Sunday, 28 April 2019

Basílica dos Mártires

Estamos em face da Basílica dos Mártires, um dos templos de Lisboa de «categoria social» — que as igrejas também possuem por efeito de convenções ou da importância das suas irmandades. A Igreja dos Mártires, porém, vale pelo seu título, pela história da sua paroquial, pela sua ligação aos primeiros destinos de Lisboa.


A Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, de tão ressonante nome olisiponense, é uma edificação integral do século XVIII, do risco do arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos
A paróquia remonta ao ano da conquista de Lisboa; a sede principiou por ser uma pequena ermida dos Cruzados ingleses que auxiliaram D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa, erecta no local — Monte Fragoso, que mais tarde foi o Alto de S. Francisco — onde aqueles cavaleiros tinham o cemitério dos seus «mártires», junto do acampamento situado a Poente da Lisboa sarracena.

Basílica dos Mártires |190-|
Rua Garrett
A Frontaria, constituída por dois corpos no sentido horizontal, cortados verticalmente por seis
pilastras da ordem dórica, das quais as extremas são duplas; e nela, ao cimo de alguns degraus;
 Frontão, em cujo tímpano se rasga um óculo iluminante.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

O templo primitivo de Nossa Senhora dos Mártires foi várias vezes reedificado, ampliado e restaurado, nomeadamente em 1598-1602, 1629, 1686-1692, 1710, 1746-1750; assentava ao lado, sobre o rio, do convento de S. Francisco (no sitio ocupado pelo prédio que esquina da Rua Vítor Córdon para o Largo da Biblioteca [actual Largo da Academia Nacional de Belas Artes] e o Terramoto destruiu-o inteiramente. A paróquia estanciou depois por vários locais: numa barraca em Rilhafoles, na ermida dos Mártires, ao Rego, na de S. Pedro Gonçalves, ao Corpo Santo.
Em 1769, ou no ano seguinte, deu-se começo às obras do novo templo, situado na rua Direita das Portas de Santa Catarina, entre as ruas da Figueira e da Ametade (mas Garrett, Anchieta e Serpa Pinto actuais). Ainda por acabar foi benzida a nova sede paroquial em 18 de Março de 1774, mas só aberta ao culto em 5 de Agosto de 1786 (outros dizem em 1783). Só foi sagrada em 1866 (30 de Julho) após obras efectuadas nesse ano.

Basílica dos Mártires |1907|
Rua Garrett
O portal central, emoldurado de ombreiras trabalhadas na base do  capitel, e rematado, sobre a  verga, por  um  interes­sante baixo relevo, contido num medalhão, de mármore, obra de Francisco Leal  Gar­cia,  discípulo de  Machado de Castro, e que representa a dedicação do templo à Virgem, que a aceita de dois cavaleiros ajoelhados, um dos quais figura D. Afonso  Henriques, vendo-se ao fundo um trecho das muralhas ameiadas de Lisboa.  
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A fachada, como vês, é simples e discreta (teve em tempos um adro fechado entre grades); as pilastras da parte inferior são de ordem dórica, aos de cima, sob o frontão, de ordem jónica. Com seus três pórticos, suas três janelas iluminantes, o seu óculo gradeado no tímpano — a frontaria dos Mártires parece-nos bem no semblante arquitectónico do Chiado.


Basílica dos Mártires |s-d.|
Perspectiva tirada do Largo de S. Carlos;
A torre sineira está colo­cada por detrás do edifício, sobre a Rua Serpa Pinto
Fotografia anónima



Basílica dos Mártires |195-|
Porta de ferro dourada que defende a capela baptismal
Mário de Oliveira
(clicar para ampliar)



A Basílica dos Mártires não é sumptuosa nem trivial. Impressiona bem sem deslumbrar. O tecto da igreja em pintura de Pedro Alexandrino com ornatos de Inácio de Oliveira, tem no centro a cena da dedicação do templo antigo a N. Senhora dos Mártires, e em volta os doutores da igreja.
O coro assenta sobre três arcos de pedra, sendo o do centro de volta abatida. Possui oito capelas por lado, e que vamos ver, a começar pelo lado esquerdo, logo a seguir à capela baptismal defendida por porta de ferro doirada com uma inscrição relativa ao primeiro baptismo realizado, em 1147 [vd. foto acima à dir. e NB.], no templo velho: de S. Brás, com painel de fundo deste santo, logo de Santo António, com painel de Santa Cecília, com painel representando a Santa de Joelhos, e a do Santíssimo; pela direita: de Santa Luísa com painel representando o sacrifício da Santa, de S. José, .cujo retábulo representa Cristo no Gólgota, de N. Senhora da Conceição, dando a pintura do fundo S. Miguel, e o de N. Senhora de Lourdes, com o Bom Pastor no retábulo. Todas as pinturas são de Pedro Alexandrino.

Basílica dos Mártires |195-|
Rua Garrett
O tecto em  abóbada de arco, em madeira, revestida de larga composição pictural, 
representando ao centro D. Afonso Henriques dedicando o templo à Virgem
acompanhado de um cavaleiro (Guilherme «da longa espada»), figurando-se ao alto Nossa Senhora,
 rodeada de  cruzados mártires e assistida por uma coroa de anjos, trabalho de  Pedro Alexandrino
 inspirado no desenho original do último tecto da anterior igreja, da autoria de  Vieira Lusitano.
Mário de Oliveira, iin Lisboa de Antigamente

N.B. O baptistério, defendido por uma porta de ferro, dourada, com inscrição repartida; no  batente esquerdo lê-se em maiúsculas: «NESTA PARÓQUIA/SE ADMINISTROU O/PRIMEIRO BAPTISMO», e no batente direito «DEPOIS DA TOMADA/DE LISBOA AOS MOU/ROS, NO ANO DE1147»; no  fundo do  baptistério vê-se  um quadro «O baptismo do Salvador por S. João» pintura atribuída a Pedro Alexan­drino.

Basílica dos Mártires |1973|
Rua Garrett
No Interior, de nave única, a Igreja reveste-se de nobreza de materiais; um nicho, sobre o  arco da capela-mor, no qual se situa, orientada para o  corpo da igreja, uma imagem setecentista do Senhor Jesus dos Perdões; Nos Mártires conservam-se algumas boas imagens setecentistas, entre as quais uma, escultura de J. J. Barros Laborão, que pertenceu a uma ermida que existiu no edifício do Tesouro Velho. 
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, pp. 96-97, 1939.
id., Inventário de Lisboa, 1956.

1 comment:

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