Sunday, 25 March 2018

Ermida de Nossa Senhora de Monserrate

Diz-nos alguma coisa de saboroso esta Ermida de Nossa Senhora de Monserrate, nas Amoreiras. Encravada no vão do quinto arco do Aqueduto, logo a nascer na Casa da Água, com o seu corpo saliente do altar-mor caindo sobre a velha «Rua do Rato para Campolide», a Ermida evoca-nos um pedaço da vida setecentista lisboeta, e um qua-drinho animado do século XIX.


Erigiram a Ermida neste sítio, em 1768, os fabricantes da seda, que tiveram o Rei D. José por seu lado. Na gracilidade do seu recheio e decoração, na singularidade da sua forma oitavada, na humildade rural em que se envolve — a Ermida das Amoreiras é uma estampazinha antiga.

Ermida de Nossa Senhora de Monserrate |1938|
Praça e Jardim das Amoreiras (Jardim Marcelino de Mesquita, vd. nota)

A arborização do antigo Largo dos Fabricantes, com amoreiras (331 pés) fez-se em 1771, plantando o próprio Marquês de Pombal a primeira árvore, que dava ainda sombra em 1863.
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

Ela viu o Marquês de Pombal, ele próprio, em 1771, plantar a primeira amoreira das trezentas que engrinaldaram a praça; viu subir, em 1767, o primeiro fumo dos fornos da Fábrica da Louça, de Tomás Brunetto e Salvador Inácio; assistiu ao alvoroço popular quando correu água, pela primeira vez, no chafariz do Rato; seguiu, dia a dia, o retalhar de quintas, o abrir de ruas, o crescimento do bairro nascido de um sítio por influência das «reais manufacturas», e viu, numa manhã de Abril de 1851, chegar aqui, vinda dos Prazeres, a Feira das Amoreiras — a avó das feiras de Belém, de Alcântara e de Santos — com o seu arraial, os seus teatrinhos pitorescos, as suas figuras de cera, os «robertos» e os irmãos Dallot.

Ermida de Nossa Senhora de Monserrate. traseiras |1959|
Corpo saliente da Ermida, cachorrada e Cruz de azulejo e uma data: 1768
Rua da Amoreiras; Praça das Amoreiras
Fernando de Jesus Matias, 
in Lisboa de Antigamente

E viu acabarem a Real Fábrica das Sedas, a Fábrica da Louça, a Fábrica dos Pentes, irem-se embora as amoreiras todas, ir-se embora a Feira, irem-se embora os frades oratorianos de S. Filipe Néri e as freirinhas endiabradas do convento do «Rato». De tudo, o que a ingénua ermida das Amoreiras mais pena teve foi dos seus fabricantes da seda, devotos da Senhora de Monserrate e dos arraiais da Senhora Santana, aqueles operários de mãos finas que lhe legaram, a ela, o terreno sob o Arco em domínio perpétuo.
Ela ali está, voltada ao jardim pequenino de tílias, robínias e tamarinas, mostrando a quem passa pela Rua das Amoreiras a sua cruz suspensa de azulejos do Rato. O ajardinamento desta Praça é posterior à sua construção; no tempo velho apenas as amoreiras, e depois os ulmeiros alegravam o largo, que fora dos fabricantes da seda.

Fábrica das Sedas |1961|
Actual Museu Arpad Szènes-Vieira da Silva
Tv. Fábrica dos Pentes (esq.); Praça das Amoreiras
Arnaldo Madureira, 
in Lisboa de Antigamente

Interiormente, a Ermida de Monserrate é simpática, a-pesar-de pequena. É de forma oitavada, cortado o tecto a meio pelo coro posterior, que assenta em um arco de volta abatida. A Capela-Mor, além de uma teia, apoia-se sobre o corpo saliente da Ermida, que ressalta, amparado a uma cachorrada, para a Rua das Amoreiras, e no qual, exteriormente se marca, sob Cruz de azulejo, uma data: 1768

Ermida de Nossa Senhora de Monserrate, altar |1938|
Praça e Jardim das Amoreiras

Na capela-mor, além do altar onde se ostenta a imagem de N. Senhora do Monserrate, há mais dois altares; no corpo da Ermida existem também o de N. Senhora das Dores e o do Coração de Jesus, e ainda uma imagem do Senhor dos Passos. 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
 

O corpo do pequeno templo é revestido de silhares de azulejos, muito belos, da Fábrica do Rato, constituindo sete painéis com legendas latinas. Na capela-mór, além doaltar onde se ostenta a imagem de N. Senhora do Monserrate, há mais dois altares; no corpo da Ermida existem também o de N. Senhora das Dores e o do Coração de Jesus, e ainda uma imagem do Senhor dos Passos
No tecto em apainelados convergentes está uma pintura de Pedro Alexandrino, que representa o orago; na parte que assenta sobre o arco da capela-mor vêem-se as armas de D. José. 

Praça das Amoreiras |Início séc. XX|
Círio das Amoreiras saindo da Ermida de Monserrate durante a procissão do Círio de Nossa Senhora da Atalaia.
Paulo Guedes, 
in Lisboa de Antigamente

N.B. O nome deste jardim é uma homenagem a Marcelino de Mesquita, dramaturgo, poeta e escritor. Este espaço encontra-se rodeado por habitações setecentistas, que se destinavam na maioria ao alojamento dos fabricantes de seda actual Museu Arpad Szènes-Vieira da Silva.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, pp. 110-111.
ibid, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 99-100, 1939.
cm-lisboa.pt.

9 comments:

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