Havia dias em que, sem repousar, correndo pelas ruas, esbaforido, eu ia à missa das sete a Santana, e à missa das nove da Igreja de São José, e à missa do meio-dia na ermida da Oliveirinha — assim era o dia-a-dia de Teodorico Raposo – o protagonista e narrador de "A Relíquia" de Eça de Queiroz.
Descansava um instante a uma esquina, de ripanço debaixo do braço, chupando à pressa o cigarro; depois voava ao Santíssimo exposto na paroquial de Santa Engrácia, à devoção do terço no convento de Santa Joana, à bênção do Sacramento na capela de Nossa Senhora, às Picoas, à novena das Chagas de Cristo, na sua igreja, com música. Tomava então a tipóia do Pingalho, e ainda visitava, ao acaso, de fugida, os Mártires e São Domingos, a igreja do convento do Desagravo e a Igreja da Visitação das Salésias, a capela de Monserrate, às Amoreiras e a Glória ao Cardal da Graça, as Flamengas e as Albertas, a Pena, o Rato, a Sé!
[QUEIROZ, Eça de, A Relíquia, 1887]
Ermida de Nossa Senhora da Glória |c.1900| Rua de Nossa Senhora da Glória (ao Cardal da Graça) José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente |
Estamos agora defronte da Ermida de Nossa Senhora da Glória — diz o ilustre Norberto de Araújo. É esta Ermida posterior ao Terramoto, pois foi construída em 1757 pela Irmandade daquele orago. Nela esteve, naquele ano, instalada provisoriamente a paroquial de Santa Maria Maior (Sé Patriarcal). Interiormente, a Ermida é pobre, sem capelas no corpo da Igreja, que apresenta apenas um interessante tecto, em arco de cesto, pintado a claro escuro. Nos topos tem apenas dois altares: o de N. Sr.ª das Dores e o de N. Sr.ª de Fátima.
Ermida de Nossa Senhora da Glória |1944| Rua de Nossa Senhora da Glória (ao Cardal da Graça) Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
A Capela-Mór [vd. 3ª foto] já tem que ver. Observa esses painéis laterais de azulejo, guarnecidos de florões policromos, de bons amarelos, e sobrepujados por legenda.
Nessas legendas-uma em cada lado da capela — se atesta, na da esquerda que em 1 de Novembro de 1755 descansou aqui um sacerdote que conduzia o Santíssimo, e o povo se prosternou ante a sagrada partícula, e na da direita que em 1 de Novembro de 1757 se transferiu para esta Ermida a Imagem de N. Sr.ª da Glória.
N.B. O painel representativo da Senhora da Glória era objecto de culto e de muita devoção da população local.
N.B. O painel representativo da Senhora da Glória era objecto de culto e de muita devoção da população local.
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, p+. 26-27, 1938.
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