Sunday, 14 February 2016

Avenida 24 de Julho: Mercado de peixe e hortaliças da Ribeira Nova

Junto ao Cais da Ribeira, onde desembarcava o pescado, existia, desde 1846, um mercado de peixe que, como refere Norberto de Araújo, passou, anos mais tarde, a 1 de Janeiro de 1882, para «local coberto [... ], ocupando os pavimentos ao nível da rua». O Mercado da Ribeira Nova — explica o mesmo autor — «há vinte anos era [c. 1918], quase exclusivamente, de peixe, e o das hortaliças e frutas arrumou-se até 1927 nuns barracões, entre a linha do caminho-de-ferro, à qual se encostava por lado de terra, e a Avenida 24 de Julho. Esse Mercado de frutas e verdes junto à linha férrea fora originado por uma greve de hortaliceiras na Praça da Figueira; as rebeldes foram - se instalar no Cais de Santarém cnde estiveram dois anos, até que, despejadas dali, se instalaram [1905] no sítio — hoje ajardinado onde fizeram o seu negócio... até 1927. Entretanto juntaram-se-lhe as hortaliceiras da Ribeira Nova. [Araújo, vol. XIII, 1939].

Mercado de peixe na praça da Ribeira Nova, 1771-1882, reprodução de gravura
 
Se do rio e do mar chegavam os principais produtos aqui vendidos, a posterior diversificação dos produtos — hortaliças e fruta, carnes e criações, e as flores — fizeram do mercado da Ribeira Nova, como dizia Norberto de Araújo, «o mais digno e pitoresco, em cor e movimento, de Lisboa do cabaz das compras».

Mercado da Ribeira Nova, o peixe antes da licitação [1906]
  Avenida 24 de Julho
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Um dia, ainda no tempo em que «não havia sombra de Aterro», uma «regatôa moça» a quem Bulhão Pato havia comprado ostras, entrava em aberta discussão com o nosso escritor. «Uma enxurrada de obscenidades! Bocage talvez corasse... de inveja!». Anos depois, é António Nobre que vem ao mercado da Ribeira Nova, «à procura do camarão da barra». Também Aquilino Ribeiro por aqui anda à procura, não de ostras nem de camarão, mas do que restava da «velha e camoniana Ribeira», «varrida da borda de água pela vaga sísmica de 1755», e que no Aterro se viera instalar. Da Ribeira velha, «só restava aquele cisco da vida babilónica e sabúrrica e do porto, empório do mundo?».

Mercado da Ribeira Nova [1933]
  Avenida 24 de Julho
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século
 
Posterior ao terramoto, e mandado erigir por determinação pombalina, o Mercado da Ribeira Nova é seguramente mais antigo, se o relacionarmos com a história do seu antecessor, o antigo mercado da Ribeira Velha, que se situou nos terrenos em frente à Casa dos Bicos. Este remonta, pelo menos, aos finais de quinhentos e, nas «Estatísticas de Lisboa de 1552» era apontado como um dos mercados de peixe mais bem abastecidos do mundo. Era «um dos mais movimentados e bem equipados da Europa, elogiado pela sua boa organização, abundância e variedade de produtos. Nele, ao lado dos produtos da terra, ou de importação europeia, como a manteiga de Flandres, apareciam espécies exóticas, as tâmaras, os cocos, especiarias diversas, e outros produtos que se começavam, então, a divulgar, como as laranjas da China» [Moita, 1983]. Foi este o primeiro grande mercado de Lisboa que posteriormente ao terramoto viria a ocupar, por determinação pombalina, os terrenos da Ribeira Nova, junto à Praia de S. Paulo

Vendedeira de figos no mercado da Ribeira Nova [1910]
  Avenida 24 de Julho
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
Decorria o ano de 1771 quando, por alvará de 13 de Abril desse ano, o marquês de Pombal determinava a fixação da venda de peixe na Ribeira Nova. Com a designação de Mercado da Ribeira Nova dura até ao ano de 1882, data em que é demolido. Um novo mercado, o da 24 de Julho, abria então ao público, após a inauguração no primeiro dia do ano de 1882. O antigo, o da Ribeira Nova, estava condenado, por deliberação camarária de 5 de Janeiro desse ano, a ser arrasado.

Venda de legumes no mercado da Ribeira Nova [1910]
  Avenida 24 de Julho
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

N.B. Os mercados rapidamente são incorporados no cenário urbano e ganham, a partir de meados dos séculos XIX e início do XX, a característica de estarem directamente ligados às políticas públicas de fornecimento de mercadorias indispensáveis à sobrevivência quotidiana. O ganho chegava através de diferentes produtos — como hortaliças, cebolas, peixes, figos, castanhas, entre outros — comercializados não apenas nos mercados, mas também na venda ambulante pelas ruas e praças da cidade.

2 comments:

  1. Prezados Senhores(as),

    Solicito; com toda educação, o envio de um e-mail específico ao qual eu possa entrar em contato alguns meses a frente.

    Obrigado pela atenção dispensada à esta mensagem.

    Fernando Tavares
    ww.tavarestraducoes.com.br

    cadmet@bol.com.br

    ReplyDelete
  2. Achamos muito interessante este post.

    ReplyDelete

Web Analytics