Saturday 7 November 2015

Palacete do Menino de Ouro

Esta Rua Luis Fernandes denominou-se Travessa de S. Francisco de Borja e depois Travessa de S. Marçal, para ficar Rua Luís Fernandes pelo Edital de 06/02/1923, na data precisa em que se completava um ano sobre a morte do homenageado. A Ilustração Portuguesa, de 08/12/1923, noticiou da seguinte forma: «Em 30 de Novembro desse ano foi organizada uma cerimónia celebrando a nova toponímia, na qual foi descerrada uma placa de bronze desenhada por Raul Lino e modelada e fundida sob a direção de Teixeira Lopes. Colocada no pilar direito do portão do palacete que pertencera a Fernandes, esta placa ainda lá está, homenageando a memória “do benemerito brasileiro (…) a quem Portugal ficou devendo tantas provas de carinho e interesse”.»

Palacete do Menino de Ouro |1927|
Rua Luís Fernandes, 1-3; Rua de S. Marçal
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Datado de 1885, o Palacete Menino de Ouro pertenceu originalmente ao capitalista brasileiro Luís Fernandes, conhecido como «Menino de Ouro» e foi vendido por volta de 1925 a Artur Alves dos Reis, o qual realiza algumas obras de alteração (interior). Pensa-se que uma caixa-forte — escondida por debaixo do soalho da biblioteca — tenha sido o local onde foram armazenadas as «célebres» notas de 500 Escudos com efígie de Vasco da Gama. O Banco de Portugal tomou posse do palácio e, em 1942, este foi comprado pelo a Embaixada Britânica [vd. 2ª imagem], a fim de aí instalar o Instituto Britânico (British Council), que lhe acrescentou mais um andar por volta de 1945. A sala 201 possui janelas primorosamente pintadas (artista infelizmente desconhecido), bem como alguns azulejos com a assinatura de Sarreguemines. Os azulejos no pátio do edifício foram pintados por José António Jorge Pinto (1876-1945), um dos principais criadores de Arte Nova. Obras em 2001 envolveram a restauração de alguns elementos originais. Neste momento encontram-se expostas 40 obras de arte da colecção do British Council, representativas dos últimos 60 anos.

Palacete do Menino de Ouro Instituto Britânico (British Council) [c. 1945]
Rua Luís Fernandes, 1-3;  Rua de S. Marçal
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Capitalista e coleccionador brasileiro, Luís José Seixas Fernandes (Baía/30.11.1859– 06.02.1922/Paris), conhecido como «Menino de Ouro», foi também o 1º presidente do Grupo dos Amigos do Museu de Arte Antiga (organismo instituído oficialmente em 27 de abril de 1912) e, quando se retirou para Paris em 1886 legou as suas colecções ao Museu Nacional de Arte Antiga que as tem agrupadas numa sala com o seu nome, bem como deu algumas obras à ao Instituto Geográfico e Histórico da Baía, à Academia Nacional de Belas Artes, ao Museu Nacional de Arte Contemporânea e à Biblioteca Nacional de Portugal,  sendo também de destacar que a sua presidência do GAMNAA está profundamente ligada à construção e consolidação da imagem do Museu como referência nacional.
Luís Fernandes tornou-se ainda o organizador e principal doador da Secção Portuguesa do Museu e Biblioteca da Grande Guerra de Paris. Acresce que foi também um dos primeiros sócios da Sociedade Propaganda de Portugal, tendo elaborado o 1º curso de Hotelaria em Portugal, em 1908, na Casa Pia e,  publicado o Guia de Proprietários de Hotéis (1908), para além de ter sido o relator geral do Congresso Internacional de Turismo em 1911. [cm-lisboa.pt]

3 comments:

  1. O artigo é óptimo, só não me parece à partida muito provável que o tal cofre da biblioteca tivesse lugar para as notas do Alves Reis, embora eu não saiba o tamanho de tal cofre, há registos que referem que as malas onde foram transportadas as notas, do Reinio Unido para Portugal, eram pesadas, o que parece indiciar um volume grande.

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    1. Esta história vale o que vale. Esse pormenor é revelado pelo escritor norte-americano Thomas Gifford em «O Homem de Lisboa». As notas eram retiradas das malas e armazenadas no dito cofre, existindo até um detalhe rocambolesco com as ditas, As malas, por sua vez, seriam reutilizadas, já que Alves Reis mandou imprimir várias emissões de 500$00. Realidade ou ficção?

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  2. Meu bisavô foi quem resolveu o processo do Alves dos Reis.E sempre ouvi contar a historia na minha familia e tenho uma carta da mulher do Alves dos reis a escrever ao meu bisavô sobre este caso a pedir para que não o prendessem.E a historia partilhada foi a oferta do palacete e dinheiro na suissa para que o meu bisavô não ajudasse o diretor do banco de portugal e o acusasse.Só que o meu bisavô resolveu o caso e ajudou o diretor do banco de Portugal.O salazar acusou o meu bisavô de não descobrir a morte do rei e ter descoberto o complô ao diretor do banco e mandou o para a reforma logo a seguir.

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