Também a «estampa antiga» do sítio do Parque [Eduardo VII] — recorda-nos o olisipógrafo Norberto de Araújo — foi desfigurada com o desaparecimento da «Torrinha», uma curiosa vivenda octogonal (Quinta da Torrinha, que deu nome à Estrada), situada um pouco acima do actual lago, e demolida em Abril de 1916.¹
Mereceu a Torrinha — com o seu andar «feito à romana», em forma de mirante — larga referência de Matos Sequeira em «Depois do Terramoto» onde o mestre olisipógrafo fixou algumas efemérides da dita casa «seguramente do século XVIII [1764?]», descrevendo-a como «a célebre Torrinha» que, «por tanto tempo, alindou com o seu ar um tanto ou quanto misterioso, aquele local.»
Esculápio em O Século de 21 de Abril do ano último [1916] — prossegue o mesmo autor —, fez, como extremado amigo da cidade, o seguinte episódio ao pobre torreão setecentista do dr. José de Sousa Monteiro:
Vetusto monumento de fé republicana de outras eras, anda o camartelo municipal a derruí-la, para dar «seguimento ao parque Eduardo VII, que já se desenha «esplendoroso ao cimo da Avenida, coroando a rotunda «e o lugar onde, para as calendas gregas, se há-de erguer «a tão falada estátua ao Marquês de Pombal. O leitor amante das antiguidades de Lisboa que vá vê-la nos «seus derradeiros momentos, a célebre Torrinha onde se faziam dantes os comícios republicanos e onde os janízaros da municipal se fartaram de espadeirar o «povo e os propagandistas da ideia nova. Faz pena ver «a Torrinha a cair aos bocados, em holocausto ao progresso e ao aformoseamento da plástica citadina!
Dão-te a morte; coitadinha,
E tu morres fria e calma
Torrinha que eras Torrinha,
Do teatro da minha alma.
A Torrinha [1888] Parque Eduardo VII, antigo Parque da Liberdade, antes Vale de Pereiro Legenda da foto: «Exposição Pecuária Nacional em 1888» Augusto Bobone,in Lisboa de Antigamente |
Os lisboetas das gerações mais novas, quando olham para a vasta área ajardinada e arborizada do Parque Eduardo VII, com a sua grande tira de relva ao centro, a Estufa Fria e os trechos arborizados que circundam lagos com cisnes em torno dos quais as crianças brincam sob o olhar das mães ou das nurses, o Pavilhão dos Desportos e ainda a Avenida Sidónio Pais, flanqueada de prédios de luxo, dificilmente podem imaginar o conjunto rústico de quintas e terras de semeadura, olivais e velhos casarões de tipo arrabaldino que se estendiam entre a Rua de Artilharia Um e o caminho de Andaluz até São Sebastião da Pedreira.
A Torrinha, poente [1888] Parque Eduardo VII, antigo Parque da Liberdade, antes Vale de Pereiro Legenda da foto: «Exposição Pecuária Nacional em 1888» Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente |
Dentre essas casas edificadas nas várias quintarolas chamava as atenções a «Torrinha» não por grandiosa ou de magnificente porte ou estilo, mas pela particularidade de ter, como parte destacada, a flanco dumas casitas modestas uma torre octogonal, rasgada de janelas em dois pisos acima do rés-do-chão, coberta por um telhado em forma de pirâmide também octogonal e toda ela pintada de cor-de-rosa, constituindo um traço fisionómico muito característico de paisagem olisiponense.²
A Torrinha [entre 1885 e 1916] Parque Eduardo VII, antigo Parque da Liberdade, antes Vale de Pereiro Ao fundo à esq. vê-se a Cadeia Penitenciária de Lisboa Fotógrafo não identificado, in Photographias de Lisboa, Marina Tavares Dias |
Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 48, 1939.
² Olisipo: boletim do Grupo "Amigos de Lisboa.", Volumes 21-23. 1958.
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