Friday, 21 August 2015

Quinta da Rabicha: o «passeio às hortas»

Nesta quinta, que pertenceu à família do conselheiro Hintze Ribeiro, Presidente do Conselho no reinado de Dom Carlos, existia um dos famosos "retiros das hortas", particularmente celebrado por Bulhão Pato, Fialho de Almeida, entre outros. O passeio às hortas, ao domingo, era um hábito dos lisboetas e aí confraternizavam nobres e fadistas.

Quinta da Rabicha [c. 1900] 
Aqueduto das Águas Livres e ponte da Rabicha
Ficava debaixo do arco grande do Aqueduto e foi cortada pelo caminho-de-ferro de Sintra que ali chegou em 1885, 
chegou a Campolide em 1895.
José A. Bárcia,
in Lisboa de Antigamente
 
Para Norberto de Araújo, que também aqui nos acompanha, «o Aqueduto das Águas Livres é um monumento grandioso, só igual aos da antiga Roma. E é a Rabicha». Sem a Rabicha, diz Araújo, o Aqueduto «ficaria privado do seu fundo natural e ridente», do panorama «rústico e bucólico» onde «se escondem restos de retiros campestres, ainda vestidos de junquilhos».

View and plan of the great aqueduct of Lisbon
O Aqueduto de Lisboa sobre a Ribeira de Alcântara
Em baixo observa-se uma cena onde decorre um piquenique no qual, uma mulher que parece dançar e cantar, é acompanhada  à viola. Um passeio às hortas?
Gravura a buril e água-forte sobre papel da autoria do pintor de origem suíça Henry L’Évèque (1769-1832), in Lisboa de Antigamente

Eis o que nos relata, sobre esta quinta, Bulhão Pato nas suas «Memórias»:
«[...] Quinta da Rabicha era pequena e em forma de triângulo. Toda colmada de um odorífero e viçoso pomar, que dava primorosas laranjas. Água abundante e corrente. [..]
«Na Rabicha, o sumptuoso hotel, ao ar livre, debaixo de um parreiral, ao pé do tanque, sempre transbordando de água, fornecia as pescadinhas de rabo na boca, ovos duros, queijo saloio, pão de Belas, alface repolhuda, a verdadeira alface lisboeta, que nem a de Rom lhe dá de rosto. Era um banquete. Um cruzado novo — 480 réis — sobrava para quatro homens comerem e beberem à farta.» 

Nora da Quinta da Rabicha, lavadeiras [c. 1912] 
Ao fundo observa-se o Bairro de Campolide
Paulo Guedes,
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
PATO, Bulhão, «Memórias», pp. 67-68, 1894

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