de Macedo — a quem vamos sempre seguindo.
Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz |1946| Arco do Marquês do Alegrete — durante as demolições na Mouraria; Salão Lisboa Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente |
A tradição conta-nos que Martim Moniz era um dos cavaleiros de D. Afonso Henriques que em 1147, na conquista de Lisboa, se atravessou numa porta da muralha do Castelo dos Mouros, impedindo o seu fecho e, sendo de imediato morto pelos sitiados enquanto garantia a abertura necessária para a entrada dos exércitos cristãos conquistarem a cidade.
Em 1908 o herói Martim Moniz ganhou uma placa evocativa na porta do seu sacrifício e, em 1915, ficou também imortalizado na toponímia da Mouraria já que a Rua de São Vicente à Guia – que se situava entre a Rua da Mouraria, Rua do Arco do Marquês de Alegrete e a Calçada do Jogo da Pela – se passou a denominar Rua Martim Moniz, pelo Edital de 14 de Outubro de 1915. Contudo, as alterações urbanísticas do local iniciadas a partir da década de 30, a pretexto de ligar a Avenida Almirante Reis ao Rossio, acabaram por fazer desaparecer o Mercado da Figueira, parte da Mouraria e este arruamento.
Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz |1945| Arco e Palácio do Marquês do Alegrete e Salão Lisboa André Salgado, in Lisboa de Antigamente |
N.B. Em 1961 foi finalmente empreendida a controversa destruição do Arco do Marquês de Alegrete, o último resquício das portas da Cerca Fernandina, a Porta da Mouraria, e recordado em versos:
Arco do Marquês de Alegrete
O quadro ilustra bem
Uma imagem que morreu
Será que existe alguém
Que este passado viveu?
Era palácio e cinema
Eléctricos, engraxadores
Eis a leitura do tema
Ao Arco dos meus Amores.
(Baguinho: 1999)
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 78-79, 1938.
MENEZES, Marluci, Mouraria, Retalhos de Um Imaginário: Significados Urbanos de Um Bairro de Lisboa, 2023.
FERNANDES, José Ferreira, Martim Moniz - Como o Desentalar e Passar a Admirar, 2024.
Do e no tempo em que Lisboa era realmente bonita e agradável para viver e passear.
ReplyDeleteA minha linda Lisboa está toda modificada.
ReplyDeleteE quando foi demolido o arco, já agora?
ReplyDeleteSe quiser seguir o link "Rua do Arco...", tem lá a resposta. De qq modo, vou acrescentá-la ao texto para evitar a mesma pergunta constantemente.
DeleteQue saudades, por estas e por outras é que gosto mais da Lisboa antiga que esta nova que não se parece com nada.
ReplyDeleteEram coisas antigas mas, era bom ver o fervilhar do povo por essas ruas e vielas.
ReplyDeleteCarla
Os eléctricos faziam chegadas, partida para diversos destinos. Selma
ReplyDeleteEu quando tinha 15 anos trabalhei num pequena fábrica de luvas numa rua da Mouraria que já não existe era a rua das Atafonas por baixo do hospital de S. Jose.
ReplyDeleteAinda o cheguei a ver, fazia fronteira com o Poço Borratem!
ReplyDeleteMeu avô tinha nesta zona várias padarias.
ReplyDeleteLembro me muito bem no Martin Moniz belos tempos saudades da minha antiga Lisboa.
ReplyDeletePor toda a Rua da Palma , até para lá do Intendente , a multidão , pegada aos passeios , aguardava a imagem da Senhora da Saúde- C. Fiolhais
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