O antigo Palácio Valadares, com sua fachada sobre o Largo do Carmo e em extensão sobre a Calçada do Sacramento, à parte o seu passado histórico, vale apenas pelo corpo da frontaria, na qual se rasga uma varanda armoriada.
O Palácio Valadares, no Largo do Carmo, é uma construção setecentista, desluzida de expressão arquitectónica, mas cujo núcleo urbano, destruído pelo Terramoto, muito longe recuava, possuindo por isso uma significação olisiponense histórica, que é a única justificação do relevo desta notícia. No século XIII neste Sítio da Pedreira, e no local do Palácio Valadares, assentaram as casas do «Estudo Geral» — embrião da Universidade de Lisboa — , criado por D. Dinis, em 1290, e já a funcionar nesse próprio ano ou no seguinte. Pouco tempo depois, em 1802, as casas foram doadas pelo mesmo rei aos judeus Navarros, de Beja, arrabis-móres, mas logo em 1819 as mesmas casas, com seus largos terrenos de logradouro, passaram, por doação também, ao almirante genovês Manoel Peçanha (Pessanha, pelo decorrer do tempo), conservando-se a propriedade nos seus descendentes e sucessores, com algumas intermitências, durante todo o século XV. No princípio do século XVI estava a propriedade na posse dos Meneses, Condes e Marqueses de Vila Real, e nela se continuou até 1641, ano em que, por conspiração contra D. João IV, foram justiçados D. Luís de Meneses, 7 ° Marquês de Vila Real, e seu filho D. Miguel de Meneses, 2.º Duque de Caminha. Vagou então a propriedade para a Coroa, doando.a logo o soberano a seu filho, o Infante D. Pedro; certo é ela pertencer, em 1653, a D. Álvaro Abranches, um dos aclamadores de D. João IV, cuja filha, e única herdeira, casou no ano seguinte com D. Miguel Luís de Meneses, neto dos Vila Reais, feito Conde de Valadares em 1702, por ajuste com D. Pedro II, pelo direito que tinha, D. Miguel Luís, à casa de Vila Real. Voltaram assim os Meneses à posse do palácio do Carmo, conservando-se este nos Valadares até ao Terramoto, que inteiramente o subverteu, desaparecendo então o núcleo urbano primitivo do velho edifício, que remontava ao tempo do Rei D. Dinis.
Foi o 5.º Conde de Valadares, D. José Luís de Meneses Abranches
Castelo Branco, quem, a partir de 1785, fez reedificar o palácio,
em área, planta e semblante em tudo diversos do que distinguira o
solar dos Pessanhas e dos Marqueses de Vila Real. Em 7 de Fevereiro de
1798, no tempo do 7.º Conde de Valadares e 1.º Marquês de Torres Novas,
o novo palácio sofreu incêndio, que consumiu todo o recheio, mas
conservando-se, após as obras de restauro, logo efectuadas, o exterior
tal qual fora traçado em 1785. No século passado [XIX] o palácio continuou na posse dos Valadares,
mas porque o filho do 9.° Conde, D. Francisco António, casara com a
4.ª Marquesa de Vagos, os títulos da família proprietária do palácio
acabaram por unir-se na pessoa de seu filho D. Marcos da Silva Noronha,
falecido em 1906. No começo do ano seguinte, para efeito de partilhas, o palácio do Carmo, que os Valadares e Vagos no século XIX só transitoriamente habitaram, foi à praça, sendo arrematado pelo confeiteiro e capitalista Baltasar Rodrigues Castanheiro; a propriedade pertence hoje [em 1950] aos três netos do arrematante de 1907 — Pedro, Rafael e Carlos Castanheiro Viana.
No século passado já o palácio andava abandonado pelos Valadares, e convertido em prédio de rendimento, sem beleza alguma interior, pois o incêndio de 1798 tudo consumira. Logo a seguir ao sinistro esteve ali instalada uma fábrica de arame (1798-1817). Ocupou-o, em 1819 a famosa «Assembleia Lisbonense», clube de recreio de alta distinção, cujas deslumbrantes festas deram brado, e às quais chegou a assistir a família real, dando o Rei D. João VI beija-mão. A «Assembleia» deixou o palácio em 1829, mas logo em 1885 o proprietário, que era então o 1.º Marquês de Torres Novas, alugou o andar nobre ao Clube Lisbonense, também muito afamado, e a cujas festas vinham por vezes D. Maria II, seu marido e filhos; o clube acabou em 1880. O andar nobre, logo em 1881, passou a ser sede da Direcção-Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis, que ali se manteve até 1887; no ano seguinte ocupou o edifício todo João Pedro Tavares Trigueiros. Depois de 1892 um novo inquilino abriu diverso e mais condigno destino ao antigo palácio: o Liceu Nacional (Liceu do Carmo), transferido do Palácio Regaleira, a S. Domingos; a este sucedeu o liceu feminino D. Maria Amália Vaz de Carvalho, e a seguir uma secção do Liceu Passos Manuel. Finalmente em Outubro de 1941 o edifício passou, excepto nas lojas e sobrelojas, a ser ocupado pela Escola Comercial Veiga Beirão. Numa sobreloja está instalada a Junta de Freguesia do Sacramento [hoje de Santa Maria Maior], e noutras sobrelojas e lojas acomodam-se armazéns e estabelecimentos comerciais.
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1950.
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