Saturday, 21 November 2015

Campo Grande

«Só a lisboeta é que põe o seu barquinho a nado a noite, ainda que o céu esteja carregado, ainda que a chuva ameace, só ela é que atravessa pulando as lamas do Chiado, colhendo as velas ao vestido, e segurando a sombrinha com a firmeza de um marinheiro experimentado que fosse ao leme. Não teme a noite, porque as noites só são temerosas na província, treva e confusão.
Vai, num pulo, comprar bolos para o chá, escolher um vestido ao Grandella, vai a pé para o teatro, porque não é bastante rica para ir de trem, vae à modista fazer um recomendação. vai a uma livraria comprar uma gramática para o filho e, atravessando as ruas, pulando sobre a lama, o seu ar de honestidade defende-a, não a deixa confundir com as mulheres que vão habitualmente para as cadeiras do Colyseu e para os gabinetes dos restaurants.

Campo Grande [Início séc. XX]
Autor não identificado, in Lisboa de Antigamente

A chuva ás vezes resolve-se a cair, a varrer as ruas, e a esburacá-las também. A lisboeta some-se, voou para casa nas asas dos seus pezinhos ligeiros. Mas a cidade não fica solitária, morta, ouve-se de vez em quando o rodar de um trem, um pregão que passa,  de um cavalo, o assobio de um namorado.»
(PIMENTEL Alberto, Vida De Lisboa, 1900, p. 47)

Campo Grande [1908]
10º Congresso Internacional Telegráfico, batalha de flores, automóvel de Jorge Burnay.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

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