Saturday 22 August 2015

Pátio (Quinta) do Biaggi, às Amoreiras

Leite de Vasconcellos (1858-1941), na sua "Etnografia Portuguesa", fala-nos assim dos chamados bairros operários:
Desprovidos quase sempre de qualquer tipo de instalações sanitárias e de abastecimento de águas, os pátios não dispunham de condições de salubridade mínimas, ao que acrescia a sua localização térrea, exposta assim às humidades, e à ausência de radiação solar, por se encontrarem ensombrados, muitas vezes em caves atrás de prédios.

Pois sigamos — para trás. À esquerda sai-nos agora a Travessa do Barbosa, que conduz ao Pátio do Biagi, com saída ou entrada (conforme nos orientarmos) pela Rua das Amoreiras, pátio que é coevo de fundação da Fábrica das Sedas. [Araújo: 1038]

Pátio (bairro) do Biaggi, às Amoreiras [ant. 1930] 
Biaggi (ou Biagi), nome do primitivo dono ou fundador, e que parece italiano.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente


Este pátio do Biagi ou Biaggi, nome do primitivo dono ou fundador é um dos maiores de Lisboa: principia na Rua das Amoreiras, n.° 73, por uma escadaria, e termina na travessa, antigo beco do Barbosa, que em cima vai ter á Rua de S. João dos Bem-casados [actual Rua Silva Carvalho]. A numeração das casas, que são em grande parte baixas («lojas»), vai do cimo das escadas, em diante, de n.° 1 a 104 ou pouco mais, o que representa outras tantas famílias. As rendas são pagas aos descendentes do fundador do pátio. Existem lá dentro várias ruas, anónimas, dois largos, uma taberna (indispensável!), e um lugar de hortaliça. Quasi um bairro

Pátio (bairro) do Biaggi, às Amoreiras [ant. 1930] 
... mastros que servem agora para se estender a enxugar roupa  lavada (ou suja!).
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

A miséria é porém extrema, e pululam por toda a parte inúmeras crianças, que logo se acercam, movidas de curiosidade, dos forasteiros que vão ao pátio. Numa das visitas que lhe fiz depararam-se-me num dos largos uns restos de mastros que me disseram serem de antigos festejos do S. João, mastros que servem agora para se estender a enxugar roupa  lavada (ou suja!).
[Leite de Vasconcellos, Etnografia Portuguesa, vol. II, 1936]

Panorâmica tirada da Mãe de Água sobre as terras do Biaggi [1944]
 O Inquérito aos pateos de Lisboa aponta no pátio do Biaggi 88 «lojas» e 17 primeiros andares: ao todo 105.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Na segunda metade do século XIX os «pátios» tornaram-se uma forma dominante de habitação popular em Lisboa. Em 1905 havia 233 «pátios» em Lisboa, com um total de 2278 habitações e alojando 10487 pessoas. 
[Caeiro da Matta-Estudos Económicos e Financeiros III, Habitações Populares, Imprensa da Universidade Coimbra, 1909]

Panorâmica tirada da Mãe de Água sobre a Quinta do Biaggi vendo-se a abertura da futura rua Dom João V [1943]
 O Edital de 22 de Junho de 1948 atribuía os topónimos aos novos arruamentos à Rua das Amoreiras, homenagem que incidiu nas seguintes personalidades: Dom João V (Rua A), Custódio Vieira (Rua B), Dom Tomás de Melo Breyner (Rua C) e Cláudio Gorgel do Amaral (Rua D). 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

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