Wednesday, 14 October 2015

Cinema Europa

O novo Cinema Europa, foi inaugurado 1958, com projecto da autoria do arqº. Antero Ferreira, tendo a sua fachada incluído uma escultura em alto-relevo da autoria do escultor Euclides Vaz. Esta sala veio substituir o primitivo Europa Cinema (inicialmente tinha previsto o nome Astória), um dos edifícios mais emblemáticos do bairro de Campo de Ourique, inaugurado em 14 de Fevereiro de 1931 e projectado pelo arqº. Raul Martins.


O Cinema Europa, situado no Bairro de Campo de Ourique, na confluência das Ruas Almeida e Sousa e Francisco Metrass, foi traçado pelo arq.º Raul Martins, em 1929. O Cinema Europa parece definir o moderno através da adopção de uma linguagem formal expressa ou entendida dentro de um gosto Arts Déco, que se afirmava exteriormente nas grandes superfícies de ferro e vidro martelado, incrustadas numa estrutura onde a decoração se afirmava subtilmente. O facto de o edifício se situar na confluência de duas ruas e a circunstância pouco comum de se ter tirado partido dessa situação, no inteligente tratamento das suas fachadas, contribuíram em grande medida para quebrar a monotonia geral do edifício e a austeridade das suas linhas. 

Europa Cinema [1932]
Rua Francisco Metrass
Este cinema Europa parece definir o moderno através da adopção de uma linguagem formal [...] que se afirmava exteriormente nas grandes superfícies de ferro e vidro martelado.
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente
Europa Cinema [1932]
Rua Francisco Metrass com a Rua Almeida e Sousa
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente
Europa Cinema, sala [1932]
Rua Francisco Metrass com a Rua Almeida e Sousa
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Por outro lado, a sala, traçada de forma trapezoidal e dotada de tectos de masseira pintados em azul e prata, que contrastavam com os tons das paredes em verde mate e ouro, garantia uma boa acústica elemento que ganhava uma progressiva importância, graças ao novos requisitos que o cinema sonoro trazia. Mas também, e necessariamente, se havia assegurado uma boa visibilidade no desenho do recinto, que se desenvolvia em três pisos, com plateia, primeiro e segundo balcão, e com camarotes laterais ao nível do primeiro, unidos pelo serviço de um buffet de acesso fácil que estava orientado para o contexto particular de um cinema de bairro que se cumpria ali nos seus 878 lugares. De modo previdente, prepara-se ainda o edifício para que, dentro das suas dimensões, a sala pudesse ser ampliada, previsão que se mostrou acertada na sua remodelação em 1936, com risco de João Carlos Silva, embora não tivesse sido suficiente para impedir a sua demolição e posterior reconstrução, sob o novo desenho do arq.º Antero Ferreira, em 1958

Cinema Europa [c. 1967]
Rua Francisco Metrass com a Rua Almeida e Sousa
Alto-relevo alusivo ao Rapto de Europa, obra que singularizou o edifício, autoria do escultor Euclides Vaz.
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente
Cinema Europa, nova sala [c. 1965]
Rua Francisco Metrass com a Rua Almeida e Sousa
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

A sala seria ainda melhorada, em 1965, pelo arqº. Rodrigues Lima, que lhe introduz significativas modificações que se estenderam ao bar, ao mesmo tempo que se enfatizava a importância do átrio com um painel de azulejos de Fred Kradolfer [vd. imagem abaixo], expressamente concebido para o local. 
Encerrado em 1981 [com o filme “Annie Hall” de Woody Allen], e desactivado em 2004, depois de ter sido adaptado a estúdio de televisão, a recente notícia da sua demolição e substituição por um complexo onde se prevê um espaço cultural (2017) mais moderno retoma as razões antigas que levaram à destruição do edifício de Raul Martins, embora a inevitabilidade desta solução tenha sido contrariada por um movimento de cidadãos que insistentemente tem reclamado o direito à existência do lugar e ao seu uso.

Cinema Europa, átrio com painel de azulejos assinado por Fred Kradolfer [c. 1965]
Rua Francisco Metrass com a Rua Almeida e Sousa
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

N.B. A 23 de Abril de 2017, sob a gestão da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, abre portas a Biblioteca/Espaço Cultural Cinema Europa, uma autêntica Biblioteca de Bairro, que serve dia-a-dia a comunidade que por ela tanto lutou.
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Bibliografia
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa, 2012
Publicações online

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