O Palácio Pombeiro aprese1ita um semblante discreto. que nada revela quanto à sua fundação setecentista. Tem as linhas simples, mas harmoniosas, do princípio do século XIX, e ocupa uma área relativamente grande, entre o Largo e a Calçada do Conde de Pombeiro, caindo os Jardins, do lado Nascente, quase sobre a Rua dos Anjos.
O Palácio Pombeiro, no seu núcleo primitivo, casa nobre dos Castelo Branco, senhores do morgado de Sacavém, e senhores de Pombeiro e de Belas, remonta ao começo do século XVIII, e embora não se saiba, ao certo, quem o fez erguer, pode admitir-se que tenha sido o 3.º Conde de Pombeiro, D. Pedro de Castelo Branco da Cunha Correia e Meneses, senhor de Belas e do morgado de Castelo Branco, em Santa Iria (Sacavém) , fidalgo nascido em 1679, falecido em 1733. (...)
O Palácio Pombeiro foi reedificado quase integralmente pelo 6.° Conde e 1.º Marquês de Belas, como ficou dito, no estilo da transição do século XVIII para o XIX, sem relevo arquitectónico exterior, e conservou-se na posse da família até ao 3.° Marquês de Belas e 9.º Conde de Pombeiro D. António de Castelo Branco, que sucedeu no marquesado, em 1834. a seu avô, 2.° Marquês, e no condado, em 1867, a seu pai, 8.° Conde; foi este D. António, nascido em 1842, e falecido em 1891, o celebrado cavaleiro tauromáquico amador, fidalgo primoroso mas indiferente a bens terrenos.
Cerca de 1870 o palácio foi alienado pelo seu proprietário — o último Pombeiro da Bemposta — ao famoso Duque de Saldanha, então já bastante idoso, que no palácio chegou a residir, assim como pessoas de sua família, entre as quais uma sobrinha do 2° Conde de Farrobo e de sua mulher D. Eugénia de Saldanha Oliveira e Daun, esta filha do Duque de Saldanha. O Duque não se demorou na posse do palácio, que vendeu em 1875 ou 1876 ao 1.° Visconde de Azarujinha, mais tarde Conde do mesmo titulo, António Augusto Dias Freitas, rico industrial, que ascendeu a par do Reino, falecido em 1904. Foi a este titular que o governo de Itália adquiriu logo no começo do século o Palácio Pombeiro, para nele se instalar a Legação de Itália, até então ocupando o Palácio dos Viscondes de Correia Godinho no Campo de Santa Clara, e que sofrera um grande incêndio.»
(ARAÚJO. Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, pp. 179-180, CML, 1950)
No interior merecem menção as denominadas: Sala de Baile, com tecto de masseira, recoberto de estuques brancos filetados de ouro; as portas das janelas coroadas de áticas; pilastras de escariola branca, caneladas, nos ângulos da sala;
Palácio Pombeiro [1952] Largo e Calçada do Conde de Pombeiro A Sala Pompeiana (ou Sala Arcádia) na qual se notam frisos de pintura a fresco. José Espinho, in Lisboa de Antigamente |
Sala Pompeiana: cuja designação advém dos motivos decorativos a fresco que guarnecem as portas e lambris, apresentando igualmente tecto de masseira sobre o qual avulta uma grande composição a óleo, «Triunfo de Apolo», de João Tomás da Fonseca, com figuração simbólica e indistinta, entre a qual se vêem mulheres, centuriões romanos, personagens coroadas, nomeadamente o Papa Leão X, o Rei D. Manuel I, e uma rainha (pintura da época da reedificação do palácio); nos silhares das paredes, nas sobreportas, sanca, envolvimento do tecto e alizares, delicadas pinturas a fresco de estilo pompeiano. [vd. N.B.]
Palácio Pombeiro [1952] Largo e Calçada do Conde de Pombeiro Composição a óleo, «Triunfo de Apolo», no teclo da Sala Pompeiana. José Espinho, in Lisboa de Antigamente |
N.B. Na única monografia dedicada ao palácio Pombeiro-Belas, editada pela Embaixada de Itália, Andrea Comba baseando-se numa informação de Erminia Gentili Ortona, refere que “a denominação Sala Pompeiana deve-se às importantes decorações realizadas nas primeiras décadas do século XIX pelo pintor português Cyrillo Volkmar Machado nas paredes e à imposição da abóbada, que envolve o fresco com o “Triunfo de Apolo” de João Tomás da Fonseca.”
(BRAGA, Sofia – Pintura Mural Neoclássica em Lisboa: Cyrillo Volkmar no Palácio do Duque de Lafões e Pombeiro-Belas, 2012)
Por último, o investigador Hélder Carita colocou a hipótese das pinturas poderem ser atribuídas a Cyrillo Volkmar Machado, ressalvando contudo que a «responsabilidade de Cyrillo quanto ao programa decorativo que se espraia pelas paredes e tectos não é clara sendo, a nosso entender, da responsabilidade de outra equipa, como vemos referido frequentemente noutras obras». Sugere ainda que talvez tenha sido o pintor João Tomás da Fonseca responsável pela pintura de ornato, pois no arquivo da Casa dos Condes da Figueira (referido por Norberto de Araújo no Inventário de Lisboa) existia documentação que confirmava o nome deste pintor como tendo estado activo no Palácio Pombeiro, podendo até ter representado o Triunfo de Apolo no tecto de uma das salas. Tudo indicia por isso que João Tomás da Fonseca trabalhou de facto para os Condes de Pombeiro.
(CARITA, Hélder, Salas Pompeianas..., 2013)
Muito obrigado, excelente artigo!
ReplyDeleteVocê deveria participar um concurso para um dos maiores sites na net.
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Excelente artigo!!
ReplyDeleteO Palácio Pombeiro já pertencia à D. Pedro de Castelo Branco da cunha (1º Conde de Pombeiro). D. Pedro nasceu em 1620 e faleceu em 1675. O Capitão de Infantaria do Exército de Portugal`de quem descendo era sobrinho do 1º Conde de Pombeiro
ReplyDeleteBonito artigo sobre a nossa Lisboa e seus nobres.
ReplyDeleteO visconde da Azarujinha nao pode ter morrido em 1904, porque em 1909 ainda requeria à C. M. L. autorizaçºao para reconstruir e restaurar o palácio.
ReplyDeleteTodas as referências de que dispomos apontam a data de 1904 para o falecimento do visconde, basta fazer uma simples pesquisa na Internet. Não sabemos se é erro seu ou da cml. Sabemos, todavia. que os registos da cml não são fidedignos, infelizmente.
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