Os ciganos representam a maior minoria da Europa. São cerca de 11 milhões — mais do que a população de Portugal — mas não possuem registos escritos da sua história nem tão-pouco das suas andanças pelo mundo. A diáspora dos ciganos começou há 1500 anos no Noroeste da Índia e, uma vez chegados à Europa via Balcãs (mais precisamente à Bulgária), os ciganos começaram a espalhar-se por todo o continente, até à Península Ibérica. A Portugal, os primeiros ciganos terão chegado em 1462.
A não ser um ou outro cigano abastado que se domicilia, geralmente os da sua raça levam a vida errante por feiras e excursões, marchas longas, a pé ou a cavalo, com galgos para a caça. Vagueando, recolhem de noite às tendas e palheiros e, ao encontrarem nova povoação, orientam-se passeando os arredores a ver onde há gado ou aves para roubarem. Comem carne, peixe e couves misturadas, toucinho cru, porco desenterrado; e alguns há que justificam plenamente a quadra que compuseram lá em Espanha:
Un gitano se murió
Y dejó em el testamento
Que le enterrasen en viña Para chupar los sarmientos.
Avenida António Augusto de Aguiar |1909| Cigana com burros próximo da Rua Augusto Santos. Joshua Benoliel, iin Lisboa de Antigamente |
Cigano em Portugal, gitano em Espanha, boémio em França e zíngaro na Itália, o cigano tem conservado, através do tempo e do espaço, os traços étnicos mais característicos de um povo ao qual as emigrações, com o seu ar de uma penitência eterna a remir um pecado imperdoável, em pouco lograram alterar os fundamentos. Do seu país de origem nada explicam e nada sabem ; a língua vai-se-lhes alterando mais ou menos profundamente e a ponto de serem já relativamente numerosos os dialectos ou sub-dialectos que eles falam. Mas caldarari na Hungria, ursari os da Bulgária, contratadores de gado os de Portugal, há traços dominantes que distinguem este povo nómada e disperso, notável sequer por semelhante persistência, pelos seus processos industriais quase proto-históricos e pela maneira primitiva das suas relações internacionais.
Avenida António Augusto de Aguiar |1909| Cigana com burros; à esq. nota-se a vegetação do Parque Eduardo VII. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
F. Adolpho Coelho, Os ciganos de Portugal, 1892
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