Friday, 28 March 2025

A Rua do Benformoso que foi do «Boi-Formoso» e «de Bemfica»

A Rua de Bemfica é noticiada desde o século XIV e tudo indica que a sua localização era neste local. Coloca-se a hipótese, considerada por muitos como plausível, de esta rua ter sido posteriormente chamada por Rua do Boi Formoso, derivando daí a sua atual designação de Rua do Benformoso  [Azevedo 1900]
Os poucos casos estudados, um total de nove habitações, deram a entender que as casas tinham uma área correspondente a 11,29m2 e a 36,3m2, sendo muito menores do que as das mourarias situadas a norte do Tejo. [Coelho 1996]

Rua do Benformoso, 109-113 |1902|
Antiga do Boy Formoso, antes Rua Direita da Mouraria (séc. XVI)
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

 

Os limites da Mouraria não se podem por enquanto, determinar exactamente. Pelo sul ficava a meio da encosta do Castello, pelo poente era limitada pela rua direita da porta de S. Vicente, hoje chamada da Mouraria, e pelo nascente não passava alem da entrada da rua da Amendoeira. Da parte norte ainda é maior a dúvida, porque era aqui onde se encontravam os almocavares dos judeus e dos mouros, os quaes terrenos foram depoes cortados por diversas ruas, ao que parece. […] Do lado poente o bairro dos mouros não passava das modernas ruas da Mouraria e da rua do Benformoso. [Azevedo 1900: 270-271]

Rua do Benformoso, 101-103 |1902-05|
Edifício residencial multifamiliar, de fachada estreita com dois andares de ressalto,
gelosia e varandas de reixa. Uma trave de madeira suportada por mísulas sustenta o
telhado de duas águas.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

A casa mais antiga da Rua do Benformoso [v.d prédio ao centro na imagem acima]. é um edifício pertencente à denominada "Arquitectura Popular", a sua construção efectuou-se, sensivelmente, entre os séculos XVI e XVII.
De planta longitudinal, formando um trapézio irregular, este prédio possuí quatro pisos, encontrando-se os dois primeiros apartados por um diminuto pé-direito. É, aliás, no segundo piso que a sua metade esquerda apresenta janela de sacada com guardas de estrutura férrea e gradeamento de rótulas de madeira, enquanto que a outra metade encontra-se rasgada por uma fresta e um óculo. Cadência esta que vemos repetir-se ao nível dos outros dois pisos. O telhado de duas águas encontra-se sustentado por uma trave de madeira que, por seu turno, se apoia em mísulas.

Rua do Benformoso, 194 |1902-05|
Regra geral, os edifícios da Mouraria não eram muito diferentes dos seus
contemporâneos medievais, à excepção de algumas casas térreas que possuíam um
quintal fronteiriço.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Em paralelo às gentes dos ofícios e serviços e ao baixo nível socioeconómico da população, a Mouraria rapidamente se tornaria um bairro “mal afamado” e “tempestuoso” por causa da gente de “vida parasitária” e das “desordeiras”, sendo exemplo dessa condição as prostitutas e o tipo fadista. Na Lisboa boémia, a Mouraria teria um lugar cativo com as suas...

“casas suspeitas, os hotéis para pernoitar, com a sua tradicional lanterna de luz frouxa, os seus cantos e recantos que protegem baixas aventuras, as estalagens das lavadeiras saloias, os vendedores de elixires maravilhosos que pregam ao domingo, a infabilidade dos seus medicamentos nos largos do bairro; e ainda o formigar de gente baixa pelas ruelas da encosta, o Capelão, João do Outeiro e Amendoeira, tudo nos ajuda a invocar o quadro cheio de cor deste bairro popular, onde ainda se vê nas mais sujas serventias o nicho, devoto, o registo dos azulejos com St António ou S. Marçal, e um ou outro pormenor arquitectónico dos tempos idos. […] Esta história animada e pitoresca ainda hoje se reflecte na fisionomia gritadora do antigo arrabalde cedido aos muçulmanos vencidos.” 
[Guia de Portugal 1924]

Rua do Benformoso  |1925|
 Em finais do século XIX instalaram-se na Mouraria famílias ligadas à aristocracia
e à burguesia, dessa vez ocupando o troço final da
Rua do Terreirinho e da Rua do Benformoso com edifícios de traça arquitectónica
de mais qualidade e com maiores dimensões ao inverso das habitações populares.

Alfredo Roque Gameiro (1864-1935), in BNP

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 12-14, 1938.
MENEZES, Marluci, Mouraria, Retalhos de Um Imaginário: Significados Urbanos de Um Bairro de Lisboa, 2023.
FERNANDES, José Ferreira, Martim Moniz - Como o Desentalar e Passar a Admirar, 2024.
MESQUITA, Alfredo. Lisboa, pp. 526-527, 1903.

4 comments:

  1. Quem te viu e quem te vê...

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  2. You done all this for nothing, you are handing your country over to immigrants.

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  3. Sem palavras. Magnifico trabalho. Parabéns.

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  4. Infelizmente nosso país não tem a cultura de preservar prédios marcantes e históricos.

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