Este palacete mandado construir a partir de 1907, no local do antigo Palácio do Marquês de Angeja, foi destruído pelo terramoto de 1755, a propriedade foi partilhada pelos «brasileiros» João António e Augusto Vítor dos Santos. A partir de 1933, a posse do palacete passou para a família de Armando Dias da Cruz, até que, em 1980, com Francisco da Cruz, então proprietário, o imóvel deixou de ser habitado pela família e foi arrendado.
Em Vias de Classificação, trata-se de um exemplar de arquitectura residencial romântica e ecléctica, de gosto revivalista, implantado em declive, sobranceiro ao Rio Tejo e assente parcialmente sobre as estruturas hidráulicas do Chafariz d'El-Rei e sobre vestígios da Cerca Moura. Este palacete, de planta compacta rectangular, volumetria escalonada, telhado de 4 águas perfurado por clarabóia, destacando-se um mirante, terraço e pequeno coruchéu, surge articulado em 2 corpos, de 5 pisos (2 deles parcialmente enterrados).
Este palacete-castelinho é hoje um pequeno hotel com seis quartos e salão de chá.
Palacete do Chafariz d'El-Rei (ou das Ratas) [c. 1930] Rua Cais de Santarém; Travessa do Chafariz, n.º 4-4A Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
O Chafariz de El-Rei... Pois aí o temos, Dilecto — recorda Norberto de Araújo. É este o mais antigo de toda a Lisboa, embora o seu aspecto seja muito diferente do que teve nos séculos velhos. É bonito! Tem um semblante repousado, sem a balbúrdia dos tempos ainda não muito distantes.
Crê-se que a origem do Chafariz d'El-Rei remonta a tempos muçulmanos. É certamente um dos mais antigos chafarizes da cidade. A sua fisionomia foi sendo alterada ao longo dos séculos resultante das diversas obras de que foi alvo. No reinado de D. Afonso II (1211-1223) é chamado Chafariz de São João da Praça dos Canos e é a partir do reinado de D. Diniz que passa a ser designado por Chafariz d'El-Rei. No século XVI o chafariz era um recinto com muro, estando por baixo de três arcadas sobre colunas ornadas com o escudo régio e duas esferas armilares. [vd. imagem abaixo]
Em 1744 a fachada do Chafariz desabou de velha; foi reedificada em 1747 e passou de seis para nove bicas. O Terramoto oito anos depois produziu-lhe dano; há cerca de cem anos [c. 1840] andava em obras o seu frontispício, mas só em 1864 se concluiu a reedificação como hoje se nos apresenta, com boa cantaria e vistosa arquitectura ao estilo do Renascimento, dando um largo conjunto decorativo, como nenhum outro chafariz da cidade. Da muralha da Cerca, que atrás corria no século XIV, não restam vestígios.Sendo o chafariz mais importante da cidade presenciou muitos motins e desacatos e até mortes, impondo-se a regulamentação da sua utilização pelo Senado, tendo sido estipulado que cada bica teria um destinatário: uma era para os negros forros; outra para os moiros das galés; outra para as moças brancas; outra para os homens brancos; outra para as índias, pretas, escravas e lacaios.
Em 1851, este Chafariz tinha nove bicas, dez Companhias de Aguadeiros, dez capatazes, trezentos e trinta aguadeiros e dois ligeiros. Os seus sobejos iam para o mar. Este chafariz também é designado por Chafariz N.º 18.
Quadra popular alusiva ao abastecimento público do Chafariz de El-rei:
___________________________________________________________________________:__________________________Os meus olhos se obrigaram
Ao que eu nunca me obriguei:
A dar água todo o ano
Para o Chafariz d'El-Rei.
Bibliografia
Agostinho de Campos e A. de Oliveira, Mil Trovas, 1917, p. 225, n.° 707.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp, 27-28, 1939.VELOSO DE ANDRADE, José Sérgio , Memória sobre Chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém e muitos lugares do Termo., 1851.
Este Palacete pertenceu ao meu avô, Armando dias da Cruz, e foi nele que eu nasci e vivi a maior parte da minha vida, atá ao ano da morte de minha avó, e finalmente, por decisão unanime da minha família, o resolvemos augar a despachantes do porto de Lisboa. Esteve vários anos alugado a despachantes, que infelizmente deixaram degradar o edifício a tal ponto que, para o salvar da derrocada, o decidimos vender. Fui eu que me ocupei da venda, e após muitos interessados em adquirir o Palacete, optamos por um Sr. Espanhol, Emilio Castillejos, visto que este o pretendia restaurar e voltar a conceder-lhe o fulgor de outros tempos. Após o restauro efetuado pela Fundação Ricardo Espírito Santo, o Palacete abre as portas ao público como hotel de charme, e no Salão dos Espelhos é servido de 4ª a Domingo um delicioso Brunch, e no terraço vista Tejo, pode-se tomar um refrescante cocktail com o azul do rio como pano de fundo. Quem visitar o Palacete não deve deixar de visitar a Capela, pois era lá que o meu Tio-bisavô, o Padre Cruz, um dos Santos portugueses mais venerados e amados do povo, rezava o terço e dava missa todos os domingos para a família.
ReplyDeleteNuno Mexia
Grato pelo seu interessante contributo.
ReplyDeletePorquê Chafariz das Ratas?
ReplyDeletePalacete "da Ratas" e não chafariz das ratas (que é um outro lá perto. Já corrigi o título do artigo. Quanto à designação não se conhece o motivo, poderá ser alcunha de algum proprietário, vérmina...
DeleteFrequentei por várias vezes este edifício na época em que esteve alugado adespachantes, de facto nesta altura foi muito mal tratado, biombos, paredes falsas, fios por todos os lados, metia dó.
ReplyDeleteDá gosto passar por este local e verificar que foi todo requalificado.