Monday, 17 August 2015

Rua de Serpa Pinto, antiga «da Leva da Morte»

Esta Rua de Serpa Pinto, no troco que desce do Largo do Directório [actual Largo de São Carlos] até à confluência do Ferragial e Víctor Cordon, é de dístico recentemente reposto. Nesta rua em 16 de Outubro de 1918 foi fuzilado numa escolta em que, com outros prisioneiros, era conduzido, não se sabe para onde, o Visconde da. Ribeira Brava, aplicando-se-lhe, e a alguns companheiros, a célebre «lei das fugas»
No ano de 1924 a artéria passou a ser oficialmente chamada «da Leva da Morte», lúgubre designação que mais tarde foi convertida em Rua 16 de Outubro. Há dois anos regressou à designação de Serpa Pinto, em prolongamento desta artéria que, atravessando o Chiado, vem desde o Largo Rafael Bordalo Pinheiro. A artéria, quando foi aberta, recebera o nome de Rua Nova dos Mártires.

Rua Serpa Pinto,  antiga «da Leva da Morte» [1918]
Local onde foi que foi encontrado numa valeta, degolado por um golpe de baioneta, o Visconde da Ribeira Brava.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O episódio sinistro que ficou conhecido como «Leva da Morte» nasceu da eclosão em Coimbra, no dia 12 de Outubro, de uma revolução constitucionalista contra o poder do Presidente-Rei Sidónio Pais. O Governo decretou o estado de sítio e encheu as prisões  de presos políticos, na sua maioria gente do Partido Republicano Português. Ao final da tarde de 16 de Outubro,  os 153 detidos no Governo Civil de Lisboa, rodeados por 253 guardas,  saíram do edifício para rumarem à estação de comboios do Cais do Sodré, para serem transferidos para os fortes de São Julião da Barra, Alto do Duque e Caxias, num cortejo estranhamente encabeçado por corneteiros e tambores. Quando a coluna chegou à Rua Víctor Cordon soou um tiro e, a partir daí desencadeou-se um forte tiroteio com os guardas a disparar quase à toa em todas as direcções. A rua ficou atapetada com 7 mortos entre os quais um dos famigerados mandantes do regicídio de 1908, o Visconde de Ribeira Brava, e 60 feridos (31 presos e 29 guardas). Na época, a  versão que pareceu mais óbvia foi a de que o massacre fora preparado pela polícia sidonista e daí a necessidade dos tambores e das cornetas para avisar quem do exterior iria intervir.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 17, 1938.
SANTOS, Miguel Dias, A contra-revolução na I República, 1910-1919.

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